O MISTÉRIOSO CULTO AO UNICÓRNIO SAGRADO!

*Por Antônio F. Bispo

Em um universo paralelo ao nosso, algumas pessoas fundaram uma entidade chamada: A ONG dos Unicórnios Perdidos.

Eles eram os Zumanus. Eram em tudo parecido conosco, só a nomenclatura e o universo em que viviam que nos diferenciava deles.

Essa ONG surgiu depois que um “estudo” revelou que os adultos violentos, depressivos e infelizes que existiam em suas sociedades era devido ao fato de que no passado nenhum deles quando crianças tivera a chance de ver um unicórnio e essa falta de visão e contato com esse ser místico havia deixado graves sequelas em suas personalidades.

A falta de honra, de caráter e moral duvidosa dos habitantes desse local também eram atribuídas à essa deficiência. Caso eles tivessem tal oportunidade, o mundo deles seria outro, todos os problemas de seu povo seriam resolvidos, incluindo os de miséria, de fome, de pobreza e de todas as doenças já catalogadas por eles, os Zumanus.

O estudo fora realizado por uma outra entidade conhecida como ONG profética.

Os membros desta ordem chegaram a essa conclusão após longos anos de meditação isolada, votos de silêncio, falta de convívio social, falta de empatia com os “homens faladores” e visão duvidosa quanto a sexualidade e reprodução humana.

Lógico que para isso eles também apelaram ao xamanismo e ao estado alterado de consciência, provocado pelo uso demasiado de ervas alucinógenas e jejuns prolongados.

Fora desse jeito e usando esses métodos científicos que a Eureka aconteceu. Por meio de situações alucinógenas, isoladas e sem direito a repetição por pares que estes doutores do saber produziram os resultados da pesquisa, base pela qual a ONG dos unicórnios fora criada e difundida entre os povos daquela realidade.

Com essa brilhante dedução sobre a raiz dos males zumanos, concluiu-se então que a criatura mítica nunca tinha aparecido às pessoas comuns por que não havia sequer um lugar apropriado para o seu pouso e estadia. Nenhuma estrutura física havia sido feita até então com o intuito único de recebe-lo ou de venerá-lo. Apenas na mente dos indivíduos era o local em que este vivia e que cada um o fantasiava como bem entendia.

Se houvesse uma padronização do ser, de seus poderes, dimensões e desejos, seria bem mais fácil contatar o ser sagrado entender, entender sua vontade e por ele ser entendido (disseram os profetas).

Era necessário que fosse construído um templo, um local onde ele pudesse aparecer de forma corpórea para veneração e contado e desta feita transformar a vida de todos pela sua presença.

Era o início de um novo alvorecer para a zumanidade. O sagrado finalmente habitaria entre os homens e por eles poderia ser encontrado sempre que preciso fosse por um preço ainda à ser negociado.

Um espertinho do grupo logo prontificou-se a fazer o primeiro “local de pouso e descanso” para esse ser mistificado.

Propagandas foram feitas e promessas foram dadas à todos os habitantes, dizendo que suas vidas mudariam para melhor se eles cooperassem com a construção e manutenção daquele local, incluindo os profetas e sacerdotes que naquela obra estariam envolvidos (eternamente).

Com o primeiro local de pouso feito, uma propaganda enganosa fora promulgada pelos líderes da seita para que os súditos pudessem replicá-la e nelas acreditarem. Milagres e curas falsas foram propositalmente implantadas para que a fé do povo aumentasse e a procura pelos milagres também.

Desse modo os serviços sacerdotais tornaram se um produto essencial para toda sociedade. Do nascer ao morrer, os indivíduos precisariam de seus serviços e por eles teriam de pagar.

Cada membro do grupo receberia dos chefes um “diploma de inteligência” caso fizesse propaganda gratuita sobre a ONG e os serviços sacerdotais. Precisavam afirmar (mentido) que todo tipo de mudança boa ocorrera em suas vidas ao se juntar ao grupo.

