Brasil: a agropecuária tem a cura e a indústria a salvação.

Ninguém duvida que o Brasil - um gigante pela própria natureza - tem uma vocação agrícola; temos um solo rico e um clima favorável. Contudo, esse importante setor da economia brasileira não pode garantir sozinho o desenvolvimento econômico do país. A história econômica mundial mostra que a indústria teve papel fundamental para o desenvolvimento das nações.

No Brasil, o debate entre o setor agropecuário e a indústria não é de hoje. Na verdade, existe uma falsa dualidade, pois as verdadeiras forças opostas que operam até hoje são as forças da dicotomia Estado e livre mercado.

Entre 1944 e 1945, dois economistas, Roberto Simonsen (1889-1948) e Eugênio Gudin (1886-1996), travaram uma verdadeira guerra dialética, cujo objetivo era convencer o Presidente Getúlio Vargas sobre qual seria o melhor caminho para o Brasil desenvolver-se. De um lado, Simonsen defendia a politica industrial que pressupunha uma forte participação do Estado; do outro, Eugênio Godin defendia um liberalismo raiz, calcado na retirada do Estado da atividade econômica, deixando que o setor agropecuário desempenhasse o papel de motor do desenvolvimento brasileiro.

O tempo passou e, para quem tem um pensamento complexo, está claro que livre mercado e Estado não são excludentes, mas são opostos complementares. Destarte, temos vários exemplos de países que não colocaram os dois entes em lados diametralmente opostos como os nossos pioneiros fizeram, mas aproveitaram ambos para criar sinergia.

Com efeito, se os governantes forem pragmáticos e menos religiosos em relação aos seus dogmas econômicos, a probabilidade de sucesso será muito grande. Vejam o caso da Coreia do Sul cuja produção arrozeira era sua principal atividade na década de 60. O tigre asiático recusou-se a deitar-se no berço esplêndido de sua vocação agrícola e resolveu sonhar muito alto, ousando industrializar-se.

É certo que teve muitos percalços, inclusive, o Banco Mundial negou a concessão de empréstimos para a construção da siderúrgica POSCO. O órgão multilateral, rezando na cartilha de Eugênio Gudin, alegou ser loucura construir uma siderúrgica em um país que não possuía minério de ferro em seu solo e que, em vez disso, a Coreia deveria investir na produção e exportação de arroz; sua vocação.

Hoje sabemos como foi benéfico para a economia coreana; a península tem um tecido produtivo de alta complexidade, fabricando desde o aço ao chip de computadores; e tudo isso sem abandonar sua vocação agrícola. A produção de arroz continua e o país asiático é o 15• produtor mundial da commoditie.

A mãe se esforça pela mobilidade socioeconômica do filho.

Inacio Rangel, parafraseando Willian Petty, escreveu “se o trabalho é o pai da riqueza, a terra é a sua mãe”. Assim sendo, o país que tem a família reunida, como é o caso do Brasil, pode utilizar o setor agrícola para catapultar a indústria. Não há necessidade de irmos contra a lógica, pelo menos aparente, do presidente coreano, General Park Chung-Hee.

Segundo o site Agro times, o Brasil é o quarto maior produtor de grãos do mundo, ficando atrás apenas da China, EUA e Índia, sendo responsável por 7,8% da produção mundial. Ainda de acordo com o site, em 2020, o país exportou 123 milhões de toneladas de grãos e faturou, só com a soja, US$ 30 bilhões.

Por ser um grande produtor de alimentos, o Brasil possui várias indústrias atrelada ao agronegócio. A soja, por exemplo, é transformada em óleo, ração, queijo tofu, molho shoyo e outros derivados. No entanto, seus produtos são de baixo valor agregado. Segundo o economista Paulo Gala, da FGV, essas indústrias não geram empregos bem remunerados.

O Brasil, segundo Gala, deveria desenvolver produtos mais complexos e ligados ao agronegócio. A galinha dos ovos de ouro está na fabricação de colheitadeiras, plantadeiras, tratores e produtos químicos utilizados na lavoura, como fertilizantes e defensivos agrícolas, por exemplo. Foi o que os EUA fizeram e não deixaram de ser também uma potência agrícola.

No interior de São Paulo, temos um bom exemplo de tecnologia ligada ao agro. Trata-se da JACTOR, uma empresa criada por japoneses que fabrica implementos agrícolas, dentre eles, um pulverizador totalmente autônomo. O país precisa de mais empresas com capacidade semelhantes que podem gerar mais riqueza, empregos bem remunerados e autonomia para o país; hoje a maioria do maquinário e químicos usados na agricultura pertencem às multinacionais.

Alimentos Tec

Existem muitas alternativas. Nessa esteira, é possível avançar na tecnologia de alimentos processados para agregarmos mais valor ao processo produtivo. Segundo a Financial Times (2019), os países produtores de café recebem apenas 0,4% do valor do café consumido. O Brasil se especializou justamente no elo mais fraco da cadeia produtiva de valor. Por seu turno, Alemanha e Suíça se especializaram em transformar o café em capsulas. Enquanto uma saca de 60kg de café está em R$ 880, a capsula de café da empresa alemã Nespresso é vendida no varejo por R$ 400 kg.

Mato grosso do Sul pode ser uma alavanca

Dados de 2018 do IBGE em parceria com o governo do estado, mostram que a indústria Sul Mato Grossense tem uma participação de 22,3% no PIB estadual e 1,6% de participação no PIB Nacional. Nossa participação já foi bem menor que 1,6%; o estado ficou vários anos com uma participação menor que 1%.

Contudo, o estado pode avançar muito mais. Certamente o leitor deve conhecer a frase de Arquimedes “ Dê-me um ponto de apoio e uma alavanca que eu moverei o mundo”. Temos o apoio que é a natureza pujante e a força do nosso agronegócio; temos a alavanca que são as mentes brilhantes que estão em nossas empresas e universidades.

Com a parceria sinérgica entre Estado e mercado, o nosso Mato Grosso do Sul poderá se destacar e contribuir ainda mais para a economia do país.

“O Brasil e o mundo sabem que este país é uma superpotência econômica em potencial”. - Margaret Thatch.

Albertino Ribeiro
Enviado por Albertino Ribeiro em 02/07/2022
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