Nietzsche era gay?

     Tanto faz, pois a orientação sexual de cada um é algo que compete somente ao sujeito, além do mais o artista não tem sexo, ou o sexo do artista não tem a menor importãncia, mesmo assim se fazermos um exercício psicanalítico para justificar a curiosidade, vemos que Nietzsche não acreditava no idealismo, na intuição, no senso divinatório da mulher, por exemplo e sua vitória edipiana quando o pai morre, deixando esse lugar só para ele onde interdição paterna do incesto fora aniquilada pela falta de competidores: "Nossa família tinha sido despojada de sua coroa, toda a alegria desapareceu de nossos corações e uma tristeza profunda apoderou-se de nós", disse ele, posteriormente. Em seu sonho premonitório que anuncia também outro varão da família, o irmão José, o único que poderia disputar o pai com ele, também morreu: "Contei pela manhã esse sonho à minha mãe bem amada. Pouco depois, meu irmão caiu doente, teve ataques de nervos e morreu em poucas horas. Nossa mágoa foi terrível. Realizara-se exatamente meu sonho. Após essa dupla desgraça, o Senhor nos foi todo o nosso consolo."

     Em 1887, dois anos antes de perder por completo a razão, escrevendo à sua mãe, ele se assina "tua velha criatura". E são os carinhos braços maternos que lhe vão acalentar a demência, na casa de saúde, para onde fora transferido, após a explosão da insanidade que lhe escurecera para sempre a inteligência. Em seus últimos dias, apenas uma palavra lhe move os lábios: "Mamãe". 

     Dizem que a imagem de sua mãe devia ser a de uma santa em seu espírito. Porque julgava as mulheres criaturas inferiores? Só o coração torturado poderia responder, em parte, à nossa curiosidade.

     Sua irmã Lisbeth é o anjo da guarda que atravessa toda a sua existência, é a companheira de sua meninice, a consoladora de seus instantes de desalento, a enfermaria carinhosa, incansável de sua década de loucura. A correspondência entre os dois é sempre terna. "Vives longe, eu aqui, escreve ele, em uma solidão mais inatingível que todos os paraguais. Minha mãe deverá viver só e nós todos devemos ser corajosos. Eu vos amo e choro". Lisbeth dá conselho que se case e ele escreve para a irmã contando haver visto, num passeio, uma "jovem encantadora", cuja imagem não conseguia afastar de si. Lembra-se, então, dos conselhos matrimoniais da irmã, a quem escreve ainda: "Tê-la ao meu lado seria também para ela um benefício? Acaso minhas ideias não a tornariam infeliz? Não teria eu coração despedaçado (supondo que eu a amasse) se visse sofrer tão amável criatura? Não, nada de casamento", referindo-se à escritora alemã Malwida de Weysenbug.

     Já Liolia von Salomé, famosa pela beleza e notável inteligência, fugiu do pregador Gillot, que lhe surgia como um obstáculo à sua liberdade, exatamente como fugiu mais tarde de outras relações com Nietzsche, Paul Rée e Rilke, quando a pediram em casamento. O fascínio por Gillot desintegrou-se pois no seu universo não havia lugar para o desejo nem para o sexo, nem tão pouco, espaço para um casamento. quando ela fugiu com Paul Rée deixou Nietzsche completamente arrasado. Ela explicou a ele que seu amor era apenas intelectual, e não físico ou romântico. Especula-se que o agravamento da doença que levou o filósofo à morte foi resultado deste amor não correspondido que Nietzsche nutriu até o fim de sua vida. Em carta ao seu editor, Nietzsche falou um pouco sobre seus sentimentos em relação a partida de Salomé: “Minha relação com Lou está nos últimos e mais dolorosos momentos. Pelo menos assim o creio hoje. Se houver um mais tarde, quero dizer uma palavra a respeito. Compaixão, meu caro amigo, é uma espécie de inferno”, desabafou o filósofo.

 

Texto extraído do artigo publicado em 1922, no periódico A.B.C. Nesse texto, que é um trecho do livro Ideias e Comentários, Mario de Lima aborda o papel exercido pela mulher na vida e na obra de Nietzsche, em particular a relação do filósofo com a mãe, a irmã Elisabeth e a amiga Malwida von Meysenbug.

 

Lou Andreas Salomé, a mulher por quem Nietzsche chorou, por Thayane Maria.

 

https://revistacaliban.net/lou-salom%C3%A9-a-mulher-que-encantou-nietzsche-e-rilke-83c4d938b792

 

 

 

 

 

LucianaFranKlin
Enviado por LucianaFranKlin em 23/11/2022
Reeditado em 25/11/2022
Código do texto: T7656350
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2022. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.