Do humanismo ao bestialismo
Do humanismo ao bestialismo
Félix Maier
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Foto: Cães da raça Corgi acompanharam o enterro da Rainha Elizabeth II.
Causou comoção mundial, a Rainha Elizabeth II afagando seus cães antes de morrer, no Castelo de Balmoral, Escócia. Durante sua vida, ela chegou a ter mais de trinta cães da raça corgi, que inicialmente era criada na Grã-Bretanha para o pastoreio. Ainda mais emoção causou ao mundo inteiro, quando os pets de estimação acompanharam o enterro da monarca, falecida em 8 de setembro.
Cães sempre foram animais de estimação preferidos da humanidade, desde tempos muito remotos. Seja para a caça, para a guarda da casa, seja para ajudar a farejar pessoas desaparecidas no mato ou sob escombros, ou uma simples companhia caseira – como ocorre muito nos tempos atuais -, os cães sempre foram uma presença constante na vida das pessoas, de tal forma que o cão chegou a ser qualificado como “o melhor amigo do homem”.
Uma coisa é certa: você conhece o caráter de um indivíduo ao ver como ele trata um cão em particular ou um animal em geral. Maltratar um bicho que só sabe demonstrar carinho, fazendo festa quando seu dono chega em casa, é próprio de uma pessoa vil, capaz de fazer qualquer tipo de maldade.
Ao longo da História da Humanidade, o homo sapiens passou por várias fases da crença em divindades, começando pelo animismo, ou seja, pela adoração do meio ambiente, forças da natureza, animais, matas, rios, rochas, oceanos. Depois, progrediu para o politeísmo, a crença em vários deuses, como na Grécia e Roma antigas. Por fim, atingiu seu ponto máximo, o teocentrismo, a crença em um Deus único, criador do Universo - que é o caso das três maiores religiões monoteístas: a judaica, a cristã e a islâmica.
Durante a Idade Média, predominava na Europa cristã o teocentrismo. Em meados do século XIV (1300), surgiu no Velho Mundo o Renascimento, inspirado na civilização greco-romana, que se estendeu até o século XVII. Esse movimento, chamado de humanismo, propôs o antropocentrismo, em substituição ao teocentrismo, ou seja, o ser humano passou a ser considerado o centro de todas as coisas. Além das obras fantásticas que até hoje persistem em museus da Europa, especialmente na Itália, como pinturas e esculturas, o Humanismo é a filosofia que moldou o mundo moderno.
Foto: Mona Lisa, de Leonardo da Vinci - Museu do Louvre, Paris.
Foto: Pietà, de Michelangelo - Basílica de São Pedro, Vaticano.
A partir do Humanismo, começou a decair não só a ideia de Teocentrismo, mas do próprio Deus, pelo menos entre os intelectuais. O ateísmo e expressões como “Deus está morto” passaram a fazer parte da obra de inúmeros filósofos, como Karl Marx, de origem judaica, e Friedrich Nietzsche, filho de pastor luterano.
Crer em Deus, sabemos, é uma questão de fé. A isso chamamos de fideísmo. A pessoa crê ou não crê em Deus. Blaise Pascal, importante matemático e teólogo católico, é também conhecido por sua “Aposta de Pascal”, em que afirma que, mesmo que a existência de Deus não possa ser determinada pela razão, uma pessoa deveria apostar que Deus existe, pois dessa forma teria tudo a ganhar e nada a perder.
Para Pascal, “é irracional não acreditar em Deus, se pensarmos cuidadosamente nas alternativas:
. Deus existe e acredito; ganho o infinito.
. Deus existe e não acredito; perco o infinito.
. Deus não existe e acredito; o que perco não é significativo.
. Deus não existe e não acredito; o que ganho não é significativo.”
No fundo, a Aposta de Pascal é uma questão matemática, uma teoria das probabilidades.
Em suas obras, como Suma Teológica, o filósofo e teólogo católico Tomás de Aquino vai além do fideísmo e expõe 5 vias (argumentos), de que é possível, sim, provar a existência de Deus, sendo que seus modos de demonstração partem dos efeitos às causas. Por exemplo, se existe uma criatura, é porque existe um criador.
