TENDÊNCIAS DA POESIA REALISTA PORTUGUESA - POESIA REALISTA PROPRIAMENTE DITA

TENDÊNCIAS DA POESIA REALISTA PORTUGUESA

 

 

- POESIA REALISTA PROPRIAMENTE DITA

 

 

ANTERO DE QUENTAL

 

 

Está ligado à poesia realista e simbolista com as Odes Modernas, 1865, que se integram no programa de modernização da sociedade portuguesa desenvolvido pela Geração de 70, à qual pertence, mas é nos Sonetos Completos, 1886, que o melhor da sua poesia emerge, cruzando o simbolismo de timbre ainda romântico com a poesia de ideias e com a reflexão filosófica, na expressão de conflitos íntimos e sociais que pessoalmente o levarão ao suicídio

 

 

 

GUERRA JUNQUEIRO

 

 

Abílio de Guerra Junqueiro (1850-1923) nasceu em Freixo de Espada à Cinta, formando-se em Direito na Universidade de Coimbra. Foi funcionário público e deputado, aderindo em 1891, com o Ultimatum inglês, aos ideais republicanos. Influenciado por Baudelaire, Proudhon, Victor Hugo e Michelet, iniciou uma intensa escrita poética com o fim último de, pela crítica, renovar a sociedade portuguesa. Retirou-se para uma quinta no Douro, regressando à política com a implantação da República, tendo sido nomeado Ministro de Portugal em Berna. Obras: A Morte de D. João (1874), A Musa em Férias (1879), A Velhice do Padre Eterno (1885), Finis Patriae (1890), Os Simples (1892), Pátria (1896), Oração ao Pão (1903), Oração à Luz (1904), Poesias Dispersas (1920). Em colaboração com Guilherme de Azevedo, escreveu Viagem à Roda da Parvónia.

 

 

 

GOMES LEAL

 

 

 

António Duarte Gomes Leal (1848-1921) nasceu em Lisboa, filho ilegítimo de um funcionário do Estado. Frequentou o Curso Superior de Letras, não chegando a terminá-lo. Tomando conhecimento com obras de Marx, Darwin, Renan e Proudhon, entusiasma-se com o socialismo, aproximando-se ideologicamente de Antero de Quental e Oliveira Martins. Poeta e jornalista, caiu na miséria nos últimos anos da sua vida, sobrevivendo da caridade alheia. Escreveu: O Tributo de Sangue (1873), A Canalha (1873), Claridades do Sul (1875), A Fome de Camões (1880), A Traição (1881), O Renegado (1881), História de Jesus (1883), O Anti-Cristo (1886), Fim de Um Mundo (1900), A Mulher de Luto (1902), A Senhora da Melancolia (1910).

 

 

 

TEÓFILO BRAGA

 

 

 

Joaquim Teófilo Fernandes Braga (1843-1924) nasceu em Ponta Delgada e faleceu em Lisboa. Cedo revela queda para a literatura e publica em 1859 na própria tipografia onde trabalhava o seu livro de estreia, Folhas Verdes. Em 1861 vai para Coimbra frequentar o curso de Direito. Por essa altura, colabora em O Instituto e na Revista de Coimbra, entre outras, opondo-se frontalmente ao ultra-romantismo. Terminado o curso de Direito, vai viver para o Porto, tomando contato com a filosofia positivista de Comte, que muito o irá influenciar. Em 1872 fixa-se em Lisboa, passando a lecionar literatura no Curso Superior de Letras. Republicano militante, em 1910 é convidado para presidente do Governo Provisório, tendo sido mais tarde eleito Presidente da República. Além de obras de caráter histórico-literário, escreveu também poesia, ficção, etnografia e filosofia. Obras poéticas: Visão dos Tempos (1864), Tempestades Sonoras (1864), Torrentes (1869), Miragens Seculares (1884). Ficção: Contos Fantásticos (1865), Viriato (1904). Ensaio: As Teorias Literárias – Relance sobre o Estado Actual da Literatura Portuguesa (1865), História da Poesia Moderna em Portugal (1869), História da Literatura Portuguesa (Introdução) (1870), História do Teatro Português (4 volumes, 1870-1871), Teoria da História da Literatura Portuguesa (1872), Manual da História da Literatura Portuguesa (1875), Bocage, sua Vida e Época (1877), Parnaso Português Moderno (1877), Traços gerais da Filosofia Positiva (1877), História do Romantismo em Portugal (1880), Sistema de Sociologia (1884), Camões e o Sentimento Nacional (1891), História da Universidade de Coimbra (4 volumes, 1891-1902), História da Literatura Portuguesa (4 volumes, 1909-1918). Antologias: Cancioneiro Popular (1867), Contos Tradicionais do Povo Português (1883).

 

 

 

- POESIA DO COTIDIANO

 

 

 

CESÁRIO VERDE

 

 

José Joaquim Cesário Verde (1855-1886) nasceu em Lisboa. Matriculou-se no curso de Letras da Universidade de Lisboa, mas desistiu, indo trabalhar para a loja de ferragens que seu pai tinha na Rua dos Bacalhoeiros. Começou a publicar poesias no Diário de Notícias, no Diário da Tarde, no Ocidente, entre outros. Adoecendo gravemente, fixa-se na quinta da família em Linda-a-Pastora. Morreu tuberculoso ainda muito novo. Foi graças aos esforços do seu amigo Silva Pinto que as suas poesias são postumamente publicadas em volume com o título O Livro de Cesário Verde (1887). A sua estética literária anda próxima do Parnasianismo.

