O CHARCO ESTÉTICO

Sabes de uma coisa? Acho que é a metáfora profunda ou vertical quem causa este meu encanto para com a Poesia e o poema, sua materialidade formal. Ali, nascendo dentre as palavrinhas, o ritmo e as imagens, voeja o Mistério e o seu poder de encantamento. Eu sou apenas o seu humilde servo, o arauto da mágica nascida entre suas vertentes.

A metáfora horizontal ou rasa passa batida em meus sentires, pouco me chama a atenção. Com o decorrer do tempo e a descoberta de novas vertentes do mistério nos territórios da Palavra em seu vestido de festa, quanto mais impregnado de Poética fico, mais me fascinam os enclaves do hermetismo.

É neste charco estético que encontro os mais lindos exemplares de flores da linguagem. Este é o Belo que me atrai e comove.

Dia desses vou à região amazônica só pra ver a vitória-régia florida. Sobre ela, creio, estão assentados alguns dos meus sorridentes duendes da infância.

E são estes sapecas abençoados de barro e verdes dos rios, riachos, igarapés que se banham no meu sangue, a cada vez que sinto a vida se esvair para a finitude líquida, que dará de comer aos frutos e peixes que matam a fome das crianças ribeirinhas.

MONCKS, Joaquim. O CAOS MORDE A PALAVRA. Obra inédita em livro solo, 2022.

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