O SONHO AINDA NÃO ACABOU! - parte 1 - Livro sobre IMAGINE do John Lennon, o ex The Beatles

05 12 22 11h *

A maior parte desse livro tem bastante ficção, é de fato muita imaginação: esse trabalho não cogita doutrinar e nem "desdoutrinar" ninguém, por isso, amigo leitor, não pense que você encontrou uma verdadeira nova religião universal nesse livro!

Esse trabalho falará sobre a "atmosfera" que engloba uma poesia da obra musical de um dos ex Beatles!

As frases abaixo, é uma tentativa de justificar a intenção de se criar uma estória que é quase que totalmente fictícia, mas, que parece valer a pena conhecê-la para uma boa reflexão:

John Lennon disse que o melhor livro que ele leu foi o “Alice no país das maravilhas”.

Lewis Carroll em seu Best seller Alice no país das maravilhas” escreveu: “-- Não se pode acreditar em coisas impossíveis’”. — Disse Alice. -- Suponho que você não tenha praticado muito isso! -- Respondeu à rainha. -- Quando tinha sua idade, eu sempre praticava meia hora por dia. “Às vezes chegava a acreditar em até seis coisas impossíveis antes do café da manhã’”.

Spinosa dizia que a “imaginação é tão importante quanto o conhecimento”.

Einstein foi além, pregava que a imaginação é até mais importante que o próprio conhecimento, e que só por meio da imaginação, da intuição e do acaso é que descobriremos a verdade. Lembrem-se, foi um grandíssimo físico quem disse isso.

Shakespeare disse que “o mundo todo é um palco e todos nós somos apenas meros atores”.

Jung disse que: “Há coisas que ainda não são verdadeiras, que talvez, não tenham o direito de serem verdadeiras, mas que poderão ser amanhã”.

Júlio Verne disse: ”Tudo que uma pessoa pode imaginar, outra pode torná-la real”.

Nietzsche falou que: “E, especialmente, acima do Céu: pois, todos os Deuses são metáforas e subterfúgios de poetas!”. Disse ainda: “Em verdade, algo nos leva sempre para o alto, precisamente, para o reino das nuvens: nelas pousamos as nossas coloridas roupagens e, então, chamamos-lhes Deuses e super-homens”.

Nietzsche disse ainda que: ”Não acreditamos que a verdade continue sendo verdade quando (lhe) tiramos o véu”.

Foi Oscar Wilde quem disse: “cuidado com o que deseja porque ele pode se realizar”.

Shakespeare disse: “Somos feitos da mesma matéria da qual são feitos os sonhos”.

Quando o Buda foi questionado sobre o que era a verdade, este lhe respondeu: “Verdade é tudo que pode ser útil”.

Jung disse: “Eu não vejo (muita) diferença entre o sonho (sendo ele apenas uma manifestação do inconsciente) e (a própria) realidade”. E “o sonho não é menos real do que a realidade”.

Tom Zé disse: "Eu vou te ensinar para te confundir e te confundir para te esclarecer".

A seguir conheceremos os comentários feitos por algumas das pessoas que leram o esboço do meu texto:

Olá, moço, sou a Maria: Seu livro é um projeto muito audacioso, e corajoso, somente alguém com uma mente privilegiada poderia escrever tudo aquilo, estou ainda meio em choque, surpresa, e encantada.

O meu nome é Rafael, mas pode me chamar de Rafha: Eu Li o seu livro em um dia, e simplesmente adorei! Ele é realmente divino! É sim uma obra fantástica! Quero que você saiba que é sempre bom conversar com um futuro ganhador de um prêmio Nobel de literatura, ou até, talvez, quem sabe, o Nobel da paz! Nem parece que o seu livro foi escrito por uma pessoa que se diz um simples Panteísta.

Oi, sou a Regina: É muito legal o seu livro, apesar dele me deprimir um pouco, estou meio sensível a essas questões que o seu livro trata, pois, ele dá uma mexida e uma remexida nas minhas feridas, e às vezes ele é devastador para mim, porque não parece que é apenas uma estorinha que estão contando bem longe de mim, está mais para uma análise de mim mesma, é como se você soubesse um monte de coisas da minha vida, e tivesse colocado no seu texto de propósito somente para que eu pudesse pensar melhor em tudo o que aconteceu comigo!

Eu sou o Miguel: Estou muito entusiasmado com o seu livro, você é um poço muito profundo de conhecimentos e é de larga visão. Achei impressionante as suas ideias. Você vai fundo mesmo: (uma semana depois): já estou relendo a sua obra. Menino, não sei o que está havendo com a minha cabeça, ela está muito quente. Teu livro é uma fornalha para quem raciocina, ERGO SUNT (eu penso)! Para quem pensa, seu livro é uma visão maravilhosa de ver a vida e suas verdades.

Olá, sou a Hélen: Devorei o seu livro em apenas um dia, comecei a ler e não consegui mais parar! É legal saber que existe pelo menos um homem nesse mundo com toda a sua enorme sensibilidade!

Oi, o meu nome é Lúcius: Quando examinei a sua obra a adorei, pois você procura manter viva a chama da literatura. Realmente você está no caminho certo. Queira aceitar os meus mais sinceros parabéns! Deverás contar não só essa parte, mas escrever ainda mais e pesquisar e nos informar por escritos que fiquem para a posteridade! Saiba que com o teu talento vai buscar a Beleza do estilo e ajudar a manter viva a chama da literatura. É assim mesmo que você deve fazer, siga em frente que tens talento!

O meu nome é Lígia: O seu texto é muito interessante, entretanto, eu acredito, como psicóloga, que seu texto não é para todas as pessoas, seu texto é para um público bem específico, pois, algumas pessoas que são muito carentes ou que procuram por algo fácil para acreditar poderão ser induzidas e eles irão acreditar que o seu "poema" se trata da pura VERDADE, porém, você tem talento e deve continuar escrevendo, já que, o teu livro tem essência, por isso parabéns a você!

oi, Eu sou o Júnior: Parabéns, se você queria escrever uma grande porcaria! Conseguiu! Eu nunca li tantas besteiras juntas, você, com toda a certeza, entrará para o Livro dos Recordes. Duvido que algum verdadeiro ateu goste do seu livro: que em sua essência é super religioso!

Eu sou a Sandra: como Professora de línguas deparo-me com a inércia de alunos que se recusam a escrever. É muito importante que as pessoas tenham coragem de expressar o que sentem, mesmo que com alguns erros, é preciso dar o primeiro passo. Esse é o seu primeiro trabalho? Pois, está ótimo! Parabéns, espero que você consiga publicá-lo.

Eu sou o Luís e vou dizer: estou analisando seu livro para lhe enviar uma resposta: o teu texto é um estado de fantasia com uma ficção e de repente você se depara com a realidade gritando forte. É um livro que prende muito sua atenção, pois, você viaja pela imaginação e volta logo para a realidade completa! Achei interessante que você conseguiu amarrar a fantasia com ficção e realidade de uma forma que não ficou quebrado, meu amigo, parabéns!

Oi, sou a Débora: adorei o seu livro, ele é de ótimo gosto, e quero dizer, que ele te faz pensar em toda a sua vida, além dele te emocionar bastante. Parabéns! Gostaria de enviar, como uma espécie de presente, para alguns amigos meus, suponho que eles vão dar outro sentido a vida deles assim como eu dei na minha. Afinal de contas, após ter lido o seu livro, eu não sou mais a mesma pessoa, acredito que ninguém será mais a mesma pessoa após lê-lo também. Ainda sobre o seu livro, eu queria dizer que parece que eu mesma havia escrito (alguns trechos dele, mas, somente alguns mesmo). Tento fazer a minha parte para que esse mundo seja um lugar melhor, tento ajudar as pessoas, tento ser uma pessoa solidária, e dar atenção às outras pessoas que precisam de alguma ajuda. Eu sempre tive um gênio bem difícil, mas depois que eu admiti isso dei um grande passo para frente. Eu sempre me esforço bastante, mas nunca tive muita paciência, hoje eu já nem me reconheço mais. Sei que tenho muito a aprender ainda, mas comecei o meu lento processo de evolução! Espero que muitas pessoas consigam ler o seu livro e possam parar e pensar como eu parei e resolvam deixar de lado a teoria e partir logo para a prática. Hoje estou sendo ajudada para mais tarde poder ajudar. Tenho muita vontade de dar um auxílio para as pessoas, só faltava um empurrão mesmo, e graças ao teu livro eu penso que consegui.

Eu sou o senhor Miranda e: adorei toda a sua espécie de Bíblia.

Eu sou a Sarah, e sobre o seu livro: Você é um grande poeta, moço!

olá, meu nome é Carlos, sou um físico, e o meu comentário é o seguinte: Eu tenho uma boa vontade para entender a sua busca, mas percebo uma grande confusão de conceitos e ideias. Uma parte dos pensadores, filósofos e cientistas que você envolve no seu livro, definiram a sua posição marcadamente "evolucionista", e não concordam com um universo criado, ou idealizado. Outro importante aspecto do seu pensamento é que ele atira em muitas direções, mas trata sempre apenas dos sintomas, sem permitir um tratamento mais profundo das mais importantes questões existenciais. Você está limitando as ideias de uns, misturando com as ideias completamente antagônicas de outros, somente para concordar com a sua justa e linda iniciativa de QUERER MUDAR O MUNDO. De qualquer forma, como este mundo idealizado diverge de sobremaneira da realidade, fica a possibilidade de apenas um comportamento de FUGA. É como escapar para um canto no bar. Gostaria de conhecê-lo pessoalmente, porque admiro mesmo a sua busca. Mas para encontrar as respostas, é preciso ter a coragem de perguntar, e isso sempre acaba abalando todas as estruturas. Penso que você está readaptando as mesmas estruturas que você mesmo tenta abalar. Posso assegurar que você está longe das respostas verdadeiras, e que apenas começou bem timidamente a fazer algumas perguntas. Volte a ler os seus livros, mas não misture os grandes e verdadeiros pensadores com Paulo Coelho. Por favor, nunca mais se atreva a , tentar ofender a memória do grande Darwin ao querer misturá-lo com esse tal de Kardec. Falta muito para você entender, você ainda não está no caminho certo. Aconselho uma boa dose de Karl Sagan, e uma subtração maciça de todo e qualquer misticismo. Não tenha medo de questionar Deus. Sugiro a substituição completa das crendices e tradições, por verdadeiro conhecimento científico. Ciência, no sentido de tomar ciência mesmo. A alegria do saber sincero, e o comportamento ético de comunicar somente aquilo que se pode comprovar. Não ajude a alimentar uma triste cadeia de boatos, ficções, fantasias e mentiras que só tem servido para mergulhar a raça humana na mais profunda ignorância. Com a mesma liberdade e boa intenção que você enviou este ensaio literário, eu respondo com aquilo que penso. Obrigado pelo carinho, pois, também escrevo, e sei o quanto nos expomos mostrando o nosso trabalho. Espero realmente que possamos tratar destes e muitos outros temas pessoalmente.

Oi, o meu nome é Denise , e eu vou comentar seu livro: ele é muito interessante, você já pensou em publicá-lo? Pois, ele me mostrou que quando uma pessoa tem fé, tudo pode conseguir. Gostei muito! Também achei muito bom o suspense que tem quase no finalzinho! E depois que li o seu livro comecei a gostar de ler.

Esses foram alguns dos comentários que eu recebi sobre o esboço do meu livro.

Porém, e você aí, amigo leitor, e amiga leitora, já se imaginou vivendo em um mundo justo, em que todas as pessoas compartilham "o todo do planeta, e o melhor do que o nosso mundo pode nos proporcionar", como se toda a Terra se tornasse numa grande irmandade do tamanho do Universo? Um lugar justo em que todas as pessoas são plenamente felizes?

Um local sem fronteiras, sem fome ou ganância, sem guerras, sem nenhum motivo para matar ou para morrer, uma humanidade de muita paz, igual ao mundo que o John Lennon nos fez imaginar na letra de sua música mais famosa? IMAGINE.

Talvez algumas pessoas percebam que esse mundo de IMAGINE que foi sonhado pelo John Lennon não é impossível de acontecer: ao contrário do que muita gente imagina.

Seria ótimo que eu me apresentasse para explicar o que me inspirou a escrevê-lo!

Oi, eu sou o Isaías Francisco de Amorim, sou um escritor amador, hoje é, 17 de outubro de 2022, moro em Diadema, São Paulo, Brasil, e já se passaram mais de trinta primaveras que idealizei o enredo desse livro. Esse fato aconteceu quando eu tinha só vinte e dois anos.

Essse texto começou como uma simples poesia inspirada para agradar uma menina que era bem depressiva e atéia, e a poesia deveria funcionar como uma espécie de religiãozinha feita sob medida exclusivamente para ela. Eu tentei, com esse "agrado", evitar que ela desse fim de uma maneira absolutamente precoce a sua vida.

A idéia era que: essa menina refletirsse sobre qual é a melhor alternativa para resolver os seus problemas existenciais, e que ela percebesse além disso que era muito amada!

Entretanto, algumns leitores do esboço do meu trabalho me pediram para que eu mostrasse o texto para "todas" as pessoas. ..

Vanos lá, amigos leitores, vou tentar explicar bem melhor o que aconteceu:

Eu o prometi para uma menina que existe de fato cujo nome é Juliana,, na verdade, esse "manuscrito" deveria ser "apenas uma simples historinha", já que a intenção era de, tão-somente, fazer um ato poético para que essa garota, que na época tinha só dezesseis anos, ficasse feliz por algum tempo e não atentasse contra a sua própria vida, pois, essa garotinha não queria mais viver, ela era uma ateia e tinha fortes tendências suicidas.

Eu fiquei desesperado quando eu soube desta tão triste intenção dela, já que, eu havia me apegado muito a esta menina, e eu não imaginava o meu futuro sem a sua preciosa presença nele!

Embora, fosse por um motivo totalmente antagônico ao que de Juliana, ela enxergava o mundo muito parecido ao qual aquele jovem, o príncipe Sidharta Guatanna, percebeu no começo da sua vida de adulto quando ele conheceu como é a realidade da existência humana aqui na Terra da qual lhe foi revelado por sua tão estranha religião!

Agora, a nossa Juliana, talvez, por ela ser tão influenciada pelo seu forte ateísmo, olhava a sua vida como se tudo fosse somente de muita dor, e de muito sofrimento.

E por ela não ter um bom propósito em sua vida, por isso, Juliana interpretava como sendo "tudo" tão inútil para todas as pessoas, em especial, para todas as mulheres que são tão oprimidas, e principalmente, como era a própria situação em que ela se encontrava.

Você gostaria de saber qual é a origem de toda essa grande tristeza dessa garota?

Vou lhes contar, talvez tenha sido pela maneira com a qual ela foi criada desde a sua infância, ela realmente sofria de uma profunda crise existencial por ter simplesmente nascido, e ela odiava mais ainda a sua vida por vir ao nosso mundo como uma menina.

Ela me perguntava:

Porque as meninas têm sempre que sofrerem, e fazer um monte de serviços, e se ocuparem com tantos e tantos afazeres domésticos simultaneamente, o dia todo, enquanto os meninos "ficam no bem-bom lá fora, aproveitando o tempo todo o pouco de coisas boas que tem nessa vida? Bom só para eles, pelo menos para quem é do sexo masculino, já que, eles gozam de certa felicidade! Mas, o sofrimento das mulheres acontece de maneira pior ainda quando crescemos! Os homens são todos uns aproveitadores das fragilidades femininas, sabia? Somos exploradas de diversas maneiras".

A cabeça dela era tão perturbada, e depressiva que tudo o que ouvia, lia e assistia sempre interpretava como se tudo fosse uma grande conspiração contra todas as mulheres, em especial contra a nossa querida Juliana, é claro!

Essa moça se incomodava muito por ela ficar menstruada, e por existir a a tensão pré-menstrual, a tal da TPM, e também, por ela, além de tudo isso, ter muitas cólicas e celulites, havia ainda as estrias, e mais um monte de outras questões e a tantos detalhes que acontecem com todas as mulheres que eu nem me lembro mais de todas, mas, eram muitas e muitas as perguntas e as suas queixas sobre todos os percalços e de cada um dos muitos perrengues que passa a quem pertencem ao tão desvantajoso e sofrido grupo do sexo feminino.

Para essa menina tão deprimida, um cachorro sarnento, sem dono, e que vive na rua, tem até muito mais chances de ser feliz que uma pessoa do sexo feminino, uma parideira: era assim que ela se referia as mulheres, já que, ela acreditava que os homens só tinham interesses sexuais, e reprodutivos nas mulheres: era somente para terem alívios sexuais, para humilhá-las, e para engravidá-las.

E ela me perguntava:

--Por que apenas nós, as infelizes mulheres, temos que ser condenadas a carregar por nove meses uma criança no útero? Gestar uma criança faz com que fiquemos muito mais gordas, e bem fora de forma por muito tempo: e às vezes essa deformação, e a mutilação do corpo da mulher é para sempre.

Ela me perguntava em todas as ocasiões que lhe eram oportunas:

As mulheres só servem para isso mesmo? Para parir e para serem objetos sexuais, e para darem prazer aos homens? E por que, as mulheres são obrigadas a nascer com um lacre, o tal do hímen? Por que possuímos, além desse maldito lacre, ainda precisamos sentir uma dor muito grande na ocasião em que somos violadas e usadas pela primeira vez , e toda é essa dor serve apenas para dar mais prazer a um machista quando ele rompe o nosso lacre de garantia de virgindade? Por que necessitamos nascer com um comprovante que indica que nunca fomos usadas por um homem antes dele? Parece que todo esse "Sistema de Coisas" está conspirando contra nós: as mulheres! Porque nós não dispomos de nada de bom nessa vida, algo que nos faça felizes e orgulhosas por sermos quem somos? Mulheres!

