A baleia e o vaso de petúnias: uma análise do livro “O Guia dos Mochileiros das Galáxias”
No livro "O Guia dos Mochileiros das Galáxias" de Douglas Adams, há uma cena na qual descreve-se dois seres (um animado e outro inanimado) caindo de uma altura consideravelmente razoável; uma baleia, chamada pelo narrador de Charlotte e um vaso de petúnias.
A principio, o autor descreve os pensamentos de Charlotte, que percebe-se que contém a ingenuidade por desconhecer o mundo ao seu redor. Ao cair em direção ao chão, a baleia pondera sobre a sua existência de maneira inocente, dirigindo-se ao leitor: “Com licença, quem sou eu? Olá? Porque eu estou aqui? Qual é o meu propósito nesta vida? O que eu quero dizer com ‘quem eu sou’? ”. Além disso, todas as coisas são completamente novidade e por isso sente a necessidade de começar a dar nome a elas. Assim, nomeia o "mundo", a sua própria "barriga", a "calda " e o "vento". Contudo, logo em seguida, há uma quebra de expectativa.
“E puxa! Que é essa coisa se aproximando de mim tão depressa? Tão depressa. Tão grande e chata e redonda, tão… tão.. Merece um nome bem forte, um nome tão… tão… chão! É isso! Eis um bom nome: chão! Será que eu vou fazer amizade com ele? E o resto – após um baque súbito e úmido – é silêncio.” (ADAMS, Douglas.)
Nesse âmbito, observa-se que a baleia caí no chão, sem o conhecimento da sua própria queda. Ela abandona-se no desconhecido e acaba caindo nele. Por outro lado, o vaso de petúnias apenas tem um pensamento:
“Curiosamente, a única coisa que passou pela mente do vaso de petúnias ao cair foi: "Ah, não, outra vez!” Muitas pessoas meditaram sobre esse fato e concluíram que, se soubéssemos exatamente por que o vaso de petúnias pensou isso, saberíamos muito mais a respeito da natureza do Universo que sabemos atualmente.” (ADAMS, Douglas.)
Logo, percebe-se na descrição que o vaso de petúnias aparenta estar acostumado com aquela ação de cair. Paralelamente, pode-se fazer relação às ações que envolvem esse objeto no cotidiano das pessoas. Por exemplo, pode-se remetê-lo a momentos de infância, nas quais muitas vezes as crianças estão brincando e acidentalmente o quebram. Por esse motivo, o autor descreve um vaso apostado por estar caindo, visto que está presente na sua natureza o ato de cair.
Comparando ambas as figuras, pode-se metaforicamente analisar o modo como as duas lidam com a fatalidade da queda: a baleia, embora seja ingênua para compreender que está em queda livre, aprecia cada momento final procurando entender os detalhes do seu redor e dela mesma, vendo a morte como uma “grande amiga”; e, em contrapartida, o vaso de petúnias caí descrédulo e consciente de que não sobreviverá, enxergando a morte como uma ação insignificante.
Rafael Ranieri (2016) questiona em seu artigo “Uma visão existencialista de O Guia do Mochileiro das Galáxias!”, se “estariam elas focando na coisa errada – e mais importante, estamos nós? Nós podemos mudar o que quisermos ou quem quisermos ao mudarmos nossas escolhas ou estamos presos a um determinismo fatalista maior do que nós?”.
Você está sendo a baleia ou o vaso de petúnias? Está vivendo aproveitando tudo que a vida pode te oferecer e sentindo-a, sem ver a morte como um fim... ou está vivendo pensando na grande queda?
<Referências Bibliográficas>
ADAMS, Douglas. O guia do mochileiro das galáxias. São Paulo: Arqueiro, 2010. I v, 156. p. Acesso em: 23/03/2022.
RANIERI, Rafael. Uma visão existencialista de O Guia do Mochileiro das Galáxias! Formiga Elétrica, 09 de ago. de 2016. Disponível em <https://formigaeletrica.com.br/livros/visao-existencialista-guia-do-mochileiro-das-galaxias>. Acesso em: 23/03/2022.