UM POUCO DE DOÇURA
Não custa, um pouco de doçura para falar no dorso da vida e salvá-la da flor murcha e do veleiro sem mar. O sol nasceu, canalha a sorrir, afogueando-me as palavras. O vento me estendeu a mão entre as cortinas, tão moço o marujo...
Olhei para o horizonte, sem muitas esperanças, mas sorri, vulcânica. Cismei que o brinco na orelha não combinava, que a roupa não cabia e pendurei tudo que podia, quase mansa na clausura dos meus dias.
Reguei o que restava em pétalas à terra fria das raízes contorcidas, como arte que ensaia o surrealismo e pensa em gozar de tal adejo. Porque nunca de flor fui construída. Mas tive em minhas hastes espinhos cativos, perturbantes, como pássaros à janela.
Eu sinto a vida, cuja borda é para mim um estilete com que me embriago de cortes, e em brasas, de rubis gotejo. Eu gosto da vida! Pobrezinha... de mim. Morri como murchou a flor no deserto tenebroso do tédio.