Atualmente, muitos filósofos e cientistas são ateus, como Yuval Noah Harari, autor do best-seller Sapiens - Uma breve história da humanidade, porém não deixam de reconhecer a importância que as religiões tiveram e ainda têm para a humanidade, especialmente em seus aspectos sociais, culturais e morais. A Bíblia não é um livro histórico, que deva ser lido ao pé da letra, mas um texto sagrado, com sentido tanto metafórico quanto espiritual, com a mensagem de que o destino humano está além de sua existência terrena. No dia 25 de setembro de 2022, os judeus comemoraram a entrada do ano 5.783, conhecido como Rosh Hashana (“Cabeça do Ano”). Ou seja, para os judeus, a Terra foi criada há 5.783 anos. Se lermos o Gênesis, veremos que esse livro sagrado tem em comum muito mais de Teoria da Evolução do que talvez pudéssemos imaginar.
Vejamos.
No Gênesis, há uma sequência de atos divinos, como a criação do universo e da Terra, a criação da luz (seria a explosão do Big Bang?), a criação das águas e o elemento árido (terra), a criação de plantas e sementes para elas se reproduzirem, a criação do dia e da noite e das estações, “para distinguir os tempos, os dias e os anos” (Gn 1,14), a criação de animais nas águas, assim como a criação de animais terrestres. E que o primeiro ser humano foi feito do barro, à “imagem e semelhança” de Deus (Gn 1, 26). “O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra e inspirou no seu rosto um sopro de vida, e o homem tornou-se alma (pessoa) vivente” (Gn 2, 7). Interessante é ver que o Gênesis afirma que a vida, inicialmente, veio das águas, não da terra firme, uma prova também aceita pela Teoria da Biogênese, em que todos os seres vivos da Terra se originaram e evoluíram a partir de outros seres vivos.
Charles Darwin, que foi educado para ser um pastor anglicano, renegou a fé cristã, especialmente depois de sua viagem de estudos ao redor do mundo, que resultou em sua obra revolucionária A Origem das Espécies, publicada em 1859. Em manuscrito leiloado em 2015, Darwin escreve: “Lamento ter de informá-lo que não acredito na Bíblia como revelação divina e, portanto, tampouco em Jesus Cristo como o filho de Deus. Atenciosamente. Ch. Darwin”.
Ao mesmo tempo em que consideram a religião um conceito ultrapassado, os positivistas apresentam-se como "apóstolos" (uma concepção cristã) e criaram o "Apostolado", que vem a ser a própria comunidade positivista. Como se sabe, o positivismo divide a história humana em três fases: 1) teológica ou fictícia; 2) metafísica ou abstrata; e 3) positiva ou científica. Apesar disso, o francês Augusto Comte criou um novo calendário universal (incluindo nomes religiosos!) e a "Religião da Humanidade", um conceito pastoso de "fim da história" proposto por sua “Ditadura Republicana”, de inspiração nos césares do Império Romano. Vale dizer que tal filosofia teve mais importância no Brasil do que na Europa, com destaque para os militares que proclamaram a República. O dístico “Ordem e Progresso”, gravado em nossa Bandeira, é um conceito positivista, que faria parte da primeira fase da implantação da “Ditadura Republicana”.
O livro Quincas Borba, de Machado de Assis, aborda um tipo de Humanismo visionário beirando a loucura, chamado de Humanitismo, em que predomina “o caráter conservador e benéfico da guerra”, onde predomina a lei do mais forte, “ao vencedor as batatas” (cfr. ASSIS, 1978: 21-22).
O opúsculo O Solidarismo como Filosofia Universal e como Partido foi escrito em 1961 por Severino Mariz Filho, inspirado nas ideias do Prof. Heitor Calmon. Obra avant la lèttre - pelo menos no que se refere à solidariedade “criada” pelo politicamente correto -, pretende aliar o comunismo à democracia, uma aberração que pode ser comparada às experiências “totêmicas” de “cientistas soviéticos”, que tentaram realizar o contubérnio da mulher com o chimpanzé.
