Breve introdução à Filosofia

Sempre houve, no ser humano, uma atração e encantamentos pela questão do mistério. Por tudo aquilo que ele não conseguia compreender. As Cosmogonias, isto é, narrativas fantasiosas contendo histórias ou mitos sobre a criação do universo e o sentido da vida, foram as primeiras tentativas de explicação destas questões.

A partir do momento em que, para o homem, essas narrativas não mais passaram a dar conta de explicar a realidade, pode-se dizer que a história da filosofia começou. Bem como a da Cosmologia, que é a tentativa de explicação através do uso da razão e da lógica.

É difícil precisar cronologicamente quando começaram as Cosmologias, mas estudiosos e especialistas estabeleceram como ponto de partida os séculos vi e v a.C. Período que testemunhou o nascimento de homens como Sócrates ( Grécia), Buda ( Índia) e Lao Tsé (China). Tomou forma um pensamento mais acessível à nossa compreensão, que foi também marco de uma etapa que levaria o homem a procurar o sentido do mundo e da vida na própria realidade, na própria natureza. Foi o momento em que os deuses foram perdendo seu papel como origem de todas as coisas, e que o raciocínio passou a ocupar um espaço antes destinado ao mito.

A filosofia tem algumas categorizações importantes, como por exemplo, a entre pré e pós socráticos. Os filósofos pré socráticos fizeram parte do primeiro período da filosofia grega, o antigo. Desenvolveram suas teorias dos séculos vii ao v a.C. e receberam esse nome pois antecederam Sócrates.

Buscavam nos elementos da natureza as respostas sobre a origem do ser e do mundo. Eram chamados “ filósofos da Physis” ou “filósofos da natureza”. Foram os responsáveis pela transição da consciência mítica para a consciência filosófica.

Como exemplos de pré socráticos, temos Tales de Mileto ( 624 a.C.- 548 a.C.), que acreditava que a essência de todas as coisas estava na água. Foi considerado o primeiro filósofo ocidental, já que existiu uma tradição filosófica oriental que possivelmente antecedeu a do ocidente.

Heráclito de Éfeso ( 540 a.C.- 476 a.C.), que foi considerado o “ Pai da Dialética”, a concepção de que os contrários se complementam. “ Há uma harmonia de tensões contrárias, assim como a do arco e da lira”. “ Deus é dia e noite, inverno e verão, saciedade e desejo”. Encontramos, no Taoísmo, linha filosófica chinesa, um paralelismo com esta visão. Eles nos trouxeram os conceitos de Yin e Yang (feminino/masculino, escuro/claro, sombra/luz), princípios estes que coexistem e se complementam. Heráclito também explorou a idéa do Devir ( impermanência, fluidez das coisas). “ Não se pode pisar duas vezes no mesmo rio”. Para ele, o princípio de todas coisas estava contido no elemento fogo. Sua filosofia é muito bonita e profunda, vale a pena conhecer.

Tivemos, também, o grande Pitágoras de Samos ( 570 a.C.- 497 a.C.), cujos números foram os principais elementos de estudo e reflexão, do qual se destacou o “ Teorema de Pitágoras”. Inclusive foi ele quem cunhou pela primeira vez o termo Filosofia, que significa Filo ( amor) ao conhecimento, sabedoria ( sofia). Quando seus contemporâneos afirmavam que ele era um sábio, ele respondia que não era, mas que era um amante da sabedoria.

A filosofia pré socrática teve seu fim com a mudança do pensamento que tinha como foco a natureza. Com a intensificação da vida pública, as atenções dos filósofos passaram a se voltar para a política e a atividade humana. Esse novo período da filosofia, conhecido como Clássico, teve no filósofo ateniense Sócrates ( 470 a.C.- 399a.C.) seu marco de mudança e foi também chamado de período antropológico. Sócrates foi considerado um dos fundadores da filosofia ocidental que através dele começou a ganhar uma metodologia e sistematização mais consistentes.

O método socrático era a Maiêutica, que significava não mais do que a interrogação. Por isso, esse filósofo era conhecido como “ o homem que perguntava”. Este pensador foi grande por vários motivos. Entre eles, sua humildade. “ Só sei uma coisa. É que nada sei”. Ele tinha essa atitude de encantamento e admiração por toda realidade sensível, como que a transformar-se num menino. Ingênuo, inocente, puro, maravilhado pelos mistérios do mundo. Atitude essa, que, a saber, constitui a própria essência do filosofar. Estava sempre com os jovens, que tinham espírito aberto e receptivo. Conquanto que os mais velhos quase sempre perderam essa disposição e tornaram-se céticos e fechados a aprender.

Através de perguntas e respostas, Sócrates passava a sucessivas críticas interrogativas sobre estas últimas, fazendo com que as primeiras definições dadas passassem por sucessivos aperfeiçoamentos até ficarem as mais exatas possíveis. Não se afirmava, com isso, que chegavam à verdade absoluta sobre uma questão, mas que ao menos ficavam bem mais próximos disso.

Numa Atenas cuja corrupção de valores morais e políticos tornou-se intensa, causando cada vez mais asfixia à democracia até então conquistada, Sócrates, o questionador, acaba julgado e condenado a beber cicuta, um veneno mortal. Foi acusado de corromper os valores da juventude. Condenação esta que ele recebeu de forma digna e corajosa, recusando-se a abrir mão de suas convicções.

Platão ( 428 a,C.- 347 a.C.), seu maior discípulo e grande expoente da filosofia, descreveu os últimos momentos de seu mestre na obra chamada Fédon. Essa descrição foi um dos fragmentos mais belos e sublimes que a literatura jamais conheceu.

Espero com esse texto ter conseguido contextualizar, ainda que de forma genérica, como surgiu a Filosofia, o que ela significa, bem como despertar no leitor mais interesse por essa prática, tão importante ao nosso viver.

Leonardo Alvim Corrêa

Referências bibliográficas:

Filósofos Pré Socráticos. Pedro Menezes. Disponível em www.todamateria.com.br

Fundamentos de Filosofia. Lições preliminares. Manuel Garcia Morente

História da Filosofia. Will Durant.

História da Filosofia. Bernardette Siqueira Abrão.

A Harmonia oculta. Discursos sobre os fragmentos de Heráclito. Bhagwan Shree Rajneesh.