Parecia que a Juliana tinha tendências homossexuais, e ela se incomodava muito com isso, já que, os seus familiares não iriam aceitar muito bem essa questão, quando descobrisse esse seu segredo que é tão íntimo para ela.

Outra questão que lhe era péssima com a parentela dela, e que a incomodava muito mesmo, era que essa moça tinha que trabalhar muito, e Juliana era obrigada a contribuir com quase todo o seu tão suado salário que era usado para ajudar a construir a casa de seus familiares, e era por causa disso que não lhe sobrava quase nada do seu próprio dinheiro para que ela mesma gastasse com o que bem desejasse. Ela ficava com muita raiva porque tinha que usar as suas roupas até que ficassem bem velhas, inclusive as suas peças íntimas.

Ela vivia com uma enxaqueca muito intensa e tinha ainda outras enfermidades "leves".

Os pais dela não lhe davam uma suficiente liberdade, nem ao menos o mínimo para ser razoavelmente tolerável de privacidade necessário para uma adolescente, visto que, por ela ser uma menina, e não um menino, nunca eles a deixavam, nem ao menos ir sozinha à padaria com um garoto, e ela sempre tinha que levar consigo a sua irmãzinha, e isso a deixava louca de raiva e de frustração.

Pareceu-me que a vida dela era um tormento total, e viver para ela era como se fosse uma grande tortura, e cada novo dia que nascia, para a Juliana, era visto como mais 24 horas que ela teria que se arrastar pela sua tão infeliz existência!

Diariamente, desde quando ela tinha oito anos, ao acordar, a sua primeira reação era a de se beliscar, e Juliana fazia isso para ter a certeza de que realmente ela de maneira lamentável existia, e quando ela sentia a dor causada pelo seu próprio beliscão, em seguida ela se lamentava:

É uma droga isso tudo! É uma grande droga tudo isso! Eu existo mesmo! Não estou apenas sonhando que eu existo. Não estou apenas sonhando que eu nasci nesse mundo tão horrível, eu existo de fato, sou de carne e ossos mesmo! Que droga!

Depois ela ficava se queixando consigo mesma , então, pensava com os seus botões:

Será que, já que eu existo, eu pelo menos sou um poderoso menino? Um menino. Um menino como todos os outros que pode fazer tudo, e que possuí o direito garantido de fazer tudo o que bem-quiser! E agora esse menino sonhava ser uma simples menina? E agora. Então, eu sou esse menino, e me acordei do pesadelo, e sou efetivamente um menino livre? Bem livre.

Nesse instante, ela se sentia muito feliz, e até sorria com essa ótima possibilidade, e pensava inclusive que se tudo isso fosse mesmo um sonho, e agora que essa pessoa privilegiada, por ser um menino, acordou do pesadelo, assim, ela poderia mesmo ser um menino, sim, ou seja, um futuro homem que iria poder fazer o que quisesse da sua própria vida, e usufruir da sua tão preciosa dádiva, a liberdade.

Entretanto, quando ela deslizava suas mãos por debaixo do seu cobertor, Juliana, tateava por entre suas próprias pernas, e sentindo a abertura que é típica do sexo feminino, então, nesse momento, ela ficava muito deprimida e se sentia tão de baixo astral a um ponto tal que essa pobre garotinha não queria se levantar da sua cama nunca mais, ela ficava ali, em seu leito, deitadinha, e bem quietinha, e pretendia permanecer ali eternamente, ou até que a "boa morte" lhe visitasse e a levasse pelas mãos para um mundo menos sombrio qualquer.

Porém, essa visita não ocorria, e o pior acontecia em seguida, os seus pais não compreendiam o que se passava com ela, eles não entendiam, e nem percebiam a grande dor existencial que ela sofria, por isso os pais dela lhe obrigavam a se levantar e a tomar banho, e ir à escola, um lugar terrível para ela, pois era onde Juliana tinha que suportar os constantes bullying por ser gordinha, e ser de tão baixa estatura, ela tinha a boca e o bumbum enormes, e ainda, sofria por não ter os seios muito desenvolvidos como eram bem comum nas outras garotas da sua mesma idade.

Um dia essa garota me disse algo que me deixou por demais preocupado com ela, até hoje eu não sei o que deu nela. A Juliana pegou a bíblia de sua mãe e, rapidamente, abriu, e começou a ler, e a me explicar como que ela entendeu os primeiros versos de Gênesis, porém, essa garota parecia estar em um profundo estado de transe nessa ocasião, parecia até que nem era ela que estava ali ao meu lado, pois, olha só o que foi que essa menina narrou para mim:

E disse o tão poderoso Criador: E usando, para ser modelado, apenas de um bocado do pó da Terra, e façamos, assim, uma criatura conforme a nossa imagem, e a nossa semelhança. Portanto, foi confeccionada uma criatura onisciente, imortal, e que continha todas as características masculinas e femininas, dividindo e habitando simultaneamente o mesmo corpo. E foi assim que o Criador formou uma criatura, e soprou em suas narinas, dando-lhe o divino fôlego da vida. E essa criatura foi feita alma vivente, e assim foi chamada de Homem. E segundo esses versos a sua criatura era divinamente igual ao seu Próprio Criador. Em seguida, o Criador abençoou a sua criatura e a tornou fértil, e o Criador disse: frutificai-vos e multiplicai-vos, enchendo toda a Terra com as suas sementes perfeitas. E o Criador foi tão Maravilhosamente milagroso na criação da sua criatura de uma maneira tal que ela foi dotada com toda a sua imagem e com toda a sua semelhança. E devido a essa condição tão especial de ser semelhante ao seu Criador, a criatura adquiriu todo o conhecimento do que era bom e do que era ruim. A criatura foi constituída tão perfeitamente semelhante ao seu Criador, tornando-se capaz de até mesmo de zelar por si mesma independentemente da vontade do seu Criador. Assim, o Criador tomou a sua criatura e a introduziu no Jardim do Éden para que ela lavrasse, e guardasse todo o Paraíso, tomando o Seu lugar nessa tarefa que o próprio Criador exercia anteriormente. E a criatura era perfeitamente capacitada no cultivo da maneira mais correta de cada uma das plantas do Jardim do Éden. A criatura conseguia saber exatamente o que cada planta precisava para o seu melhor desenvolvimento. E por ser semelhante ao seu Criador, conseguia se responsabilizar por cada um dos diversos tipos de animais que vivia no Jardim do Éden, e também de toda a Terra que o divino Criador construiu, inclusive, a criatura era totalmente capaz de escolher o nome ideal para cada animal, e para cada organismo em geral de toda a Terra. E por ser constituída perfeitamente semelhante a aquele que lhe criou: essa criatura se tornou independente até mesmo do seu próprio Criador. A criatura já não necessitaria do seu próprio Criador, portanto, essa criatura poderia conduzir a sua respectiva vida, autonomamente como ela entendesse ser a melhor maneira. Ela já tinha todas as competências e inclusive, ela já conseguia cuidar sozinha da Terra em toda a sua a extensão. A criatura, inclusive, estaria apta até mesmo em governá-la totalmente sem nenhuma ajuda do seu Criador. Perceba bem, parece que, no princípio, a criatura era mesmo um ser hermafrodita, ela era formada por dois indivíduos complexos que eram totalmente misturados e combinados. Essa tão estranha criatura tem só uma cabeça, e possuía um único coração, e dois órgãos reprodutivos, um é masculino e o outro é feminino que se fertilizava internamente. Eles seriam realmente complexos, e são unidos como se fosse mesmo apenas uma criatura, ou talvez eles não fossem tão completos assim como aparenta ser. O fato é que essa criatura possui muitos órgãos para ser considerada apenas um indivíduo, porém, ela possui poucos órgãos para que fossem consideradas dois seres juntos, mas, essa criatura deve ter alguma forma, por alguma ligação interna capaz de fecundar a si mesmo, e gestar o feto e depois parir os seus filhos, um logo em seguida do outro, sistematicamente, e assim obedecendo ao mandamento do Criador para que começassem imediatamente a povoar toda a Terra. Mas, o Criador fez o restante da sua criação de animais que precisam copular: acasalar em pares, em casais, machos e fêmeas, pois, eles foram feitos separadamente, em indivíduos simples, e não em indivíduos compostos, semelhante como o Criador o é, e o Criador disse que não era bom que essa sua criação fosse tão parecida consigo mesmo, visto que, poderia ser muito perigoso ter alguém solto pelo mundo tão poderoso quanto o seu próprio Criador, aliás, a criatura poderia se tornar um rival Dele, atrevendo-se, inclusive, até mesmo em confrontá-lo. E o Criador já sabia, além disso, que essa criatura poderia querer se rebelar contra o seu próprio Criador e desejar que ela mesma governasse em seu lugar, ela poderia querer governar de um modo que ela acreditasse ser até melhor do qual o próprio o Criador administrava. Por isso que o Criador agiu com toda a prudência, e com bastante cautela, e assim o Criador decidiu humilhar a sua criatura, e colocá-la em condição de submissão extrema a Ele. Por isso Ele preferiu que a sua criatura se aparentasse bem mais com as limitações dos animais, do que deixá-lo sendo tão poderoso quanto Ele mesmo, então, o Criador disse: E não é bom que a criatura esteja sozinha. Portanto, eu mesmo encontrarei uma ajudadora idônea para ela. Nessa parte, parece que o Criador procurou uma ajudadora para a criatura entre os animais que Ele havia criado aqui mesmo, em plena Terra, ou será que o Criador subiu até as alturas das dependências do Céu e procurou por lá, entre os seres celestiais, uma ajudadora para essa sua criatura que foi feita para viver aqui na Terra? Que estranho é tudo isso! Ou será que o Criador procurou uma companheira para a sua criatura entre os animais da Terra somente para humilhá-la sem uma boa razão? Ou será que o tão sábio Criador teria feito exatamente dessa forma para que nós, sendo seres tão inferiores ao seu divino Criador: e não conseguimos perceber as suas tão boas atitudes, e intensões, então, assim, o Criador agiu desse modo justamente para ajudar a sua criação a entender que ela é infinitamente inferior ao seu Divino Criador? E por isso mesmo: a criatura limitada deve exclusivamente ao Criador toda a submissão e toda adoração? Mas, entre os animais não se achava uma ajudadora idônea. Por isso, o maravilhoso Criador fez cair um sono pesado sobre a sua criatura que possuía a mesma imagem e a mesma semelhança com o seu divino Criador, que tem às duas partes juntas, a masculina, e a feminina habitando em apenas um indivíduo, e essa criatura adormeceu, e o Criador tomou algumas das partes da sua criatura, e costurou a carne em seu lugar novamente, mas, o Criador não pegou somente uma das costela da sua criatura hermafrodita, o Criador tomou muitas outras partes para fazer uma companheira para a sua criatura, Ele tomou todas as partes femininas da criatura que é igual ao próprio Criador, e foi mesmo usando de todas essas partes femininas que o Criador tomou da sua criatura, que Ele formou, finalmente, uma ajudadora, e o poderoso Criador a trouxe para entregá-la ao seu marido, e o marido dela seria chamado de Adão. E foi por isso que esse novo homem, o Adão, quando acordou e viu a sua ajudadora à sua frente, percebeu haver alguém que foi feito usando partes do corpo dele como matéria-prima, e ele se espantou e disse em seguida: essa agora é osso dos meus ossos, carne da minha carne, e sangue do meu sangue, e esta será chamada de mulher, já que, do homem foi partida, o Adão disse isso porque de todos os seres da criação do Criador, a mulher foi a única a ser feita com as partes que pertenciam ao seu próprio corpo. E quando o Criador, separou em duas partes daquela sua criação inicial, que era sua imagem, e a sua semelhança, a masculina e a feminina, e Ele transformou e moldou essas novas criaturas, e foi nesse tão estranho processo de separação das partes femininas da criatura para ser feita a mulher , e deixando apenas as partes masculinas no que se deu o nome de homem, aconteceram grandes transformações, grandes perdas e muitos danos: as duas partes separadas perderam quase que totalmente as sua características de sua imagem, e de sua semelhança com o seu Criador, portanto, foi a partir desse momento que a palavra: homem, seria escrita, com todas as letras em minúsculo, e o novo homem e sua ajudadora estavam sujeitos a toda sorte de corrupção de seus corpos: igualmente como ocorria com todos os animais, e também com todos os outros seres orgânicos feitos pelo Criador, por isso, esse novo homem e a sua ajudadora, já não eram mais imortais, e nem tinham mais a capacidade de sozinhos saberem o que era bom ou e o que era ruim, eles dependiam do seu Criador para saberem de cada coisa que iriam precisar para terem uma boa saúde, segurança e de todas as outras necessidades para uma boa vida, e posteriormente, precisariam aprender a como cuidar dos seus filhos. Essas novas criaturas, que surgiram da separação do antigo Homem hermafrodita, são realmente bem mais parecidas com todos os animais: elas são mortais e se reproduzem em casais, copulando, se acasalando, aliás, agora também envelhecem, adoecem e morrem. E o homem e a mulher, que recebeu o nome de Eva, viviam nus, e não se envergonhavam. Por isso, assim, deixará o homem, o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher e serão ambos uma (só) carne (novamente) para sempre. Por isso, o Criador plantou bem no centro do Jardim do Éden uma árvore, era a Árvore do Fruto da Vida, e o Adão e a Eva precisavam comer do fruto dela para continuarem a ser eternos, semelhantemente ao seu Criador, e semelhante também ao antigo Homem: aquele que lhes deu origem. Como os animais não tinham como saber o que é bom ou ruim, o Criador deu-lhes os instintos necessários para que eles se orientassem pela vida. Porém, para o novo homem e a sua ajudadora, o Criador, não lhes deu o instinto como deu aos animais. E o Criador disse para o casal que eles deveriam ser testados para serem aprovados, portanto, o Criador plantou mais uma árvore no centro do Paraíso, agora havia duas árvores muito importantes lá, uma, os seus frutos lhes davam o poder de continuarem sendo imortais a cada vez que comessem do seu fruto, e a outra árvore tinha um fruto que daria, a quem ousasse a desobedecer ao Criador, e comesse desse fruto: ganharia, assim, o conhecimento do que é bom e do que é ruim. E o Criador, explicou que se eles optassem em lhe desobedecerem, e comessem do fruto proibido, eles perderiam a imortalidade deles, pois, o Criador, iria sumariamente expulsá-los do paraíso, e ainda Ele disse ao homem e a mulher que colocaria guardas para impedi-los de, novamente, comerem do Fruto da Árvore da Vida. O Criador disse bem claramente que se eles não comessem mais do fruto da Árvore da Vida, eles iriam sofrer, igualmente ao que acontecem com todos os animais: o homem e a sua ajudadora estavam já sujeitos a toda sorte de enfermidades, além disso, envelheceriam com o passar dos dias, das semanas e dos anos, e por fim morreriam e os seus corpos voltariam a ser apenas pó, e o sopro da vida que o Criador havia soprado em suas narinas, voltaria ao seu Criador. E o Criador é muito zeloso e exigente nessas questões relacionadas às obediências, e a essas questões das escolhas, e Ele precisou mesmo testar a obediência da sua mais nova criação, o teste era de suma importância para Ele. Então, o Criador orientou mais uma vez o Adão e a Eva para que eles jamais comecem, do fruto da Árvore do Conhecimento, porque o próprio Criador, fazendo às vezes de uma Mãe, ou de um Pai amoroso e zeloso, ensinaria para eles tudo o que o casal e seus futuros descendentes poderiam ou não poderiam fazer, o próprio Criador, pessoalmente, ensinaria para eles o que era bom e o que era ruim. Bastaria que eles escutassem atentamente a cada palavra, a cada ensinamento que o Criador lhes orientasse, e se humilhassem perante ao seu Criador, e reconhecessem que o seu Criador é superior a eles, e que eles prestassem a Ele adoração exclusiva, e que simplesmente obedecessem com uma sincera e genuína alegria a cada uma de suas tão simples e justas ordens. O Criador desejava que o Homem admitisse que só o Criador é quem sabe o que era necessário e o que não era que necessário que seja feito, e qual que é a maneira correta de fazê-lo. O Criador exigia ainda que o casal renunciasse a si mesmo: e fosse como uma videira, e Ele, o Criador, seria como um agricultor: e todo ramo que, estando no homem ou da mulher, não desse fruto, Ele cortaria, e todo ramo que desse bons frutos, Ele podaria, para dar mais frutos ainda. E isso aconteceria até que o homem ou a mulher se mostrassem totalmente confiáveis e merecedores, e assim, o homem e a mulher comeria um pão que será enviado pelo próprio Criador, e esse alimento vivo descerá do Céu, e esse futuro pão é o que lhes dará novamente a maravilhosa vida eterna. Então, os submissos que me obedecem, serão exaltados de uma maneira inversa e proporcionalmente ao volume que se humilharam perante o seu Criador, que o chamarão, portanto, de meu Pai! E o Criador disse mais: é verdade o que eu vos falo agora: se vocês me obedecerem, e se vocês merecerem, eu, verdadeiramente, os convidarei para evoluírem de Criaturas semelhantes aos animais para a condição de serem chamados de meus filhos, e serão novamente iguais a Mim, e serão arrebatados, e viverão no Céu eternamente Comigo com todos os privilégios que quem é meu filho tem o direito. E quando todo esse processo de arrebatamento for consumado: Eu mesmo vou destruir toda a Terra e vou transformá-la em um eterno e grande lago de fogo! E quando tudo isso acontecer, Eu digo agora que: só existirá o Céu, e o lugar em chamas para onde Colocarei os eternamente condenados que vão escolher erradamente, pois, vão me rejeitar e me desobedecer, e não querem ser os meus filhos adotados! E o Criador fez essa aliança com o Adão e a Eva, portanto, da Árvore da Vida eles poderiam e deveriam comê-la todos os dias, porém, da outra árvore eles jamais deveriam ousar a comer dela.