“O estudo econômico da vida, focalizado pela uniformização criada através do Sindicalismo Mutualista, desafia os legisladores e pensadores contemporâneos de todo o mundo, no sentido de codificá-lo, numa fusão dos ideais defendidos pelo comunismo e pela democracia, constituindo-se um todo harmônico e universal - o solidarismo” (MARIZ FILHO, 1961: I). O Solidarismo flerta com a anarquia e com o socialismo, ao criar uma nova sociedade a partir de uma tábula rasa: “O Estado solidarista desenvolverá a participação da pessoa humana na coletividade pela educação e pelo interesse. Somente a educação poderá efetuar a preparação do fim a que se propõe o Estado solidarista, configurando uma homogeneidade, que se apresenta como fator de harmonia na vida coletiva. Por essa razão, o Estado solidarista seria contrário à existência de escolas, cujas normas educativas contrariassem seus objetivos solidaristas, pela manutenção de uma herança social, imposta à criança, visando à conservação das instituições e ideias de grupos, em concorrência perniciosa aos ideais do solidarismo, que pretende eliminar, no porvir, a preponderância de uns sobre os outros, já que a consciência solidarista solicita cooperação mutual e condena prepotência” (MARIZ FILHO, 1961: III).
Depois de algumas divagações metafísicas, voltemos aos animais de estimação. Você já ouviu falar em “Animalismo”?
Atualmente, há, digamos, outra forma de Humanismo, que também podemos chamar de “Animalismo”, que é a exaltação da vida dos animais, muitas vezes igualada à vida dos humanos. Nesse sentido, não existe mais o sagrado na pessoa humana, como é preconizado na Bíblia, mas a simples constatação de que o homo sapiens é apenas mais um bicho que habita a Terra. Muitas pessoas não se referem mais aos pets como “animais de estimação”, mas os chamam de “filhos”. Não são mais donos de pets, mas “tutores”. Hoje, temos no Brasil mais cães do que crianças - 52,2 milhões contra 45 milhões. Dá menos trabalho ter um cão ou um gato em casa do que uma criança.
Em Brasília, observa-se uma população crescente de cães nas ruas e ninguém toma providência para recolhê-los, exceto algumas ONGs ligadas à defesa dos animais, que também fazem o trabalho de castração. Muitas pessoas já foram atacadas nas calçadas por bandos de cachorros, inclusive pit bulls, que causam o terror com seus latidos e arreganho de dentes. Infelizmente, muitas pessoas largam cães nas ruas, por não querer mais ser seu “tutor”, como denunciam muitas câmaras espalhadas nas ruas. Uma maldade! A Diretoria de Vigilância Animal de Zoonoses diz que apenas recolhe cães e gatos doentes, mas como saber quais animais estão afetados pela raiva ou outro tipo de doença, como leishmaniose visceral canina, leptospirose e esporotricose?
Uma coisa que chama a atenção no DF é ver pessoas abrigando centenas de cães e gatos, a um custo altíssimo, seja com alimentação, seja com cuidados veterinários. Não seria melhor drenar esses vultosos recursos para combater a fome de tantas crianças que moram em bairros paupérrimos, como Santa Luzia, Sol Nascente, Pôr do Sol e Itapuã? É urgente a volta da carrocinha e, por que não? o sacrifício de uma população que cresceu muito e está fora de controle. Não somente cães e gatos, mas também capivaras, que estão tomando conta da orla do Lago Paranoá e até atacando pessoas.
Maus tratos a animais, no Brasil, podem levar o criminoso a sofrer pena de reclusão de 2 a 5 anos, enquanto maus tratos a humanos tem pena menor, de 2 meses a 1 ano ou multa para casos sem agravantes ou reclusão de 1 a 4 anos para lesão corporal grave - uma total inversão de valores. Matar uma tartaruguinha é crime hediondo, porém matar um nascituro (aborto), em muitos países, é apenas “o direito da mulher dispor do próprio corpo”, um absurdo!
A Revolução dos Bichos, de George Orwell, é uma sátira contundente sobre a ditadura stalinista e fala também do “Animalismo”, criado pelo “Porco Major”, ou seja, Karl Marx. Mas aí, é outra história, trata-se de uma distopia, assim como também é o livro 1984, do mesmo autor.
No Distrito Federal, durante a campanha eleitoral deste ano, vários candidatos se apresentam como defensores dos animais, sendo que duas moças trazem um cão no colo, com muitos beijos, enquanto se apresentam ao público. Um candidato se apresenta como tendo “dois filhos e uma filha canina”. Muito fofinhos, todos eles, com seus pets.
