O QUE É O SAGRADO?

O que é o Sagrado? Essa pergunta pode ter uma infinidade de respostas e algumas delas podem ser até arbitrárias, se levarmos em consideração que a resposta para essa pergunta pressupõe a subjetividade de cada indivíduo em relação ao conceito que cada um tem sobre o sagrado. Propomos nesse texto expor as características que estão na gênese do processo de sacralização e na ambivalência que existe no conceito do sagrado.

O processo de sacralização acontece quando determinado objeto (lugar, pessoa, religião, símbolo... arrisco dizer: qualquer elemento que gere sentido) se destaca e ganha uma importância superior em relação aos demais. Com essa superioridade e essencialidade o objeto passa ser considerado separado dos demais. Esse termo "separado" é justamente o significado da palavra indo-europeia “sagrado”.

Tendo as premissas de como ocorre o processo de sacralização se observa que essa qualidade e superioridade (do objeto) não está no elemento em si, mas está naquele que atribui tal superioridade. Em outras palavras: “o sagrado é sempre uma operação do olhar hermético de alguém. Está mais em quem olha do que o elemento que é olhado”. (Schaeffer,A)

No caso da religião (sentido amplo que transcende a esfera institucional), que precisa lidar com o divino, os elementos que se tornam sacros carregam uma qualidade inerente do divino com o objeto. Com essa relação estrita entre divino e objeto nasce o conceito de sagrado e profano. Os elementos que estão na classe do sagrado acabam sofrendo ambivalência, pois ao mesmo tempo que atraem têm poder de repelir e, quando a linha tênue entro os dois polos é violada, acontece um estupro de uma parte em relação a outra. O sagrado atrai por conta da vontade do homem em se relacionar com forças superiores (divino) sobre a qual ele não tem o total domínio. Por outro lado, o sagrado tem poder de repelir devido à reverência que é necessária para se lidar com um objeto que carrega em si qualidades divinas. Essa ambivalência está em constante tensão e quando a um desequilíbrio entre os polos (atrair – repelir). As consequências são: 1) O excesso de intimidade pode levar à banalização do objeto (tudo que gere sentido) que é a consequência básica da familiarização. Por outro lado, o excesso de reverência pode levar a um legalismo que, se levado às últimas consequências, pode levar à morte intelectual, psicológica, física...

Portanto, se observa que as características que o sagrado carrega é, na verdade, algo imposto por um olhar hermenêutico e que o objeto ou elemento em si não carrega uma essencialidade própria, mas que lhe é atribuído por alguém. Com isso concluímos que o que é sagrado, separado, essencial é divino para uns pode não ser para outros.

Arthur Carletto
Enviado por Arthur Carletto em 19/11/2022
Reeditado em 19/11/2022
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