A Filosofia Moderna: implicações que resultaram em grandes transformações sociais
A Filosofia Moderna, século 15, trouxe consigo inúmeras implicações que resultaram em transformações significativas. O Renascimento, sem dúvida, foi o grande exemplo dessa transição da Idade Média para a Moderna, cujo desenvolvimento influenciou e, ao mesmo tempo, foi influenciado por acontecimentos históricos que mudaram radicalmente as estruturas sociais, bem como a mentalidade e o comportamento do homem medieval. Perante essas inúmeras mudanças, o pensamento filosófico dos séculos 16-17 não permaneceu o mesmo. Filósofos como Descartes, Malebranche, Spinoza, Leibniz (na dimensão do racionalismo filosófico); Locke, Hobbes, Berkeley, Hume (no âmbito do Empirismo) constituíram não somente as bases da Filosofia Moderna, como também a origem dos debates que hoje são consagrados pela “Teoria do Conhecimento” – ou “Epistemologia”, como também é conhecida.
O termo racionalismo vem do latim ratio – que pode ser traduzido como “razão” –. No contexto da epistemologia, essa palavra designa a doutrina que atribui exclusiva confiança na razão humana instrumento capar de conhecer a verdade (COTRIM; FERNANDES, 2017). Desta forma, o conhecimento só se é possível adquirir através da razão. Segundo o racionalismo, um conhecimento só merece realmente esse nome se for necessário e tiver validade universal (HESSEN, 2000, p. 48). René Descartes (1596-1650) é considerado um dos principais racionalistas e o fundador do Filosofia Moderna, pois trouxe com seu método racionalista transformações significativas para o pensamento medievo. Com Descartes, a filosofia recebe uma colocação crítica e gnosiológica: o que se quer verificar em primeiro lugar é o valor do conhecimento humano” (MONDIN, 1982, p. 62). Ao invés de investigar a natureza empírica das coisas particulares – que se fundamenta do uso dos sentidos –, o principal é conhecer o potencial da razão:
Para esse filósofo, "se alguém quiser investigar a sério a verdade das coisas, não deve escolher uma ciência particular: estão todas unidas entre si e dependentes umas das outras; mas pense apenas em aumentar a luz natural da razão, não para resolver esta ou aquela dificuldade de escola, mas para que, em cada circunstância da vida, o intelecto mostre à vontade o que deve escolher. Desta forma, para a investigação sobre o conhecimento/ verdade das coisas, o pesquisador dever abusar de uso da razão, sem a qual há verdades.
Assim, para Descartes
Em breve ficará espantado de ter feito progressos muito superiores aos de quantos se dedicam a estudos particulares, e de ter obtido não só tudo o que os outros desejam, mas ainda coisas mais elevadas do que as que podem esperar (DESCARTES, 1985, p. 13).
Nesta passagem, é justamente trazido à baila a grande importância dada pelo filósofo à razão na busca da Verdade. A partir da definição do seu método, a preocupação de Descartes era encontrar um ponto de partida indubitável e evidente para o conhecimento. Para tanto, utilizou-se da chamada “dúvida metódica”: colocou tudo sob o filtro do questionamento (sentidos, senso comum, verdades do raciocínio, argumentos de autoridade etc.) Para Descartes, tudo estava passível de duvidar menos a própria dúvida. Baseado em Platão, o pensamento de Descartes leva em consideração que o homem é composto de duas substâncias distintas: a) Res Cogitans: alma/ pensamento; b) Res Extensa: corpo/ matéria. Este é o chamado dualismo psicofísico cartesiano, uma vez que separa alma e corpo como substâncias distintas. Cabe à alma (razão) a função de reger as paixões do corpo. Desta forma, a fonte do conhecimento para Descartes não decorre da corporalidade, muito menos das sensações, mas da ideia distinta que o sujeito tem de si mesmo como ser pensante. É a partir da certeza do cogito (res cogitans) que o intelecto humano pode, então, chegar ao conhecimento de duas outras substâncias: res infinita (Deus) e res extensa (matéria).
Diferentemente do racionalismo que busca na razão explicações para o mundo, o empirismo tem na experiência sensível sua fonte de explicação do conhecimento do homem e da natureza. O termo empirismo tem origem no grego empeiria, que significa “experiência”. O empirismo, enquanto movimento filosófico, defende que a origem das ideias é proveniente da experiência ou das percepções sensoriais, não existindo, assim, nada que justifique a possibilidade de ideias inatas. Portanto, nada chega ao intelecto sem passar, anteriormente, pelos sentidos. “Segundo o empirismo, a razão não possui nenhum patrimônio apriorístico. A consciência cognoscente não retira conteúdo da razão, mas exclusivamente da experiência” (HESSEN, 2000, p. 54).
Um dos expoentes do Empirismo, JOHN LOCKE (1632-1704) defendia que a não existência de ideias inatas na mente do homem. Diferentemente de Descartes que defendia o inatismo, Lock dizia que qualquer conhecimento era provido das experiencias.
Defendia que
Não tem o poder, mesmo o espírito mais exaltado ou entendido, mediante nenhuma rapidez do pensamento, de inventar ou formar uma única nova ideia simples na mente, que não tenha sido recebida pelos meios antes mencionados; nem pode nenhuma força do entendimento destruir as ideias que lá estão [...]. Gostaria que alguém tentasse imaginar um gosto que jamais impressionou seu paladar, ou tentasse formar a ideia de um aroma que nunca cheirou; quando puder fazer isso, concluirei também que um cego tem ideias das cores, e um surdo noções reais dos diversos sons (LOCKE, 1999, p. 63-64).
Com efeito, tecia crítica ferrenha ao racionalismo, uma vez que defendia que a mente humana é uma tábua rasa, na qual o conhecimento é preenchido com a vivência do homem. Em suas críticas dizia “Existem apenas duas fontes para as ideias: 1) A sensação, cujo estímulo é externo, resulta da modificação feita na mente por meio dos sentidos; 2) A reflexão, que se processa internamente, é a percepção interna que a alma tem daquilo que nela ocorre. Portanto, a reflexão fica reduzida à experiência interna do resultado da experiência externa produzida pela sensação."
Após abordarmos questões relevantes sobre o Empirismo e Racionalismo, podemos dizer que tais correntes têm suas razões naquilo que defendem. Exerceram e exercem grande influências na Filosofia moderna, bem como também têm suas limitações do ponto de vista filosófico, pois nada é imutável, principalmente em si tratando de Filosofia e Teoria do Conhecimento.
Por Manoel Serafim
Grad. Letras, Filosofia,
Esp. Ciência Política