Com o início das chuvas depois da longa estiagem, é comum aparecer nas cidades do DF vários tipos de animais, como cobras, gambás, capivaras, saruês, e diversas aves, como jacus, siriemas, araras e tucanos. Já não causa surpresa quando um coronel da Polícia Ambiental, em entrevista ao jornal DF TV, da Rede Globo, afirma que os animais capturados nessa época são devolvidos à natureza somente depois que estejam “psicologicamente bem”.
Nem é preciso falar em bestialismo, já comum em alguns países da Europa. Basta observar que cães enormes, do tamanho de um bezerro, dormem nas camas com seus donos, como muitos gostam de postar nas redes sociais, muitas vezes em apartamentos diminutos, o que não deixa de ser uma tortura para os animais, que ficam presos o dia inteiro em casa, sem passear. Seria exagero dizer que intimidades com bichos enormes na cama, com beijos língua-com-língua, em muitos casos, configuraria a prática de bestialismo? Será que vai chegar o dia em que o Z de Zoofilia seja acrescentado ao LGBTQIA+? Espero que não, embora hoje tudo seja possível, pois o ser humano passou a ser tratado como um simples animal a mais na natureza.
A propósito, em sua fase totêmica, Lênin mandou fazer experiências sexuais envolvendo mulher e chimpanzé:
“No seu gabinete de trabalho era visto, como um feitiço, um gorila de bronze sustendo nas mãos uma caveira humana” (PEREIRA, 2003: 89). “Na fase ‘totêmica’, os animais e vegetais facilmente são concebidos como se transformando uns aos outros. (...) Essa doutrina, que preconiza a crueldade impiedosa, como sendo o dínamo do progresso humano, está de tal modo erigida em ‘totem’ do comunismo, que telegramas recentíssimos anunciavam ao mundo civilizado estupefato, que se estava perpetrando, na Rússia, o sacrilégio de ‘experiências’ inumanas com o fito de demonstrar, in anima nobile, a possibilidade de transformação das espécies! De fato, os ‘cientistas’ soviéticos entregam-se, em nossos dias, à tarefa de realizar o contubérnio macabro da mulher com o chimpanzé!!!” (idem, pg. 97).
Na novela Pantanal, a moça que cuida da onça pintada, quando esta entra em cena para gravação, disse em entrevista que a felina foi “humanizada” desde tenra idade, para não sofrer stress frente aos humanos. “Humanizada”! E Juma Marruá, teria sido “bestializada”, quando literalmente “vira uma onça”? Na mesma novela, o Velho do Rio vira sucuri. E, na Amazônia, jovens esbeltos viram botos, para seduzir donzelas. Aos poucos, Humanismo e Animalismo estão virando uma coisa só, fictícia ou literalmente.
Senão, vejamos.
A Animal Liberation Front - ALF (Frente de Libertação Animal) é uma ONG do Reino Unido que promove ataques terroristas contra pesquisadores e centros de pesquisa que utilizam animais para a produção de vacinas e outros experimentos. Também atacam comerciantes de peles de animais e incendeiam lanchonetes fast food na Europa, que utilizam carne vermelha no cardápio. O neurocientista americano David Jentsch, da Universidade da Califórnia, já teve seu carro destruído por elementos da ALF e recebeu lâminas contaminadas por HIV. Em 1997, a ALF invadiu laboratórios da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e soltou 80 saguis e alguns macacos. Em 2008, a ALF invadiu laboratório de Biociências da USP, destruindo material de pesquisa, equipamentos e computadores. Do jeito que as coisas vão, os ecoterroristas da ALF e da Earth Liberation Front – ELF (Frente de Libertação da Terra) podem também atacar as plataformas vegetais com as quais se começam a fabricar novas vacinas. Afinal, planta também tem “sentimento” e gosta de “ouvir música”, principalmente música clássica, ao contrário dos maconheiros, que preferem rock pesado e funk. Produtores de vinho na Itália usam a música clássica para melhorar a qualidade de seu produto. Em 04/01/2011, a Bio-Manguinhos assinou contrato com o Centro Fraunhofer para Biotecnologia Molecular e a iBio Inc., dos EUA, para produzir vacina contra a febre amarela a partir de uma planta, sem o uso de vírus atenuado. Outros grupos que pretendem igualar os humanos aos animais: Animal Rights Militia - ARM (Milícia dos Direitos dos Animais), Hunt Retribuition Squad - HRS (Esquadrão de Resposta pela Caça), Mobilization For Animals - MFA (Mobilização pelos Animais), People for the Ethical Treatment of Animals - PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais).
