A SOLIDÃO DA CIDADE
Hoje a gratidão e os sentimentos bons foram casas com portas fechadas. Nem pelas janelas se pôde notar resquícios de sorrisos ou demostrações de contentamento. Portões celados por correntes e cadeados reforçados sem quaisquer condições de se gozar conquistas, mesmo que míseras.
Uma cidade com prédios escuros e chorosos, muros em lamentações, candeeiros acanhados e recolhidos em seus mastros cimentícios, a penumbra que chega de mãos dadas com a fria neblina enturvece os becos e vielas solitários embalados pelo cantar do corvo que abriga o alto do jequitibá do meio da praça.
Alguns poucos enfadonhos e lentos passos a vagar pelas ruas contemplando o marasmo que se instalou pelo povoamento respirando o mesmo ar contaminado que atravessa as ruas de ponta a ponta.
Os poucos viventes errantes que vagam pelas calçadas em bloquetes são moradas de um alarido de desânimos, tristezas, desesperanças e medos. Não há um ambiente em paralelo no qual se habita almas coloridas e sonhos vívidos. Os passos seguem cada vez mais cansados e miúdos pra uma desconhecida direção mergulhando no breu cada hora mais denso e afogam-se pelos fios da madrugada, perdendo o alento e pondo fim a caminhada de horrores.