O PSICÓLOGO COMO PROFISSIONAL DO ENCONTRO
Um psicólogo psicoterapeuta, além de ser um agente que propicia um espaço para o outro se escutar e se transformar, é também um profissional do encontro que estabelece com o consulente ou analisando uma relação de confiança, cujo exercício constante da escuta, da atenção e da fala pode favorecer grandes descobertas e um caminho de autoconhecimento e sabedoria.
É pela dialética da escuta e da fala que a experiência do outro consegue atingir níveis de conhecimentos a respeito do que é ser de uma maneira única e inigualável, haja visto que cada um é um ser singular e único em meio a outros seres humanos, cujas características se torna impossível qualquer estereotipização da vida humana.
Na sua obra "Psicologia fenomenológica existencial: a prática psicológica à luz de Heidegger", Paulo Eduardo R. A. Evangelista traz uma excelente reflexão sobre o papel do psicólogo: "O psicólogo é o profissional do encontro que, assumindo-se como existência, encontra o outro deixando-o ser como existência. Encontrar é ação, modo possível de ser. E toda ação do Dasein só pode acontecer no mundo compartilhado, isto é, em meio ao ente desvelado, entre os demais. Nesse sentido, toda ação, além de ética, é pública e política, isto é, dá-se a ver aos demais, concernindo-os. E a especificidade desta ação é que ela não é técnica, no sentido de produzir algo. Ela está mais para a phronesis, que dá a ver a própria existência. Enquanto tal, realiza o modo de estar com o outro descrito por Heidegger como preocupação antecipadora-libertadora".
Esse deixar ser como existência certamente favorece o manifestação dos conteúdos trazidos pelo analisando, conteúdos esses que nada mais são do que os fenômenos que se mostram à luz de uma compreensão profunda, simpática e acolhedora por parte daquele que está numa posição de terapeuta. É esse mundo com-partilhadado que norteia os rumos do trabalho terapêutico, possibilitando una interação composta de perguntas e respostas, além do próprio desvelamento dos sentidos naquilo que o ser agente-paciente diz de forma tão reveladora.
É claro que a existência já é o próprio fenômeno que traz no seu cerne as possibilidades de ser, sendo os conteúdos expressos nada mais do que os modos de ser dessa existência que transcende a qualquer lógica de controle, manipulação e previsão. É na imprevisibilidade que mora a liberdade para a revelação de uma vivência e para a espontaneidade do diálogo aberto e sincero.
No entanto, fazer a compreensão desse ente, que pode fazer uma reflexão sobre o sentido do seu ser, abre um horizonte para a criação de um vínculo terapêutico onde o em-com-o-outro se torna possível dentro das possibilidades permitidas pelo setting terapêutico. Se a ética do ouvir leva ao respeito pela própria individualidade de um ser singular e único, é o deixar-acontecer o imprevisível, expresso por aquele que se dispõe a ser ouvido e compreendido, uma forma de repensar a liberdade para a propiciação de quem ele é, de como ele é e pode ser, do que busca comunicar e do que precisa exprimir de tão urgente e importante para quem está numa posição de terapeuta e analista.