O MONARCA QUE QUASE ARRUINOU O PRÓPRIO REINO POR PREMIAR OS TOLOS E PERSEGUIR OS SÁBIOS.

*Por Antônio F. Bispo

Um certo rei chamou um sábio de outra região para averiguar por que seus súditos tinham problemas para entender (praticar, evitar) questões básicas de convivência como respeito mútuo, invasão de propriedade, posse indevida dos bens alheios, traições conjugais, exploração do trabalho, das finanças e da sexualidade alheia, bem como tantos outros males que corroíam sua sociedade.

Seu governo estava prestes a ruir, já que quando os indivíduos de um grupo perdem o senso de coletividade e todos tentam tirar vantagens indevidas uns os outros, o destino desse povo é desaparecer ou ser governado por um tirano, que fazendo promessas de pôr ordem na casa, irá reger com mãos de ferro, suprimindo os direitos dos cidadãos, colocando-os em condições semelhantes aos de um regime ditatorial, tornando o estado posterior desse povo pior que o atual.

O sábio podia evitar tal situação e por isso que foi chamado e não queria tirar conclusões precipitadas, desejou conviver temporariamente com tais pessoas para melhor entende-las.

Após a ideia de morar com os munícipes, ele resolveu interagir o mínimo possível com eles, para que de forma neutra fossem estudados, de modo que não pudessem fingir bondade, justiça ou retidão que não possuíam.

O sábio pediu que jamais sua identidade e função fossem reveladas a fim de que um culto em torno de dele não fosse formado, muito menos que a perseguição ou o risco de perder sua vida para os inquisidores e falsos moralistas fossem aumentadas.

“Tudo o que o homem não compreende ele abomina. Quando consegue manipular, ele estima. Quando acha que pode tirar vantagens sociais, ele idolatra”!

O sábio sempre dizia essa frase quando estudava o comportamento humano.

Após alguns meses de convivência naquele meio, ele percebeu que um dos maiores problemas sociais consistia justamente naquilo que diziam ser a salvação daquela gente: a quantidade de templos religioso e cultos diferentes em torno de uma mesma figura mítica.

Apesar de se dizerem todos de uma mesma fé e filhos de um mesmo deus, havia vários grupos de religiosos, cada um presos em suas próprias verdades, todos concorrendo entre eles mesmos à fim de obter o monopólio total sobre todos os demais.

Eles também concorriam entre si para ver quem tinha o rito mais absurdo. O mais patético entre eles primeiro virava motivo de chacota entre os demais. Depois de um tempo, se resistisse era copiado por outros e por fim, seria premiado como sinônimo de inovação, correspondência divina e exemplo de moralidade a ser seguida.

O tamanho do grupo era proporcional à sua radicalização, aos ataques aos seres invisíveis e a propagação de ideologias mirabolantes.

Quanto mais convincente fosse o discurso do líder quanto as moléstias pessoais, mais “clientes” eles conseguiam atrair. Gente procurava alguma entidade metafísica para responsabilizar pelos seus atos desprezíveis. Gente que não podia viver sem um bode expiatório.

O líder que fosse mais enfático em criar respostas místicas e burras para o problema do povo, seria o mais venerado e influente entre os demais. O rei (por meio do estado) recompensava esse tipo de liderança com fama, fortuna ou outros tipos de favores.

Deus ou diabo algum havia sido visto matando, estuprando, roubando, mentindo ou traindo quem quer que fosse. Tudo era feito por gente de carne e osso, sob as variadas desculpas. Porém os vigaristas conseguiam sempre terceirar a culpa dos infratores para os seres míticos.

Desse modo, os tais “absolvidos”, os recompensavam como podia e as vezes até extrapolavam o limite da própria honra para agradecer aquele suposto perdão divino obtido por meio daquele representante.

