3 MALES DOS ESCRITORES DA NOSSA GERAÇÃO (ANGOLA)
1. Muita falta de Leitura;
2. Muita leitura infrutífera
3. Divulgação desenfreada de textos que precisam amadurecer.
Sobre os 3 males que acometem a nossa geração de escritores são de ordem vária. E tudo parte do tipo de sociedade que o nosso país é. Angola é uma (i)nação estruturalmente dependente, nos moldes em que actualmente está. Como povo ágrafo (“sem escrita”, como diria um ocidente) a cultura literária veiculava oralmente, e de modo não sistematizado. A Literatura de tradição oral, como é geralmente conhecido, entre os nossos ancestrais ( e mesmo nos dias de hoje, um pouco por toda parte recôndita do país), tinha uma função ética e moral, nalgumas vezes lúdica, ou seja, a instrucção da cosmovisão era por esse meio passada. Mas em relação a esta parte da história, não me vou estender muito, fica pra outros debates, a intenção era relatar que tão logo passamos a nos orientar pela educação ocidental (carrascamente imposta), primada pela “Literatura escrita”; e por conseguinte, sistematizada, surgiram outros desafios que demandavam outras posições face a eles. Entretanto, como os angolanos se posicionaram diante disso? Respondo: Bruxamente!
Por bruxamente, não quero dizer supersticiosamente (embora a nossa sociedade ainda, (in)felizmente, continua banhando nestas águas, quase ao fundo das Marianas), mas sim, todo um conjunto de acções que diametralmente retardam o progresso. Acho que é dispensável a luz do sol a fim de se ver toda vergonhice que é o nosso país, pois com uma simples lanterna (que porta apenas uma pilha média) é grandiosamente suficiente para enxergar os males sociais, políticos, económicos... que nos afligem, por total ignorância (no sentido de desprezo) que os altos mandatários sentem por toda classe desprivilegiada, como um amigo meu (José Panzo) diria graciosamente: o excluído, o injustiçado, o esquecido, o desprotegido social, o que se encontra nos escombros, o dominado, o outro, o sem voz e vez, o excêntrico, o neocolonizado, o subordinado, o marginalizado, o que se encontra na contramão, o que está na margem, e tantos outros adjectivos que caracterizam a pessoa, ou a classse menos prezada da sociedade!
Quando Angola se torna independente, por força dos três maiores movimentos de libertação nacional (FNLA, MPLA e UNITA) e de outros intervenientes externos; por ambição e vontade de potência, o partido que até então (des)governa o país, na sua gênese como governo, instaura um sistema político de governação que detém poder absoluto sobre tudo que respira e não respira. E mesmo quando lhe foi dado um catucão, na tendência de estreitar os limites de mando e tomada de decisão, concedendo uma voz murcha aos outros compatriotas, a sua mania de grandeza prevalece(u) até o dia de hoje, 01/02/2022. Essa brevíssima incursão à história que faço não é prolixidade, na verdade, é daí donde emerge os males em questão, portanto, é fundamental mencionar esse facto. Seguindo a lógica, o que um governo de Poder Absoluto faz? Controla todas as manifestações do seu povo! Ninguém grita “ai”, sem o Poder Omnipresente perceber. Pior de tudo (e a principal chave para esse governo se perpectuar no poder) priva as populações do esclarecimento. Já dizia Francis Bacon “Conhecimento é Poder”; então imagina dar-lhes isso?! Não é de admirar o crescente número de insucesso escolar dos alunos da maior franja da sociedade angolana, uma vez que as verbas alocadas ao sector da educação é de dar gargalhadas, pois contradiz o discurso de que “precisamos apostar severamente na educação, para o desenvolvimento do país”. Angola é uma Ironia! Se se quer uma nação inalienada, é preciso dar as ferramentas certas, e não silenciar vozes que pregam liberdade (das mais variadas), que constitui um acto puro de ditadura. “Educação é fazer as pessoas perceberem as coisas”, citando aqui um sensei do anime Jujutsu Kaisen, logo é perfeitamente natural contestar quando elas não vão bem.