E quando a Juliana terminou de ler e me explicar tudo isso, eu lhe respondi que isso pode até ter uma tênue aparência de ser correto para ela, mas, isso acontece apenas por o texto ser muito antigo, e por esse texto ter passado pelas mãos de muitas pessoas que os copiaram e os recopiaram muitas vezes, e tem as traduções mal feitas! E teve as pessoas tendenciosas que tiveram acesso aos textos e talvez os tenham adulterados. Teve ainda as pessoas poderosas com diversos interesses que tiveram acesso aos escritos. E o narrador dos versos bíblicos volta muitas vezes aos assuntos que ele começou, e que não terminou, e por isso que o artigo ficou um pouco confuso, e cheio de pontas bem soltas por diversos motivos, e interesses, e é por isso que dá essa impressão que as coisas são como você entendeu tão erradamente, então, eu suponho que as pessoas que não têm muito conhecimento imaginam muitas interpretações, algumas delas são totalmente equivocadas, por exemplo, essa sua versão.

E eu tentei lhe ajudar a entender, de outra maneira, por outras vias, como era a "realidade do mundo", dizendo lhe que eu entendi sempre que os versos narram que os homens, e mulheres foram feitos simultaneamente, para que juntos, e unidos pudessem povoar toda à Terra. Eu disse ainda para a Juliana que ela deveria se fixar apenas ao tema central do texto, ou seja, que Deus criou o homem e a mulher para que juntos, e muito felizes, povoassem toda a Terra.

Juliana desistiu de tentar me fazer entender a sua questão, e me perguntou:

Mas, você concorda comigo, pelo menos, então, que Deus, quando fez o Adão e a Eva já, separadamente, Ele deveria tê-la criado a partir do barro também, do mesmo barro, e não feita da costela do homem, pois, para mim, esse Criador já foi tão machista logo no seu primeiro mandamento: já que ordenou que imediatamente o homem engravidasse a mulher: multiplicai-vos? E por que Deus também não fez a mulher de barro, e do mesmo barro que ele fez o homem? Do mesmo barro, e os dois feitos simultaneamente, e que eles já fossem feitos separadamente em dois corpos totalmente distintos e independentes um do outro?

E foi nesse mesmo mês, que eu descobri que essa moça era bipolar ou tem múltiplas personalidades, pois, posteriormente a essa conversa, ela começou a falar de "Deus" ou da Deusa com muito carinho, como se Juliana e a deusa ou Deus fossem amigos bem íntimos.

Eu disse-lhe que não é uma coisa muito boa xingar Deus de hermafrodita, pois, ele poderia se zangar muito com ela. E Juliana prontamente me respondeu:

-- "Eu queria mesmo que Deus existisse, e fosse uma mulher, uma Deusa e se as coisas fossem assim mesmo como eu falei seria ótimo! Pois, eu fico aqui imaginando uma situação em que a Deusa fosse como uma mulher ou tivesse os dois sexos em simultâneo. E eu gostaria de saber se isso seria um xingamento para você? Mas, você, Isaías, agora me provou que também não acha muito bom Deus ter uma parte feminina, a ponto de dizer que isso seria um xingamento, ser uma mulher totalmente, ou ter partes femininas é tão ruim assim a ponto de pensar que um Deus realmente VERDADEIRO não quer ser uma mulher? E se quando você morrer, e falar com Deus e ele for uma mulher? E se a Grande Divindade fosse formada pelos dois sexo, e fosse um hermafrodita? Eu quero muito estar perto de você para ver a sua cara de tonto, e de puro machista, e ver como você iria tratar Deus por pensar que ele seria um xingamento por Ele ou Ela ser uma espécie de hermafrodita! Aposto que você iria se obrigar ter que dizer que ser um hermafrodita é bem legal e, que, ainda você ai mesmo, com essa cara de besta, iria se veria obrigado a pedir a Deus para que você seja um hermafrodita também! E eu suponho que eu estou totalmente certa quando li em Gênesis isso! Deus é mesmo um ser hermafrodita! Ele vai ficar muito feliz comigo porque eu fui a única pessoa que descobri esse fato muito óbvio e importante, e fui eu sozinha que tive a coragem de falar isso, e ainda por eu mesma achar muito bom Ele ser o que Ele quiser ser, e não ligar para vocês! Eu nem gosto nenhum pouco de homens machistas , e preconceituosos! A bíblia, no novo testamento, diz que Deus é (ou são) três pessoas em uma pessoa só: o Pai, o Filho e o tal do tão misterioso Espírito Santo. E na minha tese é dito que Ele seria penas duas pessoas em uma só, uma pessoa masculina e a outra é feminina! Se todos aceitam que Ele é ou são três pessoas numa só: e ninguém se zangou com esse fato, e por que, então, que Ele não pode ser só duas? Já sei o porquê, vocês não aceitam que uma mulher é algo, realmente, importante. Eu gosto é da ousadia dos católicos que colocaram mais uma pessoa nessa trindade, gostei muito quando essa trindade ficou sendo formada também, por uma mulher, Maria, a virgem, aquela que é a mãe do menino Jesus, a mãe do filho de Deus, Porém, essa pessoa não é mulher de Deus, não é esposa de Deus, e esta informação é bem interessante, mas, a virgem Maria, segundo os católicos, está lá no Céu junto com o seu filho Jesus. E eu fico, aqui, imaginando: como os judeus se sentiram quando descobriram isso? Como que o Deus único que eles inventaram foi transformado em três partes (ou pessoas) pelos primeiros cristãos, e depois em quatro partes pelos católicos. Ah, e você sabia, que existe uma religião protestante que acredita que Cristo foi extraído de uma parte do próprio corpo divino do pai dele? Então, foi assim que começou a saga de Um só Deus que, em simultâneo, passou a ser três, e posteriormente: quatro se contarmos também a virgem mãe do filho de Deus.

Certo dia, a Juliana me disse que ela não se mataria se a Humanidade fosse perfeita.

Então eu tinha um grande problema para resolver, já que, esse é o único mundo que existe, e ele não estava a contento dela, e ela discordava profundamente dele, e a Juliana jamais iria se adaptar a esse mundo.

Ela sofria também porque não queria viver em um Universo imperfeito. E como a Juliana era ateia e não acreditava em outro mundo melhor que esse, e não se conformava com toda a injustiça desse “mundo-cão”. Essa moça queria que todas as pessoas fossem felizes e que todo o sofrimento deixasse de existir, queria que essa Humanidade fosse semelhante ao que John Lennon nos fez imaginar na letra de IMAGINE.

Eu disse para a Juliana o quanto eu a amava, e que não queria que ela desse fim a sua existência, pois, por amá-la, precisava muito da sua pessoa aqui conosco. Então, eu lhe prometi que faria com que o gênero humano fosse futuramente como ela deseja, eu faria qualquer coisa para que essa moça não partisse dessa forma de existência, e não morresse, e ficasse sempre comigo!

Juliana me disse que se eu cumprisse a minha promessa, então, ela não partiria!

Eu lhe perguntei como que ela gostaria, exatamente, que o mundo fosse, e recebi esta resposta:

-- Quero um mundo no qual a Divindade seja muito mais, muito mais parecido mesmo com o Feminino do que com masculino, e que as mulheres sejam reverenciadas como seres extraordinários por algum motivo muito importante, um motivo que os homens nunca poderiam competir conosco!”. “Quero que não haja lugares como o inferno, e que não haja países, nem guerras, nem briga entre as religiões. .. ”. “E que as pessoas vivam como numa tão linda, imensa e sólida irmandade, que aprendam a compartilhar o Universo todo!”. “E que as pessoas do mundo inteiro, se comportem como se nós fôssemos uma gigantesca família unida e feliz!”. “E que todas as pessoas respeitassem as opiniões alheias, mesmo não concordando com elas. Na verdade, quero que todas as pessoas adorem as ideias e os pensamentos diferentes dos delas, e, amem as pessoas exatamente por esse motivo!”, “quero uma raça humana bem tolerante, com bastante respeito mútuo, sem desavenças e com pessoas extremamente acolhedoras. Quero um mundo em que todas as pessoas usem uma dialética perfeita para se comunicar da melhor maneira, como Sócrates e outros filósofos faziam. Quero que nesse mundo não existam pobres, machistas, racistas, homofóbicos e que as pessoas não poluem mais nosso planetinha. Quero também que as pessoas deficientes sejam tratadas com compaixão, e que os idosos também nunca sejam abandonados por seus parentes, amigos e sociedade na sua totalidade. Quero que todos os velhinhos sejam amados, tolerados e tratados como crianças. Quero que o amor entre as pessoas seja tão grande quanto o infinito! Quero que nesse mundo, ninguém seja discriminado pelos seus gostos musicais e nem cultural, nem a qualquer outro gosto em particular de qualquer espécie. Eu exijo que as pessoas não fiquem por aí maltratando o seu próximo só porque elas pensam diferente delas. Quero que exista uma verdade comum entre todas as formas de crenças e de ideias e visões da realidade vista por todas, ou quase todas as religiões, filosofias, ciências, mitologias, misticismos, esoterismo e outras crenças. Eu preciso de uma Nova Era do pensamento humano, em que a palavra PAZ esteja muito presente e que ela atue fortemente no coração das pessoas”. "Uma Humanidade em que haja um imenso sincretismo de ideias". “Um mundo regido não por leis e sim pelo amor, pois, as leis não tornam as pessoas melhores, nunca, o máximo que as leis fazem é tornar as pessoas mais "espertas" e assim esses malandros estão sempre arrumando jeitos de burlá-las para tirar proveito próprio”. Só o amor torna as pessoas melhores, por que não são ensinados as pessoas, somente como devem amar?”. “Quero viver em uma sociedade bem civilizada de tal forma que não seriam necessárias as leis!”. “Quero que as pessoas falem corretamente, que saibam se expressar facilmente, e se sintam honradas quando forem ajudadas por alguém, ou corrigidas quando falarem algo errado, e que entendam a importância de falarem bem para não induzir outras pessoas ao erro, ou entendê-la erradamente”. “Quero viver num mundo que quando uma pessoa estivesse falando se preocupasse em falar da maneira mais fácil de entender, e quem estiver ouvindo se preocupasse em entender, e prestassem atenção e respondesse claramente o que lhe foi perguntado. Eu falo letra A e as pessoas entendem a letra B, falo azul e as pessoas entendem roxo, falo alho e as pessoas entendem o bugalho! Preciso que haja uma perfeita sintonia na conversa, eu digo isso porque estou cansada de tentar falar com as pessoas e estas nem prestarem atenção no que eu digo, parece até que todo mundo é néscio!”. .. “Quero viver num mundo em que as pessoas priorizem as coisas que as unissem ao invés de sempre estarem procurando discórdias entre o modo de cada um em particular ver o mundo! As pessoas deveriam sempre se lembrar de que precisam procurar algo no ser humano que os tornem mais amigos e bem mais próximos e que unam suas forças para melhorar o coletivo, pois, se assim fosse feito, todos sairiam ganhando, inclusive ela mesma! Se você fizesse o mundo ser assim, eu, então, não me mataria! Quero que nesse mundo todas as coisas, tudo o que existe, seja patrimônio de todas as pessoas, que tudo pertença a todos! Tudo! Tudo! Sem exceção e sem um único privilégio a ninguém! E com muita empatia! Com muito acolhimento! Com muitos compartilhamentos! Quero que as pessoas não trabalhem tanto, e que usem o tempo de vida delas para simplesmente viverem e serem felizes plenamente, e usem muito o seu tempo de vida para se divertirem, e também para amarem, além de usar o seu tempo para aprenderem coisas boas e prazerosas e não para somente trabalharem para acumularem coisas e mais coisa e mais coisas que muitas vezes nem precisam ou que poderiam não precisarem realmente. .. Que a vida seja valorizada apenas para viverem em paz, muita paz! E quero que todas as pessoas sejam extremamente ecológicas e recicladoras e se preocupem muito com a natureza e todo o planeta.

E foi uma semana depois disso, pareceu que Juliana surtou de uma vez por todas, pois, Juliana começou a me pedir para realizar alguns milagres ou circunstâncias, ou acontecimentos e desejos que realmente são impossíveis de serem realizados, essa moça disse:

--"Eu quero que a morte deixe de existir, quero que todos nós sejamos imortais, quero que todos sejamos oniscientes, quero que tudo seja perfeito!

Era bem óbvio para mim que eu tinha que fazer algo para tentar salvar a vida dessa menina, já que, muito em breve, ela pretendia deixar de viver. Ela é um ser humano, e, além disso, também era minha amiga!

Porém, o que é o mais recomendado a ser feito nessas horas tão complicadas?

E se eu fizesse algo bem inadequado, e ela se matasse justamente por algo desencadeado por algum ato que eu mesmo tenha feito ao tentar ajudá-la? Ou se ela ficasse ainda mais deprimida devido a uma intromissão errada minha?

Então, lembrei-me daquela surpreendente história em que o príncipe Sidharta se envolveu em uma crise existencial tão profunda, ele sofreu demasiadamente, e essa situação aconteceu justamente porque ele tinha uma crença religiosa que torturava a sua mente, já que ele acreditava em reencarnações, obrigatória sucessivas e infinitas, ou seja, as pessoas injustamente, sem que elas desejassem: nasciam, sofriam e morriam, e a vida seria na sua visão um ciclo infinito de nascer, sofrer e morrer, e essa obrigação de ter de participar arbitariamente desses sucessivos nascimentos é o que condenava a humanidade ao sofrimento eterno, pois, no seu entendimento, nascer possui o mesmo significado de sofrer, e toda a existência só causa sofrimento, até mesmo o desejo de não sofrer causa muito sofrimento.

Por isso, ele precisava, então, encontrar algum modo de parar esse processo tão injusto de renascimentos infinitos. Ele desejava chegar ao Nirvana, e, assim, conseguir apagar de uma vez por todas a sua alma, e assim, ele deixaria de existir, e acabaria para sempre com todo o seu sofrimento.

Percebam bem que, se o príncipe Sidharta fosse uma pessoa atéia, como era o caso da juliana: esse homem não teria passado por aquela crise existencial toda, aliás, ele iria acreditar que só iria sofrer uma única vez, pois, haveria somente uma única vida para sofrer , e se ele acreditasse em uma só vida: o seu coração não teria pesado tanto, e ele teria vivido em paz.

Porém, foi porque o Sidharta estava sofrendo esse processo dessa grande dor que esse príncipe foi atrás de suas respostas e, ele teve como resultado um novo olhar sobre a sua fé, e sobre o mundo, ele avaliou a sua antiga crença, e a transformou em algo profundamente positivo para si mesmo, e com isso ele sossegou a sua mente, ele eliminou o seu sofrimento, e a sua angústia, e foi assim que ganhamos, uma crença religiosa surpreendente, pois, foi assim mesmo, que nasceu, o budismo.

E com o tempo passando, esse modo de ver o mundo ajudou a bilhões de almas a encontrarem o seu caminho de paz.

Espantosamente, eu acredito que o problema da Juliana aconteceu exatamente porque ela não acreditava em reencarnações. Ela, por ser uma menina até ia, acreditava em uma única vida. E para ela, talvez devido ao seu ateísmo, a vida era algo inútil, porque a existência só traz: o sofrimento. Pois, nós morremos, e termina tudo de repente, e a vida acaba não tendo nem sentido, e nenhum propósito, a não ser o objetivo de trazer o sofrimento ao mundo.

E ainda por ela ser uma menina, que depois se tornaria uma mulher, era pior ainda, porque esse sofrimento todo chegaria em dobro na vida dela.

Por conta da diferença dos motivos nos sofrimentos tão antagônicos dos dois, da Juliana e o do príncipe, eu fiquei meditando, se o príncipe fosse ateu, se, por acaso, ele não acreditasse no tão injusto ciclo de reencarnações, ele não teria sofrido tanto. E se a Juliana, antagonicamente ao caso do príncipe, se ela tivesse uma religião que tivesse a crença em reencarnações sucessivas e infinitas, isso ajudaria ela a se sentir muito melhor, porque ela acreditaria que teria várias vidas: em uma ela poderia ser menina, em outra reencarnação, ela poderia ser um negro, na outra vida, um branco, na outra existência, ela poderia ser homossexual, em outra vida, um heterossexual, na outra, ser rica, em outra, ser pobre… Por isso, eu ponderei que talvez, se ela tivesse uma crença desse tipo isso poderia animá-la muito e ela não desistisse de sua vida.

E quando eu pensei nessa possibilidade, meus olhos brilharam e logo eu me lembrei de quando eu ainda era apenas uma criança, eu estava lá sentado no chão, brincando com os carrinhos, e a minha irmã, que é mais velha do que eu, ela passou andando bem devagar com uma amiga dela, por onde eu estava, e eu consegui ouvir parte da sua conversa, e ela dizia para a amiga dela:

-- Olha só, quem é homem, nessa encarnação, na próxima reencarnação essa pessoa vai nascer como uma mulher, e quem é a mulher nessa nascerá como um homem na próxima.

E minha irmã se foi por seu caminho acompanhada por sua amiga, e eu permaneci lá, parado, bem reflexivo, eu fiquei pensando, olha, então, nós que somos agora os meninos, seria bom que tratássemos bem as meninas para que, quando formos nós as meninas, sermos igualmente bem tratadas por elas, que serão os meninos naquela tal reencarnação futura.

Antes desse fato inusitado acontecer, eu confesso que eu cometia um monte de pequenas maldades com as meninas.

Por exemplo, quando eu estava comendo algo bem saboroso, e as meninas queriam que eu compartilhasse um pedaço com elas, eu saía correndo, e não dividia com elas.

Realmente, eu era uma criança muito egoísta, e muito malvada, não é mesmo?