As pessoas daquele reino queriam sentir-se bem e sem culpa alguma depois de cometer todos os tipos de delitos e crimes bárbaros, principalmente no que diz respeito a exploração dos menos favorecidos. Elas conseguiam alcançar esse estado frio de espírito depois de uma reza, uma oferenda ou pagamento de dízimo num determinado local de culto. Por isso havia tantas desses templos com ritos para agradar todos os gostos, “sanar” todos os tipos de pecados ou preencher todo vazio existencial ou sonho de grandeza que esses possuíam. Além de servir para atender a demanda dos moribundos de caráter, os templos também serviam para suprir os desejos insaciáveis dos comerciantes da fé.

Fim da Parte 1.

PARTE 2

“Deuses ensandecidos criam povos bárbaros ou mentes medíocres criam deuses enlouquecidos”?

Naquele reino, qualquer pessoa com mais de amigos que parasse para apoiar suas bobagens já se achava um apascentador de rebanho e adquiria licença legal do estado para explorar como quisesse esse nicho de mercado (o da ingenuidade alheia).

Quanto mais fétido e mais tenebroso fosse o passado desse novo líder, mais glamoroso seria seu discurso e mais moralista este passaria a ser. Qualquer um que com honestidade intelectual verdadeira tentassem moldar o caráter do grupo para melhor, era rapidamente pisoteado pelo próprio povo, que semelhante ao gado com doença da loucura, chifra e mata o seu próprio cuidador.

Grupos de todos os tamanhos, com ritos diferentes, servindo ao mesmo deus se digladiavam entre eles, tentando provar quem entre eles tinha o rito mais maluco.

Para os tais, a fé em algo improvável era visto como um dom divino, em outros casos como uma virtude. Suas concepções básica de fé era crer no absurdo, obedecer o que nunca foi ensinado e desprezar aquilo que realmente importaria para a paz harmonia interior e exterior dos cidadãos. Eles praticavam ritos que extrapolavam qualquer limites de uma mente sã, até aquilo que era considerado uma blasfêmia pelo próprio livro sagrado desse povo, se fosse feito como um ato de fé, era visto de forma heroica pelos demais, desse modo pisoteando em suas próprias escrituras.

Ainda assim eles diziam cada um ao seu concorrente: “somos santos e nossa santidade suplanta a vossa”! O outro grupo dizia rebatia e fazia algo ainda mais insano para tentar provar que era grupo escolhido daquele próprio deus. Essa disputa vil para agradar o invisível e improvável era o principal agente corrosivo daquela massa de gente.

Assim como o rei, os crédulos pensavam que quanto mais felizes os deuses estivessem, mais prósperos eles seriam e desse modo seriam mais felizes.

Como o deus daquela gente era imaterial e incorpóreo, não havia como mensurar o nível de sua felicidade, muito menos saber se eles estavam de fato felizes com as oferendas. Então, media-se a felicidade dos deuses de acordo com o nível de satisfação dos que lhes representavam.

- “Se o líder está feliz por viver às nossas custas ou às custas do estado, sinal que deus está feliz...”

Os crédulos diziam isso e ainda completavam como frases do tipo:

“Se ele usa o que damos a ele de forma indevida, isso não é problema nosso. Ele vai ser ver com deus no dia da ira do altíssimo”!

Eles não percebiam que a fortuna ou influência dos líderes religiosos era um peso desigual na sociedade em que viviam.

Os tais eram capazes de eleger ou influenciar nas eleições dos principais representantes do povo, bem como podiam fazer parecer com que criaturas vis do convívio social fossem tidas como verdadeiras sacralidades.

Assim como o rei os líderes religiosos puniam os bons e recompensavam os maus, desde que fossem criaturas servis e emburrecidas.

Desse modo a sociedade ia de mal a pior...

A entidade cultuada daquele povo era uma figura metafísica surreal trazida de outra cultura, tendo seus supostos poderes e qualidades costuradas de tantos outros seres folclóricos anteriores a ele mesmo.

Sua cabeça, membros e personalidade tinham entre séculos e milênios de diferença entre si. Sem falar que de região pra região, o que era um defeito tornou-se uma qualidade diante dos novos adoradores dessa divindade e vice-versa.