 

 

 

 

- POESIA METAFÍSICA

 

 

ANTERO DE QUENTAL

 

(vide Vida e Obra (Aqui, abaixo, a seguir))

 

Antero de Quental, Vida e Obra

 

Antero de Quental nasce em 1842, em Ponta Delgada, Ilha de São Miguel. Em 1852, em companhia da mãe, parte para Lisboa a fim de cursar o Colégio do Pórtico, fundado por Antônio Feliciano de Castilho. Aos 26 anos ingressa na Faculdade de Direito em Coimbra.

 

De formação tradicionalista e católica, abalado pelas idéias difundidas no ambiente acadêmico, Antero de Quental torna-se defensor e membro da "Nova Escola" (Realismo e Socialismo) em Portugal.

 

Participa da Questão Coimbrã, escrevendo o folheto "Bom Senso e Bom Gosto" (1865). No mesmo ano publica Odes Modernas.

 

Em 1866, depois de aprender a arte tipográfica em Lisboa, muda-se para Paris exercendo a profissão de tipógrafo e pratica as doutrinas socialistas. Um ano depois retorna à Ilha de São Miguel, debilitado fisicamente. Nessa época faz uma viagem aos Estados Unidos.

 

De volta a Lisboa, promove as Conferências Democráticas do Cassino Lisbonense (1871), sendo a primeira proferida por ele próprio: "Causas da decadência dos povos peninsulares".

 

Publica Primaveras Românticas (1872).

 

Com a morte do pai, Antero regressa à Ilha e acaba adoecendo seriamente. Em 1875, embora doente, publica a "Revista Ocidental" e a segunda edição revisada e ampliada das Odes Modernas. Após duas candidaturas a deputado socialista, puramente simbólicas, em 76 e 80, Antero vive em recolhimento na Vila do Conde (Porto), na companhia das filhas de  Germano Meireles, que adotara; de poucos amigos, sobretudo Oliveira Martins, dedica-se à leitura e à meditação. Nessa época, edita Tesouro Poético da Infância, uma reunião de autores portugueses e brasileiros.

 

Em 1890, com o "Ultimatum" inglês, sai de seu isolamento e concorda em presidir a "Liga Patriótica do Norte", que vem a dissolver-se.

 

Deprimido, retorna à Ilha de São Miguel e suicida-se, em 1891.

 

Eça de Queiroz sobre Antero de Quental: "Um gênio que era um santo: Por mim pense, e com gratidão, que em Antero de Quental me foi dado conhecer, neste mundo de pecado e de escuridade, alguém, filho querido de Deus, que muito padeceu porque muito pensou, que muito amou porque muito compreendeu e que, simples entre os simples, pondo a sua vasta alma em versos, era um Gênio e era um Santo".

 

Antônio José Saraiva e Oscar Lopes julgam que, para melhor estudo da obra anteriana, deve-se triparti-la, principiando com a sua Juvenília (Primaveras Românticas e Raios de Extinta Luz), passando às Odes Modernas e, por fim, aos Sonetos.

 

1ª Fase

Romantismo solene de tonalidade neoclássica.

Influência de Herculano, notadamente nas poesias de cunho religioso e filosófico.

Idealismo.

Lirismo amoroso.

 

2ª Fase

Realismo ortodoxo, radical.

Linguagem agressiva, vibrante.

Anti-romantismo.

Poesia de combate.

 

3ª Fase

Pessimismo e ceticismo.

Desejo de evasão num mundo irreal, indefinido,

Anseio da morte libertadora.

Sentimento religioso.

 

 

 

 

- POESIA PARNASIANA

 

 

 

JOÃO DA PENHA

 

 

 

João Penha de Oliveira Fortuna (1838-1919) nasceu e faleceu na cidade de Braga. Matriculou-se na Universidade de Coimbra em Teologia, passando depois para o curso de Direito onde se formou em 1873. Juntou-se desde logo ao grupo dos estudantes boémios, tornando-se amigo de Gonçalves Crespo, Cândido de Figueiredo, Antero de Quental, Guerra Junqueiro, entre outros. Fundou A Folha, um jornal literário de tendências parnasianas (publicado entre 1868 e1873) onde os amigos colaboravam. Regressado a Braga, exerceu a advocacia e ocupou o cargo de Juiz Ordinário do Julgado da Sé. Dirigiu entretanto a revista literária República das Letras, de que saíram três números. Morreu pobre, surdo e esquecido. A sua poesia comunga das concepções parnasianas, tendo muito contribuído para o rejuvenescimento do soneto em Portugal. Obras poéticas: Rimas (Lisboa, 1882), Viagem por Terra ao País dos Sonhos (Porto, 1898), Novas Rimas (Coimbra, 1905), Ecos do Passado (Porto, 1914), Últimas Rimas (Porto, 1919), Canto do Cisne (Lisboa, 1923). Prosa: Por Montes e Vales (Lisboa, 1899).

 

 

 

 

 

© Cláudio Carvalho Fernandes, 2001-2022.

 

 

 

 

 

Cláudio Carvalho Fernandes
Enviado por Cláudio Carvalho Fernandes em 11/12/2022
Reeditado em 13/12/2022
Código do texto: T7669319
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