SUA COMIDA ESTRAGADA JÁ NÃO ME SERVE DE ALIMENTO!
*Por Antônio F. Bispo
Certos conceitos religiosos são como uma comida estragada: além de não servir ao propósito principal que é o de nutrir, eles podem trazer prejuízos não somente aos que destes se alimentam, mas também aos que destes se acercam.
Seja pela quantidade de flatulências, pela impossibilidade de exercer o labor diário devido a indigestão ou pelo cheiro fétido ao evacuar, os que não comeram da comida doentia poderão também sofrer com as “cagadas” daqueles que a ingeriram.
Um conceito religioso é um conglomerado de ideias que fizeram parte de um povo ou época e que por imposição ou falta de opção podem ou foram incorporados à outros povos em situações distintas, mas que mesmo assim, tentam tomar para si a descrição de serviço ou utilidade que tal conceito se propusera retratar.
Deus é um conceito local. Cada povo tem o seu e cada um o enxergava de um modo diferente. O que é destruição para uns pode ser o início da ordem para outros.
Quando um império se expandia o conceito de deus (um deus especifico) se expandia também. Quando este caía o deus deste império caía junto! Foi assim com o Egito, com os reinos da Mesopotâmia, com a Grécia e por fim com Roma.
Este último império por ter durado cerca de 800 anos fez com que o deus de sua religião sofresse várias atualizações para se enquadrar aos novos tempos e territórios conquistados.
Tais adaptações receberam o nome de atributos divinos. Quando não era possível adaptar uma divindade local, mesclava-se outros conceitos para que “o produto” fosse aceito naquela região”. Encher até a tampa um deus com virtudes inigualáveis podia fazer a autoestima dos cidadãos melhorar, pois sendo deus um conceito versátil, poderia muito bem ser adaptado como arma de ataque ou defesa quando necessário.
Virtudes estas que só existem no campo metafórico, do lúdico, do surreal, mas que para um fiel e defensor de sua crença, estas qualidades são verídicas, mesmo nunca obtendo seus benefícios quando necessário.
Mesmo com a queda do império romano, a ideia do deus cristão já tinha sido difundida em quase metade do globo e os políticos sucessores desse império dividido perceberam que aliar tal figura ao estandarte de sua gestão era uma boa medida para manter o povo submisso.
Apesar de único, não há nada mais dividido que o deus cristão, representado por milhares de vertentes de igrejas e milhões de pastores, bispos, padres, etc.
Apesar de fragmentado, o conceito do deus trino prevaleceu e acabou tomando o papel de gestor e mantenedor dos principais atributos que tornam possível o conceito de civilização. Ao contrário do que se prega, os deuses de praticamente todos os povos são representados (conhecidos) por sua fúria, ira e bestialidade, não por suas virtudes apaziguadoras.
Conceitos como bondade, justiça, honestidade, respeito, reciprocidade e tantos outros que engrandecem o ser humano como espécie. Não são virtudes exclusivas, oriundas ou dependentes dos deuses, da religião ou de um religioso. São conceitos humanos. Conceitos sociais tão antigos quanto a própria civilização e se não fossem estes, esta última não poderia existir.
Por outro lado, conceitos como a imortalidade (da alma ou dos deuses), eternidade, onipotência, imanência, atemporalidade, soberania universal, virgindade eterna, imaculada conceição, paraíso celestial, inferno eterno e tantos outros, são conceitos puramente religiosos, criados (concebidos) por religiosos em algum momento de elucubração própria e que por falta de um justo combate intelectual aprofundado, tiveram tais premissas fincadas como se fossem verdades universais incontestáveis.
Por séculos o poder religioso esteve presente nas grandes decisões políticas ou acima delas em quase todas as sociedades existentes
Questionar um líder religioso ou suas teses sobre deus era como contestar o próprio deus e ao fazê-lo, as pessoas achavam (os líderes as faziam acreditar) que pragas infindáveis viriam à todos os habitantes daquela região e além desta.