Alguns dos outros seres míticos dos povos cujo “poder e força” lhes foi passado, possivelmente teve um corpo e vida física comprovada. Tiveram apenas sua realidade aumentada para propósitos específicos de região para região.

Este último porem cultuado nesse reino qual o sábio havia sido inserido, era um caso totalmente à parte, um tipo bizarro de deus, que era pai e filho de si mesmo, além de tantas outras coisas simultâneas a exemplo de ser um servo sofredor e um cavaleiro andante que protege os seus. Era tido como criador e mantenedor de todo o cosmo, cheio de poder e glória e mesmo assim, vivia a levar rasteira de seu oponente desde o princípio da criação. Além disso, ele entregava a vida dos seus próprio servos nas mãos seu algoz sem piedade alguma. Quando não, ele mesmo era o causador da desordem e do sofrimento entre os homens e na própria natureza. Em seu estado iracundo de ser, com esta irracionalidade estupenda, ele chegou a punir povos inteiros por erros simples de apenas cidadão. Ele era o deus mais instável e confuso que o estudioso já havia se deparado.

“Estudar esse deus e esse povo é quase um processo de loucura”! Ele dizia a si mesmo.

“Deuses ensandecidos criam povos bárbaros ou mentes medíocres criam deuses enlouquecidos”? Ele também queria entender isso.

Após perguntar-se por várias vezes, o sábio preferiu ficar com a segunda resposta.

Havia nesse folclore popular, a lenda de que esse deus no passado quando esteve em forma humana deixou ditames realmente proveitosos.

Ensinamentos profundos que poderiam alavancar qualquer sociedade para uma condição angelical se fossem cumprido tais critérios.

Entre tantos, os principais poderiam ser resumidos aos seguintes termos: domínio próprio, respeito mútuo, reciprocidade, piedade, compaixão, lealdade, desapego às coisas e prazeres passageiros e mais respeito às pessoas que aos seres surreais. Ele mesmo disse mais de uma vez que de nada vale o sacrifício, devoção louvor ou oferenda aos deuses, se a falta de respeito e piedade aos nossos semelhantes não prevalecer.

“É TUDO INÚTIL. NÃO QUERO SABER DISSO NÃO. VOCÊS AGEM COMO IMBECIS. TOMEM VERGONHA NA CARA E SIRVAM UNS AOS OUTROS AO INVÉS DE PERDEREM TEMPO, DINHEIRO E SAÚDE COM RITOS ABOLHADOS! DEIXEM DE SER HIPÓCRITAS SEUS BANDOS DE CHACAIS!”

Foi isso que ele disse, não com essas palavras mas com essa intensidade. Tanto é que após ter alimentado multidões (segundo a própria lenda), de ter feito inúmeros milagres e ter dito coisas belas, morreu abandonado como se fosse um malfeitor, cuspido e zombado por aqueles que ele mesmo outrora tinha ajudado.

Eles chamavam esse sub deus de Messias e diziam ser este aquele que iria os levar para um suposto paraíso celestial, onde teriam vidas de regalias por toda a eternidade.

O sábio tinha de concordar que a receita do suposto mestre se posta em prática, era realmente eficaz para a pacificação e ordem de qualquer povo. Porém percebeu que nada daquilo era levado à sério.

O povo caminhava quilômetros ou pagava fortuna pra ouvir uma “profetada”, mas jamais paravam para ler o conteúdo do livro que trazia todos os dias em suas próprias mãos, o mesmo livro que dizia ser sagrado. Apesar de confuso e controverso, se é pra pegar algo, por que não escolher aquilo que tem chance de funcionar? Mas não: todos preferiam às babaquices, pois é bem mais fácil doar um carneiro a própria casa em sacrifício para uma suposta remissão de pecados, que tomar conta da própria vida e desse modo evitar ser um pessoa à vida de outros.