Então, quando aconteceu essa conversa que escutei da minha irmã com a amiga dela, eu comecei a dividir com as meninas todas as coisas que eu tinha. E foi a partir desse dia que eu passei a não mais maltratar nenhuma menina. Também eu não puxava mais os cabelos delas, e nem ficava mais xingando elas de piolhentas.

Eu comecei a tentar ser bem mais legal, e compreensivo com as meninas, e com as pessoas que diferem de mim em geral.

Foi aí que ponderei fazer um poema que fosse como uma mini-religião exclusivamente para a Juliana: para que ela percebesse como que eu gostava dela a um ponto tal de eu elaborar essa pequena surpresa para ela.

E esse singelo gesto talvez poderia ajudar um pouco a mente dela se acalmar, e o seu coração pesar menos dentro do seu peito.

Então, eu lhe disse mais uma vez que esse Poeta aqui, faria o mundo ser como ela quer.

Por isso eu resolvi escrever um simples poema que tivesse um bonito enredo para que a Juliana ficasse pelo menos um pouquinho mais feliz, e percebesse o quanto eu gostava dela, e que posteriormente a isso, ela jamais quisesse partir desse mundo, e essa moça ficasse nesse mundo, por muito tempo.

Eu pensei, pensei, pensei e repensei, pois, do mesmo jeito que essa moça distorceu toda a realidade para que a realidade distorcida dela coubesse na sua depressão, e com isso ficava cada vez mais triste.

Então, era só eu recorrer à mesma tática que ela usava, mas, eu vou fazer o resultado ser o oposto do que era produzido por Juliana, então, era só eu distorcer toda a realidade, para que a realidade coubesse no mundo que a Juliana desejava, e eu trazer a alegria para o mundo dela. Seria como eu lhe dar uma espécie de óculos para ela ver um mundo por uma lente bem melhor, era só eu distorcer toda a realidade para fazer Juliana ficar bem, e ela começar a aceitar o mundo exatamente como ele é.

Que tal eu fazer um poema para, quando a Juliana o ler, fosse como se ela estivesse olhando pelas lentes redondinhas dos óculos do John Lennon, e assim, ela pudesse perceber o mundo igual ao que ele o enxergava?

Foi por isso mesmo que eu escrevi para ela um poema gigante em que toda a realidade é mudada para fazê-la feliz, ou pelo menos um pouco mais feliz.

A estória que vou contar aqui não é verídica! Mas, a ideia toda vai ser colocada em forma de um romance, pois, eu precisei adaptar a realidade ao modo de pensar da moça, a Juliana. Por isso que vou fazer uma mistura, um grande sincretismo de ideias com várias religiões, filosofias, mitologias, fábulas e outras crenças, outros olhares e como interpretar esse sistema de coisas, para tentar convencer as pessoas a tornar o mundo parecido com o que John Lennon visualizou na sua poesia! Ou será uma pequena profecia colocada na letra de IMAGINE?

Essa estória tem tantas misturas tão antagônicas de ideias, conceitos, filosofias, religiões, mitologias, teorias, imaginação e outras coisas que meu livro parece mais um pequeno Frankenstein: devido a tantas misturas de pedaços de ideias usadas de alguns livros, peças teatrais e filmes de diversos gêneros que eu já tinha lidos, ou assistidos, e foram muito úteis para confeccionar essa interessante obra literária!

Realmente, eu não sei se o que eu fiz é o mais recomendado a ser feito em problemas desse tipo de situação.

E parece que não é mesmo o certo a ser feito nesses casos, e sei que eu errei, sei que errei bem feio, mas, eu preferi me arrepender por fazer algo do que lamentar depois por não ter feito absolutamente nada, por simplesmente eu ter lavado as minhas mãos. A minha consciência, e a minha saudade, jamais iriam me perdoar por uma omissão desse tamanho.

Então, quando eu me lembrei do que eu fiz quando ouvi a minha irmã falar em várias reencarnações e eu passei a me colocar no lugar das outras pessoas: eu pensei em usar, dentro da religiãozinha da Juliana, toda essa técnica de fazer com que as pessoas também se colocassem no lugar umas das outras, e talvez assim, com essa atitude eu poderia ajudar a juliana a pensar na chance do mundo ficar um lugar melhor para todas as pessoas.

Porque, assim, ela crendo nisso, não se mataria logo: e ela poderia ficar saindo por aí pregando essa pequena religião, e se distraísse um pouco e tentasse ser um pouco mais otimista com a sua vida, enquanto isso, com um tempo a mais que eu ganharia, eu usaria para procurar um modo melhor de ajudá-la a gostar de viver, e de principalmente, viver como uma menina, e ser feliz, bem feliz.

Vamos ver o que estará escrito na capa do livro?

O SONHO AINDA NÃO ACABOU!

O Livro de Isaías Amorim.

Agora vamos ler a contracapa?

Este livro é uma referência à mensagem contida na letra da música IMAGINE do John Lennon.

Eu me pergunto se você conseguiria imaginar como seria o dia mais aguardado na vida da pessoa que é a alma mais satisfeita deste mundo?

Essa tão simples mulher só precisava de duas "condições" para se sentir totalmente plena, e feliz, esses fatos, são: o bem-estar de sua família, e a sua grande, e inabalável devoção religiosa, que lhe acompanha desde sua infância.

Você conseguiria imaginar essa pessoa sofrendo um terrível contraste em um intervalo de poucas horas? Pois, no começo da manhã ela vivia um momento maravilhoso, e no fim da tarde, ela já estava totalmente inclinada a acabar com a sua própria existência.

Alice perdeu toda a sua vontade de viver devido a um surpreendente evento que, num só golpe, tirou-lhe a sua família, e acabou totalmente com sua grande fé no divino.

Você conseguiria sentir uma parte da dor, e do desespero desta agora tão jovem viúva?

Imaginemos, Alice, desesperada, sentada no chão da sua sala entre os corpos de sua família, sendo sugestionada a ir para um retiro místico localizado em pleno deserto chileno. E ela aceitou fazer essa viagem, pois, esse amigo, um filósofo lhe explicou que quem vai a esse tal lugar, depois que perde a sua fé, ao retornar de lá se transforma em alguém mais esclarecido nas suas antigas convicções outrora perdidas. Esse filosófo ainda explicou que a sua antiga fé perdida voltaria renovada e bem ampliada ao longo de um lindo e misterioso processo místico.

Tente visualizar Alice, no meio de um deserto, ela está dialogando com um exótico ancião, e logo essa jovem viúva percebeu que esse ser misterioso é idêntico ao seu falecido querido avô.

Você consegue imaginar essa tão inusitada cena?

Porém, estranhamente, esse "eremita" lhe revelou que ele nunca havia se comunicado com outra pessoa antes de ter se encontrado com a nossa protagonista.

Eu me pergunto se você conseguiria imaginar essa tão estranha aparição em forma de um homem?

Ele será o responsável de mostrar para Alice, e também para quase todas as pessoas que leram esse livro, um novo olhar para interpretar o mundo em todas as suas mazelas e tantas e tantas maravilhas.

Essa nova maneira de experimentar a existência plena é bem parecida ao modo que o JOHN LENNON nos inspirou a IMAGINAR na sua obra mais famosa, é aquela música que mais influenciou os seus milhões de fãs espalhados por uma boa parte do mundo.

Agora realizarei a apresentação de alguns personagens desse livro, embora alguns deles irão morrer muito cedo, e outros: nada dirão. Porém, o leitor entenderá o propósito.

Eu precisava de um personagem, na verdade uma heroína, que se tornasse uma ateia, e que ela tivesse tendência suicida para fazer uma analogia com a Juliana, então, é por isso que teremos como a protagonista do enredo uma mulher que se tornou uma total descrente em sua fé.

A primeira personagem que vamos conhecer é a Alice: Ela tem um metro e sessenta e oito de altura, pele clara, cabelos ruivos, é relativamente bonita. Ela sempre foi dona de uma fé extremada: a sua devoção era tão intensa a um ponto tal que tudo dava certo em sua vida. E para se ter uma dimensão de como era isso, contarei um pouco de como era vida dela: há oito meses ela, com outros colegas de trabalho, perdeu o emprego que tinha em uma empresa em que trabalhou por seis meses. Os colegas demitidos entraram em um total desespero , Alice não se abalou de maneira alguma com essa demissão, e ficou até bem feliz, e disse aos colegas que esse acontecimento era parte de um propósito de Deus que estava agindo em sua vida naquele momento, e que Ele lhe daria um emprego muito melhor do que esse que acabou de perder. Todos olharam para ela com desdém, pensando que ela queria mostrar ser uma pessoa bem forte na presença deles, mas, que depois ela iria chorar sozinha no reservado, sem ninguém perceber.

E Alice continuou a dizer que aquela demissão era, na verdade, um maravilhoso presente de Deus, e que Ele havia lhe preparado um emprego que é muito melhor para ela. Dizia que Deus tinha finalmente ouvido as suas súplicas. Ela confessou aos colegas que todas as noites ela orava pedindo a Deus um emprego bem melhor e que, sobretudo, fosse bem perto de sua casa, pois , queria ficar o maior tempo possível na companhia dos seus filhos. Já que, morando no município de Santo André, na grande São Paulo, e trabalhando em Pinheiros, bairro da capital de São Paulo, era muito longe, o salário bem baixo, sem benefício algum, em uma empresa que não investia nem nos bons funcionários. Isso era muito ruim para ela, que tinha a pretensão de passar do cargo de recepcionista para uma secretária.

Ela chamou seus colegas para ir a uma agência de empregos naquele mesmo dia, pois disse sentir que todos iriam conseguir um novo emprego muito melhor e que só era preciso confiarem em Deus.

Alice falou isso com uma convicção tão grande que os colegas pensaram que ela estava meio insana, totalmente fora de si, todos acharam a ideia um absurdo total. Alice, porém, continuou a dizer que aquela demissão foi um presente do Altíssimo, pois toda noite orava pedindo-lhe um emprego melhor, e que fosse bem mais próximo da sua casa. "Finalmente, Deus havia ouvido aos seus pedidos.", pensava Alice, com um sorriso estranho no rosto que teimava em aparecer a cada instante, isso deixou seus colegas cada vez mais perplexos, pois, Alice agia como se realmente estivesse fora de si. Parecia estar convicta que Deus estava operando milagres em favor dela.

Mesmo diante de todo aquele ceticismo de seus colegas demitidos em relação a ela, Alice não se importou com isso e chamou a todos para irem à Avenida Paulista com ela para que todos possam compartilhar a posse dessa benção, pois, Alice acreditava realmente que pressentiu que lá era o lugar em que o altíssimo, segundo ela, empregariam a todos que lhe acompanhasse, mas, eles sentiram muita pena dela, uma vez que acreditavam que ela não dizia coisa com coisa.

Antes de deixar o prédio ela fez o sinal da cruz (como sempre fazia) e rumou para a Avenida Paulista, fez o sinal da cruz novamente e entrou num lindo prédio onde funcionava uma agência de empregos e dirigiu-se ao balcão de atendimento informando que ali se apresentava para preencher uma vaga especial de recepcionista reservada para ela. Porém, a simpática atendente perguntou-lhe se ela havia sido enviada por alguém em especial, pois, nada estava sabendo sobre a vaga de recepcionista, e Alice respondeu que foi o altíssimo quem a enviou.

A charmosa atendente ficou confusa, ela não sabia como lidar com aquele tipo de pessoa muito estranha à sua frente. Ela respondeu apenas que em uma sexta-feira, às 16h45min, era impossível que alguém lhe desse um emprego, e que, inclusive, era fim de mês, fato esse que complicava ainda mais ter sucesso, e a moça lhe explicou ainda que nessas ocasiões, normalmente, não aparecia ninguém ali, e ela já ficava até pintando as unhas para se preparar para as festas do fim de semana. Alice discordou dizendo que para o altíssimo nada é impossível, e que Ele mesmo a encaminhou para lá.

A atendente, ainda confusa pela cena tão inusitada, disse que não tinha o emprego que ela tanto almejava, ela disse ainda que lamentava muito por isso, mas, que Alice teria que voltar para casa. Alice lhe respondeu que ela iria esperar ali até o emprego chegar, porque ela não recusava presentes de Deus. A atendente já estava com medo daquela mulher estranha que apesar de Alice parecer, inofensiva, a atendente não sabia se ela iria lhe dar algum tipo de problema e finalmente ela disse para a Alice que a agência encerraria o expediente exatamente às 17h15min. porém, enquanto isso, ela poderia preencher um cadastro, mas, depois disso a Alice teria que ir embora "numa boa" imediatamente e sem criar nenhum problema qualquer. A moça, nesse momento, já estava mesmo com muito medo da Alice devido ao seu jeito convicto e do modo dela falar e se comportar.

Quando a Alice estava quase terminando de preencher o cadastro, chegou por um fax pedindo urgentemente uma recepcionista que morasse em Santo André para o início imediato.

A perplexidade da atendente foi tamanha que ela sofreu uma brusca queda de pressão arterial e ficou até meio tonta e pediu para que a própria Alice lesse o documento e lhe falasse se ela tinha interesse ou não pela vaga.

Quando Alice terminou de ler o fax ela ficou muito feliz e comentou com a recepcionista que o endereço da empresa era à duas quadras de sua casa e que o salário era de 60% a mais que o antigo salário dela, e que essa empresa oferecia ainda vários benefícios e que a empresa investia nos bons funcionários e bancam, inclusive, cursos de aperfeiçoamento e até pagam quase toda a faculdade. Alice disse ainda que isso tudo era exatamente o que ela havia pedido ao altíssimo, e que ela sentiu que foi o próprio Deus que conduziu os seus passos até ali.

Enquanto a atendente ficou ali estática (sem reação alguma), Alice se ajoelhou, fez o sinal da cruz, e agradeceu a "bênção vinda dos céus".

A moça ficou olhando para todos os lugares para ver se não era alguma piada de seus muitos amigos brincalhões , ou se era de algum canal de televisão que testavam a reação das pessoa diante do enusitado.

Existem centenas de passagens da vida de Alice que mostram o quanto ela tinha “sorte” de estar no lugar certo na hora certa. Ela acreditava que Deus ajuda quem acredita e pede-lhe até conseguir, -- Mas -- dizia ela -- tem que “pedir com muita fé” porque Ele nunca falha, Ele tudo pode, eela disse ainda que nenhuma folha de uma árvore cai sem o consentimento Dele.

Tudo dava certo na vida dela, eram tão impressionantes quanto frequentes esses fatos acontecerem, talvez seja exatamente por esses acontecimentos que ela normalmente não tinha muitos amigos, nem mesmo nas empresas em que trabalhava.

Muitas pessoas até torciam para que ela se desse mal um dia, só para ela "aprender a deixar de ser tola".

Sempre que alguém tinha algum problema: ela logo dizia ser pura falta de fé, e também, às vezes, era falta de oração. E era por causa de frases comos essas que as pessoas ficavam muito chateadas com ela, pois, todas as pessoas acreditam que igualmente a aAlice possuíam uma grande fé também, contudo, suas vidas não eram tão favoráveis tanto quanto a da Alice. Parecia que quando Alice falava desse jeito, fazia com que as pessoas se sentissem inferiores, sem fé alguma, e que são desassistidas por Deus, e além disso parecia que Deus não as amavam.

Uma vez ela estava com dor em um dente e fez uma oração e a dor passou no mesmo instante.

Alice tinha uma frase que ela vivia citando aos quatro ventos, que era: "A verdadeira fé é incorruptível e inabalável".

Para Alice, na verdade, todo problema podia ser resolvido através da fé, da oração, de jejuns, de procissões, de velas, rosários, vigílias e outras coisas dessa crença, porque quando ela orava conseguia resolver todos as suas dificuldades.

Alice tem vinte e sete anos, é casada e tem dois filhos lindos. Seu marido, João, é um homem de bem. Ela é católica super praticante (pode botar praticante nisso), ela vivia na igreja, fazia, ainda, muitas visitas aos conventos, as comunidades carentes e aos orfanatos.

Porém, Alice não era bem vista pelo pessoal jovem da igreja, eles a chamavam (claro que por trás dela), de Dona Encrenqueira, porque Alice ficava corrigindo a postura eles dizendo que: “tem que fazer a fila, corretamente, para receber a hóstia, porque na ‘Casa de Deus’ não era lugar de paquerar". .. Ela criava muitas regras feitas na cabeça dela e não deixava os jovens falarem bem alto na igreja, e não permitia muitas outras coisas que chateavam demasiadamente esses jovens, inclusive certas roupas nas missas, e uma vez houve uma certa ocasião que a Dona Encrenqueira chamou a todos da pastoral da juventude de sacrílegos: esses jovens prometeram que nunca iriam perdoá-la por isso.

Ela gostava muito de assistir alguns telejornais e de escutar o noticiário pelo rádio e também lia muitas revistas de vários gêneros, e ela amava música clássica. Alice terminou o ensino médio e tinha a pretensão de ingressar na Faculdade e fazer Assistência Social ou Teologia. Por falar em Teologia: Teve uma ocasião em São Tomé das Letras que um homem estranho e vestido igual a um homem idoso paranoico que parecia ser bem maluco veio para perto dela e se apresentou a ela como "uma espécie de místico" e olhou ela no fundo, de seus olhos e disse que Alice tinha uma missão a cumprir na vida dela e que ela não era uma mulher comum e que sua família estava atrapalhando sua espiritualidade e a sua missão espiritual aqui na Terra,. Alice se assustou e enquanto ela tentava sair de perto dele esse idoso lhe dizia bem alto perto do seu ouvido:

-- ”Quando as pessoas não vão ao encontro do seu destino: ele dá um jeito de fazer as pessoas irem até ele de uma maneira ou de outra! Prepare-se bem para o dia do seu chamado!".

O segundo personagem é oLéo Romano (amigo da Alice).