“Muita falta de Leitura” advém enraizadamente da problemática que é a nossa forma de governação, que prejudica todos os sectores, particularmente, o da Educação. Todas as dificuldades que acometem as massas angolanas concorrem para um ambiente não adequado para a difusão da cultura literária. Imagina: a maior parte da população vive na miséria, os serviços básicos que supririam também as básicas necessidades são deficitários; consequentemente é difícil pegar num livro quando o estómago bate, tempo, por exemplo, para ir à rua e arranjar meios de sobrevivência. E o que não ajuda mais, a Mídea por cá, que seria um meio para tal empreitada (promover a cultura de leitura), é dos grandes órgãos que mais difunde distracção, como um modo eficaz de controlo da população. Sem modelos em casa, sem modelos na rua, sem modelos na escola, sem modelos públicos, como adquirir o gosto pela leitura? Aos modelos refiro-me a iniciativas de cultura literária que podem haver nesses locais: em casa os pais não compram livros (nem mesmo quadrinhos, pra crianças), na rua nem adianta mencionar, nas escolas, muitas delas não têm bibliotecas, e quando têm, são desertas (sem mencionar as escolas sem estruturas físicas, que existem apenas como número), quanto aos modelos públicos, a Mídia faria esse papel, mas como já mencionei, apenas gera conteúdos de distracção e não de formação do indivíduo. Portanto, o sistema que nos governa fomentou e cimentou esse “desábito literário” para seu próprio benefício, mas agora continuar nessa trilha é de nossa inteira responsabilidade, visto que já há meios outros de obter infomações a fim de nos desalienarmos com vista a ganhar simpatia por leituras.
Crescer com incentivos de segundos ou terceiros objectivando o gosto pela leitura, não foi realidade de muitos de nós. E as excepções, também em maior número delas, adquiriram isso tardiamente. A leitura infrutífera, de igual modo, tem suas raízes na problemática referente ao desábito literário, pois alguém não tendo simpatia por leituras, o dia que se predispuser a ler, obviamente muito pouca coisa vai apreender e depreender dessa actividade, para além de entendê-la como não deve ser. “Ler é uma habilidade”, como diz Mortimer Adler, logo pressupõe maneiras certas para sua empreitada; e alguém que nunca o fez com regularidade, não se espera grande coisa nos seus momentos iniciais, uma vez que não dispõe de métodos de Leitura com vista a desvendar os sentidos ocultos do texto, até mesmo o mais compreensível deles.
A Divulgação desenfreada de textos que carecem de amadurecimento advém, na primeira instância, da ansiedade de ser lido. Com o surgimento das redes sociais já ninguém começa por ser um escritor de gaveta. Tão logo se principia a rabiscar algumas notas, o dedo está a um clique da divulgação. Agora imagina: O aspirante a escritor não tem hábito de leitura; sua carreira supostamente promissora está somente há 3 meses (ou pouco mais que isso); escreveu 30 versos, ou dois contos, ou até mesmo uma prosa de carácter motivacional (autoajuda), resultante da leitura superficialmente compreendida de Agusto Cury (por metonímia); remeteu a uma editora (na maior parte de e-books); e na prontidão ousa divulgar e assumir-se como Escritor! O que achas que esse indivíduo produziu como matéria literária? Na melhor das hipóteses, “Mesmice”, para além de ser um conteúdo paupérrimo em todos os gêneros que poderia ser enquadrado. Sem mencionar o facto de desvirtuar a gramática portuguesa em todos seus domínios: léxico, ortográfico, semântico, sintático... e não vamos aqui levantar a hipótese de que seja um desvio por conta da estilística (licença poética), porque até nesse domínio muitos não têm domínio ─ mas são Literatos!
Quais poderiam ser as soluções para os três males (nomeadamente “Muita falta de Leitura”, “Muita leitura infrutífera” e “Divulgação desenfreada de textos que precisam amadurecer”)?.
As soluções, na verdade, e fora as melhorias que devem haver no nosso sistema político de governação em relação às políticas públicas, que constitui a raiz de toda essa barafunda, estão mesmo dentro do problema. É só inverter o quadro: Ler mais. Ler melhor. E divulgar somente quando os textos estiverem realmente bem talhados! Desse modo, a nossa Literatura caminhará para bom porto. Embora haja empecilhos, referindo-me a má fé dos órgãos legítimos em não massificarem áreas como a arte, tal como referi um pouco acima, é de nossa inteira responsabilidade tomar posicionamentos relevantes no tocante ao que fazemos, visto ser já possível obter infomações úteis e espandir nossas ideias, por outros meios, com vista a nos desalienarmos e ganharmos simpatia por leituras e ter por consequência uma escrita madura, ou seja, com qualidade!
Ler mais e Ler melhor pressupõem monte de factores, que já não vou mencionar aqui estendidamente, pois quando se empreende nessas actividades, não tem como tais factores não virem à tona. Mas fica aqui uma dica de Mairo Vergara sobre os 3 Ms da aprendizagem definitiva, que se enquadra muito bem nesta discussão: Motivação, Método (certo) e Material (certo). Portanto, mbora lá se engajar para sermos melhores no que fazemos e limpar a má imagem que os veteranos têm sobre a nossa geração de escritores.