Percebeu-se também que era mais fácil para todos os crédulos se envolver em intermináveis ritos de adorações e palavras soltas ao vento. Pior ainda: quase 90% dos casos estudados, os membros conheciam a estória de vida do fundador da igreja qual pertenciam, mas quase nada sabiam daquilo que seu suposto mestre havia dito.

Para o sábio era estarrecedor perceber que alguém se dizia discípulo de um cara sem nem se quer saber quem foi ele, o que ele disse ou qual foi o seu principal proposito quando aqui esteve.

Desse modo, para ocultar a própria soberba e desinteresse por aquilo que realmente poderia funcionar, eles mascaravam o próprio fedor de suas almas falando bem do sub deus ao invés de fazer o que ele sugeriu.

O sábio notou que quanto mais podre e hipócrita fosse o caráter de alguém, mais “falador do nome de deus” este era ou se tornava de uma hora pra outra.

Desta feita ele seria mais aplaudido pelo povo, pois julgavam que desse modo (ao elogiar e falar bem do messias), eles seriam bonificados e seus problemas de convivência com o próximo, de escassez de recursos, de violência generalizada e até de problemas relativos ao clima seriam todos resolvidos.

“FALEM BEM DO SANTÍSSIMO O TEMPO INTEIRO E ELE DERRAMARÁ CHUVAS DE BENÇÃOS SOBRE NÓS”!

Esse era o lema principal dos principais sacerdotes daquele povo.

Nenhum deles jamais (ou quase nunca) ensinavam o roteiro, o script ou as instruções daquilo que deveria ser seguido, mas todos eles incentivam esses festivais, essas orgias diárias de conceitos prostituídos, dizendo que desse modo a paz e a harmonia entre os povos não somente viria naquele reino, mas de todos os demais seriam igualmente alcançados.

“Se o meu povo que clama pelo meu domínio, me elogiar, der dinheiros aos meus líderes e rezar com muita força, eu vou descer dos céus, curar as suas dores e lhes dar prosperidades infinitas...”

Esse era outro texto repetido inúmeras vezes pelas lideranças quando desejam ter o povo aos seus pés como se fosse aos pés do próprio deus.

Textos assim sempre eram completados com frases ou citações que remetiam culpa, fazendo com que os cidadãos do reino se sentissem um lixo e que precisavam obedecer cegamente as lideranças para os castigos divinos não se multiplicarem.

Este era um dos pouquíssimos momentos do rito de culto em que o indivíduo era responsável por si e suas ações. Em todas as demais, suas desgraças ou benesses eram o resultado da luta de seres invisíveis que buscavam o controle de suas mentes e corpos.

Fim da parte 2.

PARTE 3

É mais fácil fazer o que ele não pediu do que seguir instruções, não é mesmo?

Outro fato marcante e tão claro como o luz do sol, é que o messias daquele povo dissera que ninguém deveria cobrar nada em seu nome, nem mesmo para supostamente representa-lo.

Ele dissera ser o único intermediador entre os seus súditos e o seu suposto pai e que qualquer um que se dissesse ser seu embaixador pessoal não passaria de um grande vigarista. Apesar disto está escrito em letras garrafais no suposto livro sagrado, todos se fechavam a esse conselho e de livre e espontânea vontade (ou pressão), preferiam pagar à qualquer um que se auto intitulasse ou fosse promovido “ministro de deus”.

O caos aumentava à medida que cada novo templo abria, mesmo eles afirmando que a criação de novos templos reduziria os problemas sociais.

Todos viam isso, mas poucos eram capazes de enxergar. Os que enxergavam ficam com medo de assumir não ser um cego e deste modo ter os seus olhos furados de verdade. Então fingiam ver prosperidade e paz onde não havia.

Acontece que para disputar a atenção dos fiéis, cada líder religioso promovia “um meio mais eficiente e correto de alcançar a deus, tocar o seu coração”, trazendo desse modo bênçãos para aquele grupelho em particular, enquanto o resto do mundo sofria em agonia.

Sim, eles conseguiam fazer com que as pessoas se sentissem abençoadas só por pertencerem a tal rebanho ou guardar determinado “mandamento”.