O povo não era esperto, nem tão pouco inteligente, mas queriam mostrar que eram e um certificado colado na parede era a prova viva disso, principalmente vindo do grupo dos “homens santos”.

Com a intensa procura, o preço do certificado e dos serviços sacerdotais era constantemente reajustado, porém os que acreditavam mesmo na seita e em seus líderes não mediam esforços para conseguir tal.

De “sexo voluntário e consciente” até a doação total de todos os bens aos líderes do rebanho, cada um fazia o possível e o impossível para ser diplomando na escola da fé, na ONG dos unicórnios perdidos.

Quanto mais absurdo fosse o testemunho dado por um membro em favor do líder ou do animal sagrado, mais estrelinhas eles ganhavam nos certificados e depois de muitos anos de servidão poderiam também se tornar mestres naquela arte. Desse modo, todos se esforçavam para tornar o mais verídico possível o próprio testemunho dado.

Além do certificado pessoal de auto glorificação, os membros Vips do grupo recebiam dos líderes etiquetas pejorativa para colar na porta ou na testa dos “incrédulos” e até mesmo dos crentes sem milagres comprovados. Nos dizes estava escrito BURRO em letras garrafais.

Ah...eles amavam isso. Amavam mais o fato de chamar alguém de burro que a possibilidade de parecerem realmente inteligentes. Suas atitudes e palavras demonstravam tolice, mas o certificado dado pelo “ungido” dizia o contrário e isso bastava!

O tempo passou e a “verdade” propagada por essa seita chegou além fronteiras.

Povos de outras sociedades começaram fazer o mesmo, reproduzindo os ritos e costumes daqueles que em suas propagandas diziam ter sucesso em tudo e viver uma paz celestial.

Todos queriam ser abençoados por esse ser invisível, porém real e “presente”.

Todos queriam ter em mãos, em suas testas ou paredes um certificado de inteligência dado por um líder espiritual. Todos queriam adesivos de BURRO para colar na cara dos inimigos. Até quem não tinha um, fez questão de ter só para rotulá-los de modo negativo.

Desse modo, todos se dispuseram a cooperar para construção de outras casas sagradas.

Somas infinitas de dinheiro para a construção de grandes e enfeitados locais de pouso foram coletados no intuito de atrair e venerar esse animal fantástico e receber deste suas bênçãos, afinal, todos querem ser bonzinhos e inteligentes, não é mesmo?

Cada povo ao seu próprio estilo faziam seus “aeroportos” pessoais, com local específico num ponto da construção, reservado ao ser místico ou ao seu representante.

Percebeu-se que após a construção da primeira casa e propaganda enganosa, os adultos do reino continuavam infelizes, mentirosos, gananciosos, traiçoeiros e de caráter duvidoso. As mazelas zumanas permaneciam as mesmas e em certos locais elas até duplicavam após a construção do sagrado local. O ser místico ainda não tinha sido visto pessoalmente por nenhum ser sóbrio e honesto. Somente na histeria coletiva ele era relatado. Como cada um dava uma versão própria de seu formato e poder, percebia-se que todos estavam mentindo quanto ao contato com este.

Então pensou-se em construir ainda mais casas no reino As probabilidades aumentariam. De repente o unicórnio perdido estivesse com dificuldade de se encontrar...Quem o “capturasse” primeiro poderia receber deste uma benção maior.

Agora não eram povos de países concorrentes que disputavam a atenção desse ser, era gente de um mesmo povo, língua e nação. Eles passaram a se odiar, buscando atenção desse ser e o processo religioso passou a ter o oposto daquilo que intentavam. Eles nem percebiam isso e quando notavam, faziam-se de desentendidos culpando os não crentes pelos seus males e trapaças.

Primeiro diversos templo de uma mesma fé em um mesmo país. Depois eles passaram a disputar cidades. Logo estavam disputando bairros, até o ponto de se encontrar diversas delas numa mesma rua fazendo a mesma promessa, como se fossem diferentes umas das outras, sendo que eram todas “farinhas de um mesmo casco”.