Léo sempre foi um sujeito que esteve em busca de uma suposta verdade, pois, ele queria saber o que somos? Para que estamos aqui? Qual o sentido da vida? Vamos ser castigados ou recompensados de alguma maneira devido aos nossos feitos? O que é a verdade? Questionava-se muito sobre metafísica e ficava pensando como que é possível nós sermos esse monte de carne, ossos e muito sangue que fica andando, por aí afora brincando de existir. Ele não conseguiu entender como um monte de carne e ossos conseguia ver tudo o que existe, pegar objetos, pensar, se reproduzir, existir, etc. Ele não entendia como é possível a gente estar viajando no espaço numa bola (o planeta Terra), que circula em torno de outra bola incandescente (o Sol) que dá Luz e calor e é essencial para a vida na Terra. Ficava tão “bestificado” e sem entender tudo isso e ficou esperando a vida passar, não teve um filho, não plantou uma única árvore sequer e nem escreveu um livro simples que fosse ousou a fazer, pois, mesmo com todo conhecimento, que julgava ter, ele se sentia uma pessoa vazia e inútil, e a sua existência era um tormento: por isso ele parou no tempo e espaço, e só fazia questionamentos.

E as suas muitas perguntas sem respostas o atormentavam cada dia mais e mais, e por esse motivo que ele estava sempre ao redor de Alice, ele julgava ter um grande conhecimento sobre quase todo tipo de filosofias e teorias, mas não uma teoria sobre como ser feliz, e a Alice já possuía uma receita para a felicidade, sendo a fé e a oração, Deus, igreja, etc. No fundo, mesmo o Léo tinha, sem perceber, uma inveja muito grande da sua amiga, por ela ser uma pessoa realizada e muito feliz, e ele com todo aquele conhecimento se sentia vazio, sempre se defendia "dessa agressão" (reconhecer essa inveja) dizendo um pensamento do cantor baiano, Raul seixas: "Que pena eu não ser burro, eu não sofreria (tanto)".

Mas, na verdade, o Léo não tinha medo algum da morte, ele não achava a morte ruim, o que o incomodava mesmo é a vida, ou o absurdo da existência da vida em si, não existir era uma situação normal para ele, morrer também era normal para ele, o estranho mesmo era o que acontecia entre a não existência e a morte, ou seja, voltar a não existir novamente, para ele não existir é a questão mais fácil de entender. Ele acreditava que não existia de nenhuma maneira antes de nascer, e que não sentia dor alguma, e não sentia amor, não sentia nada, sabia que iria morrer um dia, ou seja, ele veio do nada e para o nada voltará. Ele não existia, passou a existir e depois deixaria de existir novamente. Agora o incômodo era saber o porquê e como que a vida existia, pois, ele realmente se impressionava com tudo isso, a vida para esse homem era uma incógnita, a morte não. Então ele se perguntava o porquê da existência da vida? E qual é a sua razão? Enquanto todas as pessoas se espantavam, se preocupavam, se questionavam, se fascinavam com a morte, o Léo achava a vida um grande enigma. A existência de todo e toda sua complexidade era acontecimentos incríveis demais para poderem existir. Isso era o que muito o incomodava, mas, as pessoas apesar de nunca terem tocado no assunto na presença dele, porém, todos acreditavam que ele tinha medo de morrer sim.

Léo e a Alice eram amigos desde que nasceram, na verdade, eles também são primos. Eles nasceram numa cidade no Sul de Minas Gerais, dois anos depois que a amiga veio para São Paulo , ele fez o mesmo trajeto que ela e isso já faz dez longos anos.

Léo tem vinte e nove anos, solteiro, ele, às vezes se auto define como agnóstico (acredita que nunca o homem poderá adquirir o conhecimento), professor de história e de filosofia numa Faculdade particular, tinha uma banda de rock com repertório dos Beatles e John Lennon. Ele não é tão bonito, alto, magro, branco, cabelos longos. Ele tem distúrbios do sono, têm pesadelos todas as noites, ocasionados, exclusivamente, pela vontade de conhecer a resposta de como que é possível o absurdo da existência acontecer. Para ele ter um sonho bom era tão importante e sedutor quanto saber o que é o "todo da verdade".

O terceiro personagem é o João: (o marido da Alice)

Ele tem trinta e dois anos, e é de estatura mediana para alta, é um bom mecânico de manutenção, é católico, porém, não muito praticante, gosta muito de futebol, ele é uma pessoa que é muito responsável, ele é muito amigo das pessoas, e estava sempre de bem com a sua vida, ele tinha vários amigos, e era muito simpático, e aos fins de semana tocava as músicas dos Beatles para o pessoal da Pastoral da Juventude, e logo após perceber que isso fazia bem para ele começou, então, a ensinar os jovens como uma espécie de terapia, pois, quanto mais com a sua mente ocupada estava , menos ele iria se sentir com vontade de voltar a jogar e a beber. João foi durante muitos anos viciado em jogos de azar e a bebedas, e isso fazia a sua mulher sofrer muito, no entanto, hoje em dia ele nem fuma, nem joga mais, às vezes toma uma “cervejinha” para relaxar as tensões do dia-a-dia. João ainda conservou o gosto por esportes que a adquiriu quando ainda era muito menino, quando era muito jovem ele sonhou muito em ser um jogador de futebol famoso, mas agora era apenas um sonho de menino que já passou e o correr dos anos o fez esquecer, mas hoje em dia ele já se anima em ficar horas e horas em frente à TV a Cabo assistindo a vários programas esportivos.

A quarta personagem é a Cecília: (a lindíssima irmã de Alice)

Ela tem dezenove anos, e é muito e muito bonita, está morando no Estado de São Paulo há seis anos, e há apenas cinco meses está morando no município de Santo André com a sua irmã, e ela está tentando esquecer o fim de um casamento que durou apenas sete meses, por isso que ela veio para estudar e se esquecer de seu casamento frustrado.

Cecília está tentando lutar contra si mesma para se libertar da sua libido que é muito forte, quase incontrolável. Isso sempre lhe causou grandes problemas, inclusive, sua separação conjugal. Ela está fazendo a faculdade de belas-artes: adora contemplar o BELO. Seu maior sonho: ser feliz.

O quinto personagem é o Mozart: (filho da Alice)

Um menino de nove anos, estudioso, alegre e cheio de vida. É muito apegado à sua madrinha, nas férias da escola, ficava o dia todo na casa dela, só voltava à noite quando a sua mãe ou seu pai o apanhava na volta do trabalho. É muito educado e prestativo, apesar de ser muito tímido. Mozart gosta muito de tomar café com leite e comer pão com manteiga, dizia para sua mãe que queria que o mundo fosse feito de pão com manteiga e café com leite.

Dizia querer ser padre, ele queria agradar sua mãe com essa atitude.

O sexto personagem é o Johann: (o caçula de Alice e o João)

Era um lindo menino de sete anos, gosta muito de desenhos animados, ele até falava muito parecido com o Catatau do Desenho do Zé colmeia, este fato deixava o seu pai muito preocupado. Ele possuía um monte de sardas espalhadas pelo seu corpo sadio, essa característica deixava sua mãe muito feliz. Ele dizia querer ser baterista de uma banda de Rock, essa revelação desse desejo tirava o sono de sua mãe, que orava pedindo a Deus para intervir na cabeça dele e livrá-lo dessa atitude do demônio (segundo ela). O pequeno Johann também era fascinado por foguetes, e, , igualmente sonha quase todas as crianças, nutria uma vontade infantil de ser astronauta.

O sétimo personagem é o Ramones: (Ele é manifestação da própria essência em pessoa).

Capítulo Primeiro: Eu lhe pergunto, a verdadeira fé é mesmo incorruptível e inabalável?

Hoje, dia dezessete de fevereiro de 1992, agora, exatamente, às 6h35min da manhã, finalmente parou de chover! Estamos na varanda da enorme casa de Alice, ela ainda está dormindo e logo vamos ouvir o som do alarme do seu relógio, e ela em seguida já vai acordar. Vamos, então, entrar e ver como estão os acontecimentos lá dentro? Aqui é o quarto dos filhos dela com o João, seu marido. Os “anjinhos”, como ela carinhosamente os apelidou, estão dormindo tranquilamente, apesar de estarem bastante tristes, já que, mamãe e papai irão viajar para o Chile, e eles por duas semanas inteiras ficarão sem o carinho de seus pais por todo esse infinito tempo, uma ausência de tanto tempo assim nunca aconteceu, o máximo que já ficaram foi por dois dias consecutivos.

Os meninos até ficaram muito chateados com o pessoal da pastoral da juventude que resolveu presentear com as passagens aéreas os seus pais para que eles pudessem realizar essa viagem tão desejada, porém, para esses meninos, o presente bom mesmo é poder ficar sempre com papai e com a mamãe.

Na verdade, o pessoal da pastoral da juventude queria fazer um agrado, especialmente, ao tio Dão, era assim que os jovens chamavam o marido da Alice, que sabia tudo sobre os Beatles e os ensinava a tocar todas suas músicas.

Agora, vamos para o quarto da Cecília, a bela, ela é a mulher de dezenove anos mais linda que os meus olhos já puderam contemplar, entretanto, em contrapartida, atualmente, talvez, ela seja a pessoa, de sua idade, a mais deprimida e a mais triste que eu já vi. Se vocês pudessem imaginar como ela é linda, iriam querer ficar a contemplá-la devido à sua infinita beleza por todo o sempre, principalmente, quando ela dorme, como agora.

Entretanto, infelizmente, não vamos poder ficar aqui admirando essa bela jovem, e nem podemos ficar aqui falando a seu respeito, porque, preciso narrar os fatos que acontecerão na sequência, e tenho que falar sobre muitas outras situações ainda, acontecimentos demasiadamente importantes vão ocorrer a partir daqui.

Estamos agora no quarto de Alice, e tudo já está pronto para a grande viagem: as malas, os passaportes, as reservas do hotel e muitos outros apetrechos e objetos tão necessários a uma boa viagem que se pretende realizar.

Agora ela dorme tranquila, sabe que quando acordar, claro que é com ajuda do seu relógio que ganhou de um primo, encontrará um dia lindo e maravilhoso. É óbvio que ela sabe! É que na data de hoje, ela e o João, estarão logo mais comemorando as bodas de estanho, pois, faz dez anos que se casaram. Por causa disso, ela está convicta que “O Bom Deus” lhe concederá um dia esplêndido para eles comemorarem essa data tão especial para esse casal. Ela é, com certeza, uma pessoa extremamente devota. Sempre foi muito boa para com todos, e ainda ficou durante dois meses pedindo, em suas orações, e em jejuns, que o dia de suas bodas fosse maravilhoso.

Apesar de chover muito nas duas últimas semanas na Grande São Paulo, quando o relógio despertou às 7h em ponto e acordou Alice, o dia estava realmente maravilhoso exatamente como ela pediu em suas infinitas orações. Ela se levantou, depois se ajoelhou no tapete, agradeceu a Deus como fazia todas as manhãs, e em seguida, foi tomar um “banho despertador”. E através do vitral do banheiro ela confirma o que nem precisaria mais de nenhuma comprovação , a cara do dia estava linda, estava exatamente igual ao que ela imaginou, foi assim mesmo que ela pediu a Deus. Quando saiu do banho, encontrou seu marido no corredor com duas xícaras de café. Uma era para ela, e a outra o João já estava se servindo, então, ele disse entregando para a sua amada a xícara com café puro.

-- Como você consegue, querida, fazer o dia ficar lindo assim?

Perguntou o pasmado João ao amor de sua vida:

-- Não fui eu, foi Deus quem nos presenteou por nossa grande fé, meu amor!

Disse a feliz mulher recebendo um beijo e um acolhedor abraço de seu querido esposo.

-- Suponho que a fé é mais sua do que, exatamente, nossa, não é mesmo, Alice?

Disse João, reconhecendo que não acreditava realmente que o dia estaria tão bonito, depois de tanta chuva nos últimos dias. Mesmo quando Alice lhe garantiu que Deus jamais faria essa desfeita com eles (privá-los de uma boa comemoração devido ao clima de chuvas), mesmo porque João não tinha tanta fé em Deus como Alice gostaria que ele tivesse. Ela segurou na mão dele e disse:

-- A Bíblia diz que uma mulher sábia santifica o seu lar, ou será que é glorifica? Eu não me lembro bem!

Disse Alice tentando dizer que ela rezava pelo bem de toda a sua família.

-- Na verdade, minha linda, a frase correta é: “a mulher sábia, edifica o seu lar”. E você faz isso muito bem, querida Alice.

Disse-lhe, pacientemente, e com doçura, o amoroso e prestativo João.

-- E o que quer dizer, exatamente, isso?

Perguntou Alice orgulhosa pelo fato de João ter feito, finalmente, depois que tanto ela lhe pediu, certo cursinho Bíblico.

-- Bom! Eu acredito que quer dizer que, uma mulher sábia faz com que sua família seja uma família maravilhosa, todos amando a todos, fazendo a vontade de Deus, como é no caso da nossa família, e tudo por sua causa, meu amor. Você realmente é maravilhosa, é uma mulher sábia e edifica muito bem a sua casa, você é o meu maior investimento, tenha a certeza disso, amor! Tenho filhos bem educados por sua causa, você é uma ótima mãe, esposa, mulher e pessoa.

Depois que João disse isso lhe deu outro abraço, bem forte, carinhoso e também mais um beijo apaixonado. Alice, nesse momento, se sentiu a pessoa mais amada e feliz de todo o imenso país. Ela aperta seu marido junto ao seu corpo e diz:

-- Eu fico muito feliz por você dizer essas palavras tão lindas que todas as mulheres gostariam de ouvir de seus companheiros, logo hoje, em um dia tão especial para nossa família, obrigada, meu bem. Deus e minha família são a minha vida, se um dia perder vocês não teriam forças, nem vontade de viver, e nem a vida teria sentido algum para mim.

Alice, de repente, disse isso aos prantos, João mesmo sem entender o que ela queria dizer com isso, socorreu-a com mais um abraço e lhe disse com muito carinho:

-- “Alicinha”, nada neste mundo vai fazer você ficar triste, você confia tanto em Deus! Você é a última pessoa nesse mundo que mereceria chorar. ..

Muito emocionada, a mulher balançou a cabeça para confirmar que sim, ela estava tão tensa que nem conseguia falar, parecia até que estava pressentindo algo de ruim que haveria de acontecer muito em breve. Sentindo que sua amada não estava muito bem, João interrompe os seus pensamentos dizendo-lhe:

-- Não diga mais todos esses absurdos, Deus a ama muito e nós também a amamos, e você sabe disso! E outro fato, Deus já provou que está totalmente ao teu lado. .. Olha como o dia está lindo, parece até um pequeno milagre ter parado de chover! Parece até que Deus fica se esforçando o tempo todo para te agradar ! Parece que Deus faz tudo que você quer e tudo o que você precisa. Eu tenho a impressão que Deus existe só para fazê-la feliz, parece, Alice, que o mundo todo só existe para agradá-la. ..

João disse isso apontando para a janela da sala por onde os raios de sol da manhã entraram e testemunham todo o afeto que João tinha pela sua esposa, ele chegou até a pensar parecer que os raios do sol sorriam de alegria para o amor deles, era como se aquela invasão dos raios do Sol fosse uma felicitação da natureza ao amor deles. Alice olha para onde seu amado esposo lhe aponta com o dedo e disse:

- João, hoje é o dia mais feliz da minha vida! Tenho tudo o que preciso para ser feliz: Deus e vocês, minha família querida e também a minha irmã que está conosco, fico feliz em poder ajudá-la nesse momento que está tão difícil em sua vida.

Quando disse isso, seus olhos brilharam, irradiou uma luz de seus olhos, João apertou-lhe as mãos com “quase todo o carinho do seu imenso coração” e disse-lhe:

-- Alice, eu amo você e nossa família, com todas as minhas forças.

Ao dizer isso, João tremia de emoção, parecia que eles estavam flutuando nas nuvens, foi um momento mágico, só os raios do Sol puderam contemplar esse momento lindo, se, o amigo leitor, pudesse ver essa cena, iria perceber que aqueles raios de sol estavam contemplando a conversa desse casal que se ama muito.

Porém, quando Alice, mesmo com um profundo carinho, disse:

-- Meu amor, você esqueceu de dizer que ama a Deus em primeiro lugar.

-- Não, não esqueci não, Alice, amo mais a vocês, do que a Deus! Nem sei se Deus existe mesmo! Não há provas disso!

Respondeu, enfaticamente, João já notando uma pontinha de tristeza no semblante da esposa que mesmo assim ainda estava muito feliz.

Para Alice era muito importante dizer que Deus está sempre em primeiro lugar. Já o João tem muita dificuldade de pensar profundamente em Deus. Ele sempre dizia gostar mais das pessoas que estavam ao seu redor do que de Deus, que, na verdade, nem sabia, se Deus realmente existia, as pessoas, ele tinha convicção de que existiam realmente, pois, podia vê-las e tocá-las, sempre. Ele disse, ainda, que se Deus existisse: com certeza, Ele, Deus, iria gostar que nós cuidássemos uns dos outros e nos amássemos reciprocamente, e é o que eu iria querer se eu fosse o Próprio Deus.

Essas palavras ditas com frequência por seu esposo a deixava desesperada. Ela dizia ser devido ao Rock que João sempre gostou de ouvir desde quando era muito jovem, principalmente, as músicas do ex Beatles, John Lennon: “Esse ateu está te corrompendo”, dizia sempre Alice, muito chateada com as suas palavras contra Deus.

-- Mas isso, não é errado, João? Você ficar dizendo essas coisas, Deus é eterno, as pessoas não, Ele é o nosso pai.

-- Alice, Justamente por Deus ser eterno que Ele não precisa tanto das pessoas. .. Deus não faz nada por ninguém, Alice, a única pessoa para quem eu vejo que Deus está fazendo algo, é só para você! Deus parece que está disposto a mover mundos e fundos só para lhe agradar!

