Excerto — Literatura
Existem algumas penúrias literárias que assolam artistas, especificamente os mais novos: a inveja, a pretensão, o medo e as fórmulas. A primeira é o desagrado do sucesso de seus semelhantes, ainda mais os que estão no seu meio: não podem ser vistos como artista da grande mídia, mas também não podem ser vistos como desconhecidos a esmo na arte.
A inveja é uma condição humana simples, mas se não meditada, leva a desastres na vida do escritor, como a falta de autoestima, sua avidez em escrever e seu emocional. Além de irracional, ter aquilo que outrem tem, é uma grande farsa inconsciente que prende o invejoso na mais suja ignomínia, pois ele se rebaixa como verme sobrepondo o objeto invejado em um altar, como se o mesmo não tivesse trabalhado arduamente para conquistar o sucesso. Ao invés de criar sua própria voz e amá-la, ele prefere orar sobre as vozes dos outros, as amando como se fosse uma linda mulher pronta para se deitar com ele. Mediante a consciência destes fatos, é mais fácil o invejoso entender a trajetória que deve lutar, desbravar os limites de seu mundo e forjar em dor e ferro sua própria história conforme se empenha diariamente em seu trabalho.
A pretensão carrega a fraqueza de um romântico, acredita estar narrando uma grande história porque parou para detalhar algumas superficialidades dos personagens em algumas páginas, porque pensa ser diferente da maioria por escrever ‘’bem’’. O que é escrever bem? O grande russo Tolstoi, em Anna Karenina, já se sentia totalmente exaustado a cada linha escrita que perfurava sua paciência. Demorou anos para terminar o romance. Com sua bela história que marca a literatura de todas as épocas. Observamos, em seu oposto, a miséria de um pretensioso. Tolstoi escreveu de maneira fluída, simples, perfeita e genuína toda a psicologia de Anna; seus traços, o espaço, o tempo, etc., de modo exímio. Um verdadeiro escritor sente cansaço ao terminar uma obra, não seu devido valor. O pretensioso se restringe ao valor.
Sentimentos, além de entusiasmar o escritor, podem levá-lo ao caos. Isso ao ter medo. Sente-se incapaz de conseguir dialogar consigo mesmo e com o mundo, se sente infeliz ao escrever mais uma linha que não ‘’será lida’’. Vende inferioridade conforme a cada sílaba traqueada nas páginas deprimentes. Esquece todas as lições básicas supracitadas: tem pretensão de algo, é possível que, no fundo, sinta inveja de alguém que ele mesmo bajula, afinal, se tem receio de pegar a caneta e enfrentar seus demônios, teme julgamentos de pessoas melhores que ele. É fácil entender o medo, é normal, todavia deixar-se ser dominado por ele, é de uma parvoíce tremenda. Todos somos inseguros, mas o primeiro ao levantar ao peito a responsabilidade de trilhar seu caminho, venceu o bando inerte esperando a sorte chegar. Bom artista é quem dá a cara a tapa, sofre e morre se for necessário em nome de sua alma. O medo é a sombra sobre todas as coisas, mas os covardes buscam uma forma de iluminá-la: as fórmulas. Ao invés de enfrentar, querem o mais fácil e confortável.
Onde reside o casulo do escritor? Nas fórmulas perfeitas. Como uma receita de bolo, ele espera já ter de antemão o que deve fazer, como e quando. Vendem baixeza para inocentes comprar, o que é uma pena, pois conseguem lucro. Os mesmos escritores que serão esquecidos juntos as suas ideias, querem perpetuar essa linhagem de mesquinhez literária. Pensamentos que para nós modernos já não são originais, mas mesmo se fossem, deixar a marca de maneira interessante é o que alimenta uma pessoa sincera.
A arte não é regra, mas não é zona. O clássico em definição é lampejo do eterno, pronto a sobreviver a qualquer desastre ou tempo, como se fossem colunas de templos romanos. Escritores assim vão como uma flecha, na verdade, na sensibilidade fincada de seu alvo e sangram por toda história uma ideia bem explorada.