O deus bíblico, fonte de amor eterno e incondicional por exemplo, parecer não se conter quando contrariado e os termos do seu amor infinito fica restrito apenas aos que se submetem cegamente aos que a ele dizem representar.
Ele berra, ameaça ou manda matar a todos os questionadores, não importa se você tem uma hora ou uma centena de anos prestados em seu serviço e adoração. Uma única hesitação sua e ele vai te descartar como se fosse um trapo sujo.
Tem sido assim desde sempre. Leiam a bíblia ou a história da igreja e notem que tudo está evidente, ainda que tentem negar.
Na verdade nunca foi deus quem fez nada disso!
Ele nunca se irritou, se alegrou ou nomeou a si mesmo com todas as características fantásticas atribuídas. Um conceito precisa de uma situação, de um observador e de um narrador para se fazer valer, ou seja: se não houver uma narrativa e um ouvinte para propagar o que se foi dito, ele jamais teria sido mencionado.
Se uma pessoa cai ao tropeçar, isto é um fato.
Se é dito que esta pessoa caiu por que não rezou ao acordar pedindo proteção a deus, isso deixa de ser um fato e passa a ser uma narrativa, um estória, um conceito improvável aos lúcidos, porém crível a um fiel amedrontado. A propagação dessa fala se torna um mito, depois um rito, depois um culto, um crença e com o passar do tempo e aumento do número de fiéis, isto será uma religião.
A palavra religião é comumente confundida com a palavra VERDADE. Ela foi implantada de forma inconsciente na mente do fiel e é difícil destacar uma da outra.
Teólogos, líderes religiosos ou qualquer um que tenha conseguido emplacar um milagre ou trazer soluções reais para um problema popular por meio da fala ou da guerra em nome de deus, contribuiu para concepção daquilo que dizem ser deus ou suas virtudes mesmo não sendo.
A teologia estuda o comportamento humano (dos crédulos) mediante a ideia de deus e não deus em si mesmo.
O que nunca fora visto, tocado ou mensurado não pode ser estudado, a menos que seja no campo hipotético, sendo eternamente uma tese, variante de uma outra variável ou de inúmeras delas.
O conceito de deus não é um veredicto final, um ponto absoluto visto de igual modo por todos os observadores em todas as épocas e locais em que esse “ser” tenha sido estudado. Sete bilhões de pessoas no mundo e cada um dela terá um modo diferente de retratar a divindade, justamente por ela ser um conceito vago, tendo como base aquilo que foi dito por outrem ou a subjeção de uma experiência pessoal, sem comprovação por pares na mesma e exata situação.
Os crentes existem. Por isso a teologia existe. Ela estuda o comportamento dos crentes, sua loucuras ou benfeitorias, não o comportamento de deus. Deus mudará todas as vezes que a mente humana mudar devindo ao uso de um aparato tecnológico ou pela engenharia genética que faz prolongar a vida ao combater as mazelas do nosso corpo e esticar a nossa longevidade.
Deus nunca foi visto e nunca o será por ninguém. Isso é difícil de engolir e crente nenhum gosta de tocar nesse assunto, a menos que seja pra menosprezar a epifania de outro crente.
O modo fabuloso e cheio de purpurina como costumam desenhá-lo só existe nos livros ditos sagrados, relatados de modo que remeta ao fanatismo.
Qualquer tolo capaz de fazer um truque barato de mágica era capaz de ser passar por uma divindade encarnada ou se dizer um dos seus representantes. Tem sido assim desde sempre até os dias atuais. Nunca foi deus, sempre foram os homens.
A concepção medíocre de alguém sobre a divindade, suas vontades e feitos costumam tornar o próprio ambiente em que se vive num local igual medíocre e sem sentido, cujos fundamentos da própria existência do fiel precisam estar sustentados nesse tripé: medo, ganancia e ignorância!