O que era banal virou ridículo e o ridículo evoluiu para o imoral, ilegal e deZumano.

A luta agora era pela atenção dos fiéis e não mais do equino místico.

A harmonia entre os Zumanos estava comprometida por essa busca irracional.

Em uma grande loteria por exemplo, as chance de alguém ser ganhador é de 1 em cada 1 milhão. Nessas casas dedicadas ao unicórnio encantado, não se sabe ao certo as chance de alguém ser contemplado, já que o comportamento deles são imprevisíveis, pois mesmo passando 5 décadas inseridos nesses locais ou sendo “transformado” pela santidade que ali há, eles ainda são capazes de produzir em um único ato ou palavra tudo o que de mais impuro já possa ter sido visto ou expressado por uma criatura viva.

Depois de séculos de buscas, esperas e aumento de incontáveis locais de culto, as mazelas do povo continuam as mesmas. Não mudou nadinha...

Porém, cada grupo passou a ter uma propaganda própria para provar contato verídico com o unicórnio santo e expressar sua vontade.

Alguns “provavam” isso falando uma língua estranha, parecida com a de um rinoceronte enraivecido, mas eles juravam que é a língua sagrada dos unicórnios celestiais.

Outros davam destaques ao uso (ou não) de certas roupas, cortes de cabelo, adornos pessoais e acúmulo de riquezas (adquiridos de forma duvidosa).

Outros não conseguindo nada disso, contentam-se em rotular os outros com nomes malignos achando que assim exprimiam sua própria santidade e sabedoria

Entretanto, os mais pobres e os mais honestos no grupo só se ferravam, pois eram colocados diariamente entre a cruz e o punhal e qualquer decisão que tomasse tomariam um coice de mula.

Iludidos por uma promessa riquezas futuras, eles se viam na obrigação de comprar e consumir tudo o que os mais ricos e mais aclamados do grupo costumavam costumam produzir. Ameaças de todos os tipos eram lançadas aos que questionavam a posição e autoridade das lideranças.

Como dito, a princípio essa ONG era única e tinha um único objetivo: trazer paz e harmonia entre os povos por meio da introdução corpórea do unicórnio perdido. Com o tempo e as ambições diversas, cada um desenhou seu próprio estilo e criaram suas próprias perspectivas de recompensas, não apenas no futuro, mas o no aqui e agora.

Surgiram então a ONG do unicórnio colorido, do unicórnio preto, do branco e até do unicórnio invisível.

Até os antepassados dos que um dia foram perseguidos, humilhados ou mortos por líderes e gente dessa estirpe, hoje imploram para serem seus súditos. Já pensou?

Eles desconhecem o próprio passado e desonram o sangue daqueles que um dia deram suas vidas para que seus filhos pudessem se livres dos abusos desses outros.

A exemplo do grupo do unicórnios marrom e do unicórnio do arco-íris que foram os mais violentados durante toda história, mesmo assim estes dois imploram sentar junto à mesa (ou aos pés) dos carrascos dos seus antepassados.

Antes, essas pessoas eram capturadas e forçados à servidão e ao culto ou eram perseguidos por serem diferentes. Hoje eles mesmo se oferecem e pagam para terem essa “oportunidade” de servir às mesmas pessoas que quase os exterminaram.

Nenhum único espécime do tal unicórnio sagrado fora visto nos últimos 2 mil anos e nem antes disso. Mesmo assim, todos almejam um dia vê-lo, cavalgar nas nuvens sob suas costas ou andar em ruas feitas de doces e casas de chocolates. Adultos e crianças nutrem as mesmas esperanças.

Diariamente parte dos líderes dessas ONGs dizem:

-O unicórnio sagrado ainda não voltou por que ainda não construímos templos o suficiente nesse orbe para sinalizar o caminho de sua volta. Ele está perdido no espaço e cada local construído em seu nome é como uma luz brilhante numa pista de pouso noturna. Vocês devem doar mais dinheiro para construção de mais casas, para que neste vasto universo, nosso estimado Ser possa olhar para nós, nos transformar e nos resgatar!

