MINHA FADA, A CEGUEIRA

 

É ela! Minha fada,

a cegueira! Comendo o pão com manteiga

à beira da roupa suja,

da lavadeira morta,

do suspiro enamorado, no instante da poesia, e sob o telhado

despido de telhas.

 

Achei-a assim, a lavar os pratos,

a faca,

a taça, e sem

qualquer gota d'água na torneira!

 

Como outrora cantava,

atrofiada em seu casulo,

feito catar agulha em palheiro.

 

Desatinada,

cega,

minha fada,

atravancando a porta diante do incêncio,

de raivosa paixão de uma vida invertebrada

engalfinhando filosofia.

 

Tranquilizou-me sob o vão pretexto da estrada,

e serena,

examinou no crânio

um emaranhado de lesmas

ante macabra aparição das ideias.

 

E, como desejava, tudo enfim podia,

mestra descabida,

que sem laço com a realidade,

qual ferida,

passo que não sente,

nos seus acessos de delírio,

leu os meus pensamentos

como um sino vibrando o abismo em minhas veias.

 

My Brightest Diamond - Tainted Love

 

 

Palavras Incautas
Enviado por Palavras Incautas em 04/02/2022
Reeditado em 04/02/2022
Código do texto: T7444861
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