A Teoria de Gaia, também chamada de Hipótese de Gaia ou Hipótese Biogeoquímica, foi formulada em 1969 e publicada em 1979 por James Ephraim Lovelock, que considera o planeta Terra como um “ser vivo” e que é “uma entidade complexa que inclui a biosfera, atmosfera, oceanos e terra, constituindo na sua totalidade um sistema retroalimentado que busca um entorno físico e químico propício para a vida no Planeta” .
“Quem somos? Por que estamos aqui? Não sei exatamente quais seriam as respostas dos verdes para essas perguntas. Respondendo à primeira, diriam algo assim: ‘Apenas uma espécie, como qualquer outra!’ E quanto à segunda: ‘Apenas Gaia sabe, mas gostaria que não estivéssemos. O planeta seria muito melhor sem nossa presença’” (DELINGPOLE, 2012: 259).
A Earth Liberation Front (Frente de Libertação da Terra) é uma ONG formada por ecoterroristas que defendem, p. ex., o lince real e promovem ataques terroristas nos EUA e na Europa. Na mira do FBI, já promoveram muitos atentados terroristas contra condomínios da classe alta e carros de luxo. Em 2003, a ELF ateou fogo em uma concessionária norte-americana e destruiu 40 jipes considerados “poluidores” para a organização. No dia 18/06/2010, a ELF incendiou carros em uma concessionária da Land Rover localizada na Marginal Pinheiros, em São Paulo.
Em 2013, algumas mulheres famosas, como Luiza Mell e Nicole Puzzi, comemoraram o fechamento do Instituto Royal, em São Roque, SP, depois que mais de 100 “ativistas” levaram 178 cães beagle e alguns coelhos, que eram usados em testes de produtos farmacêuticos. Uma vitória para os radicais gatunos, uma fatalidade para a ciência.
As ONGs ambientalistas radicais são os onagros vermelhos de ontem transformados nos onagreens de hoje. Onagreens é um neologismo que eu criei para designar os antigos onagros vermelhos (comunistas), hoje convertidos em greens (verdes), que são tanto os políticos dos partidos verdes, quanto as ONGs ditas preservacionistas (Greenpeace e similares). Quando eram comunistas, eles nunca questionaram o furo da camada de ozônio, o efeito estufa ocasionado pela poluição mundial, o degelo das calotas polares, o desastre de Chernobyl, nem a poluição da fubica Trabant. Hoje, criam milhares de ONGs para salvar a Amazônia, as tartarugas marinhas, o mico-leão-dourado, as focas, a ararinha-azul, a perereca-de-capacete-do-rio-pomba e, com isso, salvar a humanidade. Até o ex-líder soviético, Mikhail Gorbachev, falecido em 30/08/2022, criou em 1993 a Cruz Verde Internacional, ONG que pregava uma “perestroika” para as políticas ambientais. Você, caro leitor, sente mesmo alguma falta dos dinossauros? E baleias e tubarões, para que existem? Somente para comer toneladas de peixes que poderiam saciar a fome de humanos.
Mas, como tudo pode piorar um pouco mais, existe a Voluntary Human Extinction Movement - VHEMT (Movimento para a Extinção Humana Voluntária), cujo lema é "Que possamos viver muito e desaparecer (May we live long and die out)". Junto com a Gaia Liberation Front – GLF (Frente de Libertação de Gaia), o VHEMT prega a total libertação da Terra, ou seja, a extinção dos humanos como espécie, considerada uma “raça alienígena”.
De acordo com esses movimentos que querem ver a humanidade varrida da face da Terra, existe uma espécie de “eugenia ecológica”, em que só os animais e as plantas deveriam existir. O livro de Harrison Brown, “The Challenge of Man’s Future” (“O Desafio do Futuro do Homem”, de 1954), sugere que a superpopulação mundial fosse resolvida de modo semelhante ao projeto nazista: “Desta forma, se poderia esterilizar, ou, por outros meios, desestimular a reprodução por casais de deficientes mentais. Poderíamos ir mais além e tentar expurgar da sociedade, impedindo-as de procriar, pessoas que sofressem graves defeitos físicos hereditários, tais como as formas congênitas de surdez, mudez, cegueira ou falta de membros” (apud DELINGPOLE, 2012: 158). Ainda sobre nazistas e meio ambiente: Hitler aboliu o fumo nos transportes públicos; Goering em 1933 já falava sobre os “direitos dos animais”; em 1935, foi aprovada a Lei de Proteção da Natureza do Reich; defesa dos alimentos orgânicos (obsessão de Himmler) e do vegetarianismo (uma mania de Hitler). Pérola de Brown, em seu livro acima citado: “Se houver uma autoridade mundial com jurisdição para resolver os problemas populacionais, a tarefa de estabelecer níveis máximos de população com base em critérios regionais não será tão difícil quanto possa parecer” (apud DELINGPOLE, 2012: 158).
