Estudo da Etimologia da L~ingua Portuguesa

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº101.

Ombro originou-se do grego ômos e designa a espádua, a parte superior do braço. Está em muitas expressões da língua portuguesa, como ombro a ombro. Já rolar veio do francês rouler, inicialmente com o sentido de rodar e aos poucos ganhou múltiplos significados.

Galho: do latim vulgar galileus, por comparação com gallea, excrescência das árvores. Está presente na expressão “quebrar o galho”, indicando solidariedade e ombro amigo, mas vem ampliando os significados entre os jovens e agora inclui também o sexo sem amor, apenas com amizade, recuperando o antigo conceito de amizade colorida.O tema está presente no filme Sexo sem Compromisso, em já em cartaz, e em Amigos em Benefícios, com estreia prevista para agosto. Com algumas variações, o tema já estava no filme espanhol Abre los Ojos e no norte-americano Vanilla Sky.

Marfim: do árabe azm al-fil, osso de elefante. Substância branca, fina e transparente, de que são feitas as presas ou defesa do elefante. Aparece na expressão Torre de Marfim, símbolo de pureza herdada da cultura judaica, presente numa das muitas saudações da Ladainha de Nossa Senhora. Em literatura foi criada por Charles Augustin Saint-Beuve (1804-1869) para criticar o isolamento voluntário de um colega francês, o poeta Alfred de Vigny (1797-1863), consolidando-se desde então como metáfora de quem se afasta do convívio social por egoísmo.

Ombro: do grego ômos, pelo latim umerus, escrito também humerus. Designa espádua, a parte superior do braço, conhecida também por lacertus no latim clássico. Como metáfora, veio a indicar o que está no alto, como na expressão úmeros oneratus Olimpo, vergado pelo Olimpo às costas, isto é, com o mundo nas costas. Ombro está presente em numerosas expressões de nossa língua, de que são exemplos: ombro a ombro com ombro, indicando solidariedade e até intimidade; e chorar no ombro: contar mágoas a pessoa amiga, lamentar-se fazer confidências. Já dar de ombros designa abandono, descaso.

Rolar: do francês rouler, escrito roueler no francês antigo, com influência de roue, roda, do latim rota. Por isso, teve o inicialmente o sentido de rodar, girar, e aos poucos foi ampliando os significados. A pedra rola morro abaixo, isto é roda e avança. Outro significado obtido por metáfora, é rolar uma dívida, prorrogar o vencimento. Rolar de rir é outra expressão em que aparece o verbo com o significado conotativo, pois a pessoa, embora muito alegre, não rolaria no chão como uma pedra morro abaixo. Rolar ganhou também o significado de acontecer: rolou música alta durante toda a festa. Na linguagem de adolescentes e jovens, “rolou” indica que o sexo em encontro, casual ou não, aconteceu. E “não rolou” dá-se quando o encontro não chegou às preliminares ou delas não passou.

Undécimo: do latim undecimus, décimo primeiro, número ordinal do cardinal onze, umdecim, em latim. O feminino undécima deu origem a um conhecido engano dos cristãos medievais, que criaram as santas chamadas 11 000 Virgens. Na verdade, houve dois erros fatais conjugados: de tradução e má interpretação. A santa era uma só, que era virgem e tinha apenas 11 anos quando foi executada pelos hunos. Misturada a outra santa, Úrsula, cujas 11 000 mil virgem que a seguiam foram decapitadas e ela própria morta com uma flechada, consolidou-se como canonização lendária desde o século V, mas foi retirada do índex dos santos em 1969. Não eram 11 000 as virgens, eram meninas de 11 anos.

Vinhateiro: de vinhático, do latim vineaticus, da vinha, do vinhedo, designando o viticultor., fabricante de vinhos. O tema solar e os principais personagens do filme Um Bom Ano, de Ridley Scott, estruturam a narrativa ao redor de um menino que é educado por seu tio e aprende a saborear bons vinhos. Quando adulto, torna-se um executivo de sucesso e não tem tempo para degustações de nada. Um dia ele recebe a notícia de que o tio morreu e deixou a vinha para ele. No Evangelho de São Mateus, a parábola dos trabalhadores da vinha faz alusão à undécima hora, cinco da tarde para os judeus. Um vinhateiro sai à procura de operários para sua vinha. Vai para a porta da cidade às 6 horas, às 9, às 12, às 15 e às 17 horas. Paga a todos eles a mesma quantia. Os primeiros, por receberem tanto quanto os últimos, reclamam, mas o vinheiro argumenta que pagou a todos o que combinou com cada um. Jesus aproveita para dizer que “os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”.

Deonísio da Silva escritor, é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), professor, pró-reitor d Cultura e Extensão da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, e autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados : Para Trás e Contos Reunidos (Editora Le Ya ). Seus livros foram premiados pelo MEC, Biblioteca Nacional e Casa de las Américas. E-mail: deonisio@terra.com.br

Revista Caras

2011

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº101.

