“APENAS DEDUÇÃO MEU CARO, NADA DE MÍSTICO”!

*Por Antônio F. Bispo

Quem vive o tempo inteiro à apelar para o lado místico das coisas, poderá cedo ou tarde cair em grandes (ou vários) golpes, vindo justamente de onde não se espera que venha. Sua guarda está baixa, sua visão de mundo distorcido e até mesmo quando o perigo é claro, ele considera o aviso alheio como um ato de inveja ou “conselho do capeta para lhe desviar das bênçãos ou dos planos de deus em sua vida”.

Não é preciso ser religioso para viver no misticismo (louco), mas a grande maioria deles vivem lá e fazem da “casa de deus” o lugar de refúgio e retroalimentação de suas fantasias.

Grande parte dos que vivem nesse estado de transe não se dão conta disso e os poucos que perceberam que foram lesados, dificilmente assumirão para si para outro que sofreram danos. A culpa e a vergonham sentem são maiores que sua coragem de comentar o assunto e por isso sofre mais ainda. Por outro lado, há uma equipe fortemente preparada para desmentir qualquer um que deixando o grupo possa dizer os reais motivos pelo qual o fez.

É um sofrimento só! Quando se é lesado por um grupo (líder) religioso, a única versão que prevalece é a do chefe do local. Todas as demais são descartáveis, ainda que plausíveis.

Se cada um colhe o que planta, o que vive em busca ou em função do misticismo, colherá os frutos de sua forma de pensar. Gente assim costuma pensar que o universo inteiro conspira à seu favor e que alguma força misteriosa lhe dará algo infinitamente grandioso e cobiçado pelas demais pessoas.

Entre trilhões de seres vivos das mais variadas espécies nesse planeta... o coitado fica se achando especial, o escolhido por uma entidade qualquer, que recebera deste o poder para dirigir, punir ou presentar a humanidade (e outras criaturas) de alguma forma.

O deus perfeito, que fez tudo perfeito e bom, deixou propositadamente algo incompleto... Daí escolheu justamente tu para completar sua obra, não foi? Bichinho de Jacó...

Aceitando ou não, nada de especial há em ti em relação aos demais! Pelo menos misticamente não há...

Possa ser que pelo seu talento, caráter, dinheiro, beleza e bondade tu te destaques em alguma coisa. Mesmo assim, haverá milhares de outras pessoas como você fazendo o que tu fazes ou sendo quem tu és.

Uma vida sem propósito é uma vida chata. Todos precisam ter um sentido na vida. Quem não o tem, procura-o em alguma coisa ou lugar.

Não ser especial também é algo chato e difícil de suportar quando se tem entre 15 e 95 anos de idade com mente de uma criança mimada de apenas 7 aninhos.

E quem não é assim de vez em quando? Admita...

De vez em quando isso é até normal. Quando esses estado permanece, vira paranoia.

Existe um modo fácil e socialmente aceito de equilibrar esses dois fatores sem parecer um tremendo idiota. Em certos casos, à depender de onde você está inserido, tu serás louvado se assim o fizeres, se mantendo numa fantasia prolongada chamada de “contato com o divino”. Desse modo, outros não te condenarão quando errares e até poderão idolatrar-te se assim você permitir.

Trata-se de um o estado místico de ser. Qualquer pessoa (fora de sua racionalidade) pode apelar para isso, saciando simultaneamente duas necessidades humanas: a de parecer importante para o grupo e a de encontrar um proposito pessoal de vida.

Uma coisa é ser intuitivo, calculando as probabilidades baseadas em pesquisas ou em evidencias anteriores para ser chegar a um resultado comum e plausível. Outra coisa é não ter evidencia, eficácia e lógica alguma numa afirmação e mesmo assim fazê-la por quê “possui convicção divina para isso”.

E o pior: quando o resultado sai totalmente oposto ao que se queria, afirmar que era justamente isso o que se esperava.

Um processo místico jamais poderá ser repetido ou constatado cientificamente. É justamente isso o que faz “o escolhido” se sentir especial. Ele acha que algo único ocorreu com ele já que é guiado um ser superior qualquer.

Nesse estado de espírito (num ambiente religioso), se alguém diz que deus tem um plano pra você, o sujeito se torna vulnerável, fica todo derretido como se fosse um massa fluida tentando se adaptar aos extremos, à todo tipo de gostos e pessoas para que “deus” cumpra em sua vida a vontade dele. Sob tais circunstância, quando você não vira um trouxa manipulado, você vira um tirano manipulador...

Grande desperdício de vida útil. Só arrependimento restará depois que a lucidez for recobrada!

