FENOMENOLOGIA DA RELIGIÃO E SUAS CONTRIBUIÇÕES
O conceito de fenomenologia é algo derivado do mundo grego. O termo fenômeno - do qual se origina a fenomenologia - vem do grego fainomenon, que significa aquilo que aparece, que se mostra. No mundo grego antigo, fainomenon era o modo de manifestação do ser, sendo assim o objeto e a junção de vários fenômenos, pois o mesmo pode ser observado de anglos e momentos distintos. Em outras palavras, ser é o fenômeno que se manifesta (ser é aparecer). Entretanto, como método científico, o termo vai muito além ser do seu significado literal. A fenomenologia é uma tentativa de compreender a essência da experiência humana, seja ela psicológica, social, cultural ou religiosa, a partir da análise das suas manifestações, chamadas de fenômenos.
Existe algumas diferenças básicas da metodologia utilizada pela fenomenologia para outros campos de estudos, ligados a ciências humanas, por exemplo: o sociólogo já faz a leitura da experiência presumindo que ela é fruto do viver social; o psicólogo clássico pressupõe de antemão ser um resultado da pisque; já o fenomenólogo está preocupado com o significado que o fenômeno produziu para o indivíduo ou comunidade.
Duas características do método fenomenológico são os conceitos de redução edédica e epoché. O objetivo do primeiro conceito é a busca pela essência [1] do fenômeno. É uma tentativa de compreensão não do ponto de vista do observador, mas do ponto de vista da própria pessoa que faz a experiência. Para isso, é necessário o segundo conceito: a epoché, que é a suspenção do juízo, dos pressupostos.
A fenomenologia da religião, seguindo os mesmos paramentos citados acima estuda, especificamente, os fenômenos religiosos a partir de sua intencionalidade, fazendo ao homo religiosus perguntas distintas do campo da teologia, que está preocupada com a legitimidade e qual foi a fonte que produziu a experiência, presumindo conceitos dogmáticos, filosóficos e até mesmo o senso comum. A fenomenologia da religião está preocupada em saber qual a relevância, significado, o que representa, qual sentido, o que produziu e como o indivíduo ou grupo lida com essa experiência. O fenomenólogo quer saber como o sujeito interpreta sua experiência, pois por “detrás de cada fenômeno há uma ideia, um significado”. É essa ideia que a fenomenologia procura compreender. Vale ressaltar que não se pode exigir da fenomenologia a objetividade e a racionalidade. Ela precisa estar livre para cumprir seu propósito, e este é subjetivo.
Observamos que se pode tirar várias contribuições da fenomenologia para entendemos nossas próprias manifestações e como isso nos conhecermos melhor, visto que: “Não a ser humano sem suas máscaras (fenômeno) ou seja não há ser humano que se manifeste plenamente em sua nudez (sem máscara)’; todas as manifestações traduzem o que ele é. Se não, não teria acontecido (Miguel de Unamuno).”
A fenomenologia da religião contribui para o fazer teológico acadêmico ou pastoral, pois a irredutibilidade do fenômeno é uma essencialidade na metodologia fenomenológica. Com isso se observa que há uma preservação do fenômeno ou para usar um termo que se aproxima do religioso - há uma preservação da experiência.
Portanto, hermenêuticas que levam em consideração a experiência como um auxiliar interpretativo da realidade e do texto bíblico encontram na fenomenologia da religião fundamentos para auxiliar uma melhor leitura das suas próprias experiências, com isso potencializarão a geração de sentido para si e para suas comunidades e teologia.
[1] Essência não no sentido platônico onde ela está em oposição a aparência, sendo distinta uma coisa da outra. Para a fenomenologia a essência não é algo a ser buscado depurando até se achar. A metáfora da cebola ajuda esclarecer: é em suas cascas que se encontra a essência e não na depuração delas em busca de uma essência interior. Em outras palavras a essência é o todo da cebola.
Bibliografia:
ROCHA, Alessandro Rodrigues . Filosofia, religião e pós-modernidade: uma abordagem a partir de Gianni Vattimo. São Paulo, SP: Idéias e Letras, 2013. 199 p.