Tupinamaro
demônios parte#
Entre os muros de pedra no campo, aqueles de meia braça e cantonada, está uma velha mangueira. Erguida por escravos. Negros, indígenas, mestiços, crioulos, carregaram sua pedras hoje cimentadas por limos, liquens, outras formas de vida. A escravidão não é vida, é um negócio hereditário. A ama de leite amamenta o bebê do sinhô até a última gota, até o último suspiro do vento invernal. Queima seus pés na brasa da fogueira, enquanto morre tentando aquecer seu sangue congelado pelas dores do que chamam de vida. Um preta, pobre e farta indígena morreu e não há alguém para se despedir. Tudo se desenha na terra, a palavra passa de boca em boca, geração em geração. A palavra vira corpo, assim como o verbo se faz carne.