Guiada pelo Cosmos (capítulo 1)

"O grande relógio ruiu. As fronteiras que separavam as ilusões chegaram ao fim. Agora é apenas o agora! Você está preparada para viver aqui?"

Encontrei este bilhete estranho em minha gaveta de roupas. A letra não era minha e nem de alguém que vivia comigo. Fiquei super assustada quando o vi. Era um papel diferente, parecia de algum lugar do passado. Não sei explicar, mas era como se alguém do passado da humanidade estivesse entrando em contato comigo para me alertar de algo.

O pior é que eu me vi numa sala gigante com inúmeras pessoas desconhecidas, um ambiente que lembrava uma igreja católica bem antiga. Havia um imenso relógio pendurado no centro do teto. Algo aconteceu de repente e ninguém podia entender: aquele relógio que parecia tão forte, imponente e ameaçador se desprendeu da alça que o sustentava... Caiu abraçado ao chão sem que nós pudéssemos ao menos fugir. Foi realmente muito rápido, muito estranho e muito intenso.

No exato instante em que o relógio tocava o chão uma voz que vinha de dentro de mim, mas que não parecia a minha, falava insistentemente: "Fuja do tempo... Fuja do tempo!". Foi uma experiência assustadora e digna de um filme de suspense.

Acordei!

Que alívio ser apenas um sonho... E que sonho!

(...)

Aquilo mexeu comigo de tal forma que eu não queria nem ir olhar minha gaveta com receio de que houvesse algum novo bilhete lá. Peguei a primeira roupa que encontrei no cabideiro por me faltar coragem de pegar roupa naquela gaveta.

A vida é tão engraçada! Eu fui olhar meu e-mail com esperança de encontrar algo que me distraísse. Encontrei um e-mail da Êni e nem acreditei. Depois de muitos meses sem nos falarmos... Que coincidência bizarra!

Dizia assim:

[Querida Noi,

Como está?! Passei um tempo deslocada do tempo, mais do que o normal. Mas isso não quer dizer que não me importe com você ou que não a veja. Eu estou com você o tempo inteiro. Você sabe disso! Mais uma vez vejo você apostando no que foi ensinada a apostar. Não a julgo e nem a cobrarei. Estou contigo e feliz por vê-la cada dia mais desperta e consciente do jogo. Às vezes parece difícil tomar a vida nas próprias mãos e fazer o que deve ser feito, abandonar o que deve ser abandonado, esquecer o que deve ser esquecido e criar o que deve ser criado. Fico feliz, principalmente, por vê-la confiando na existência, na vida, no seu verdadeiro ser. Que maravilha! Você já observou as pessoas ao seu redor?! Elas estão fazendo suas compras e pagando suas contas e vivendo suas vidas indiferentes à consciência maior, ao que realmente são! Não estão acordadas. Vivem acenando com um sorriso no rosto e a maioria está pensando sobre a melhor forma de morrer. Poucas pessoas pensam sobre a melhor forma de VIVER. Você notou como são inconscientes!? Que bom! Que bom que tem notado e anotado estas questões. Você ainda não sabe muito, mas já sabe o suficiente para continuar buscando... E para não aceitar viver pela metade, quero dizer, viver para morrer. Parece não haver algo mais ilógico do que isso, mas é o que mais acontece… Eu voltei para conversarmos sobre suas novas descobertas. Quem são os agentes Smith deste jogo?! Existe um Neo? Há lutas travadas todos os dias, todas as horas num tempo sem tempo e num espaço sem espaço. Você nem faz ideia de quantos estão por aí. Mas você descobrirá, pois é curiosa! É bom vê-la animada neste jogo! Você está, conscientemente, mudando o rumo da sua história!❤️

Até!]

(...)

Terminei de ler o e-mail ofegante, ainda tentando entender a coincidência e/ou razão para tudo o que estava acontecendo. Depois que eu e Êni voltamos a ter contato descobri muito de mim, da vida e do Universo. Porém não podia mais vê-la ou ouvi-la constantemente. Apenas esperava que algo mágico acontecesse, no entanto sempre parecia longe o suficiente para eu ver e não tocar.

Fiquei um tempo frustrada de novo por me sentir mais uma vez abandonada. Mas abandonada por quem se só existe uma pessoa no mundo?!

Senti que não deveria remexer com algumas verdades impostas a mim. Eu deixei que a plantinha semeada por Êni crescesse, contudo limitei seu tamanho colocando-a num vasinho pequeno. Não matei a planta, apenas quis impedi-la de revelar todo o seu potencial... Isso é um erro? Mas... Não há erro! Só existe uma pessoa neste mundo!

Minha consciência foi transformada num bonsai? Parece plena, mas sente que pode ser mais. Será isto?

Eu agora estou fazendo o que prometi à Êni: estou escrevendo. Escrevendo para eu mesma ler... Estou só no mundo! Eu sou o mundo!