a saudade dos mortos
pope parte#
Não foram poucas às vezes em que meu coração guardou a saudade. A saudade dos mortos é perigosa. No dia em que demiurgo plantou a árvore dos sonhos com fé inabalável e sacrifício necessário, sonhei com o filho que ainda nem tive e me confundi com o pai. Às vezes, de olhos fechados, fora dos sonhos, sou pai, filho, anjo e até carneiro. Acredito em Deus nunca visível. Gênesis 10-23. Tem 99 nomes, o centésimo é Allah, o definitivo. Quantos nomes têm meus demônios? Sonhei que era Ibrahim ou Abrahão, judeu no princípio, depois muslim. Deus com um dos seus 100 nomes falava em comigo no meu sonho. Sonho que estou sonhando. O sonho é imprevisível. Tenho filhos, um filho. Já não sei mais se sou o pai que deve matar seu filho ou se me sinto o filho prestes a ser sacrificado em nome do pai. Suo frio na cama quente. Não quero matar nem morrer, mas Ele me diz que sim, que a fé deve ser testada e sacrifícios são necessários. Pai, não te conheço. És minha mãe que também não me protege de tua faca. Sinto a faca na minha mão esquerda. À direita vê o que a esquerda está prestes a fazer. Sou instrumento de tua vontade. Suo quente na cama fria. Estou prestes a matar e morrer ao mesmo tempo. Sou Isaac, sou Ibrahim, não sei quem sou. Um anjo, jibriil gabriel, uma ovelha, não um carneiro, sim
peque faz um carneiro no meu sonho. Demônios em pele de cordeiros. Suo morno na cama tépida. Já não vou matar, já não preciso morrer. Acordo molhado. Estou chorando. Não. Estou
balindo como um carneiro na hora da troca. Troquei. Trocaram. Fui trocado por um carneiro que agora bale e chora na minha cama, ao meu lado. Acordo, sacrificado. Demônios bíblicos estão em pesadelos, sonhos e perseguições. Desde criança só sonho o que tenho vivido.