UM ANTIGO CASO DE AMOR
Aqui estamos nós mais uma vez: a noite, o céu, as estrelas e eu -Um antigo caso de amor- nos completamos por todos os ângulos. Cada detalhe é uma pintura, um traço feito a dedo por Deus. Nos olhamos por horas e nos entendemos com o olhar. Pequenino como sou, vejo tamanha imensidão e percebo que toda ela cabe em mim.
Cada pontinho de prata que lá de cima brilha sobre tudo o que o meu olhar pode alcançar traz um tantinho de alegria e afaga o coração que bate cansado aqui dentro. Lembro-me, saudosamente, dos tempos de outrora, de quando criança eu era apaixonei-me por este cenário e jurei que, por aonde quer que eu fosse e em qualquer situação na qual me encontrasse, eu nutriria esse sentimento e que faria dessa Imensidão escura e pontilhada o meu lugar de repouso e restauração espiritual.
As estrelas sorriem e dançam comigo à distância como quem está matando a saudade; a lua preguiçosa não compareceu à festa, mas enviou algumas estrelas cadentes que, hora ou outra cruzam o céu com seus vestidos cintilantes e levam consigo em um embrulho cada um dos meus pedidos.
O sinfonia do canto da cigarra, que parte de todos os cantos da noite, acolhe-me em seu seio e faz a trilha sonora desse momento imortal.
Latidos entoados a léguas invadem o breu noturno e misturam-se às cantigas 'cigarréticas' que povoam a escuridão.
A brisa suave que causa breve alarido pelas folhas da mangueira lambe-me o corpo desnudo e frágil oferecendo-me o colo para descansar.
São traços casados mais que perfeitos, os quais Picasso, Michelangelo ou outra mentalidade brilhante das artes jamais seria capaz de pintar.
Enamorado por cada detalhe dessa imensidão monocromática com altos pontos de contrastes e com o coração transbordando de alegria e paz, miro por um longo tempo o baile e as damas lá de cima valsando pelo belo e grande salão estrelado, nos amamos à distância, sorrimos e nos despedimos prometendo nos encontrar o quão breve possível for.