"O QUE É A VERDADE?"
Existe uma pergunta que um ser humano pode fazer no seu coração e que muitas vezes excede todo o seu entendimento. "O que é a verdade?" é uma daquelas perguntas que não existe uma resposta fácil, tampouco é possível de esgotá-la, tamanha é a quantidade de possibilidades de respostas e explicações para algo tão profundo!
De qualquer forma que encaremos o problema, temos ao nosso alcance as especulações de ordem metafísicas e ontológicas, de um lado; e a chance de darmos explicações numa perspectiva ética e psicológica, por outro lado.
O filósofo e teólogo Leloup no livro "O evangelho de João" nos dá uma bela explicação sobre a palavra verdade se utilizando do sentido que os gregos davam a respeito dessa singela manifestação: "O termo grego Aletheia sugere sobretudo o desvelamento; literalmente: o despertar (sair da "lethé", da letargia na qual nos encontramos durante a maior parte do tempo). Manter-nos na verdade é despertamos sem parar, sairmos do esquecimento. Existe aí um verdadeiro dinamismo de vigilância". Ou seja, a verdade está na esfera do desvelamento de quem somos; é o despertar da letargia e da alienação para uma realidade que nos traz um novo fôlego de vida.
Existe então diversas formas de abordar a verdade: um substantivo polissêmico, ou seja, cheio de sentidos e pontos de partida, que vai desde o imanente-- que pode se fazer presente em nosso ser com os outros--, até o transcendente, ou seja, está além do alcance de nosso entendimento mais estritamente lógico e racional (mas que, por outro lado, nos convida a fazermos a reverência da luz misteriosa que nos salva das trevas do desespero); do concreto na evidência simples dos fatos cotidianos, ao mais abstrato através da percepção do logos divino no coração, no qual nos abre a eternidade na dimensão de nossa própria finitude. Portanto, arriscamos que a verità está presente no testemunho mais fiel de quem somos em nossa singularidade.
Podemos, de fato, pensarmos numa verdade objetiva e de natureza arquetípica, transcendente (a palavra grega Kalos é um ótimo exemplo para exprimir a verdade dessa magnitude), ou seja, no sentido trazido pela cultura platônica-cristã, na qual nos desvela uma tendência inata no foro de nosso coração, cuja graça nos direciona para a empreitada do agir correto e para a fortaleza da crença.
E também podemos pensar numa verdade subjetiva, que é a congruência entre o que falamos e expressamos no mundo compartilhado, e o que sentimos e pensamos em nosso mundo privado, numa procura pela autenticidade de nosso ser. Esta forma de manifestação da verdade diz respeito ao nosso exemplo de vida; é ela quem dá a tônica do que significa a nossa existência em meio a outros seres e formas de ser no mundo.
Já a verdade objetiva está na ordem da transcendência, um paradigma que tem grande influência em nossas ações e comportamentos. Tal verdade pode constelar em nosso íntimo, sendo uma realidade íntima para a qual nos abrimos ao mistério do seu ser. Esse é o caminho que cada um precisa fazer a fim de compreender a sua relação com esse fenômeno capaz de dignificar o ser humano em busca de significados e esperanças.