Mesmo famintos, iludidos, explorados e tendo seus corpos e mentes voltados ao lado mais negro do ser humano, eles afirmavam que eram ricos e que estavam evoluindo à seres celestiais.

Em seus rituais de culto, quase que diariamente eles diziam (ou eram forçados a dizer) que eram remidos, libertos e lavados pelo sangue daquele que diziam ser o cordeiro.

Eram obrigados a dizer que suas vidas eram perfeitas e que tudo corria bem, para que outros (trouxas) pudessem ter desejo de se juntar ao grupo. Eles perseguiam, torturavam ou até mesmo matavam qualquer um que afirmasse o contrário, principalmente os que conseguiram sair com vida e um pouco de lucidez daquele clube de loucos.

A tática mais usada pelos líderes para manter um fiel no templo sendo explorado e mesmo assim se achando um ser superior, era dando-lhe algum rótulo bobo. Rótulo esse que só servia no grupo ou na hierarquia dos que almejavam galgar o topo do chorume na liga dos perversos.

Além dos títulos diversos e dos trabalhos voluntários, humilhantes e banais (que geralmente muitos se matavam pra conseguir) havia o principal deles que era o de estar no rito certo do templo certo. Essa era a “nata da goiabada”, o ouro dos tolos. Apesar disto, era tudo que um fiel ganancioso desejava alcançar pois era visto como símbolo de status.

Então, uma “pessoa genial” criou uma nova igreja dizendo:

- “Venham todos para cá! Sigam-me. Eu descobri no livro sagrado que o meio mais eficaz para alcançar a deus é guardando o Sábado. Cumprindo isso à risca, seus demais pecados serão inimputáveis” ...

Então todos correram em debandada como gados sedentos numa poça de lama e seguiram aquele líder e seus ensinamentos. Eles diziam ser este o suprassumo dos ensinamentos do messias e desprezava e humilhava quem deste rito não participava.

Um outro cara que aprendeu um novo idioma gritou:

- “Vejam olhem para mim! Aprendi pronunciar de forma correta o nome do criador. Era isso que ele queria o tempo todo. Ainda que você seja justo, bondoso e reto em tudo o que você faça, se não souberes a forma correta da pronuncia do nome divino de nada valerá, sua recompensa será o tormento eterno, como se um mísero pecador fosses.

Um montão de gente pulou imediatamente para aquele segmento e passaram a usar uma indumentária e linguagem nunca antes vistas. Passaram a ver todos os demais com desdém e a rogar-lhes praga por não terem estarem blasfemando do altíssimo ao pronunciar de forma errada o seu santo nome.

Outro “santo de deus” viu que estava perdendo rebanho. Então argumentou:

- “Olhem para cá! Descobri na bíblia que se as mulheres de nossas igrejas cobrirem suas cabeças com véus e ficarem caladas durante o culto e seus maridos propagarem veementemente as verdades de nossa grupo deus se agradará de nós e nos dará o galardão final, independente do estilo de vida que venhamos ter.

Desta forma, um novo segmento de fé surgiu, aumentando a concorrência e por sua vez o conflito. Famílias inteiras eram separadas ao aderirem (ou saírem) de grupos como estes. Os lábios que beijavam antes, hoje amaldiçoam os que “dos caminhos da verdade se desviaram”.

Outro, “ungido até o tutano” rebateu sapateando:

- “Eis aqui! Descobrir a fórmula secreta do coração de deus! Se forem batizados com espirito santo e se falarem em outras línguas (a língua dos anjos), provarão para o mundo inteiro que deus está dentro de vocês e vocês com ele. O espirito de deus é o selo de sua promessa e aquele O tem o maligno não lhes toca” ...

À partir de então aquele ambiente de culto passou a ser assemelhado a um hospício para os que fora deste estavam.

