Prosinha de desencanto
Longe daqui fiquei, foram longos doze anos,
bom conhecimento travei,
com tanta gente boa,
até mesmo conterrâneos.
Naqueles anos abençoados,
à primeira hora do dia,
alegria era entrar aqui,
com o café recém coado,
para ler os amigos fiéis,
poemas, sonetos, trovas e cordéis.
A seara era mesmo farta,
tinha de tudo, amor, lágrimas e coronéis.
Mas o tempo passou, a magia,
parece que se apagou.
Dos meus amigos queridos,
quase nenhum restou.
Uns se foram com a pandemia,
outros se desiludiram da poesia.
Hoje de retorno, entro aqui e me sinto velha,
página rasgada, amassada ou desbotada.
Já não encontro a reciprocidade,
Aquela troca gostosa e valiosa,
que todo poeta, toda poetisa,
amam, pois confirma sua identidade.
Sinto falta daquelas prosas,
daquelas nossas cirandas,
tudo se fazia assim mesmo,
num ligeiro estalar de dedos.
Bastava ler um versinho,
para querer rapidinho,
interagir com o amiguinho,
numa troca venturosa!
Sempre fui uma pródiga,
em desfiar meus elogios,
mas hoje nem isso posso,
sem receber um aviso:
"não comento e não quero que comentem."
Deus do Céu, então porquê,
entrar aqui e escrever?
O mundo lá fora está chato,
E aqui dentro devia ser diferente,
Um lendo o outro,
o outro lendo um,
em comunhão de mãos, talentos e mentes.
Estou encabulada,
um tantinho desapontada.
Vou juntar minhas letrinhas,
jogar em uma sacola,
estou triste, muito triste,
nada, nada me consola.
Isabel Viviane