Com o fascismo não se brinca
Não sei se você conhece um filme intitulado A Onda, lançado em 2008 e, pasme, baseado em caso real. Este filme conta a história de um professor, Rainer Wenger, que, instruído pela escola em que trabalhava, na Alemanha, falasse sobre governos autocratas para uma turma. Os alunos ficaram assustados, quando o professor explicou o que era o nazismo, o fascismo e outros tipos de governos autocratas, e disseram que, jamais, seria possível que um governo deste tipo pudesse tomar conta da Alemanha novamente. O professor então fez uma provocação à turma e disse que era muito fácil e que ele mostraria o como e, assim, propôs um experimento, na prática, sobre o como seria fácil instituir um regime fascista novamente, propondo que começasse na sua própria turma.
Então ele fez uma proposta para sua turma, que ele seria o líder supremo da turma e que eles deveriam criar um uniforme, uma saudação e uma logo para o grupo e disse que, quando os alunos fossem se dirigir à ele, que o chamassem de "Herr Wenger". Então ele, para criar uma sensação de pertencimento de grupo, propôs que todos deveriam usar apenas branco, e, quando uma aluna disse que isso acabaria com a individualidade e que se recusaria, foi retirada do grupo imediatamente. A ideia do professor era, justamente, fazer com que as pessoas sentissem uma sensação de pertencimento, de grupo, de algo que você mesmo não se distingue dos demais. E, depois, os alunos criaram uma logomarca e uma saudação e, com isso estavam com uma base do movimento estruturada. Desta forma, eles começaram a renegar todas as pessoas que fossem de fora deste grupo e as tratar como inferiores e, este grupo, começou a crescer e, com o tempo, a perder o controle. Então o professor chamou os alunos para o auditório da escola para uma reunião do grupo A Onda, sem explicar a razão, e, ele como líder supremo do grupo, tinha o respeito de todos e então todos foram para o auditório. Um aluno tenta convencer o professor de colocar fim no movimento e, nesta hora, membros do movimento o levam até o professor para que recebesse uma punição do líder, pois foi considerado traidor. Com o objetivo de tentar alertar à turma o quão extremo o movimento estava se tornando, o professor então pergunta para os membros do movimento o que fazer com um traidor e chegou a insinuar que poderia até matar, já que é isso que ditadores fazem e isso causou o espanto de alguns da turma, porém não de outros. O professor então interrompe este ato e começa a dizer que, na realidade, eles foram manipulados por ele, que aquilo era apenas um experimento e que todos sabiam disso e que já estava na hora de que ele acabasse e disse que estaria abandonando o movimento.
Como o sentimento de pertencimento de alguns já estava forte demais, e eles estavam levando aquilo muito à sério, houve represália de alunos que não queriam que o movimento, por eles mesmos criado, tivesse um fim. Sendo assim, um dos alunos mais proeminentes do grupo, teve um colapso nervoso e tirou uma arma de sua cintura, um colega tentou tirá-la de sua mão, ele atira em seu próprio colega e ameaça o professor e pergunta à ele o porquê ele não deveria atirar nele. O professor então responde que, matando o líder, não teria quem liderasse o movimento e, assim sendo, o movimento morreria da mesma forma e, nesta hora, o aluno dá um tiro em sua própria cabeça e comete suicídio, pois preferia viver dentro do movimento do que sem ele.
A lição que este filme deixa é muito clara, com o fascismo não se brinca, o assunto é sério, começa de forma sutil e, quando você percebe, ele já tomou conta e, se você está dentro, pode tomar gosto e não querer sair dele. Temos que estar o tempo todo atentos para estas questões de manipulação de massas, sabermos a que senhor estamos servindo quando vamos integrar algum movimento, quais seus objetivos reais, não os de discurso, pois, nas palavras, todos são maravilhosos. O dia que estiver pensando em extermínio de pessoas que pensem diferente de você, ou estiver com tanto preconceito que chega ao ponto dizer que algum segmento da população deva ser exterminado, reveja seus conceitos, pois já se radicalizou.
O que estamos vendo aqui no Brasil, e em diversos países no mundo, é o crescimento de movimentos autocráticos. Começou-se, literalmente, uma guerra e, pessoas que pensam diferente umas das outras, estão sendo exterminadas e as pessoas estão relativizando este fato. Se perceber o que está ocorrendo no Brasil, depois que Bolsonaro foi eleito, é justamente uma radicalização das pessoas que o seguem, ele quer armar seu grupo, desta forma, dá-se um poder para ele, o poder do medo, de forma que, pessoas que pensam diferente e não desejam isso, pensem milhões de vezes antes de confrontá-los numa simples troca de ideia de forma respeitosa. Além disso, chegou-se a um ponto que simples cores tomaram significados tão fortes, que o simples uso do vermelho faz o grupo radical bolsonarista proferir ataques gratuitos a quem está usando. Faz com que seus seguidores vejam os não seguidores como cidadãos inferiores, de forma que seus seguidores se sintam à vontade de fazer o que bem entendam com os não seguidores e, se somar tudo isso, estamos no embrião de uma entrada em guerra civil, vejam o ódio contra o povo nordestino destilado nos grupos bolsonaristas. Além disso, estamos criando um tripé muito perigoso, comparável com países das ditaduras árabes: governo autocrático, milícias como forças de segurança e religião manipulando as massas com suas pautas de moral e costumes.
Não sei se você viu um vídeo de uma entrevista com Bolsonaro no programa de televisão Câmera Aberta em 1999 em que Bolsonaro diz, abertamente, que defende a tortura e que gostaria de uma guerra civil para matar uns 30.000, mesmo que isso causasse morte de inocentes, seja lá o conceito de inocentes que ele tem no meio desta guerra. Disse, também, que se eleito presidente, tentaria um golpe de estado já no primeiro dia, enfim, tudo o que ele vem fazendo desde que assumiu o poder 19 anos depois, em 2018.
Para aqueles que acham que ele é um personagem, fala o que fala da boca para fora ou dizem que as falas dele foram tiradas de contexto, e que tudo isso é notícia falsa, um aviso: veja a realidade, compare tudo o que ele falou nesta entrevista com o que está acontecendo agora. E outro aviso: se, depois de analisar tudo, fizer o paralelo com o falado e com a realidade, chegar à conclusão de que é verdade o que ele falou e que ele está executando este plano de fato e, mesmo assim, continuar defendendo Bolsonaro, você é fascista. Porém, se você analisar tudo e chegar á conclusão que a realidade não é bem essa e que isso é um exagero, então sinto muito, pois é apenas um inocente útil.