Só se via gente num estado profundo de torpor, numa glossolalia infernal nunca visto antes, todos dizendo estarem possuído pelo espírito divino e que já não tinham controle sobre seus corpos e ações, pois era o poder de deus quem fazia tudo aquilo e todos tinham que respeitar. Quem risse ou criticasse era logo ameaçado com versículos sagrados que remetiam o lago de fogo ardente. Ninguém queria correr tal risco. Todos se calavam ou obedeciam, mesmo quando o chefe maior também “embriagado pelo espírito” lhes mandava comer capim num terreno baldio com frente à igreja.

Durante todo o culto os membros se tratavam com gestos, sinais trevosos e frases ininteligíveis. Somente na hora de pedir os dízimos e ofertas, o espírito de deus se retirava e as pessoas passavam a falar normalmente. Pra pedir dinheiro aos fiéis, o líder a língua local e pedia ordem. Pra fazer o picadeiro, era na língua dos anjos, na maior bagunça. Vai vendo...

Nesses ritos de culto, os fiéis podiam fantasiar como quisessem: alguns imitavam lobos uivando pra o infinito; Outros caiam no chão e faziam movimentos semelhantes aos de uma cobra; Alguns ainda imitavam galinhas e começavam a ciscar num terreiro invisível; Outros pensavam ser um pica-pau ou peixe martelo e davam cabeçadas em todo lugar, ferindo inclusive crianças e idosos; e outros, disfarçando (ou publicando?) seus fetiches sexuais mais sinistros, soltavam gemidos escrotos durante as pregações ou enquanto seguravam objetos, fálicos como se tivessem se deliciando num coito invisível.

Era sinistro ver tudo aquilo sem ficar enojado. Associar aquela parafernália toda a algo sagrado era mais bizarro ainda.

Os mais canastrões eram aqueles que se simulavam as vozes de seres angelicais ou criaturas demoníacas. Alguns chegavam a fazer uma voz cavernosa quanto diziam ser o próprio deus falando em pessoa pela boca daquele fiel. Outros rodavam feito pião até ficarem tontos, cair ou vomitar em alguém.

Depois desse êxtase maldito todos os envolvidos nessa “orgia celestial” diziam: deus me encheu, deus falou comigo, deus me usou... E esboçavam um sorriso (falso) ou um aparente “orgasmo espiritual”, como se tentando provar um coito santo com o divino.

Isso era o suficiente para sanar qualquer suspeita de pecado que recaia sobre alguns dos fiéis, principalmente entre os líderes.

Ainda que estes fossem pegos em algum tipo de imundície, falar em línguas fazia crer que sua comunhão com deus estava reestabelecida e desse modo, ainda que o mesmo viessem fazer coisas piores, seus pecados já seriam perdoados de forma antecipadas, já que este tinha o poder de falar a língua dos anjos e conversar secretamente com deus.

Depois desse “gozo espiritual” exprimido de forma hipócrita por um membro detrator, os demais do grupo eram praticamente obrigados a perdoar-lhe as ofensas pessoais e toda falcatrua que esse mísero ser havia causado a eles e a outros membros da sociedade.

Alguns entre esse tipinho imundo chegava a ameaçar: “cuidado comigo! Vês que tenho comunhão com deus. Vês que falo com eles em mistérios. Se você me perturbar, me denunciar ou entrar em meus caminhos, posso pedir a deus que faça você ou alguém que amas, sofrer por tempo indeterminado, até arrependido me implores por perdão...”

Esse tipinho barato quase sempre se tornava uma espécie de “paquito de sacerdote”. Costumava ser o que mais se destacava no grupo ou o que mais queria se destacar. Ficava mais fácil quando se descobria um podre da liderança.

Fim da parte 3.

PARTE 4

O ópios dos santos!

Nesse segmento de fé (dos que fazem da glossolalia sua marca de santidade), o sábio percebeu que era o meio onde mais se proliferava os psicopatas, os hipócritas, os falsos moralistas, os adúlteros e todo tipo de gente manipuladora da categoria “santos do senhor”.

