camadas
só parte#
A beleza não está no hoje. O que deixo de esconder é menos do que tenho a mostrar. Acumulo camadas de mim dissolvidas entre o oriente e o ocidente. Não oculto a beleza do tempo. A minha pele é um tabuleiro. Desprezo o que sei quando começo a chover. Desconheço o que há para sentir. As pernas se cruzam para afastar algo em movimento. Sou parado no que deixado para trás. Carteira de identidade. Cartão do banco. Classificação livre para maiores de idade. Cada camada é um pouco de tudo e muito de nada. Mesmo que eu fosse Galeano, McCartney, Trotsky ou Pamuk, não teria inventado Jerusalém ou Cairo. Mesmo encarcerado em Teerã seria julgado sem proezas. Vejo com clareza a humanidade. Somos camadas entre íntimo, obsceno e animalesco. Eu vivo num ambiente controlado. Assim, regulo a temperatura do ar condicionado. Prefiro quente do que gelado. Somos a busca da paz com a uma arma na mão. Somos um passado com a cura do incurável. Somos um antepassado na presença do hoje. E daí? Camaradas foram bombardeados e poucos são os que sabem os nomes de nós. A beleza está entreposta e sobreposta numa porção de camadas.