João disse isso e a sua esposa olhou para ele com um olhar de profunda reprovação e falou:

-- Nunca mais fale isso para mim! Deus pode nos castigar por essas suas palavras. ..

E o seu marido tentando se desculpar disse:

-- Jesus disse que deveríamos provar o amor que sentimos pelo Pai (Deus) que está no Céu (e não o vemos) é amando as pessoas, deveríamos amar ao próximo (irmão) que está perto de nós. É assim que eu entendo e é assim que venho agindo desde sempre. Foi isso que eu confirmei naquele cursinho que você me obrigou a fazer. ..

João queria deixar para resolver esse ponto de vista dessa passagem da Bíblia em outra hora. Alice entendeu bem isso, até porque já estava na hora de ela ir para o trabalho e não podia falar sobre esse assunto naquele momento, apesar de que ela sempre pregou que devemos falar das coisas de Deus em qualquer ocasião por ser deveras muito importante.

Agora a feliz e atrasada mulher disse ao seu amado que já estava quase totalmente despido para “tomar uma ducha”:

-- Meu bem, vou acordar a Cecília, porque tenho que combinar os horários, as roupas e tudo exatamente do jeito que planejei para a festa que o pessoal da igreja está preparando para nossas bodas, está bem? É que não podemos chegar atrasados devido ao avião que vai levantar o voo à meia-noite e meia, entendeu bem?

Ele olha para ela e diz:

-- Está bem, minha linda, eu vou tomar um belo banho e aproveitar bem o dia de sol já que ganhei esse dia de folga como um presente pelas bodas, então eu vou aproveitá-lo plenamente.

Quando João terminou de falar, já estava totalmente despido no banheiro e Alice estava a caminho do seu quarto para se vestir. Em seguida ela se dirigiu ao quarto de sua irmã caçula, acordou ela, e enquanto recebeu um forte abraço da bela Cecília, que lhe disse com o maior sorriso que ela jamais havia visto em toda a vida:

-- Parabéns, Alicinha! Dez anos, hein?

Após dizer isso, ficou triste, e completou:

-- E o meu casamento não durou nem dez míseros meses.

Ao dizer isso, escorre uma lágrima dos olhos verdes e grandes de uma menina-mulher linda e infeliz.

Alice, com um lenço de papel, secou uma lágrima que escorria do rosto de Cecília e a pele clara e aveludada da sua irmã ficou com um tom suave de um vermelho quase rosado. A caçulinha ganha um beijo e um abraço. Depois, ficaram alguns instantes sem nada a dizer, faltaram-lhes todas as palavras, então a irmã mais velha quebrou aquele terrível silêncio:

-- Um dia, Deus, vai pôr uma pessoa maravilhosa na sua vida, o José Antônio não era uma boa pessoa para você, ele era muito ciumento e possessivo, foi Deus quem te livrou dele. Se você orar e jejuar todos os dias, e levar a religião mais a sério: eu tenho certeza que Ele vai te dar um homem que a ame de verdade, um marido bom que te mereça, um homem que a faça muito feliz, uma pessoa que faça a vontade de Deus, não um sujeito como aquele que, somente, lhe fez sofrer! Cecília, tenho certeza que no final vai acabar tudo bem, então, não se preocupe não, certo? A preocupação é, na verdade, uma demonstração de uma falta de confiança em Deus, sabia?

Alice disse isso olhando nos olhos ainda úmidos da sua querida irmãzinha. O seu olhar inspirava confiança na caçula, que mesmo admitindo não ter nem a décima parte da fé da irmã mais velha, mas, acreditava muito nela. Cecília achava sua irmã uma pessoa muito sábia, e tentava se inspirar na fé dela. Apesar dela também ser católica, porém, ela não era muito praticante, ela “fazia coisas erradas”, era isso que sua mãe sempre dizia, e bem depois era o padre João Fernando que falava as mesmas palavras para a sua irmãzinha. ..

Cecília, com uma expressão mista de gratidão, carinho e amor, retribuiu:

-- Obrigada, Alicinha, por você sempre ter se preocupado comigo, depois que nossos pais infelizmente faleceram, você passou a ser como uma perfeita mãe para mim. ..

Mas, Cecília, nem precisava ter dito isso, o olhar dela já demonstrava todos os seus sentimentos de gratidão, admiração, orgulho e respeito pela Alice, que nesse instante observa os ponteiros do seu relógio de pulso, e tomou um susto com o seu atraso e diz:

-- Eu só te acordei, Cecília, porque tenho que lhe explicar tudo, em detalhes, "tim tim por tim tim" de novo, para que você não faça as coisas erradas, mesmo porque, parece, que você, nunca presta atenção no que eu lhe digo e faz tudo diferente do que eu lhe peço. .. Acordei você, porque dessa vez, exijo realmente que tudo seja como já lhe disse ontem, entendeu? Gostaria que você aprontasse tudo para mim, já que, quando eu chegar, gostaria apenas de tomar um belo banho, pôr a roupa da festa e já sair rapidamente, quero que todos cheguemos juntos na comemoração, porque o festejo está programado para começar às 19h em ponto. Não quero deixar os convidados esperando. Poxa vida! Eles pagaram a festa toda, e ainda vão preparar tudo, nem querem a nossa ajuda, fizeram tudo isso como presente para nós. Então, não acho justo deixá-los iguais uns “bobos”, esperando por nós, não é mesmo?

Cecília ficou fazendo um biquinho com os lábios porque acreditava que sua irmã não sabia fazer as coisas com todo o charme e encanto como uma festa necessitava. Ela queria preparar toda a família de sua irmã de um jeito muito melhor do que a Alice planejou.

Alice, já percebendo o que sua irmã iria falar, e se antecipando a ela, disse que já explicou tudo como queria e que era para sua irmã fazer como foi determinada por ela. Deu um beijo estalado na testa da caçula e foi até o quarto dos filhos e beijou as bochechas de seus anjinhos, trancou a porta da sala que dá acesso à rua, e fez o sinal da cruz, e percorreu todos os quatrocentos e noventa e sete passos que ligam a porta da frente da casa dela ao portão, abriu, fechou, e novamente fez o sinal da cruz.

Sua casa ficava num lugar meio deserto, era rodeado por árvores, dava até para ouvir os pássaros cantando. Sua família sempre viveu assim, no meio de árvores, jardins enormes, pássaros de várias espécies, e outros pequenos animais selvagens. Essa casa era uma herança que Alice recebeu de um casal de idosos, eles eram os padrinhos de batizado da nossa protagonista.

Agora, já na calçada, essa mulher andava em um estado tão grande de felicidade que parecia que seus pés nem tocavam o solo. Quando entrou na empresa fez o sinal da cruz e logo foi vista pelas colegas de trabalho, que em seguida parabenizaram-na pela data. Trouxeram-lhe um buquê de rosas-vermelhas e brancas com um cartão dizendo: “Nós a felicitamos por você ser essa pessoa maravilhosa, parabéns! Continue assim, seus colegas”.

Desde quando a Alice começou nesse novo emprego, as pessoas que trabalhavam no seu setor, notaram que onde ela estava, o ar era melhor de se respirar, e não era só devido ao seu perfume suave, e sim, principalmente, porque irradiava de seu ser uma atmosfera boa, ninguém gritava com ninguém perto dela, era como se Alice fosse uma espécie de santa, todos do chefe ao “ office boy”, agiam diferente em sua presença. Mas, nesse dia, essa atmosfera radiante dela estava muito acentuada, os funcionários da empresa toda, que, aliás, não era pequena, revezavam-se para ficar pelo menos um instante ao seu redor. Algumas pessoas acreditavam que só em estar perto de Alice, faria com que eles pudessem também sentir aquilo que ela estava sentindo. Outros se contentavam com apenas com a honra e o prazer de ficar perto de alguém que está tão de bem com a vida.

Alice pediu ao seu chefe, uma semana antes, para que ela pudesse sair duas horas mais cedo do trabalho porque tinha que passar no cabeleireiro e arrumar seu cabelo. A mulher cada vez mais feliz, esperava "seu" o ônibus, que demora um pouquinho, e a ansiedade aumenta mais e mais a cada instante. Alice, havia agendado um horário para que sua cabeleireira preferida lhe fizesse um penteado, quase uma escultura, ela foi convencida por sua irma fazer algo no seu cabelo que fosse adequado para essa ocasião tão especial, apesar de, nunca ter sido muito vaidosa, ela também queria algo lindo nessa data tão importante para a sua família. Porém, quando Alice chegou perto do salão de beleza já logo percebeu que as portas estavam fechadas e seu semblante despencou imediatamente e por um pequeno instante ela pensou na possibilidade de ser uma brincadeira, mas logo, “caiu na real”, tinha um bilhete afixado num painel que dizia:

--“Desculpem-me, mas tive que ir ao médico, emergência. Não volto mais hoje, peço mil desculpas, Assinado: Célia. ”

Ao ler esse recado pensou em voltar imediatamente para casa sem um penteado ideal mesmo, depois achou por bem não ir "igual a uma mendiga", ela pensou alto:

-- Depois de tudo que Deus fez!? Até parar de chover Ele fez por mim! A minha família merecia muito mais dedicação de minha parte! O pessoal da igreja está trabalhando tanto! E eu nem vou me arrumar direito para eles? Isso não! Não acho isso justo!

De súbito, teve uma ideia que salvaria o dia. Na verdade, era até óbvia a sua ideia e decidiu logicamente que iria procurar outro cabeleireiro, fez o sinal da cruz e agradeceu a Deus e partiu à procura de outro salão de cabeleireiro.

O semblante da mulher mais confiante do mundo, porém, muito ansiosa, voltou a mostrar o que realmente era, uma mulher que sabia que no “final tudo dava sempre certo”. Andou só um pouquinho e logo achou outro salão, no entanto, havia uma cliente fazendo um penteado que demoraria muito para terminar, mesmo assim, resolveu esperar. Nos seus cálculos ia se atrasar em mais de meia hora, mas já estava decidida e dizia baixinho só para ela e sua fé ouvirem:

-- Vai dar certo! Tudo vai dar certo! Um segundo no relógio de Deus é uma hora inteira no nosso!

Deu um sorriso quando o seu penteado ficou pronto, o cabeleireiro, ficou de boca aberta contemplando a sua própria obra de Arte, pediu que sua cliente esperasse um momento para que ele pudesse fotografar o que fez com seus cabelos.

Na verdade, não era realmente o penteado que estava lindo, era o semblante de Alice que fazia com que aquele monte de grampos e tranças, parecesse ser muito mais bonito do que era realmente.

Porém, agora, nesse momento, a atrasada, ansiosa e feliz mulher pede desculpas por não poder lhe deixar tirar a sua fotografia e rapidamente explica-lhe:

-- Eu, sinto muito, mas, não posso perder nem mais um segundo não: Deus e minha família, as pessoas, os amigos e os convidados estão a me esperar!

Quando o cabeleireiro ouviu isso, deu um pulo na frente de Alice e disse em desespero:

-- Não se preocupe! Eu tiro em dois segundos enquanto você pega o dinheiro!

Falou o homem já com a máquina fotográfica em mãos.

A mulher fotografada pagou pelo serviço do cabeleireiro que se achava um gênio dos penteados, então, fez o sinal da cruz e saiu mais rápido do que entrou, pois, os seus cálculos estavam errados, ela nunca foi muito boa em calcular a passagem das horas.

Entretanto, ela já estava alguns minutos fora do tempo que julgava que iria gastar para ficar bonita, e desceu do ônibus em frente a uma pequena e antiga capela, e dessa vez, ela realmente cogitou por um isntante em não parar para rezar e agradecer a Deus, como sempre fazia em lugares que ela chamava de “Santos”, ela acredita que esses lugares foram construídos por indivíduos de fé para que as pessoas que possuem confiança em Deus possam entrar um pouquinho que seja e falar com Ele na Casa Dele, mesmo que estejamos com muita pressa: “um minuto para nós é uma eternidade para Deus”, e ela agia assim sempre que passava em frente a uma capela ou igreja, ela sempre dizia uma mesma famigerada frase para odesespero de seu marido ou das pessoas que lhe acompnhavam nessas horas, e estavam com muita pressa, ou atrasadas, pois, tinham que esperar ela ter" uma conversinha íntima com Deus". Então ela entrou, ajoelhou-se, fez o sinal da cruz e rezou com uma profunda devoção e amor sincero. Agradeceu a Deus por tudo de bom que Ele havia proporcionado-lhe e por a sua família estar muito bem. Alice deu graças até para as coisas ruins que lhe aconteceram, sempre entendeu que as coisas ruins lhe fizeram crescer, bastante, espiritualmente, aumentando-lhe a sua fé. Dizia que: “Se Deus era justo, então tudo que acontece tem um maravilhoso propósito para a evolução das pessoas” e dizia também que: “Ninguém sabe mais do que Deus o que é bom ou mau!”, "Deus está no comando!", e que ‘Temos que confiar cegamente Nele!”. Alice, nunca conseguiu entender como alguém pode confiar em Deus, na justiça Dele e não perceber que tudo tem um grande e maravilhoso propósito divino já preparado e ela dizia que:

--“Os cristãos devem estar atentos aos sinais da presença de Deus, visto que Ele está em todos os lugares e o tempo todo”.

Alice perdoava tudo nas pessoas, tudo menos a falta de fé em Deus. Não entendia como que uma pessoa pode não ter fé" e ela dizia:

-- Como uma pessoa pode não acreditar em Deus? As pessoas que precisam de Deus e não é Deus que precisa das pessoas. Deus tem muito trabalho” para amar as pessoas, devido à falta de fé delas”. O que salva o homem não é a fé Nele: é a misericórdia de Deus que salva o seu povo que está com Ele.

Dizia, inclusive, que se uma pessoa que tem fé e reza sempre, e continua com algum tipo de problema qualquer, isso acontece justamente porque Deus está provando algo na pessoa, e que de alguma maneira tudo será para o bem dessa pessoa, porque Deus é justo e infalível em todos os seus atos. Dizia que Deus escreve certo por linhas certas, e quem diz que Deus escreve certo por linhas tortas era porque não enxergava direito, "tinha o olho torto" ou não conhecia Deus direito. Falava também que Deus estava acima do bem e do mal, porque a maior de todas as bondades era a Justiça Divina. Dizia que tudo o que Deus fez, faz e fará no futuro é certo e correto, e que, quem não pensa como ela, é porque essa pessoa não quer entender os desígnios de Deus:

-- Nenhuma folha de uma árvore cairia se não fosse da vontade de Deus!

Dizia ela, convicta de sua fé incorruptível e inabalável. Outra frase que era do seu riquíssimo repertório de citações: “Deus não dá um fardo mais pesado do que as pessoas possam carregar”. Para Alice a vida é bem simples de se viver, é só ir para igreja, orar, tomar da hóstia, confessar e pedir a Deus tudo que precisar e Ele lhe dará.

Alice rezou neste instante por toda a Humanidade, mas, quando olhou para o seu relógio e percebeu que já tinha “perdido” mais de uma hora em orações e só pretendia ficar cinco minutos. Não se importou, ela sabia que Deus iria fazer o tempo render, pois, o tempo que perdeu no cabeleireiro e na capela tinha sido por um bom motivo. Afinal, perdeu esse tempo se arrumando para agradar a sua família e o pessoal da igreja, e também conversou intimamente com Deus, e não poderia deixar de agradecer, principalmente, ao Altíssimo nesse dia do qual tinha certeza de que nunca iria esquecer em toda a sua vida. Ao pensar nisso tudo, fez o sinal da cruz, levantou-se e saiu bem tranquila com a certeza de que iria acabar tudo muito bem, sua fé lhe dizia isso o tempo todo, seu coração estava em paz, e muito confiante, ela acreditava estar inteiramente com Deus.

Agora, mais decidida ainda, sem pressa, e de novo uma feliz mulher caminha pelas calçadas a uma quadra do encontro de sua feliz e querida família que estava a lhe esperar com os braços abertos com o carinho de sempre. Já sentia muitas saudades de seus “anjinhos” e de seu marido e da sua linda irmã caçula. Começou a assobiar a quinta sinfonia de Beethoven, ela simplesmente amava música clássica, e, em simultâneo, em que assobiava uma canção, também pensava alto: “A Cecília deve ter penteado os cabelos dos meninos para trás, de uma maneira que eu não suponho que seja a melhor maneira de penteá-los, ainda mais em se tratando de ter que tirar fotografias. Quero mostrar essas fotografias no dia dos casamentos deles!”. “Profetizava” Alice quando acabou de cruzar o portão de sua casa e fazer o sinal da cruz, mais uma vez.

Alice imaginava encontrar seus filhos escutando o som alto, bem alto, eles sempre faziam isso quando a mãe deles não estava em casa, pois, ela não gosta de “barulho”, era assim que ela denominava o Rock’n’roll: só bagunça. Reclamava com as crianças que não conseguia escutar seus próprios pensamentos com tanto barulho. Mas, no meio do quintal percebeu que o som estava desligado, ou bem baixinho, coisa que duvidava um dia encontrar, pensou em voz baixa, "será que temos mais um pequeno milagre em minha casa hoje?". Então, ela, por um único instante , acreditou na possibilidade deles já terem ido ao salão de festas da paróquia, sem ela mas , logo descartou essa hipótese, pois, a sua família jamais faria isso com ela, seria muito deselegante: “a família tinha que chegar toda junta, unida, e feliz como sempre foram, e sempre será se Deus assim quiser, e Ele quer, falou para si mesma”. Algumas pessoas julgavam que, Alice acredita que ela podia ler os pensamentos de Deus, isso devido à convicção de suas palavras, e, principalmente, por causa do modo com o qual ela pronunciava essas frases.

Então, a conhecedora da sua própria família, disse a si mesma: Já sei! Eles me viram e desligaram o som, quando eu abri a porta, sou eu quem vou surpreender a todos! Eu vou assustá-los. Abrirei a porta bem devagarzinho para não fazer barulho, depois darei um grito com todas as minhas forças!