Durante o tempo que passou nesse movimento para estudar o povo, ele percebeu um caso inusitado: um dos líderes do templo costumava visitar secretamente a esposa de um fiel enquanto este ficava fora à trabalho. Suas visitas eram cada vez mais constantes e a intimidade oculta, agora parecia ser visível pela forma diferente e especial como esta jovem senhora era tratada.

Percebendo que o sentimento de culpa lhe vinha algumas vezes durante o culto ao ver sua hipocrisia e falso moralismo, o líder do grupo tinha de agir rápido pra não levantar suspeita, pois todas as vezes que ele, o chefe começava a pregar, ela ficava desconfortável e aflita, como se quisesse contar ao mundo inteiro o que estava ocorrendo e como aquele sujeito era um tremendo oportunista. Ela então abaixava a cabeça para não encará-lo e começava a chorar e soluçar publicamente. Quando outros crédulos tinham oportunidades de falar ou cantar, seu choro e vergonham passavam imediatamente e isso era muito estranho. Todos estavam suspeitando de algo mais ninguém ousava falar.

O líder (malandro) então passou a dizer em todos os cultos a seguinte frase cifrada: “minha irmã, não importa o que você tenha feito hoje ou com quem fez. Se você orar e for capaz de falar em línguas estranhas, isso prova que deus perdoou os seus pecados e ninguém, NEM MESMO DIABO (ao falar isso ele elevava o tom de voz) poderá te acusar de nada...

E citando um versículo bíblico (fora de contexto) conseguia extrair outra vez do rosto da pobre vítima, uma ligeira expressão de paz.

Ao ouvir a tal “promessa bíblica”, a irmã “entrava no mistério”, pulava, rodopiava, falava em línguas e “deus se manifestava na vida dela”, provando assim a todos, que não havia nada suspeito entre eles, e que ambos estavam em retidão com deus, pois caso contrário o espirito santo não entraria ali, num corpo sujo e pecaminoso.

Todos se calavam....

Com ditos como estes, os crédulos desconfiados se conformavam e a vida seguia, tanto para a vítima quanto para sua presa. Ambos estariam “livres” para novas aventuras.

Assim era a vida naquele reino. Lotada até o teto com um montão de gente vigarista, oportunista que procurava tirar proveito da ingenuidade alheia.

Para não esquecer feito o sábio escreveu em seu diário:

- “Entre os vigarista da fé, os que afirmam falar diretamente com deus, são os piores de todos! Os que atestam uma teofania instantânea são piores ainda, pois estão no nível hard da manipulação. Quando não estão tentando extorquir, o fazem para promover falsas esperanças aos moribundos, fazendo com que suas vítimas posteriormente estejam num estado pior que o anterior. Quando não se utilizam das supostas frases quentes “vindas diretamente do céus”, usam a suposta comunicação com o sagrado para atacar covardemente seu oponentes ou qualquer um que discorde de algo que foi dito ou feito por sua pessoa, até mesmo os que nunca lhe fizeram mal algum, antes sim foram vítimas de comentários maliciosos, estarão inclusos em sua lista negras para o atacar publicamente toda vez que este “se encher de deus”.

Esse comentário feito pelo sábio em seu próprio diário frequentemente era revisado para não esquecer caráter daquele tipo nojento.

Ainda nesse covil de loucuras, entre os que se auto rotulavam (ou eram tidos como) profetas e “transmitiam mensagens divinas instantâneas”, haviam os esquizofrênicos. Eles também não viam ou ouviam nada do que diziam receber ou saber, mas falava como se fosse.

Uma psicose profunda os acompanhava, sem falar que eles eram aplaudidos toda vez que diziam alguma bobagem começando com a frase: “deus falou”; “deus me disse que”; “o espirito do altíssimo me revela” ... Além do respeito do público, eles conseguiam obter favores diversos dos leigos e desesperados, principalmente os que sofriam de doenças terminais ou estavam com relacionamentos amorosos abalados.