Outros ainda preferem dizer:

-As mazelas do mundo ainda persistem, por que a mensagem sagrada do unicórnio santo ainda não fora espalhadas aos quatro canto do globo. Precisamos do vosso dinheiro para isso!

...E rios de dinheiro são despejados nas contas desses líderes, inclusive o dinheiro público em certos casos.

Outros, na cara de pau, sem vergonha alguma e usando os meios de comunicação em massa proferem:

-Venham aqui, comprem partes da crina, do casco, da saliva, da urina e das fezes do unicórnio santo e a suas vidas serão duplamente abençoada!

Um cético grita do meio da plateia:

-Mas como? Você acabou de dizer que ele nunca foi visto ou tocado por homem algum e que todos aguardam sua aparição!

Bruscamente o líder responde:

-Tirem esse herege daqui! Tudo o que fazemos é pelos olhos da fé. Todos esses itens vendidos são comuns, mas assim que eu oro e os abençoo, eles se tornam místicos, de igual valor aos da criatura real. Maldito é aquele que não crer nas palavras do unicórnio santo e portanto tu estás amaldiçoado.

O jovem curioso ainda diz:

-Mas o unicórnio santo nunca disse isso, quem está dizendo isso é você!

Com um “soco sagrado” o jovem “perturbador da paz e da ordem mística” é silenciado e jogado para fora do recinto. Dessa forma o líder da seita pode extorquir o grupo outra vez sem interferência alguma.

O público jubila pela ação energética do “ungido” e louva-o pela sua autoridade “equina”

-Acabei de dar coice certeiro na cara do “mula negra”, o nosso inimigo espiritual que estava usando a boca desse jovem desconvertido!

O líder comenta jubiloso e o agrupamento quase tem um orgasmo.

Silenciar de forma brusca e humilhar a todos os que questionam a autoridade de um representante do equino sagrado é a habilidade mais preciosa que os líderes desse grupo desenvolveram. É apenas por isso que toda fantasia coletiva ainda não se dissolveu. O povo confundem gritar com autoridade com falar a verdade....

Entra ano e sai ano, mesmo com os milhares de templos feito para orientar o retorno do unicórnio santo (que ainda está perdido), o povo dessa realidade o espera com fé, aguardando o dia em que toda a zumanidade vivera em harmonia entre si.

Quer dizer, nem todos esperam isso. A maioria espera o dia em que verão os “seus inimigos” serem lançados no mar de chocolate escaldante e da jujuba congelada.

Estes sofrerão famintos por toda eternidade, pois apesar de navegarem em um oceano de um chocolate puro e delicioso, o mesmo está quente demais para ser degustado por qualquer paladar e eles não possuem recipientes ou condições para pô-lo em descanço e assim degusta-lo.

Ao mesmo tempo que navegam em ser barcos de alumínio, queimando seus bumbunzinhos, chuvas de jujubas deliciosas caem sobre si todos os dias, mas elas estão congeladas o suficiente para serem comestíveis. Quando eles tentam arrefecer o calor próximo ao chocolate, ela derrete, escapulindo rapidamente entre os seus dedos, provocando uma agonia maior pela perca.

Desse modo, os que não acreditam ou não fazem parte da ONG dos unicórnios perdidos, padecerão eternamente nesse tormento, enquanto os “escolhidos” pisarão em ruas de doces e comerão suas próprias casas adocicadas quando estiverem fome. Estas por sua vez, crescerão todos os dias com sabores diferentes...Aleluias

Essa é a recompensa dos fiéis, que mantivera vivo o culto ao unicórnio santo.

.....

Qualquer semelhança com alguma outra religião e modo de vida do nosso “mundo real” é mera coincidência. Favor não ficar irritado e nem ameaçar de morte o escritor ou os que deste texto compartilharem...

Revejam Seus Conceitos. Saúde e Sanidade à Todos.

Texto escrito em 13/2/22

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

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Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 13/02/2022
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