Outro catastrofista ambiental, Paul Ralph Ehrlich, escreveu em 1968 “The Population Bomb” (“A Bomba Populacional”). Chris Packham, na série “Springwatch”, da BBC, defende com obstinação a “retidão ecológica” a respeito do ser humano: “’Vocês não merecem ver esta cena. Esses bichos estariam melhor se vocês não estivessem aqui’. Claro que isso só pode ser minha imaginação, alimentada pelo que leio sobre sua ardorosa defesa do aquecimento causado pelo homem e sua postura um tanto superzelosa. Porém, quando perguntado mais uma vez por Radio Times que animal ele não se importaria em ver extinto, Packham respondeu: ‘Seres humanos. Sem dúvida. É o único’ ” (apud DELINGPOLE, 2012: 146).
Não consta que esses propagadores da extinção humana tenham se jogado de algum penhasco ou arranha-céu, para que a Terra ficasse mais livre para os bichos. Com certeza, pregam o suicídio e extermínio alheiro, não de si próprios.
Voltemos aos fofinhos animais de estimação, abordado no início deste texto.
Em nenhum momento eu sugeri que não tenhamos mais que conviver com animais de estimação, especialmente cães e gatos. Isso seria um absurdo sem tamanho. Minha crítica é feita em relação aos exageros que ocorrem hoje em dia, quando muitas pessoas tratam bicho como sendo gente, o que é ridículo.
Mesmo morando em apartamento, já tivemos o Rex, uma mistura de pastor alemão e cocker, que foi doado a um amigo quando fomos morar no Egito, de 1990 a 1992, época em que trabalhei na Embaixada brasileira como Auxiliar de Adido Militar. Foi uma dor muito grande para toda a família, se desfazer do animal, especialmente para meu filho Wagner, que gostava de passear com o cão na Quadra 113 da Asa Norte, Brasília, com o qual trocava lambidas no mesmo picolé...
Também tivemos dois gatos vira-latas, o Willy e o Milky. Este último, morreu em plena pandemia da Covid-19, em 2020, aos 17 anos, depois de passar algumas semanas num hospital veterinário. Era um gato muito brincalhão até o fim de sua vida. Deixou muita saudade!
Foto: Milky, o gato brincalhão.
Concluindo: para onde caminha a humanidade?
Com o crescente abandono do Teocentrismo e do Humanismo, parece que estamos caminhando definitivamente para o Animalismo, em que o ser humano é rebaixado ao nível de um simples animal de duas patas, despido do sagrado que é preconizado na Bíblia. Para muitos, se há seres sagrados, são as tartarugas-marinhas do Projeto TAMAR, não os fetos humanos. Ou seja, moralmente estamos retrocedendo para o Animismo, dos homens das cavernas e seu pavor diante de raios, trovões e tempestades.
Enquanto isso, nunca se viu tanto progresso científico na humanidade, como hoje em dia, com o avanço da inteligência artificial, que utiliza tecnologias como redes neurais artificiais e algoritmos para tomadas de decisões, não só para governanças corporativas, mas também para uso individual, como a prevenção precoce de doenças e aumento considerável da longevidade. Para Yuval Noah Harari, em seu livro HOMO DEUS, está surgindo uma nova ideologia, o “dataísmo”, alicerçado em dados de computador, o Big Data, em que “o fluxo de informação é o valor supremo”.
Como todo ateu que se preza, Harari prega um novo tipo de “religião”, o Secularismo, em outro best-seller, 21 lições para o século 21. Para o historiador, o ideal secular está alicerçado em quatro mandamentos: 1) a verdade científica, 2) a compaixão - que envolve o sofrimento das pessoas, 3) a coragem – “para combater preconceitos e regimes opressivos” e 4) a responsabilidade - “por tudo o que fazemos ou deixamos de fazer”.
