Sem padrão.
Existem dores. E existem curas.
Nem tudo pode curar uma dor. E, às vezes, a dor é uma cura.
A dor é uma cura quando o que se sente é maior do que a dor vindoura. Fisicamente, simples de explicar, quando nos conflitos primórdios da humanidade, algum membro do corpo dos soldados era gravemente afetado por um artefato, ou um estilhaço. Logo o médico (ou figura semelhante) vinha, fazia uma breve análise do caso clínico e decidia pela amputação. Em uma época em que não havia anestesia. A vida em detrimento de um membro do corpo, apesar da dor.
Psicologicamente, quando estamos de luto. Uma tristeza imensa que jamais irá reparar a perda de alguém querido. É uma dor permanente, que tem que ser encarada para superar a dor da perda. O luto, geralmente, é mais doloroso que a perda, que a morte, que o rompimento de afeto. É a cura para a dor da perda. A vida que segue, apesar da dor.
Afetivamente, a distância cura a decepção. A dor da distância, de não ter mais contato, de se afastar de quem tanto a gente gosta, de quem fez parte de planos, de quem nos fez criar expectativas, de quem fazia a gente perceber o mundo com outros olhos, é maior que a decepção de ter entregue a outrem um sentimento tão nobre, que é de dentro para fora, que independe de ações, de fatos, de retribuição... não requer nada em troca. A vida nos confunde, apesar de saber que é preciso seguir em frente.
O que brota dentro de cada um, e dói a partir da ideia de que não terão mais uma caminhada a dois, é imenso. É sublime, é nobre, é ímpar. A dor rompante não é maior que a dor da distância, do desprezo, da repulsa, do aprendizado solo, do retorno à origem, da solitude; ou solidão. E, assim como uma amputação, assim como um luto, essa dor percorre cada milímetro, cada ponto, cada poro, cada tecido, cada nervo do corpo e cura a sensação de morte, de desespero, de tolhimento, de decepção. É isso. Decepção. Bem que diziam. Quando não mata, ensina a viver.