Se o “sábio” que fala em nome de deus se tornar uma pessoa de influência, mesmo que não queira, deixará o rastro da mediocridade e perversão em tudo o que tocar ou interagir, até que um mal maior venha sobrepor a este anterior.
Confessar publicamente a crença em uma divindade é acima de tudo um sinal de redenção. Não aquela redenção que diz respeito às garantias de uma vida eterna ao aceitar publicamente uma crença, mas a redenção dos “descondenados” (ainda que réu confesso ou em suspeita de delito), daquela que garante ao suspeito jamais ser incomodado nem pelo juiz, pelo promotor ou pelas testemunhas de acusação, caso ele concorde em ocultar (ignorar) os erros alheios.
Desse modo, ainda que todos do ajuntamento sejam hipócritas ou bestas hediondas, pelo acordo de cumplicidade religiosa, fica estabelecido que ninguém ira constatar publicamente a fraqueza do outro em troca de manter a sua própria encoberta.
Notem que desde cedo até os dias de hoje a sociedade dos crédulos é capaz de aceitar e conviver de modo pacífico com estupradores, homicidas, pedófilos, líderes do crime organizado, psicopatas, militares ou políticos corruptos, enquanto tem dificuldade de viver com uma pessoa que diga ser não crente.
Mesmo dentro das igrejas (principalmente as evangélicas) quando alguém revela um passado tenebroso, parece que faz despertar nos crentes um certo tipo “tesão espiritual”, pois de marginal à celebridade gospel a pessoa se torna num estalar de dedos e ainda que continue nas mesmas práticas que diz ter ficado no passado, ao tomar o nome de deus como faixada e o nome da igreja como slogan, o sujeito se torna um embaixador da moralidade e da justiça entre os igualmente crédulos.
Porém, para os religiosos, lidar com um ATEU sempre foi um fardo. Gente com “tendências claramente heréticas” sempre foi um peso para paz e equilíbrio social, segundo a maioria dos que dizem servir a deus.
Um ateu não precisam da simpatia de um crente para existir, nem tão pouco da “bondade” destes, de sua “piedade”, de suas orações, nem tão pouco do seu círculo eclesiástico para tomar suas decisões.
Uma pessoa decidida não precisa de uma divindade para se esconder ao fazer besteira, nem de um demônio para culpar quando suas intenções eram evidentes.
Isso incomoda aos “santos” e a todos os que dizem que sem deus e sem igreja só há libertinagem, devassidão e imoralidades. É um tapa na cara de gente hipócrita e faladeira. Por isso, para que não fique claro que é possível uma pessoa viver sem deus, a melhor solução encontrada é da demonizar, diminuir, perseguir, torturar ou até mesmo matar aos que a “deus” não se submetem.
Importunar uma “pessoa sem deus” faz aplacar a ira dos deuses e trazer “paz e prosperidade ao povo”, eles dizem!
Para deus e os fiéis, descumprir tudo o que a própria “palavra santa” diz ser verdade não é um problema! Problema mesmo é viver em paz e ter virtudes reais e humanas sem precisar de deus ou de nenhuma uma igreja. Isso é gravíssimo. É vergonhoso para própria igreja.
Deus e o seu povo não sabem lidar com quem tem vida própria ou quem duvida de sua existência. Mesmo sendo ele (deus) um ser auto suficiente e que não depende (segundo o conceito teológico) de ninguém para poder existir, ele não aceita ser ignorado por pessoas que conseguem viver sem ele e por isso as ameaçam com fogo e inferno.
Negar a deus, sua existência, seus milagres e suas soluções fantasiosas para problemas reais é o pior crime que alguém pode cometer. A morte ainda é pouco pra uma pessoa que assim o faz.
Apesar de estarmos em pleno século 21, a sociedade cristã (religiosa) continua sendo tão primitiva quanto eram outras sociedades de 5 mil anos atrás com seus próprios “deuses reais e também soberanos”.
