Psicologia Menor

     Em contraponto à psicologia que reproduz ou busca identidade, aqui propomos uma psicologia articulada com a criatividade, que põe o pensamento em movimento por meio da atividade de criação e recriação de si, dos movimentos aberrantes ou dos movimentos ‘forçados’. O ponto de contato, o movimento aberrante imbricado a uma necessidade própria, nunca na tentativa de reprodução. Na obra dos filósofos franceses Felix Guattari e Gilles Deleuze (2002) as noções de “menor/maior” ganham destaque como ferramentas conceituais abertas a experimentações. Diante dessa última afirmação, é imprescindível perceber o movimento presente em qualquer aproximação que se possa fazer com essa “caixa de ferramentas conceitual”, visto que não é aplicação simples e pura, pois o conceito é fugidio.

     A proposta de compreender a experimentação como algo criativo envolve a própria alternativa deleuziana para oferecer uma nova forma de pensar, pois ainda: “Pensar é sempre experimentar, não interpretar, mas experimentar, e a experimentação é sempre o atual, o nascente, o novo, o que está em vias de se fazer.” (DELEUZE, 1992, p. 136). Nesse sentido, experimentar está no limite entre o dado e o novo, pois para Deleuze o pensar não está desassociado da experiência (ou exclusivamente depende dela), antes mesmo, é por meio dessa que é possível superar o dado ou hábito e criar algo novo, retirar o pensamento da zona familiar e impor-lhe uma violência criadora, “[..] e o que se há de pensar é do mesmo modo o impensável ou o não pensado” (DELEUZE, 2000, p. 143).

     Em meio a este aspecto, é preciso salientar que menor/maior não se definem pelo contingente numérico, pois para ele, a menoridade de algo é reflexível na sua apresentação como diferença e pluralidade frente ao que se estabelece como padrão e norma, propondo uma dobra na natureza do que é fixado e que se apresenta como identidade. Nesse sentido, a maioridade é condição de existência de uma dada menoridade. A menoridade da psicologia ocorre no desarranjo desterritorializante promovido pela construção no uso da língua e esse caráter desterritorializante lança a psicologia maior em processo de fuga, desterritorializando seus usos dentro dos ordenamentos discursivos.