Enquanto existir sobre a face da Terra, uma coisa nunca irá acabar no ser humano, único animal racional da natureza: a sede insaciável pelo conhecimento, quem somos, de onde viemos e para onde estamos indo.
E assim caminha a humanidade...
Bibliografia consultada:
AIDAR, Laura. 13 principais obras renascentistas para conhecer o período. CULTURA GENIAL. https://www.culturagenial.com/principais-obras-renascentistas/. Acesso em 28/09/2022.
ASSIS, Machado de. Quincas Borba. Editora Egéria Ltda, São Paulo, 1978. Baixe o livro em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000243.pdf.
BÍBLIA SAGRADA. Edições Paulinas, São Paulo, 1971 (26ª. Edição). Traduzida da Vulgata e anotada pelo Pe. Matos Soares.
Blog Petz. O Brasil já tem mais pets que crianças. 15/01/2015. https://www.petz.com.br/blog/noticias/brasil-tem-mais-pets-que-criancas/#:~:text=Estimando%201%2C8%20c%C3%A3es%20nas,45%20milh%C3%B5es%20segundo%20o%20estudo. Acesso em 28/09/2022.
CAVALCANTE, Felipe. As 5 vias de Tomás de Aquino que provam a existência de Deus. FILOSOFIA DO INÍCIO, 01/07/2021. https://filosofiadoinicio.com/2021/07/5-vias-tomas-de-aquino.html. Acesso em 29/09/2022.
DELINGPOLE, James. Os melancias - Como os ambientalistas estão matando o planeta, destruindo a economia e roubando o futuro de vossos filhos. Topbooks, São Paulo, 2012 (Tradução de Gleuber Vieira).
EL PAÍS. Lamento informá-lo que não acredito na Bíblia nem em Jesus Cristo. 08/09/2015. https://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/08/ciencia/1441706579_830162.html. Acesso em 28/09/2022.
HARARI, Yuval Noah. 21 lições para o século 21. Companhia das Letras, São Paulo, 2018. Tradução de Paulo Geiger.
HARARI, Yuval Noah. HOMO DEUS - Uma breve história do amanhã. Companhia das Letras, São Paulo, 2016. Tradução de Paulo Geiger.
HARARI, Yuval Noah. SAPENS - Uma breve história da humanidade. L&PM POCKET, Porto Alegre, 2018. Tradução de Janaína Marcoantonio.
MAIER, Félix. A LÍNGUA DE PAU - Uma história da intolerância e da desinformação. Brasília, 2021. E-book disponível em https://drive.google.com/file/d/1jfaOpIMbwzhlaQxspnA9hBnyHX8KX4_E/view.
MAIER, Félix. Bandeira Nacional e Positivismo. https://felixmaier1950.blogspot.com/2020/08/bandeira-nacional-e-positivismo-por.html. Texto originalmente publicado no site Usina de Letras, 21/11/2005. Acesso em 28/09/2022.
FILHO, Severino Mariz. O Solidarismo como Filosofia Universal e como Partido. Rio de Janeiro, GB, 1961.
JORNAL NACIONAL. Música clássica é usada para melhorar qualidade de vinhos na Itália. 05/10/2012. https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/10/musica-classica-e-usada-para-melhorar-qualidade-de-vinhos-na-italia.html. Acesso em 28/09/2022.
MURCHO, Desidério. A Aposta de Pascal. Estado da Arte - Estadão, 12/12/2019. https://estadodaarte.estadao.com.br/a-aposta-de-pascal/. Acesso em 28/09/2022.
PEREIRA, Alfredo Severo dos Santos. As Falsas Bases do Comunismo (3ª. edição). Editora Vila do Príncipe, Curitiba, 2003.
SEQUEIROS, Leandro. Feliz centenário James Lovelock! Eco.21, 01/07/2019. https://eco21.eco.br/edicoes/feliz-centenario-james-lovelock-james-lovelock-celebra-seu-centenario-e-50-anos-da-teoria-de-gaia/. Acesso em 28/09/2022.
Obs.: Para ver as fotos e acessar os links sugeridos neste trabalho, acesse https://felixmaier1950.blogspot.com/2022/09/do-humanismo-ao-animalismo-por-felix.html