Não caiba mais, desenredo, na realidade de ninguém. De hoje em diante, no "quer que embrulhe?", caia fora! Depois você se arranja. Não caia mais na armadilha dos livros de autoajuda, pois quem é que te sustenta em toda reflexão proposta? Vai levar a vida sem aceitar o café frio, o sapato que aperta, a roupa que não cabe, o engodo no mercado de coaching. Deus no céu? Mas você na terra! Desperte, se desenterre desse mundo traficante de grilhões. Não caiba mais e funda enfim a sua pátria, desligue a tv, dá um banho nas suas memórias, devem estar com sede, segura um instante a sua vida e vá na frente das caras invisíveis.
Dança no sereno, na lama, no desterro das cicatrizes, entre a chama e a cinza, com o sangue em frevo, em lágrimas, em sorrisos, mas não tema, é muito pior o inferno privado em que te vendem, escravo sociável. Abandone a maré baixa, navios naufragam na superfície das águas, esqueça a bandeira democrática à sombra da miséria que se empenha em sonhar a marcha. Abra-se em flor sobre as marquises enquanto os insetos silenciam entre o ser e não-ser.
Sonhe precipícios mas não se cristalize em fóssil, encarcerado e vítima das linhas retas, carente das estrelas. Tece o passo na trama do instante, e não caiba mais num arranjo infeliz, cultiva o hábito de aspirar a liberdade. E segue.