O JARDIM E A VIDA
A partir de meus doze anos eu ajudava mamãe e papai na horta e no jardim. Minha mãe tinha grande conhecimento de plantas, de como cuidar, podar, enxertar e muito mais. Aprendera com seu pai na fazenda. Ela procurava ensinar-me mas eu era, ainda, muito nova para me interessar e, muitas vezes, cometia erros.
Papai aparava a grama e eu varria e juntava. Nada era jogado fora, ia para uma composteira no fundo do quintal. Embora, naquela idade eu não tivesse muito interesse, mais tarde, por volta dos vinte anos, passei a olhar o quintal e o jardim com outros olhos. Comprei livros e tomei interesse pelas particularidades das plantas. Comecei a adquirir meus vasos e bonitas folhagens, querendo sempre saber o nome de cada uma, como plantar e cuidar corretamente. Aprendi muito ao longo dos anos e escolhi o jardim como meu laboratório. Passei a dar preferência às plantas que dão flores, pois estas também acrescentam mais vida, cor, perfume e alegria ao ambiente. Fiz até curso de jardinagem e paisagismo, assim que me aposentei.
Aprendi que, quem cuida de plantas deve ser muito resiliente. Elas dependem de água e de sol na medida certa. Fortes ventos, chuvas torrenciais, granizo, secas, geada, frio ou calor intensos, podem pôr tudo a perder.
Quando vejo na TV que grandes plantações foram perdidas devido a qualquer um desses fenômenos da Natureza, fico a pensar em meu pequeno jardim e nos canteiros de chás e temperos. Ouço o agricultor dizer de sua frustração e de que terá grande prejuízo devido à safra perdida. Senti-me assim, também, quando o granizo moeu todas as folhas e flores, ou a seca impediu o florescimento, ou as lagartas comeram os brotos novinhos, ou as roseiras, da noite para o dia, ficaram cobertas de pulgões. Contra as intempéries, pouco posso fazer, porém com relação às pragas, posso combatê-las. Outra luta quase diária é contra as pragas do solo, o famoso “matinho”, que requer constante vigilância.
Resiliência é o que precisa ter o agricultor da grande cultura e, dando-se a devida proporção, resiliência é o que tenho de ter para recuperar, replantar, fazer a limpeza, adubar, regar, podar e ver, finalmente, a planta florir, frutificar e lançar sementes. E que alegria é ver a primeira flor daquela roseira, do jasmim, da malva, dos quais cuidei com carinho.
Nunca desisti das minhas plantas, mesmo quando o granizo deixou só um pedacinho do caule, duas ou três folhas, porém não destruiu as raízes...
Recomeçar não me abate. Já fiz isso muitas vezes, no jardim e na vida. É um exercício de paciência e determinação. O resultado não é imediato. Das flores vem em forma de cor e perfume, na vida, resulta em gratidão e alegria.