È paradigma incrustrado no inconsciente coletivo, portanto um arquétipo, segundo CG Jung, que a morte é o pior dos males. Mesmo para quem “acredita” em vida após a morte, ela parece ser muito pouco atraente, vaga, sem substância, pouco consciente, sem propósito definido. É como se os “restos mortais” que não sucumbiram adentrassem um mundo indefinido onde já não mais se exerce o controle sobre a existência.

 

Do ponto de vista religioso dogmático, este controle é exercido por alguém cujo julgamento dos atos de cada um na Terra irá determinar seu destino. O que foi plantado será agora colhido. É a justiça divina acertando contas, de acordo com a maneira como a dádiva do livre arbítrio foi exercida por cada um durante a vida na Terra. Do ponto de vista prático, a morte deixa saudade, lacunas, carências, e muita dor. Muitas vezes ela surpreende, sem que nada se possa fazer para preveni-la ou para prevenir os efeitos arrasadores causados aos que ficaram.

 

E o instinto de sobrevivência, característica de todos os animais, como um esforço de perpetuação da vida, imposto pela própria natureza, nos faz fugir a qualquer custo da morte. O Criador não poderia fazer da morte uma atração, sob pena de seu projeto de evolução no plano terreno ser absolutamente inviável. Daí o apego à vida. Não somente à própria, mas a de todos aqueles com quem de alguma forma nos relacionamos, pois a morte do outro nos lembra a inevitabilidade da nossa própria.

 

A polêmica que ronda assuntos como a proibição do aborto e da eutanásia, a manutenção perpétua do coma, e outros na periferia entre a vida e a morte, tem como fundamento o princípio de que o valor mais elevado no cuidado humano é a manutenção da vida física, pois a morte é o único desafio que não tem solução.

 

Vista desta forma, a vida se passa dentro de uma bolha, muitas vezes acolhedora, provedora de conforto a quem souber ser bem-sucedido. Com enorme potencial de encantos e prazeres, basta buscá-los com esforço e persistência para ser feliz, pois felicidade é o alcance dos encantos e prazeres que a bolha da vida pode oferecer a quem sabe perseguir e encontrar seus propósitos. Os efeitos colaterais da busca frenética pela felicidade assim definida, estão cada vez mais sob controle da ciência, com o avanço da medicina, dos laboratórios, dos hospitais, das terapias mentais, e dos medicamentos, já hoje em dia ao alcance de uma parcela crescente da população através dos planos de saúde.

 

Para quem vive o embalo ascendente da ciranda econômico-social, dentro da bolha, a morte assombra! Para quem pouco ou nada tem nesta vida, a não ser a realidade do sofrimento, a morte, no mínimo assusta. No extremo da angústia e do martírio, a morte pode ser desejada e, até mesmo, auto impingida, como último recurso para livrar-se dos males da existência. Rompe-se a bolha para lançar-se ao desconhecido! Pois ele não pode ser mais atroz que a realidade conhecida num cenário de penúria extrema. Mas, qualquer que seja a circunstância, a morte tem a ver com o desconhecido. E o desconhecido amedronta.

 

Somente uma abordagem amplificada, que admita não só a vida após a morte, mas também a morte como parte da vida e de uma Existência Infinita pode retirar dela a capa preta, o capuz e a foice, vestindo-a com o manto branco e o cajado do amor, da sabedoria e da benevolência. O fato de nossos sentidos, nossa razão e nossa consciência primitiva não conseguir enxergar além da bolha não significa que ela seja o único contêiner de vida. A bolha da vida é uma ilusão do ego, do eu inferior, único instrumento disponível neste estágio da evolução humana para a avaliação da realidade. A visão além da bolha somente é possível pela intuição, cuja sede física é a glândula pineal, cuja sede etérica é o chacra frontal - o terceiro olho - e cuja fonte é a Mente Universal.

 

Vida e morte não são antônimos, como querem os dicionários. Vida é processo, morte é evento, assim como o nascimento também o é. A morte é um evento que indica o fim de um processo, para início de outro. Por mais que isso possa desagradar os tropofóbicos, nenhum processo no Universo é linear e contínuo. Os processos são todos espiralados e ascendentes, cujos pontos se movem em transformação permanente a cada salto quântico do Universo.

 

Falar em vida após a morte implica em considerar-se o contexto limitado na esfera da vida terrena, de onde apenas podemos vislumbrar a imagem virtual de algo sobrenatural além da realidade da vida. A Vida é eterna, não importa em que densidade ou dimensão a vivamos, num corpo concebido e formatado com a matéria-energia da respectiva dimensão. O fato de a vida chegar ao termo de sua experiência em uma densidade ou dimensão, não significa que a vida em si terminou, mas sim que ela se transformou e, com ela, permanece a consciência, em permanente evolução. A vida é mais que sua forma na Terra. Ela se expande infinitamente no Universo, pelo Amor, pela Sabedoria e pela Vontade do Criador.

 

Que enorme motivação, existir! Saber do potencial infinito de nosso crescimento em direção à Fonte. Saber de nossas inúmeras jornadas já vividas e ainda por viver, em paragens jamais imaginadas no Cosmo infinito. Imaginar o potencial de habitar um corpo de Luz, capaz de mover-se na Tela Cósmica instantaneamente, de criar como faz o Criador, de amar como ama o Criador... Quando o destino de nossa evolução nos fizer atingir estes patamares, como já o atingiram outros à nossa frente, com certeza o conceito de felicidade terá se transformado drasticamente.

 

E a morte, então, se dará a cada pulso quântico da Tela Cósmica, matriz da criação, instante atemporal em que um novo nascimento também ocorrerá, em um ponto mais elevado da Espiral Evolutiva, morte e renascimento instantâneos e conscientes, que te fará flutuar entre a Criação e a Fonte e reconhecer-te em franca corrida para o ponto mais alto desse movimento, na aventura cósmica que o Criador definiu como Seu projeto para Sua criatura, na qual, de todas as formas está presente!