DO PASSO
Tudo parecia escurecer pelas ruas. A poeira, os gritos, a pressa, os empurrões, a falta de educação, o amontoado de gente, o encardido dos prédios, as corcundas e os celulares diante de bocas escabrosas e olhos esbugalhados para o nada. O cheiro de esgoto, o prateado dos anúncios, as roupas empoeiradas, os cabelos ensebados e o planeta franzino de sossego.
Levemente me escorei na parede, enjoada, tonta, cansada e preguiçosa de passos... me dá desgosto a falta de jardins nesse mundo! O homem despreza o que não é ele e estala os ossos com orgulho, totalmente despido de poesia. Eu não me sinto a extensão do que vejo, e morro sozinha no teatro que se apresenta pelas calçadas. Onde estão as expressões de todos esses rostos? Opacos, todos. Sem as linhas ou todos iguais! Se acaso tento, falho. E seguem todos sem saber para onde vão pelas esquinas estreitas que eclipsam entre prédios.
Desmoronam feito tijolos velhos enquanto eu queria me erguer feito montanha... Tiveram, o que um dia, os deuses intitularam de alma.