Veja Só...

O Que o Ego Está Fazendo!

 

Na intenção de controlar o ego inconsciente, não é eficaz impor a ele que pratique a vigilância de si mesmo. A repressão dos sentidos, emoções e pensamentos, partindo da racionalidade egoísta do próprio ego que os contém, cria um conflito insolúvel entre o ego repressor e o ego libertino, num curto-circuito explosivo que apenas retarda o retorno do impulso original, agora muito mais potente e imunizado contra a sua própria repressão.

 

Assim como, no sofrimento, a criança clamaria, em desespero, pelo consolo dos pais, a alma, angustiada pelas desventuras do ego do qual é sede, deveria clamar, em contemplação, pelo consolo do espírito.

 

Mas o ego guarda para si, em segredo, o único recurso capaz de acabar com seu desvario e submetê-lo a um comando superior. Este segredo é a chave mestra para a abertura dos portais do espírito, permitindo a ele derramar sobre o ego seus valores, tornando-o, assim, consciente. Mas o ego inconsciente, preso à roda recorrente da insanidade, reluta em entregar à alma seu segredo.

 

Este segredo, esta chave mestra chama-se: ATENÇÃO

 

Quem controla a atenção tem o poder sobre o ego, assim como quem controla recursos tem poder sobre quem deles necessita. O ego detém o controle da atenção para poder permanecer em seu desvario. A atenção é orientada pelo ego, como um holofote, sempre em direção ao exterior, o meio que o provê da energia geradora dos prazeres e das dores que o alimentam, num ciclo vicioso interminável.

 

No instante em que a alma, sede do ego, consegue roubar dele seu holofote, a atenção passa a ser controlada pela alma, que agora detém o poder sobre o ego, pois o holofote, que antes, sob o controle do ego, focava o exterior, como única realidade existente, passa agora a ser dirigido ao próprio ego, enfeitiçando-o com sua luz e impedindo-o de alimentar-se das toxidades do mundo externo.

 

A atenção – o holofote – em poder da alma, dirigida ao ego, passa a “enxergar” seus pensamentos, sentimentos, emoções e sensações desordenadas que o ego continua a manifestar, sem repressões, mas agora observados pelo holofote da atenção da alma.

 

De alguma forma a alma identificará a atenção-holofote agora dirigida ao ego, como “algo” distinto do ego que, para contemplá-lo não utiliza sensações, pensamentos e emoções, apenas disponíveis quando o ego comanda a atenção-holofote. A atuação da alma, a detentora da atenção roubada do ego, não utilizará julgamentos, críticas, queixas, devoções, mágoas, tristezas, dores, arrependimentos, etc., manifestações típicas do ego, pois ele, o holofote, não pertence mais ao ego, mas está sob o comando da alma.  

 

A atenção-holofote apenas iluminará com sua observação o palco das manifestações do ego, seus prazeres, suas dores, sua rebeldia, seu amor obsessivo e sua raiva, como um médico examinando um paciente, de forma absolutamente isenta de quaisquer paixões ou medos.

 

O holofote-vigilante, sob o comando da alma, é o elo, sempre de plantão em sua consciência, entre a alma e o espírito. É a porta que se abre para que o ego receba os influxos do Eu Superior. Agora mesmo, você pode acioná-lo: foque sua atenção na região do seu coração e pergunte-se: que sensação (física) meu coração está sentindo? Uma pressão? Uma dor “virtual”, causada por medo, mágoa, raiva, decepção ou frustração? Uma sensação gostosa, causada por um sentimento de amor? Agora, seu ego está sentindo, e o vigilante-holofote está observando de fora.

 

Desse patamar, você já não é mais suas sensações e pensamentos. Você é o Vigilante. Sua consciência se deslocou do ego, para um ponto indefinido na alma, mais elevado, de onde você consegue observar o que ocorre lá embaixo.

 

Você está no umbral do espírito. Você encontrou o endereço, embora não perceba ainda o que tem lá dentro. Mas que avanço! Esta prática fará com que você, com o tempo, não mais se identifique com suas emoções, pensamentos, sensações e sentimentos. Você os terá livremente, mas não será mais refém deles, pois deles estará liberto, apenas olhando-os, de outra perspectiva.

 

O vigilante trará uma nova competência: a capacidade de distinguir entre dois estados bem distintos funcionando em você ao mesmo tempo: 1 - o estado em que você sente e pensa, 2 - o estado em que você observa, enquanto vigilante, aquilo que você sente e pensa.

 

Ao manter o eu inferior (físico e psíquico) sob vigilância – não sob julgamento ou repressão - o homem vivencia intensamente o momento presente, pois a vigilância requer que a atenção esteja focada no momento preciso em que as sensações, sentimentos, emoções e pensamentos ocorrem. E este é o momento presente, o único verdadeiro da existência.

 

Neste átimo, em verdade atemporal, só o que realmente existe prevalece. Focar este momento “infinitesimal” afasta da consciência tudo o que é ilusão e fantasia: os fantasmas do passado e do futuro, pilares de sustentação das doenças físicas e psíquicas. A atenção mantida no presente indescritível é o que permite à consciência penetrar os níveis superiores da existência.

 

O passado e o futuro estão dispostos num fluxo horizontal de tempo, histórico e projetado, sem qualquer base real, já que do passado somente a síntese das experiências se aproveita, e qualquer especulação sobre o futuro é mera fantasia. Mas o presente é o momento em que efetivamente se vive e, manter o foco da atenção neste instante infinito cria um fluxo vertical de acesso ao espírito.

 

A vigilância do ego, como hábito, induz as pessoas a abrir a porta para o espírito e, lentamente, despertar seu Deus interior. Esse contato com o presente infinito, a morada de Deus, mesmo que de muito longe, como o que temos com o sol que nos ilumina e aquece, já é uma oportunidade extraordinária de equilíbrio, cura, paz e crescimento.