À grosso modo estas não eram pessoas más, que agiam de modo frio e calculado como o primeiro acima citado. Eram apenas loucos que acreditavam na própria fantasia. Porém eram usados pelos maus para propósitos ruins, já que conseguiam atrair público com facilidade por onde passavam.

Eram verdadeiros instrumentos do capeta que pensavam ser vasos de honra para deus e seu propósito.

Entre os sacerdotes havia também gente de caráter inimputável, porém esses eram tão raros quanto algumas pedras preciosas existentes na natureza, e quando encontrados, eram perseguidos ou tinham sua reputação jogada na lama por conversas coordenadas com outros porcos, à fim de que a luz da racionalidade não pudesse ser evocada ou despertada entre aquela gente.

Desta feita, com menos de 2 anos convivendo naquele reino, o sábio percebeu que um dos maiores problemas do povo era justamente os maus que se diziam ser bons só por que os segmentos religiosos que eles seguiam diziam que eles eram pessoas boas (só por que pagavam dízimos, ofertas, ou o cumpriam algum rito banal ou desprezível).

A disputa entres os “salvos” parecia uma feira medieval numa terra remota de gente sem cultura, onde figurões de índole duvidosa vendiam agua sujas de um rio poluído como se fosse vitaminas ou curas milagrosas para problemas que nem sequer existiam.

Um patife dizia:

- “Comprem restos de construção do meu templo recém construído ou alguma outra bugiganga ungida e tudo vai ficar bem pra vocês. Eu lhes garanto”!

Um outro, do outro lado da mesma rua rebatia a oferta dizendo:

- “Além de sementes mágicas que com certeza te levará a um estado maior de prosperidade e que cura doenças que nem os médicos descobriram ainda, libertações de outras moléstias e fazemos bípedes andar para frente ou pular para trás, comprovando absolutamente nada do que prometemos ofertar”!

Na ponta, na esquina da rua, para cobrir a oferta dos dois um terceiro dizia:

- “Aqui em nosso templo fazemos tudo isso que eles dois disseram e ainda entrevistamos o demônio ao vivo pra todo mundo ver. Esta noite teremos entrevista exclusiva com o demônio. Não percam”!

Um quarto ungido retrucou:

- “Eu tenho o número do celular do próprio ser celestial. Estou em linha nesse exato momento com ele e por um preço justo deixo cada um de vocês falarem um minuto e contarem a eles seus problemas...”!

E todos corriam de um lado para o outro, procurando soluções reais em promessas fictícias.

Eles brigavam entre si todos os dias por menor que fosse a bobagem e à noite antes de dormir, ao invés de pedir perdão e se reconciliar com quem havia trocado farpas, eles preferiam pedir perdão ao messias invisível como se isso ajudasse aplacar a ira do ofendido.

Eles (todos os dias) traiam uns aos outros das mais variadas formas. Usavam de perjúrio, prejudicavam pessoas reais e depois iam fazer alianças com seres imaginários, prometendo-lhes honrarias maiores, momentos ininterruptos de devoções ou gordas ofertas aos sacerdotes locais, caso fossem livrados do mau que cometeram contra alguém, sendo que era bem mais fácil se reconciliar com o seu semelhante de carne e osso que com deuses invisíveis.

Assim era a vida daquela sociedade.

O sábio percebeu que estava no meio de tolos que se julgava sábios e que o rei era o principal fomentador de toda essa doidice, pois querendo permanecer no poder por mais tempo, estava induzindo sua própria gente ao ópio, à todo tipo de bestialidade em nome da fé, à fim de que um punhado de bajuladores (os principais entre os tolos) o ajudassem tornar sua imagem ainda mais sacra diante do mundo.

Em nome da fé, tudo era incentivado naquele reino pelos charlatões que rodeavam o rei, sufocando e manipulando suas decisões.

Tudo era incentivado nesse império, menos a honestidade, o respeito e a paz entre os povos. A ruina daquela gente era inevitável.

CONTINUA...

Texto escrito em 20/8/22 por Antônio F. Bispo.

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 21/08/2022
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