Um dia, quando confuso em suas emoções e sentimentos, tu serás grato por ser um escolhido. Depois de algum tempo já livre dessa loucura, tu terás vergonha do que fora, do que fizera ou ao que se submetera para se encaixar nos planos malucos de deus.

Quando um vigarista encontra um tolo deus se manifesta!

Quando um paranoico encontra outro paranoico deus também se manifesta e “faz” grandes milagres!

Quando um místico profissional encontra outra pessoa misticamente manipulável, não haverá limites para o que se possa ser feito em nome de uma crendice. Aquilo que há de mais tenebroso no ser humano poderá ser exprimido e explorado por ambas as partes nessa situação.

Nem todos os demônios já citados nas literaturas e crendices mundiais seriam capazes de fazer o que apenas duas pessoas “misticamente escolhidas por deus” seriam capazes de fazer quando estão sob “direção divina”.

No universo das religiões e seres encantados ou você manipula ou é o que será manipulado. Raramente você consegue ser os dois ao mesmo tempo.

Dizem que um homem “sem deus” é um homem perdido mas isso é mentira!

Afirmo que perdido mesmo é um “homem com deus”, que espera suas diretrizes para agir.

Nunca deus algum apareceu ou deu ordens pessoais a quem quer que seja. Somente com os olhos abertos e muita honestidade é que a pessoa pode assumir sempre esteve sobre influência de uma paranoia pessoal ou coletiva, nunca de divindade alguma.

Os que “vivem sob a vontade de deus”, com frequência sofrerá danos irreparáveis nas mais diversas áreas da vida. Nem todos vivem o bastante para contar sua própria versão da história. A igreja decide falar por eles ou contra eles, mesmo depois de mortos. A única versão “verdadeira” é a que atrai mais seguidores ao rebanho ou que aumente o delírio coletivo e o salário do pastor. Qualquer uma outra é mentirosa, segundo eles mesmos.

Um abismo chama outro abismo, e quando você vive nessa fantasia, você atrairá ou será atraído para (por) outras pessoas que pensam e agem como tu. Ambos viverão nesse estado doentio de ser e produzirão (cultivarão) em seu seios o pior tipo de gente que a humanidade pode fabricar.

Gente maligna, que se esconde atrás de uma bíblia ou de uma igreja, que terceiriza suas responsabilidades e que vive a desejar o mal à todos os que ainda tem um pouco de lucides e caráter. Gente do tipo que te manipula, te induz ao erro, te dá prejuízo e depois programam a própria fuga. Quando interrogados sobre seus erros, estes dizem sem remorso algum: “não fui eu. Não sei de nada. Não vi nada. Não fiz coisa alguma”!

Pior ainda quando dizem: “fiz apenas o que deus me mandou fazer! Se achou ruim, ache-o e reclame pessoalmente com ele. Lavo as minhas mãos. Sou apenas um humilde servo do senhor!

....

Além do cómico, o místico pode até esperar um prêmio por fazer papel ridículo.

Passei por uma situação cômica por assim pensar.

Lembro que quase 20 anos atrás precisei tirar um novo documento de identidade já que o meu tinha como foto o rosto de um menino de 13 anos apesar de eu estar com 23 na ocasião.

Nessa época eu estava no começo do ápice da fase mais religiosa que já vivi. Período esse que duraria cerda de 10 anos, “vivendo intensamente para deus e cumprindo à risca toda sua vontade em minha vida”.

Foi nessa época que fui induzido à acreditar que era um ESCOLHIDO, especial entre todas as criaturas e que cada passo, gesto e fala minha, eram guiadas pelo próprio deus, como se ele vivesse em mim e eu nele num só corpo. Como todo paranoico, eu “ouvia” deus falar comigo e eu falava com ele, todo dia o dia todo.

Pra completar, uma “enxurrada de profecias” eram preditas para mim ou sobre mim constantemente por gente que nem sequer sabia de onde vinha.

Na igreja, no trabalho, na escola, nos cursos...onde quer que eu fosse, aparecia “do nada” um crente me dizendo que deus queria que eu fizesse isso, aquilo e aquilo outro...

Citavam detalhes do meu passado e fazia previsões do meu futuro de modo que eu me sentia lisonjeado e acreditava em tudo aquilo. Nem me dava conta que ao fim de cada “profecia”, os tai profetas pediam dinheiro ou favores para continuar profetizando.

Tudo era tão mágico...por que inconscientemente eu desejava que assim o fosse!

Dizem que a burrice e a ingenuidade contribuem para a felicidade humana e quanto mais esclarecido uma pessoa se torna, menos graça (sentido) ela acha em certas coisas.

