ÍGNEA

 

     Intraduzível a vida a padecer depois de esparsa a poesia. Foge o tempo, não há quem herde o trajeto dos ponteiros, e o que mais não se vê dá-nos asas!

 

     São degraus, e tantos, tantos, aos últimos esforços de alcançar o caminho. Mas não há caminho à sombra do que representa a vida. É o chá e a fumaça, a música, a fraqueza dos ossos e o olhar repleto de rosas, a imensa teia do destino que esgarça do arcabouço do Universo. É a centelha que resta no espírito feminino, dormida sob a trança funerária da veia, o gosto amargo na boca e a palavra entalada na garganta. Quem entende? São narinas dilatadas, o ar traiçoeiro do mundo, a mente embriagada em vórtice dentro do corpo, a vida que não tive, o futuro que desconheço e, finalmente, o gozo pleno da morte.

 

     Pendente, é como me sinto, esquadrinhada na espinha do mundo, hereditária da angústia e ávida pela mordida que não acontece. Quem entende? Criatura extenuada, fera enjaulada na aflição do arquejar do horizonte, desenhada na escala do rascunho como um rasgo de memória devorada pelo tempo.

     Quem entende?

 

VOYAGE VOYAGE

 

     

Palavras Incautas
Enviado por Palavras Incautas em 04/02/2022
Código do texto: T7444935
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