UMA REFLEXÃO SOBRE A CIÊNCIA PSICOLÓGICA

A maior negligência de uma ciência como a psicologia é encarar a alma como algo passível de ser quantificado, matematizado e mensurado. O ser humano, que pode ser claro ou obscuro nos seus intentos, escapa a qualquer lógica que poderia equacioná-lo a um esquema ou modelo pré-estabelecido.

Se quisermos dar uma certa validade a ciência psicológica, precisamos valorizar a singularidade de cada vida humana, analisar um ente a partir daquilo que ele verbaliza e traz de tão importante, ou seja, os conteúdos de sua própria alma, conteúdos esses responsáveis por formar algumas características comportamentais integrantes de seu ser.

Ser psicólogo também implica dialogar com a tradição e toda sua história, além de ter no coração da alma o valor da dignidade humana para se posicionar diante das mazelas de nossa era. É uma profissão que não dispensa o valor de uma reflexão filosófica, especialmente na área da epistemologia e da meta-física como forma de se aprofundar no mistério que cerca a espiritualidade dos homens na sua condição de fazer poesia a respeito da sua situação existencial e história a respeito dos fatos marcantes de sua vida.

Até mesmo quando analisamos uma doença psíquica ou um transtorno de personalidade, devemos sempre analisar tais fenômenos tão somente a partir da compreensão profunda da individualidade de cada ser humano no seu mundo circundante. Dessa forma, descobriremos evidências que não podem se igualar a outras evidências, embora possam muito bem trazer certas semelhanças, ainda mais por se tratar de indivíduos de uma mesma cultura, profissão de fé ou nação.

Se não buscamos enfatizar o ser-aí na sua essência (para usar uma linguagem heideggeriana), poderemos cair numa abstração capaz de nos distanciar da verdade de uma existência singular e também, se não bastasse, correremos o risco de nos perder numa alienação que esquece que somos antes de tudo seres humanos transcendentes a todo esquema formado de antemão.

Pensando no horizonte da espiritualidade como algo que se distancia de qualquer exatidão e cientificismo ingênuo, temos então como material de nosso trabalho terapêutico, além da sensibilidade empática como forma de inspirar confiança, a arte de compreender o nosso semelhante nas suas peculiaridades, excentricidades e características específicas: condições essas imprescindíveis para testemunhar a imprevisibilidade que é a alma de cada ser humano na sua incógnita e mistério.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 08/09/2022
Reeditado em 08/09/2022
Código do texto: T7601232
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