A religião é uma dessas coisas (que nos emburre, aumentando assim nossa “felicidade”).

Posso afirmar por experiência própria que quanto mais ingênuo for um crente, mais “feliz com deus” ele será.

Naquela manhã de Outubro, fui então solicitar o novo documento no posto móvel da SSP que estava de passagem em minha cidade.

Ao chegar na fila, havia cerca de 20 pessoas aguardando também o atendimento. Como tinha 3 atendentes a espera seria breve.

Demorei menos que 20 minutos para ser atendido e nesse período li um capítulo do livro que levava à reboque. Eu nunca saía sem um livro, uma agenda e uma caneta.

Não havia smartphones naquela época. Nunca fui de interagir muito com pessoas a não ser por necessidade. Se tinha um tempo livre, estava sempre lendo alguma coisa...

Na minha vez de ser atendido, um rapaz muito educado apontou uma cadeira vazia e disse:

-Professor! Por gentileza, sente-se aqui para que eu possa colher suas digitais!

Eu não tinha dito a ninguém que era professor. Como ele adivinhou?

Fiquei perplexo e comigo mesmo pensei: “essa é mais uma das inúmeras pessoas que deus escolheu para falar comigo de forma misteriosa...

Ele fez o procedimento padrão e pediu para que eu me fosse à outra sala à fim de receber o documento após impresso.

Eu pensei: “poxa...tá faltando o resto da profecia. Ele não vai falar mais nada”?

Aquela era a primeira vez que alguém acertava algo sobre mim e não entregava em seguida um “recado de deus”.

Então me antecipei e perguntei:

-Como sabes que sou professor se nunca lhe vi nem você a mim?

Ele respondeu:

-Nada místico meu caro. É apenas dedução!

Eu disse:

-Como assim?

Ele disse:

-Veja bem: ao entrar neste município, percebi que esta é uma pequena cidade de porte rural, sem fábricas, sem indústria e o comércio é bem pequeno. Logo, espera-se um número resumido de profissões dos seus residentes. Em casos assim a maioria são funcionários públicos ou agricultores.

Ele continuou:

- Boa parte das pessoas que atendi hoje tinham mãos calejadas e pulso rígido. Suas mãos são finas, você movimenta o pulso com extrema facilidade e ainda por cima seu polegar, dedo médio e indicador da mão direita tem a pele mais fina os demais. Concluí que seria desgaste da fricção com o giz, à julgar pela perna direita de sua calça que está suja desse pó na altura das coxas. Nela seus três dedos estão marcados. Você devia estar sentado quando os limpou. Pela facilidade que tive em intercalar cada dedo quando colhi suas digitais, arriscaria dizer que você toca você toca ou já tocou piano...

Eu confirmei com a cabeça. Eu estava aturdido...

Ele continuou:

-Ainda tem mais: outras pessoas que atendi hoje, assim como você tinham saído do trabalho. Algumas tinham cheiro de suor, lama em suas botas ou restos de planta em alguma parte do corpo. Você está limpo, ainda tem cheiro de perfume, seus sapatos estão lustrados e tu tens 3 canetas de cores diferentes no bolso da camisa! Que raios de trabalhador rural andaria com 3 canetas no bolso? Essa distinção de cores aliados às suas olheiras indicam que ontem você ficou até tarde corrigindo provas...

Caracas...tudo aquilo era verdade!

Ele finalizou:

-Algo mais te denunciou: Na fila, você estava concentrado lendo um livro ao invés de estar tagarelando sobre o clima e a carestia das coisas, como a maioria costuma fazer. Sem falar que você sentou de pernas cruzadas feito um lord do século 19. Não vi a capa do seu livro, mas diria que você está lendo Machado de Assis...

Cacilda!

Eu disse:

-Tá bom cara, tá bom...você está me amedrontando!

Ele apontou a sala seguinte e nos despedimos com um aceno de mãos.

Eu saí dali com cara de bobo achando que ele tinha algum superpoder, enquanto ele apenas aguardava eu me retirar para atende outras pessoas, em paz e sem muitas perguntas, srsr.

Eu (todo místico) fui atrás de mais um ato de clarividência e levei uma surra de ciência. Algo tão simples, tão evidente, mas invisível à qualquer um que “vive pelos olhos da fé”.

...

Depois desse dia passei a estudar sobre a ciência da dedução e o resultado foi o melhor já obtido. Isso ajudou no meu processo de libertação. Falarei sobre isso em outra ocasião....

Revejam Sempre Seus Conceitos. Saúde e Sanidade à Todos!

Texto escrito em 27/2/22

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 27/02/2022
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