Pode ser cômico, mesmo sendo trágico
A hipérbole da manchete “Tatuzão foi visto saindo do condomínio de Bolsonaro” não é mero exagero. Infelizmente o meme remete ao que nosso jornalismo se tornou. Relembra especificamente uma reportagem porca que o Jornal Nacional fez questão de exibir.
Na tentativa de incriminar Jair Bolsonaro, demonstrando sintomas avançados de abstinência de verba, a Globo jogou no ar a matéria que ligaria o presidente à morte de Marielle Franco. Não deu. A estratégia não surtiu o efeito esperado, entretanto, além de desacreditar mais a “velha imprensa”, contribuiu para esse surreal meme.
João Doria, com sua sanha por ocupar a cadeira presidencial, conseguiu unir os paulistas contra o governador do próprio estado. Essa reação seria absurda se Doria fosse contido por um conselheiro amigo. Contido para não tentar destruir São Paulo ao obrigar o estado a fechar tudo e ninguém sair de casa num “lockdown” insano. Não bastasse isso, em plena pandemia “investiu” em propaganda, distribuindo dinheiro à imprensa e fez questão de aparecer sorrindo ou chorando onde existisse uma câmera fotográfica ou uma filmadora.
No dia primeiro de fevereiro ele foi obrigado a comparecer à maior reunião de equipamentos prontos para registrar seu pronunciamento diante da tragédia. Dessa vez as câmeras e microfones não eram bem-vindos.
Acelera, São Paulo! A avidez para fazer jus ao “slogan” pode ter contribuído com o acidente. Venho acompanhando as obras e realmente parecia que o “shield” (tatuzão) cumpria as ordens do governador.
A parte boa é que não houve vítimas; a cômica, são os memes, dentre eles:
— Bolsonaro fez a transposição do Rio São Francisco; Doria fez a transposição do Rio Tietê.
O principal meme é a montagem referida acima e a respectiva “reporcagem”.
Eu acreditava que João Doria seria um excelente, como ele gosta de se identificar, gestor. No entanto, ele se revelou um hábil marqueteiro de si mesmo. Foi fácil notar essas características quando ele alcançou o Palácio dos Bandeirantes. Contudo, recapitulando os calculados passos do “Aprendiz”, a farsa vem, pelo menos, desde quando ele se fantasiava de gari. Tudo que o político, constituído de plástico e cera, executa é milimetricamente medido para parecer palatável, cada gesto é pensado. Não é necessário muito “tirocínio” para notar isso.
Enfim, cada cargo público, para ele, é apenas um degrau no pau de sebo que tem como última escala a Presidência da República.