Ombro originou-se do grego ômos e designa a espádua, a parte superior do braço. Está em muitas expressões da língua portuguesa, como ombro a ombro. Já rolar veio do francês rouler, inicialmente com o sentido de rodar e aos poucos ganhou múltiplos significados.

Galho: do latim vulgar galileus, por comparação com gallea, excrescência das árvores. Está presente na expressão “quebrar o galho”, indicando solidariedade e ombro amigo, mas vem ampliando os significados entre os jovens e agora inclui também o sexo sem amor, apenas com amizade, recuperando o antigo conceito de amizade colorida.O tema está presente no filme Sexo sem Compromisso, em já em cartaz, e em Amigos em Benefícios, com estreia prevista para agosto. Com algumas variações, o tema já estava no filme espanhol Abre los Ojos e no norte-americano Vanilla Sky.

Marfim: do árabe azm al-fil, osso de elefante. Substância branca, fina e transparente, de que são feitas as presas ou defesa do elefante. Aparece na expressão Torre de Marfim, símbolo de pureza herdada da cultura judaica, presente numa das muitas saudações da Ladainha de Nossa Senhora. Em literatura foi criada por Charles Augustin Saint-Beuve (1804-1869) para criticar o isolamento voluntário de um colega francês, o poeta Alfred de Vigny (1797-1863), consolidando-se desde então como metáfora de quem se afasta do convívio social por egoísmo.

Ombro: do grego ômos, pelo latim umerus, escrito também humerus. Designa espádua, a parte superior do braço, conhecida também por lacertus no latim clássico. Como metáfora, veio a indicar o que está no alto, como na expressão úmeros oneratus Olimpo, vergado pelo Olimpo às costas, isto é, com o mundo nas costas. Ombro está presente em numerosas expressões de nossa língua, de que são exemplos: ombro a ombro com ombro, indicando solidariedade e até intimidade; e chorar no ombro: contar mágoas a pessoa amiga, lamentar-se fazer confidências. Já dar de ombros designa abandono, descaso.

Rolar: do francês rouler, escrito roueler no francês antigo, com influência de roue, roda, do latim rota. Por isso, teve o inicialmente o sentido de rodar, girar, e aos poucos foi ampliando os significados. A pedra rola morro abaixo, isto é roda e avança. Outro significado obtido por metáfora, é rolar uma dívida, prorrogar o vencimento. Rolar de rir é outra expressão em que aparece o verbo com o significado conotativo, pois a pessoa, embora muito alegre, não rolaria no chão como uma pedra morro abaixo. Rolar ganhou também o significado de acontecer: rolou música alta durante toda a festa. Na linguagem de adolescentes e jovens, “rolou” indica que o sexo em encontro, casual ou não, aconteceu. E “não rolou” dá-se quando o encontro não chegou às preliminares ou delas não passou.

Undécimo: do latim undecimus, décimo primeiro, número ordinal do cardinal onze, umdecim, em latim. O feminino undécima deu origem a um conhecido engano dos cristãos medievais, que criaram as santas chamadas 11 000 Virgens. Na verdade, houve dois erros fatais conjugados: de tradução e má interpretação. A santa era uma só, que era virgem e tinha apenas 11 anos quando foi executada pelos hunos. Misturada a outra santa, Úrsula, cujas 11 000 mil virgem que a seguiam foram decapitadas e ela própria morta com uma flechada, consolidou-se como canonização lendária desde o século V, mas foi retirada do índex dos santos em 1969. Não eram 11 000 as virgens, eram meninas de 11 anos.

Vinhateiro: de vinhático, do latim vineaticus, da vinha, do vinhedo, designando o viticultor., fabricante de vinhos. O tema solar e os principais personagens do filme Um Bom Ano, de Ridley Scott, estruturam a narrativa ao redor de um menino que é educado por seu tio e aprende a saborear bons vinhos. Quando adulto, torna-se um executivo de sucesso e não tem tempo para degustações de nada. Um dia ele recebe a notícia de que o tio morreu e deixou a vinha para ele. No Evangelho de São Mateus, a parábola dos trabalhadores da vinha faz alusão à undécima hora, cinco da tarde para os judeus. Um vinhateiro sai à procura de operários para sua vinha. Vai para a porta da cidade às 6 horas, às 9, às 12, às 15 e às 17 horas. Paga a todos eles a mesma quantia. Os primeiros, por receberem tanto quanto os últimos, reclamam, mas o vinheiro argumenta que pagou a todos o que combinou com cada um. Jesus aproveita para dizer que “os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”.

Deonísio da Silva escritor, é doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), professor, pró-reitor d Cultura e Extensão da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, e autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados : Para Trás e Contos Reunidos (Editora Le Ya ). Seus livros foram premiados pelo MEC, Biblioteca Nacional e Casa de las Américas. E-mail: deonisio@terra.com.br

Revista Caras

2011

Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 30/03/2022
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