Mestres - Espaço - Grandes Escritores
Tem muitos escritores e poetas que escreveram e que escrevem muito bem e cada qual com o seu jeito e estilo literário. Alguns convencionados e cultuados como Mestres e outros classificados como Grandes Escritores. Percebe-se que vez ou outra, Mestres e Grandes Escritores-Poetas são colocados no mesmo pedestal da grandeza, conceituados como Sábios. Mas, como leitor possuidor de modestos conhecimentos e conteúdo literário, creio que há um espaço entre os considerados Mestres e os classificados como Grandes Escritores.
Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (20/08/1889 - 10/04/1985) tem uma frase muita sábia: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Como diz Paulo Kretly em seu artigo: É curioso notar que a poeta de Vila Boa de Goiás não diz ensina o que sabe, mas, sim, transfere. Quem transfere o que sabe não está preocupado em dar lições, mas em partilhar. Pessoas assim não fazem questão de ser admiradas, fazem questão de ser úteis. Ao transferir o que sabem, elas não estão impondo suas crenças, seus métodos e seus valores aos demais. Os que transferem o que sabem reconhecem e respeitam esse direito, pois entendem que nenhum conhecimento pode ser verdadeiramente assimilado e colocado em prática sem antes ser digerido e elaborado por aquele que o recebe. ...
Minha consideração de GRANDE é onde a minha "leitura" se identifica um tanto mais com o saber e experiência de vida que alguns Grandes escritores transferem para / aos seus leitores. Na prática, para mim, a forma de captar as expressões sensíveis dos elementos que circulam pelo exterior e interior, significando assim uma certa identificação de leitura das variedades dos instantes, das experiências e das expectativas de vida que alguns Grandes escritores transferem para os seus textos.
Sou mais os GRANDES escritores da simplicidade ou até pureza de Quintana e Bandeira; dos amores de Cecília Meireles; de certos versos cruéis de Lygia Fagundes Telles; do Sacarmos de Paulo Leminski; das sombras curitibanas de Dalton Trevisan; da doce naturalidade de Cora Coralina... do que os MESTRES de alguns "tons" melancólicos ao estilo Pessoa ou da exploração das dores-carências das intencionalidades suicidas ao jeito Espanca.
Enfim... Cada qual com o seu gosto e preferência literária. Mas considero alguns Grandes Escritores, um tanto mais realistas e objetivos do que alguns Mestres.
Origens Lessa, em seu O Feijão e o Sonho, disse que: "num país de analfabetos, a poesia é uma atividade sem qualquer compensação financeira". Poucos escritores brasileiros gozaram e viveram apenas da compensação financeira de suas obras. Não sou nenhum crítico literário e nem tenho conhecimentos e competência para a crítica, mas as vezes, ao ler alguma página no meio de um livro de escritores considerados Mestres, custa-me a aceitar se foi mesmo tal mestre que escreveu tal página. Talvez, aqueles poucos escritores que viviam dos rendimentos e da compensação financeira de seus escritos, embalados pelos compromissos de prazos das editoras, se deram ao "luxo" de escreverem tais páginas, que para mim, foge do "culto" a imagem de Mestre.
Há um certo culto e convenções para a consideração de Mestres e de classificações a imortais como muitos que se iluminam nas brasas das fogueiras das "comerciais" vaidades que há na ABL.
Enfim... Admiro e considero alguns GRANDES Escritores, e, caetaneando:
... a língua de Camões, dores e furtem cores como camaleões, do Pessoa na pessoa. Gosto mais É de sentir minha língua (leitura) roçar na língua (linguagem livre contemporânea poética objetiva simplistas enigmáticas e realistas) das obras dos Grandes Escritores.
Creio que o vocativo sincero da poesia não só está no papel, também está nas variadas formas de expressões artísticas, como numa tela; numa canção; na performance da bailarina; no triste sorriso do palhaço de circo; nos gestos do ator de teatro...
Poesia está também na vida. Nesse mundo individualista e competitivo, dos porquês é assim e dos porquês tornou-se assim, poderia dizer que a vida é um Poema. E, da sobrevivência, o que fazemos e o que deixamos de fazer, as ações e atitudes do "individual", das máscaras que se usam, das aparências, dos gêneros e personagens que se representam, são manifestações poéticas / poesias do viver.
Mas, creio que o interior do ser "individual" tem consciência do que realmente SÃO e ESTÃO. Resta cada Ser conhecer seus limites e até aonde pode ou poderão chegar. Do frustrado ao vitorioso... do melancólico ao romântico... do culto a dor e do sofrimento ou ao culto da harmonia e da felicidade... da servidão e prisão as crenças ou a liberdade das curiosidades e seus questionamentos... do apego a falsidade e manejo de suas mentiras ou a prática da sinceridade e também da conduta das duras verdades... da aproximação, amparo e apoio ou da distância, arrogância e desconsideração... dos passos maiores do que as pernas ou da medida certa dos cumprimentos do aperto de mãos... Cada um é que colocará o tempero, tom e o ritmo na poesia do seu viver poema Vida.
Aninha e suas pedras (Cora Coralina, Aninha da Ponte da Lapa)
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas
Recria tua vida, sempre, sempre
Remove pedras e planta roseiras e faz doces
Recomeça
Faz de tua vida mesquinha
um poema
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir
Esta fonte é para uso de todos os sedentos
Toma a tua parte
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede
Há escritores que possuem a excelência natural das letras que fluem aos sentidos do leitor e que fincam como uma cárie nos dentes das engrenagens dessa linha de montagem das aparências das realidades do "viver".
Tudo daquilo num todo, total num tal. Um quilo de sonhos, um pouco de sal...
Aos Grandes Escritores, minha admiração.