o papa morreu

pope parte#

Por acaso ou digressão dos demônios, tive [doença]. Se foi acaso, bastou um aperto de mão. Se foram os demônios, só precisou estar embebido de malícia e desconfiança. Uma penumbra cobriu meu corpo e bagunçou os sentidos. Olfato e gustação ficaram comprometidos. Comecei a pensar na morte. Morrer é sempre conversa para depois. Conclui: a morte está oculta dentro de mim, em pedaços do meu corpo. Um dia a morte irá encontrar uma brecha para entrar e sair. Seja o que demorar, a morte é transversal. A morte é subterrânea, está na transição dos mundos. A morte é a travessia entre margens dos rios. A morte é o começo de outra vida. A morte é indesejada para quem tem razão. Estou precisando lembrar o que fiz para ser. Memórias. Lembranças. Estar doente é um convite a morte. A morte à queima roupa. A morte é um sopro que embala. Os demônios matam na espera. Senti a desintegração do corpo, o fio que prende a vida ao corpo vai se desfazendo, se desfiando e fica cada vez mais fino, mais sensível, menos preso. Até não ser mais. A morte é uma faísca.

Severo Garcia
Enviado por Severo Garcia em 29/05/2022
Reeditado em 29/05/2022
Código do texto: T7526266
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