O CORPO, SUAS LINGUAGENS E SIMBOLISMOS

É nas manifestações de nosso corpo que podemos notar o que se passa de significativo em nossa vida, percebendo a simbólica presente nas funções de cada parte que integra a nossa vida corporal. É nos seus sinais que decodificamos as nossas necessidades, anseios e volições, bem como os sintomas caso haja uma sobrecarga de sofrimentos e inadaptações.

O corpo fala pelas mais variadas linguagens, compondo uma orquestra regida pela vida que nos habita. Nele, existem variadas portas onde podemos captar informações do ambiente que nos circunda; por meio dele, podemos evidentemente evocar o paraíso ou então o inferno de nossas memórias, cujas informações ficam armazenadas na região do lobo temporal de nosso cérebro e também sob o auxílio de nosso sistema límbico e de nosso hipocampo.

Eis que cada membro de nosso ser corporal possui sua dinâmica própria e, como já havia falado, o seu próprio simbolismo: capaz de transmitir um gesto, um sinal, uma emoção, uma verdade de quem somos em nossa intimidade e relação interpessoal. Já muito se falou que nossos olhos são a janela da ama. Que magnífica figura de linguagem ou metáfora relacionada a um órgão cuja capacidade está relacionada ao poder ver, seja no sentido de contemplar, seja na perspectiva de simplesmente observar, seja ainda no sentido de apreciar a beleza de uma exuberante paisagem!

E muito se fala em nossos ouvidos na sua plena condição de escutar a canção de nossas vidas (recheada de memórias afetivas e reminiscências de sonoridades que dão o gosto inaudito do belo e do sublime) e, o que é de extrema valia, a voz da sabedoria dos mais velhos: símbolo máximo da experiência de vida. Basta tão somente dar abertura ao saber de quem já viveu mais do que nós. Que sapiência ancestral processada por um órgão e significada pelo coração enquanto metáfora de nossa alma!

Também podemos observar o sangue que percorre em nossas veias: que tremendo sinal da vida que corre em nossas entranhas! E o que dizer de nossos pés: o nosso alicerce que nos enraíza e nos mantém firmes e eretos? Porventura, não existe um rico simbolismo no ato de se manter firme numa determinada situação, especialmente quando precisamos caminhar para prosseguirmos na marcha árdua da via da autorrealização?

Quando estamos numa situação que demanda atenção, certamente a nosso sistema fisiológico produz certos hormônios responsáveis pela luta ou fuga, a depender da situação. Quão fascinante é, pois, o sistema simpático nos preparando para o dia em que precisamos trabalhar, estudar ou treinar todas as nossas cognições e faculdades!

Podemos associar o nosso corpo como uma máquina, na linguagem de nosso tempo mecanizado; ou como uma morada onde está localizado os recantos secretos e inefáveis, como os nossos sonhos. Cada um dará o sentido que for conveniente para compreender uma parte de nós que nos situa de forma estética e espacialmente.

Quando sentimos prazer ante uma situação agradável, também sentimos os efeitos dos hormônios e dos neurotransmissores atuando de forma veemente em nosso sistema nervoso. Na hora de dormir, certamente somos influenciados pelo nosso sistema parassimpático, contribuindo para o nosso relaxamento progressivo e, aos poucos, com a consumação de nosso sono já sob os efeitos da melatonina. Como separar uma coisa da outra sem sofrermos as consequências nefastas de um desequilíbrio psicossomático?

E se olharmos para o que há de mais abstrato e impalpável em nós, como nosso sistema psíquico (a instância do significado de nossas emoções, sentimentos, ideias, pensamentos; ou a morada de nossos conteúdos mais conscientes ou desconhecidos e inconscientes), não percebemos uma relação íntima e inseparável com a nossa dimensão mais concreta, como o corpo e suas diferentes particularidades constituindo a totalidade de nossa corporeidade? Esse vínculo certamente demonstra a incrível complexidade num simples processo de pensamento, memorização ou meditação profunda, descortinando efeitos não só no funcionamento de nosso organismo, como também em nossa maneira de nos relacionarmos com nós mesmos e com nosso mundo circundante.

O nosso corpo, na linguagem bíblica, é incrivelmente associado a um templo em que habita o sagrado, um templo onde o espírito santo almeja se fazer presente e manifesto. O corpo fazendo determinada postura, como por exemplo, a de dobrar os joelhos, nos encaminha para pensarmos que podemos ser a imagem e semelhança do divino que mora em nosso ser; ou então, a de juntar as palmas e fechar os olhos, o singelo gesto de entoar magníficas preces. Há nas lágrimas vertidas pelos nossos olhos marejados tanta pureza e beleza quanto um sorriso diante da beleza de uma determinada situação. Eis os gestos que podemos manifestar através das linhas de expressão presentes em nossa face, cada qual com seu gatilho e potencial de ação!

Quantos seres humanos não buscam expressar sua identidade através de uma maquiagem, de uma tatuagem, de um penteado, de um contorno e de uma vestimenta que cobre ou descortina o nosso ser corporal! Por isso, nada melhor do que o cuidado na esfera de nossa corporeidade (a higiene, a vestimenta mais adequada e as harmonizações de nossa aparência e visual) como uma disposição incessante e imprescindível para trilharmos o caminho de nossa individuação mais plena e satisfatória. O corpo é, de fato, a nossa morada onde está condensado os mais diversos processos, reações emocionais e significados que demos aos fenômenos de nosso meio e entorno.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 04/12/2022
Reeditado em 07/12/2022
Código do texto: T7664331
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