O teatro-vida

Sem que você se dê conta, o espaço da vida é uma obra de arte - o tablado da criatividade- : uma grande encenação teatral. Nele, autor, encenador, protagonista... serão a mesma pessoa? Creio que não a seja. Você salta por roteiros e cenários ou tenta um novo texto, ou um leve alterar de panorama e figurino. No entanto, você tem pouco a variar. Se disto menos sabe, menos você vai mudar. Ou tenta a reprodução de algum romance escondido no entulho da sua memória. Já é isto um grande momento em que se compõe uma fábula de automatismos por que passeia seu corpo. E, nestes momentos, no limite, você improvisa... convencida de que a plateia não deixará de aplaudir. Da sua representação, é ela que sancionará o êxito. (É sua a autoria do improviso; é da plateia a correspondente chancela.) Ao olhar de alguém, você representa...e sempre. Representa para uma plateia real ou imaginária, ente vivo ou morto, singular ou coletivo. Você está apaixonada, querida, e seu amor, avistado; ele é perfeitamente distinguível em qualquer multidão: aqui uma plateia de uma só pessoa. Ou será ela suas paixões não consumadas; ou aquelas amizades gloriosas; ou seu pai, sua mãe, seus avós; ou casamentos (atuais, anteriores), exultantes ou críticos; ou personagens que você simplesmente imaginou: tal plateia ganha em complexidade e faz com que a vida de qualquer mortal seja uma epopeia ou, paradoxalmente, uma tragédia... Então, você, menestrel que canta dúvidas, azares, prazeres, alegrias, ânsias, euforias.... Mas há mais: personagens ocultas se instalam por detrás de sua vida, importantes personagens ocultas. Quais seriam? Bem certo, jamais os saberá.

Nelson Horochov
Enviado por Nelson Horochov em 10/09/2022
Reeditado em 28/05/2024
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