A religião faz travar no tempo o homem, suas ideias e sua própria evolução.
Ainda que a sociedade cristã aceita (mesmo que com certo rancor) a ideia de que nós humanos sejamos capazes lançar ao espaço profundo, uma cápsula com um ou mais ser vivo deste planeta, essa mesma não é capaz de ver com bons olhos (ou aceitar) um “ex-crente” pelo desligamento da fé.
Todos os nascidos em um pais cristão (ou religioso) se tornam um militante da fé ainda que não tenha escolhido isso.
Quando ainda crianças, os seus pais fazem conhecer a “doutrina verdadeira” (todas são e nenhuma é), e depois de adulto e doutrinados, melhor dizer ter fé em deus e viver em devassidão, mergulhado em tudo aquilo que a própria religião combate, que assumir-se livre do “controle de deus” , ainda que tendo uma vida ilibada e sem desvio de caráter.
Para este povo (hipócrita), Deus é como um adesivo tosco que alguém coloca na própria testa para sentir-se sábio, ou honesto mesmo não sendo nada disso.
Os que usam este nome como um adereço, considera tal logomarca um status de grande valor, um símbolo extremo de confiabilidade. Os que já estão saíram desse “esquema” sabe que isso não voga nada.
Os que se tornam lúcidos ainda dentro do ambiente religioso e tem medo de confessar sua descoberta, precisam fingir-se de tolo para não desagradar aos que se dizem inteligentes.
Alguns seguirão o caminho da hipocrisia, deleitando-se da ignorância e confiabilidade alheia para extravasar todo o mal que escondido há sim si mesmo. Estes sãos os principais personagens dos escândalos e barbáries de cair o queixo em todo o globo, todas elas cometidas justamente pela fé, em nome da fé ou em favor desta.
Os outros, os mais honestos, seguirão uma vida de sofrimento e passividade, tendo que engolir (ocultar) tudo o que de mais nefasto presenciam ou negam todos os dias, a fim de que não venham “escandalizar o nome do senhor” e desse modo tornar vã (ridícula) a própria crendice que defendem.
Entre a cruz e o punhal, estes definharão até a morte (se não do corpo, porém da alma) e nos seus túmulos ainda escreverão: combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé”!
Que combate, que carreira, que fé, que nada...!
A frase correta seria: enganei a mim mesmo, enganei aos outros, induzi muita gente ao erro, fui um bobão, um pau mandado, acabei os meus dias, minha saúde, minha paz, minha sanidade, minha vida e fui obrigado a dizer que tinha fé para não morrer como indigente...
Num futuro breve o conceito atual de deus será subvertido.
Os evangélicos tem se encarregado disso de forma muito eficaz, tornando banal, ridículo e vulgar tudo aquilo que um dia já fez tremer e por de joelhos toda uma gente primitiva: O conceito de divindade.
Isso de certa forma é bom.
Quando a doença destrói o doente por dentro, ninguém precisa de esforço nenhum para derrubá-lo, pois este definhará por si mesmo.
O ruim é constatar que este fim trágico de deus (e seu conceito) no ocidente, não de dará de forma pacífica, do tipo em que todos tem uma iluminação, deixam suas barbáries e seguem para um novo processo evolutivo.
Ao contrário disto, o delírio coletivo em nome de deus fará com que centenas de milhares pessoas sofram ou façam umas as sofrerem tentando provar quem tem o rito ou chefe religioso “mais fodão” como fora no passado. Somente depois de uma desgraça econômica, moral ou financeira, ou somente depois de muito sangue derramado é que o “povo de deus” consegue parar para refletir o que fizeram. Nesta hora dá pra resetar tal conceito deixar que um outro menos tendencioso e mais realista ganhe espaço.
Até lá previnam-se.
REVEJAM SEUS CONCEITOS.
Saúde e Sanidade à Todos!
Texto escrito em 22/5/22
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.