Incels: a misoginia voluntária
Decidi escrever e tratar sobre isso sem me importar com os pré-julgamentos e os futuros ataques. Se os homens não começarem a debater as suas problemáticas, quem fará isso por nós? Como um problema nosso, seria bom entendê-lo e criar possíveis soluções. No mundo contemporâneo, muitos de nós sofrem sob a sigla de incels (involuntary celibates), do inglês, celibatários involuntários.
O mundo contemporâneo retirou o homem do seu centro. O colocou num lugar que ele jamais pensou em ocupar. Nesse espaço, ele teria que dividir os privilégios e as mazelas com os outros grupos sociais. Era necessário criar um culpado, um inimigo para combater, mas que, ao mesmo tempo, não pudesse revidar. As mulheres ocuparam o outro lado do front.
Objeto de desejo e alvo dos incels, o ser feminino fez com que os homens se negassem a manter relações sexuais e afetivas, as odiando. O incel é um homem com baixo índice de frustração, intolerante, preconceituoso, imaturo, totalmente influenciável, ansioso, avesso aos estudos, portando complexos e problemas psicoemocionais que carecem de tratamento imediato.
Geralmente homens jovens, os incels acabam sendo cooptados em busca de algum tipo de assistência em grupos, mas acabam por se tornar mais um na multidão da extrema-direita. Seus traumas são retroalimentados à exaustão, as suas feridas narcísicas são expostas diariamente. O que os fóruns da internet e os grupos em redes sociais fornecem não passam de disseminação de conteúdos extremistas.
Homens são incentivados a adquirir comportamento agressivo e machista, cometerem suicídio, promover atentados com o maior número de vítimas possíveis; não me parece ser essa a melhor saída, aliás, a violência nunca foi uma saída para nós. Os problemas de ordem pessoal, familiar ou social são transferidos para às mulheres, os negros, os homossexuais, os estrangeiros, e quem mais puder ser punido.
Assumindo a obsoleta eugenia, o antinatalismo, o niilismo e todos os preconceitos possíveis, os incels criam o inimigo imaginário que passa a ser combatido numa guerra real e diária. O seu maior combustível são as decepções pessoais. Nenhuma mulher ou grupo minoritário pode ser culpado pelos fracassos de pessoas antissociais. Você, homem, é filho de uma mulher, sem ela, você não existiria e nem seria educado, alimentado e seria quem você é hoje.
Tratar uma mulher bem não é fraqueza para você, e nem privilégio para ela, ao contrário, o respeito à dignidade alheia é um valor básico na sociedade, deveria ser uma regra, e não exceção. Ao invés de pensar em correr atrás de mulheres o dia todo, esses homens deveriam se dedicar a sua evolução pessoal. Ler, aprender um ofício, viajar, participar de grupos culturais, enfim, conhecer pessoas e espaços diferentes que pudessem ajudá-los a melhorar a postura antissocial e agregar experiências positivas na sua trajetória. A vida não é feita só de desejos e frustrações, tem algo mais além dessas coisas.
Assim como as mulheres, homens também tem os seus preconceitos, seus estereótipos, suas idealizações, bem como forças e fraquezas. A perfeição é uma idealização, não um fato. Uma mulher não buscará um parceiro que vive mais para expressar e alimentar os seus ódios do que para ter experiências prazerosas, viver à vida. O que você precisa entender é que os seus problemas são mais internos que dos outros ao seu redor.