Já vi caminhos que mais pareciam extraídos de contos de fadas. Simples, com cheiro de terra molhada, flores silvestres (a lantana é de longe a minha preferida, me lembra minhas caminhadas na infância quando voltava com um monte delas pelos bolsos do vestido, mãos, cabelos) são flores de beira de estrada de terra, lindas, e mudam de cor com o passar do tempo. São flores tímidas e pequenas, longe dos poderes extravagantes das orquídeas ou a elegância das rosas, não exalam o aroma entorpecedor do jasmim mas tem uma variação apocalíptica de cores! Sobreviventes do engenho impiedoso do tempo, dotadas de hastes que suportam ventos, e apesar de tão delicadas as suas flores minúsculas, contrariam até mesmo os temporais. São como as últimas quimeras nesse mundo, erguem-se desembaraçadas do catálogo pomposo das floriculturas, criaturas simples e refugiadas entre matos.
Já chorei diante de muitos caminhos! Alguns (verdadeiros ensaios do paraíso), obras mescladas de precipícios, ondulações, cores e cheiros, curvas e espelhadas em âmbar pelo sol. Caminhos que nos aproximam da existência de Deus, do divino, ainda que a vida nos pareça um imenso abismo para o futuro. Caminhos protegidos do tom cinza dos prédios, dos ares tóxicos da modernidade, da poluição sonora e visual das grandes cidades, e inteiros porque esquecidos (e salvos) das massas.
Alguns caminhos parecem revelar os segredos dos céus (falo sobre os subtraídos das bíblias), o céu nosso de cada dia, o de cada um de acordo com as florações de seus pensamentos, ou ficções... Caminho peregrino, forjado pelo tempo e confiado às estações. Diante deles, contra o que sobrou de mim (vindo das esferas da culturalização) há o choro porque todo caminho é recomeço (e outras epifanias).