Escravizar é humano?
Ao observarmos a História, há a impressão de que o hábito de escravizar pessoas é algo natural, inerente à sociedade humana, pois em uma rápida análise é possível constatar a provável existência dessa prática desde a pré-história. Todavia, ao se voltar a atenção para as justificativas e mesmo para os elementos responsáveis por possibilitar a determinados grupos sociais escravizarem outros há de se constatar que são sempre colocações arbitrárias pautadas em puros interesses egoístas pessoais que desconsideram os direitos naturais de todos os seres humanos.
Segundo o relatório Índice de Escravidão Global 2016 (Fundação Walk Free), mesmo sendo uma prática proibida, aproximadamente 45,8 milhões sofrem algum tipo de escravidão moderna, sendo mais da metade mulheres (OIT, 2012). Ao se analisar mais a fundo os dados, percebe-se que os países mais afetados com esse problema são: Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Uzbequistão, Coreia do Norte e Camboja. Nesse contexto, destacam-se fatores como: tráfico de pessoas, escravidão sexual, jornadas extensas de trabalho com salários ínfimos, violência, ameaças, péssimas condições laborais, entre outras. Disso tudo, como apontam os dados da OIT, resultam como consequência lucros anuais de aproximadamente 150 bilhões de dólares.
No caso específico do Brasil, mesmo com a Abolição da Escravatura em 1888, a situação não é menos preocupante. O mesmo relatório da Fundação Walk Free revela a existência de aproximadamente 161,1 mil pessoas que sofrem algum tipo de escravidão moderna e o mais alarmante é o rápido crescimento desses dados, quando se consideram o número de 155,3 mil para o ano de 2014. Em relação aos sofrimentos aos quais essas pessoas são submetidas, há de se constatar situação semelhante à descrita anteriormente, com lucros também exorbitantes.
De modo geral, todas as pessoas, de uma forma ou de outra, são afetadas pelas consequências da escravidão moderna. Grandes empresas, de maneira direta e indireta, se beneficiam dessas formas de trabalho para conseguir ampliar seus lucros e concorrer de maneira injusta no mercado mundial. Nesse sentido, não há como negar a necessidade de uma revisão muito profunda se realmente se busca superar esse tipo de realidade, visto que, diante dos dados aqui expostos não há como não ter ficado bem claro que a escravidão não é algo natural ao ser humano, limitando-se somente a atender interesses mesquinhos de alguns indivíduos e grupos.