Alice estava tão feliz, queria brincar um pouco, dar uma descontraída, mesmo estando tão atrasada, pensou: “O Pessoal pode me esperar um pouquinho, nas novelas fica até charmoso ficar esperando as pessoas principais da festa, a Cecília, que adora charme e encanto, iria gostar muito de me ouvir dizendo isso.

Agora, a também brincalhona e feliz mulher abre a porta bem devagarzinho até a metade, depois dá um empurrão bem forte e de repente dá um grito ensurdecedor:

-- Ai! Meu Deus Do Céu! Aconteceu uma tragédia! Uma grande tragédia!

Alice ficou ali mesmo absolutamente parada na porta, estava petrificada, pois com os olhos fechados era bem mais fácil de acreditar que tudo aquilo ali em sua frente não fosse real. Ela pensou, "Deus jamais deixaria isso acontecer comigo". Alice sempre conviveu com o "fato" de pedir, e ganhar o que pediu a Deus, ele sempre lhe atendeu prontamente, nunca ela imaginou a possibilidade de pedir e não receber, agora isso aconteceu, ela pediu e não recebeu e só perdeu e perdeu muito. E com os olhos fechados ela não enxergaria a realidade nua e crua e isso estava escandalizando os seus pensamentos, foi o seu próprio instinto, foi algo natural que tentou lhe proteger daquela cena realmente horrível, não aceitar o que seus olhos acabaram de ver e acreditar que fosse apenas um sonho, na verdade, um pesadelo, foi a coisa mais comum e lógico de se acontecer nessas ocasiões. Mas, quando abriu seus olhos, Alice, viu a sua família inteira morta, os anjinhos (os filhos) estavam um por cima do outro parecendo lixo empilhado esperando ser levados para o lixão, e ela percebeu alguns tiros, inclusive, cada filho tinha um tiro na cabeça estragando seus penteados que estavam realmente penteados para trás. Porém, agora não tinha mais importância alguma isso, ela aceitaria tirar as fotografias sem mexer em seus cabelos se nada disso fosse verdade, mas agora não haveria mais futuro para eles. Nunca se casariam, não haveria mais fotografias, nem alegria, nem nada. Alice fechou seus olhos novamente e ficou dizendo vezes após vezes:

-- Isso não está acontecendo comigo, não está, vou agir com naturalidade, pois, deve haver uma boa explicação lógica e correta para isso tudo, é claro que tem sim!

Alice disse isso e ficou ali quietinha por alguns segundos, abriu os olhos novamente, chegou até aos corpos dos seus filhos, pegou o pequeno Johann em seus braços e disse com um carinho realmente comovente:

-- Acorda, Acorda, Johann, Johann, acorda neném, ajuda a mamãe acordar os outros, precisamos ir para uma festa onde todos nos esperam, já estamos atrasados, sabia?

Como o pequeno Johann não “acordava”, Alice o colocou no sofá com muito carinho, “ele não acordou porque estava tão cansadinho, ela teria demorado muito no cabeleireiro e seu anjinho não aguentou de sono”, pensou Alice que fez uma promessa de que nunca mais ir a cabeleireiro e foi falar com seu amado esposo. João estava jogado atrás da sua poltrona preferida, seu corpo parecia até uma peneira de tantos buracos de tiros e facadas que haviam por todo o seu corpo, no seu rosto havia uma expressão de desespero que era evidente mesmo à primeira vista.

Alice pegou em sua mão que agora já não levava mais a aliança de casamento e diz com uma expressão de convicção:

-- Levante-se e ande! Estou mandando! Você disse que ia à festa comigo! Você prometeu, agora cumpra, está bem? Acorda!!! Temos uma viagem para fazer, você não se lembra?

Como seu marido não demonstrou reação alguma ou qualquer interesse nela, Alice ficou muito chateada com isso e disse:

-- Odeio quando você me ignora, sabia, seu chato?

Disse isso e deu as costas para seu marido e foi até sua linda e sempre triste irmãzinha. Cecília estava com um vestido preto, era preto, agora é de cor de sangue, quase todo rasgado, a sua calcinha estava em cima do joelho esquerdo, era visível que foi estuprada, o seu corpo estava cheio de cortes feito talvez por facas ou estiletes. Alice olhou para sua irmã e a censurou com uma certa severidade, porque não queria chamar a sua atenção na frente de todos ali presentes. Ela sempre foi muito discreta para essas questões, por isso, falou baixinho, quase aos sussurros:

-- Cecília, Cecília, vista-se, olhe as crianças e o João aí, eles não podem ver você assim, é por isso que a mamãe sempre falava que você se comporta, às vezes, como uma menina vulgar, você, algumas vezes, fica quase pelada, mas, agora, você realmente exagerou, você está quase que totalmente nua. .. Vá se vestir, vai, e troca de vestido porque esse você já sujou todo de ketchup, você, além de comer de boca aberta ainda sempre se suja toda. .. Cecília, Cecília, acorda e me mostre como foi que você fez para pentear os cabelos das crianças, estão tão bonitos! Você tinha toda a razão, você entendi muito bem mesmo de beleza! Sabe, eu prometo que nunca mais vou ficar reclamando do seu comportamento quando você namorar um rapaz por mês. .. Acho que é assim que tem que fazer para achar um bom marido, e para achar o melhor, tem que testar e experimentar a todos eles mesmo, tem que procurar até achar! Mas, fale mais uma vez comigo! Agora mesmo!

Como o sono de Cecília parece ser muito profundo Alice volta e “dialoga” com o Mozart:

-- Mozart, Mozart, está bem, pode ligar o som bem alto! É por isso que vocês estão tão quietinhos, não é mesmo? Pode pular e gritar! Pode, eu deixo. ..

Como ninguém respondia palavra alguma, Alice ficou ali parada, como se sua alma estivesse fora do seu corpo, ficou sem reação alguma. É compreensível o ceticismo dela em não conseguir acreditar, talvez todas as pessoas agiriam dessa mesma maneira, talvez, todos nós reagiríamos igual a ela.

Agora ela vai até o corpo de sua irmã e tenta novamente falar-lhe algo:

-- Cecília, Cecília, vi um rapaz que você iria se interessar por ele, e ele por você, tenho certeza realmente disso, sabia? Ele é lindo como você, então, teus filhos vão ser lindos como vocês, posso chamá-lo para vir aqui, você quer? Responde!

Como Cecília a “ignorou”, Alice volta e fala com seus filhos:

-- Johann, pode trazer seus amiguinhos para brincar e pular no sofá, mamãe deixa, mamãe não é chata não, já fui criança levada também. Mozart, Mozart, pode ligar o som bem alto, na verdade, até gosto dessa barulheira toda. .. Alegra a casa, e todo mundo fica pulando. .. Johann, Johann, pode pular no sofá, eu nem ligo mais não. .. Mozart, Mozart, pode comer biscoito e sujar a casa toda, mamãe. .. Mamãe limpa depois, mamãe não vai mais brigar. .. Mamãe não vai ficar mandando vocês comer legumes, a partir de hoje, vocês podem comer hambúrgueres na hora que bem entenderem, podem comer até no café da manhã. .. Johann, Johann, mamãezinha mudou de ideia. .. Mamãezinha vai deixar você tocar bateria numa banda de Rock quando crescer, está bem, meu filhinho? Mamãe lhe compra um “Skate” para você brincar, mas, só se você acordar agora e falar com a mamãe, tá bom?. .. Senão, nada feito. .. Acaba o combinado. ..

De repente Alice começa a tremer e solta um grito repentino:

-- Eu sei! Eu já sei, vocês não estão dormindo! Vocês todos estão "completamente" mortos!

Agora, a viúva e descrente Alice, começou a temer que o que os seus olhos castanhos, redondos e grandes estavam vendo fosse verdadeiro mesmo.

Alice tremia tanto que quase não conseguia andar, e quando conseguiu chegar quase perto do corpo de sua irmã deu uma boa examinada nela e acredita que Cecília foi cortada em várias partes do seu corpo ao mesmo tempo em que foi estuprada. Ao chegar mais perto ainda do corpo de sua irmãzinha querida percebeu que pedaços dos seios dela foram arrancados com os dentes, parecia que seus agressores tentaram devorá-la de semelhantes maneiras igualmente faziam os canibais.

A expressão no rosto de Cecília era de entristecer até as pessoas mais insensíveis e frias. A bela Cecília não nos instiga mais vontade de passar a eternidade toda contemplando sua Beleza enquanto “dorme”, quando anda, quando respira. Cecília não vai mais poder contemplar o BELO, a Arte acabara para ela. Tudo acabou. Só resta sangue e lágrimas de todos que por ventura pudessem vê-la assim, jogada, sem futuro, sem novo casamento, sem nada. Nunca Cecília iria provocar brigas de ciúmes como acontecia por aonde passava, as mulheres se chateavam com seus maridos por eles olharem para trás para ver seu rebolado. Nunca mais ninguém vai ver o seu sorriso doce e contagiante, nunca mais ninguém vai se apaixonar quando seu olhar cruzar com o dela.

É difícil até para uma “pessoa normal”, com fé, aceitar tudo isso que aconteceu, no entanto, para a Alice era muito mais difícil ainda. Ela sabia que tinha muita fé em Deus, na cabeça dela: Deus protegia quem tem fé Nele, sempre via na TV que famílias inteiras eram exterminadas, e meninas eram estupradas e judiadas como aconteceu ali naquela sala. Mas quando isso passava nas TVs, nos rádios, nos jornais, filas dos bancos e por aí afora, ela sempre dizia: “pois isso tudo é pura falta de fé dessa gente atéia! Aconteceu por falta de fé! Deus é onipresente! É onisciente e onipotente! Estas pessoas morreram porque não tinham fé em Deus! Eu tenho compaixão delas!”. Dizia Alice ainda: "Daniel tinha muita fé e os leões não fizeram nada com ele", então não posso fazer nada pois quando eu digo que todos precisam fazer orações para que Deus os proteja, todo mundo vai embora! Jesus disse que quando a gente fosse pregar a sua palavra, e as pessoas não quisessem ouvi-las (. .. ) estas pessoas que rejeitaram pereceriam mais do que as pessoas de Sodoma e Gomorra!

Mas com sua família ela nunca vislumbrou essa possibilidade que estava vivendo naquele instante! Era tão real quanto é profundamente doloroso tudo aquilo e Alice neste momento “caiu na real” e finalmente acabou de perceber que perdeu sua família e a fé em Deus ao mesmo tempo. A família dela estava morta e a sua fé também tomou o mesmo caminho. A sua fé em Deus morreu juntamente com morte de sua família.

-- E Deus!?

Pensava ela.

-- Onde está o tal de Deus, porque que ele não protegeu minha família querida? É porque Ele não existe mais!!! Ele nunca existiu!!!

Alice chorava e soluçava ao mesmo tempo ainda “blasfemava” contra “um Deus” que, agora, julgava nunca ter existido.

Nesse mesmo instante, ao longe se ouve uns berros que praguejavam, pois chegou uma pessoa muito brava, no meio do quintal e começou a reclamar:

-- Poxa! Alice, já são 18h50min! O pessoal está esperando por vocês, sabia? Telefonaram e ninguém conseguiu falar com vocês por telefone! E mandaram que eu viesse buscar vocês, poxa vida! Acho que fazer um charminho, tudo bem! Mas, "embaçar" tanto assim para irem é outra coisa, oras! Vamos logo! É horário de verão, mas, foi combinado às 18h do horário novo! Tem que ser cumprido o que foi combinado! A gente sabe que é charmoso fazer um pequeno suspense, mas, vocês levam isso muito a sério!!! Eu só vim porque só vão liberar os “comes e bebes” quando vocês chegarem, senão nem teria vindo aqui!

Mas, quando o homem entrou disse pulando para trás por causa do tamanho do susto que levou ao entrar na sala onde Alice estava em prantos ao lado de sua irmã caçula:

-- Não acredito! Não acredito, o que é isso? O que está acontecendo aqui? Alguém, por favor, pode me esclarecer?

Perguntou, agora mais que nunca, um cético Léo, amigo de Alice desde sua infância.

-- Léo, por favor, me diga logo que eu estou tendo um pesadelo!

Disse Alice se atirando e se abrigando em seus braços e desabando em prantos que agora é muito maior que estava antes de ver o seu amigo.

-- Infelizmente,não, Alicinha, infelizmente não!

Disse o atônito Léo que mal podia se sustentar em suas pernas que tremiam de susto quando ele não aguentou e caiu de sua própria altura. Alice o socorreu se abaixando e o levantou, e o fez sentar numa cadeira e ela disse ao ateu:

-- Leozinho, não vou aguentar viver sem minha família, eu vou acabar com isso ainda hoje! Agora! Agora mesmo! Não tenho mais forças para viver, não tem mais sentido nenhum a droga da minha vida. Minha família era a minha vida, morreram todos, não sobrou nenhum vivo! Estou sentindo uma dor muito grande dentro do meu peito. Parece até que tem algo dentro de mim que quer rasgar meu coração em mil pedacinhos, e só a morte que pode fazer isso parar de doer! Só a morte vai fazer isso parar, tenho certeza disso! Só a morte pode aliviar essa dor que eu estou sentindo! Quero acabar logo com isso, e vou fazer isso agora mesmo!

O ateu olhou a sua volta para confirmar se tudo que ele viu ao chegar corresponde com a realidade: e teve essa dura certeza. Alice deu uma olhada em sua família e perguntou ao seu amigo aos soluços:

-- É justo isso, Léo? Olha meus anjinhos, eles eram muito novos, não mereciam morrer assim com, tiros em suas cabecinhas lindas, mereciam? Olha! Léo, meu marido era um bom homem, não era? Olha bem ali, a Cecília, ela era a garota mais linda do mundo!! Ela foi brutalmente estuprada, cortada e "canibalizada " e sei lá mais o quê! Responda-me, Léo? A minha tão linda família, merecia morrer assim?

O Léo sem saber o que dizer, sem ânimo, sem raciocínio, depois criou forças e finalmente disse:

--Alicinha, ninguém merece morrer assim, ninguém! Ainda mais gente tão boa e feliz como a sua família. Mesmo as pessoas velhas, feias e malvadas não merecem morrer assim.

O seu amigo Léo disse isso tentando um consolo, uma conscientização dela de que isso pode acontecer com todo mundo, queria, de certa forma, ainda brincar um pouco com a situação trágica, não por querer dizer mesmo isso, mas, foi por pura perplexidade mesmo, pois, ele nem sabia o que estava falando, mas, ele precisava ser muito forte, coisa que nunca foi em sua vida, ele não seria a melhor pessoa para falar com a sua amiga em horas como essa em questão.

-- Léo, quero que você vá embora agora porque vou sumir desse mundo. Vou onde estiver a minha família. Vá embora, vou botar fogo nessa casa, finja que eu nunca existi na sua vida, Adeus, Léo, adeus. .. Vá...

Falou a viúva, triste e agora também suicida, Alice que não sabia para aonde olhar, não conseguia desviar seu olhar dos corpos de sua família que até pouco era muito feliz. Nem Alice nem o Léo tiveram reação para tomar providência sobre o acontecido, chamar as autoridades, por exemplo, chamar a polícia. O Léo sempre foi um “cético de carteirinha”, não acreditava em vida fora do corpo, Céu, inferno e paraíso, anjos demônios, espíritos, nada disso, mas não poderia deixar sua amiga se matar, ir para um lugar que acreditava não existir, então proferiu:

-- Alice, e Deus? Ele deve saber o que está fazendo.

O Léo ficou tão sem saber o que deveria fazer e ele não querendo que ela se matasse e tentou lembrá-la das coisas que sua amiga mesmo sempre defendeu: que Deus escreve certo por linhas certas. Que Deus, amando muito uma pessoa, às vezes a testa para ensiná-la coisas profundas. Que Deus é onisciente, onipresente e onipotente, portanto, sempre faz o que é certo, que uma pessoa de fé sempre vê as coisas com os olhos espirituais, que quem sofre, ou é porque merece, ou é porque Deus está ensinando algo profundo. falou para ela sobre o Jó e sua grande fé. Disse ainda que tudo isso deve ter um propósito. Deus deu o próprio filho dele, pois, teve um grande propósito, salvar as pessoas! Ele queria que a sua amiga se lembrasse de tudo aquilo que ela mesma sempre pregou: a fé e confiança em Deus, uma fé incorruptível e inabalável. Queria fazer aquela fé fenomenal voltar pois sabia que a sua amiga tinha tanta fé que não poderia ter sumido assim dessa maneira. Mas agora, a também ateia e muito impaciente Alice o interrompeu com um brado:

-- Deus! Deus! Deus, não existe mais! Na verdade Ele nunca existiu! Léo, você sempre esteve com a razão! Se Ele existisse, Ele não deixaria isso acontecer com a minha família não!

A nervosa mulher disse isso tremendo, e apontando em direção aos sangrentos corpos ali. A presença dessses corpos da sua família morta está testificando os seus argumentos.

Seria uma cena muito estranha para qualquer pessoa presenciar essa cena. pois havia quatro corpos ali jogados e sangrando e duas pessoas conversando sobre assuntos sem muito sentido, e ninguém pensou ainda em chamar a polícia ou coisa parecida.

No caso de Alice, não havia nenhuma necessidade de chamar ninguém, ela pensava que não deveria fazer isso: porque dentro em breve, ela iria estar com sua família seja lá aonde fosse.

Agora, no caso do Léo, ele não estava se importanto muito com esse fato, já que,, para ele, o estranho mesmo era justamente o contrário, os corpos dele e da Alice estarem andando e falando, isto sim que era estranho: como é possivel a vida acontecer? Se os corpos da família de Alice estivessem andando sim, deveria chamar alguém para explicar como que um monte de carne consegue andar, falar e ser alegre, pensar e viver, etc.

E também se ele se ausentasse dali por alguns instantes, sua amiga poderia se matar, e isso ele não poderia deixar que acontecesse.

O Léo sabia que estava em desvantagem, e que usando apenas a razão, seria muito difícil convencer sua amiga a não se matar. Então,ele apelou para a chantagem emocional, sabendo que sua amiga o amava muito, e, que também ela tem (ou tinha?) muita fé mesmo em Deus, e que a fé só estava oculta ou bloqueada devido ao trauma que está sofrendo. Ele pensou: que se a fé está bloqueada por causa do trauma, e se essa fé (incorruptível e inabalável) voltaria rapidamente, pensou o ateu confiante nessa possibilidade.

Então. de súbito ele disse a sua amiga que leu recentemente numa revista esotérica que existe um lugar no deserto do Chile que é místico, sagrado, encantado, inspirador, disse que não sabia muito bem como defini-lo, porque parece que o deserto é tudo isso e muito mais ainda, e que é muito misterioso. Disse ainda que filósofos, astrólogos, poetas, músicos, escritores, pessoas em geral que querem se inspirar, vão e se inspiraram como por encanto. Depois falou que o que mais o impressionou foram algumas pessoas que perderam a fé e a reencontraram só por terem ido lá:

-- Reencontraram não, claro que não, eu usei a palavra errada para descrever a verdade!

Disse o ateu Léo bem aflito, ele mais aflito ainda disse para a Alice:

-- Multiplicaram-na por dez vezes e estão estudando para serem padres agora!!

Léo arregalou os olhos e exclamou:

-- Eles disseram que viram Deus, anjos, sei lá o quê, não entendo disso! Você conhece esses mistérios, não é mesmo? Sabe como Deus age.

E o Léo parecia possuído por um gênio qualquer, e continuou a falar:

-- Mas eles disseram que Deus estava disfarçado! Mas , eles, os futuros padres, reconheceram que era Deus! Disseram que Deus tem seus mistérios, sua razão e que só quem é realmente evoluído pode perceber e consegue entender os seus desígnios.

O Léo disse tudo isso como se ele estivesse “visionando” todas as cenas que narrava.

Alice, talvez movida por alguma força estranha, apesar de estar transtornada conseguiu escutar tudo aquilo que seu amigo lhe disse sem perder nenhuma palavra que saiu de sua boca. O ateu olhou-a nos olhos e indagou:

-- Você não gostaria de ir a esse lugar místico, Alicinha? Só para ver se é verdade mesmo! Você até já tem mesmo as passagens de avião para chegar lá.

Alice se mostrou indiferente a pergunta de seu querido amigo. Ele não desistiu:

-- Vai. .. Por favor. .. Estou te implorando. ..

Ela o olhava como se ele fosse invisível. Mas ele não se calou:

-- Vou ficar muito triste se você nem ao menos tentar. .. Você vai, não é mesmo, minha irmãzinha querida? Você sabe como é importante para mim sua felicidade, não é mesmo? Você faria isso por mim, ou não?

Léo a olhou nos olhos, parecia que ela não tinha vida alguma, parecia um zumbi

-- Será que o coração dela ainda está batendo?

Pensou o Léo já preocupado com ela, e continuou tentando:

-- Se depois de voltar, você estiver afim de se matar ainda, eu entenderei sim, e viverei sabendo que você tentou, que você me escutou pelo menos uma vez na sua vida. Tenta vai, você não tem nada a perder mesmo, ou será que tem?

O Léo já estava quase chorando quando disse essas palavras, e ele até tirou seus óculos de armação azul celeste, abraçou-a muito forte, disse ao seu ouvido:

-- Se você se matar também me mato! Você não é só minha amiga, você é minha família agora, vim para São Paulo por sua causa! Seria muito difícil para mim ficar aqui sem você!

Ao escutar isso ela tomou um susto e exclamou:

-- Léo, você não tem família! Você não sabe o que é perder sua família de uma só vez! Você não sabe o que é se sentir abandonada por Deus! Ou pior ainda, acreditar por tanto tempo em algo (Deus) que não existe, feito uma tonta, acreditei!

-- Eu não tinha uma família, Alicinha? Considero sua família minha família também! Eu e você os amamos de igual maneira! Agora quanto a se sentir abandonado por Deus, isso sei muito bem, me sinto abandonado desde que nasci! Nunca acreditei nele mesmo! E você é a única família que me restou agora! Somos apenas eu e você agora, podemos dar força um para o outro! Pensa bem no que você vai fazer. E se você se matar eu também vou me matar logo em seguida!

Ele disse isso com um olhar misto de autoridade, amor, desespero e tristeza. Alice ficou numa situação muito difícil, não acreditou em nem uma só palavra que o amigo lhe falou sobre o tal lugar, entendia que ele estava blefando, sabia que o Léo jamais leria uma revista dessas, e se lesse jamais diria que leu, entretanto, sabia também que seu querido amigo não estava blefando sobre se matar por sua causa, lembrou-se de que foi muito difícil convencê-lo a vir de “Minas” para cá. Léo só veio quando Alice lhe prometeu que só sairia de São Paulo quando ficasse bem velhinha. Ela lhe prometeu que só voltaria a cidade natal se todos fossem juntos e morassem juntos em um mesmo quintal. Entendia que se Deus não existia era uma coisa, mas se Deus é “mau” (omisso) deixando a sua família morrer era outra coisa, e pior ainda. Ela também seria uma pessoa muito má se deixasse o seu amigo morrer por causa de um profundo amor que ele (Léo) sentia por ela, então pensou:

-- Eu não quero ser má como Deus é, se por um acaso Ele existir mesmo!

Pensou por um instante e exclamou:

-- Vou a esse tal lugar, Léo!

Alice teve uma ideia fantástica, isso em sua opinião: Ela “bolou um plano ardiloso”: o plano era muito simples: simularia que achava a proposta do Léo razoável, fingiria que ia mesmo ao tal “lugar místico”. E quando estivesse indo simularia um atropelamento ou coisa parecida. Quando estivesse atravessando a rua se jogaria na frente de um carro, morreria “sem querer” e o amigo viveria “numa boa” sem culpa, sem nenhum problema, pensando, “minha amiga não foi uma suicida. ”, “ela tentou”, “ela iria ao tal lugar”, “morreu em um simples atropelamento”, “uma fatalidade”.

Ela pensou astuciosamente em cada passo, estava decidida a morrer e ir ao encontro de sua família, mas, não queria provocar nenhum dano ao seu amigo que já era meio ruim da cabeça, pensou ela. Nesse instante passou essa ideia por seus pensamentos:

-- Se eu tiver errada e não houver “vida do outro lado o que eu vou fazer da minha vida?”

Ficou aflita. Mas logo se refez dessa dúvida, e pediu ao Léo que a esperasse ali mesmo e foi ao quarto fazer as malas, ela jogava qualquer roupa numa pequena mala, só queria mesmo fazer volume na mala, fingir. Iria se matar mesmo. Pediu ao Léo que cuidasse do enterro dos corpos porque estava indo agora mesmo peregrinar no deserto. Disse também que não queria ver mais aqueles corpos sangrentos ali. Esses mesmos corpos que até bem há pouco tempo eram habitados por sua feliz e linda família querida.

Realmente é estranho Alice ter essa atitude, deixar os corpos de sua amada família jogados ali na sua sala e sair para se matar, mas, ela tinha uma ideia fixa na cabeça, estava transtornada, queria estar com sua família em breve em algum lugar de alguma maneira, e para encontrá-los teria que ficar como eles, ou seja, morta, era essas maluquices que reinava na cabeça da amiga do Léo.

Ele concordou, achou melhor que ela fosse agora mesmo e não visse os sepultamentos, faria muito mal para ela. Antes de sair, agora, também astuciosa e decidida Alice, diz ao Léo:

-- Eu já vou, Leozinho, confio em você, não se preocupe e obrigado por tudo, breve voltarei. ..

A astuciosa disse isso tentando passar mesmo uma imagem de que ia mesmo tentar reencontrar no deserto a fé perdida.

Em toda minha vida, uma coisa que aprendi foi que quando uma pessoa diz, “confie em mim”, “não se preocupe”: pode se preocupar que o “bicho vai pegar”.

Ela pegou a mala, não olhou para o rosto do Léo para que não deixasse a “mascara cair”, que a cara dela não denunciasse sua verdadeira intenção, e seu amigo tentasse impedi-la de desaparecer deste mundo absurdo, era assim que ela via o mundo agora.

Quando transpassou pela porta foi um momento muito estranho na vida do Léo, foi a primeira vez, desde que a viu aos sete anos de idade, depois que ela fez o catecismo, era a primeira vez que ele a tinha visto deixando um recinto, casa, um prédio qualquer sem fazer o sinal da cruz. Léo ficou muito surpreso com isso, porque, para ele, quando Alice saísse e fizesse o sinal da cruz, toda a sua fé voltaria como num passe de mágica. E isso não aconteceu e o Léo não soube o que fazer, e pensou, preciso telefonar para as autoridades, aos amigos e também comunicar a todas pessoas que estão esperando no salão de festa da igreja.

Ao chegar na rua, Alice logo viu um caminhão vindo em alta velocidade, quando o caminhão estava a uns vinte e cinco metros entrou em rota de colisão com esse veículo que a ajudaria em seu plano de ir para o além. Mas quando o caminhão estava a apenas um a dois metros ela saiu da frente, dizendo para si mesma:

-- Aqui não! Aqui já tem sangue demais, vou para outro lugar! O Léo vai perceber e não vai dar certo!

Ela atravessou a rua, parou um táxi, queria ir para outro lugar. Mas, o táxi tinha um passageiro que estava indo para o aeroporto. Talvez por coincidência ou influenciada por alguma “força estranha”, Alice diz que também estava indo para aquele lado e pediu para ir também se o passageiro não se opusesse. O passageiro não se opôs, e foram até o aeroporto sem nada dizerem um ao outro. Resolveu, talvez movida por aquela mesma “força estranha”, pegar um avião e realmente ir ao deserto, não para reencontrar sua fé, mas sim para se matar no meio do nada (deserto). Pensava:

-- Eu não vou desperdiçar a passagem aérea, vou até lá no deserto, dou cabo da minha vida lá!

Ela sempre quis ver o mundo lá de cima, viajar de avião, só que quando sonhava com esse momento, João e seus anjinhos a acompanhariam.

Capítulo Segundo - Como você realmente acredita que começou a formação do mundo?

Agora a decidida mulher coloca os pés no chão da capital chilena, Santiago, embarca em outro voo que a leva ao início do deserto. Aluga um Jeep, sem ao menos saber dirigir, começa a rodar deserto adentro. Após rodar por muitas horas só vê areia, mais areia, mais areia, mais sol escaldante, mais sol escaldante, mais sol escaldante, igual a deserto sem graça, sem nada para se ver ou fazer. Pensou alto:

-- O Léo deve está maluco!! Como que ficar vendo areia e sentindo “um sol a pino deste na moleira” faria alguém ter mais fé? Quando “eu voltar mato ele”!!

Mas ela não falou isso a sério, pois o seu plano não era voltar a São Paulo, mas se jogar naquela areia escaldante e deixar que o calor, a fome, o cansaço, e a sede a matasse, e o vento e a areia do deserto a sepultasse. Sem sangue, ela não supotava mais de ver sangue.

De súbito, Alice se vê frente a frente com uma vontade de escutar Músicas Clássicas, pois, sempre amou escutar: BACH, BEETHOVEN, MOZART, e muitos outros, queria morrer escutando estas músicas, sempre dizia aos seus filhos:

--Quando mamãe estiver velhinha, quase morrendo, quero que vocês coloquem sempre essas músicas para que eu me despeça deste mundo feliz! Bem feliz! Se vocês fizerem isso, vou ficar esperando por vocês lá no Céu até vocês chegarem e permanecerem com a mamãe. ..

Ficou muito triste quando seu plano estava indo por água abaixo, porque não havia nenhuma das dezenas de fitas cassetes de música clássica do seu acervo particular que se encontrava em sua casa. De repente, se lembrou de que num dia desses, sua amiga do escritório lhe pediu uma fita cassete com as músicas que mais ela gostava para que ela pudesse conhecer esse tipo de música, a clássica.

Só que a amiga entrou de férias e ela não pôde dar a fita para a amiga. Então a fita deve estar na bolsa imaginou Alice, e sorrindo finalmente depois de tanto tempo, pegou uma fita e a colocou no toca-fitas do Jeep, começou a tocar uma música que sempre odiou: IMAGINE, de John Lennon. Talvez por reflexo ou por instinto tirou a fita e a jogou fora se perdendo no deserto atrás de si. Alice ficou muito brava por não poder mais morrer do jeito que planejou, e também por não gostar daquela música que falava coisas ruins sobre o Deus dela: uma música que era cantada por um “cara louco” que disse que a sua “bandinha de Rock” era mais famosa e "importante" do que Jesus Cristo, que audácia dele. E quando ela terminou de pensar a respeito disso, lembrou-se de que “também” era contra Deus agora, e também era igual a John Lennon. Sentia-se uma discípula do ex-Beatle, a partir desse momento em diante, Alice se lembrou de que aquela fita era do seu marido, deve ter pegado por engano e confundindo ela com a fita de música clássica que gravara para sua amiga. E descobriu que era por esse motivo que João insinuou que ela havia jogado fora essa fita com a música IMAGINE, porque Alice não gostava dela e prometeu que um dia, quando estivesse brava, coisa muito rara de acontecer, jogaria essa fita fora.

Resolveu voltar e ver se conseguia encontrar a tal fita. Queria, agora, realizar um antigo desejo de seu marido, ele, quase todos os dias ficava escutando aquela fita que era cantada pelo seu autor em inglês e uma rádio traduzia simultaneamente os seus versos para o português. João gostava tanto dessa música que a gravou nos dois lados inteiro, queria que Alice escutasse a música e prestasse atenção na letra e refletisse sobre sua profundidade, ele queria que ela pensasse na mensagem da poesia.

Agora uma mulher procura desesperadamente uma coisa que sempre quis destruí-la e nunca mais vê-la em sua frente, muito menos ainda escutá-la. Procura como se isso fosse a coisa mais importante do mundo. Depois de procurar muito, achou a tal fita cassete, limpou-a bem e a colocou de novo para tocar e realizou o sonho do seu marido tão amado e querido e depois ela dissimula para si mesma que em breve estarão juntos novamente. Alice tenta acreditar nisso com todas as forças que ainda lhe restavam. Estava fingindo fazer uma espécie de ritual de despedida de sua vida, e ao mesmo tempo via a possibilidade tênue desse lugar existir mesmo e poder ver sua família novamente, então faria agora uma preparação para um novo mundo.

Por muitas vezes ouvi dizer que quase todos os suicidas instintivamente acreditam que eles irão para um lugar que é muito melhor do que esse no qual estão sofrendo insuportavelmente, parece que eles acreditam que irão para um lugar mais calmo e tranquilo e que irão sentir bem menos dor do que essa em que estão vivendo no momento de sua crise particular: íntima e pessoal, e parece que é por isso que eles encontram, no meio de todo o desespero, sem fim que enfrentam, tanta coragem para cometer esse ato de tamanha covardia consigo mesmo, um ato radical sim, pois a sua decisão vai lhe pôr um ponto final na sua preciosa vida: a única forma de existência que essa pessoa tem. Pelo menos a única forma de vida que é realmente comprovada pela ciência considerada séria pelos cientistas que são efetivamente céticos.

Por isso que talvez Alice pensando e já concordando com esses incrédulos e desconfiados já sabia que estava desistindo de sua vida para sempre, sabia muito bem que não iria encontrar ninguém “do outro lado” esperando por ela, Alice só queria mesmo era fazer a dor do seu peito parar imediatamente, pois parecia que alguém meteu a mão por dentro da sua boca e estava tentando puxar o seu coração para fora querendo arrancá-lo de si.

Quando Alice perdeu a última parte que lhe restava de sua tão amada família, perdeu igualmente e ao mesmo tempo, toda e integralmente, a sua fé em seu Deus, e ela só tinha esses dois elementos no conjunto da sua vida.

A sua existência e o seu amor a vida eram baseados apenas nesses dois pilares: em sua família e em sua crença em um ser eterno em que predominava nele uma bondade e uma infinita justiça para com aqueles que depositam sua fé nele.

A cabeça de Alice estava tão transtornada a ponto de ela estar sem saber o que fazer, e ela só queria mesmo uma única coisa: morrer, pois naquele momento e para todo o sempre, parecia que ela iria se sentir assim, completamente sozinha, e ela não sabe e nem consegue viver sem seu mundo: marido, filhos e irmã, tudo acabou para ela quando viu sua família morta. Ela se sentia completamente vazia e sem vida e não consegue ver sentido algum em nada, não via significado em tentar viver com essa amargura em seu coração, desejava apenas que essa grande tristeza e toda essa angústia a deixasse em paz agora mesmo, nesse exato instante, ela só queria que seu coração parasse de doer e ela continuava dirigindo pelo deserto sem rumo, sem encontrar uma viva alma.

Então depois que tudo foi decidido sobre a sua partida desse mundo, a futura suicida ainda estava rodando pelo deserto do Chile já por algumas horas.

Estava escutando uma única música por muito tempo, várias vezes, ela a escutava com muita atenção, fazia isso com o propósito de finalmente atender a um pedido do seu tão amado esposo, ele lhe pediu isso em mais de mil ocasiões, pois João sempre quis que ela prestasse muito atenção no que o ex the Beatle dizia nessa música que era apelidada de o hino da paz.

Alice escutava essa música também porque queria se despedir do mundo escutando uma música e essa tem uma poesia bonita.

POETA ISAÍAS AMORIM
Enviado por POETA ISAÍAS AMORIM em 27/09/2022
Reeditado em 05/12/2022
Código do texto: T7615301
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