Conhecimento Domínio Dependente X Suspensão da Descrença - Todo Incognoscível 49
NESTE ENSAIO
1 - SUSPENSÃO DE DESCRENÇA
Seria necessário deixar de acreditar em ‘o’ Real para aceitar uma obra ficcional.
2 - CONHECIMENTO DOMÍNIO DEPENDENTE
As regras são diferentes para cada domínio.
3 - CONTEXTO DETERMINA REGRAS
Contexto determina qual é o domínio
4 - SER x DEVER SER
Da mesma maneira que as regras do tipo ‘dever ser’ as regras do tipo ‘ser’ são determinadas pelo contexto.
5 - SER
As regras do tipo ‘ser’ são aquelas que independem da vontade. Acredito na gravidade não porque quero acreditar, mas porque é o mais coerente com outras crenças.
6 - DEVER SER
As regras do tipo ‘dever ser’ são aquelas que se sujeitam à vontade das pessoas. Neste sentido, 'trabalhar vestido’ pode ser alterado. É possível criar uma empresa em que é aceitável trabalhar nú.
7 - A ESCOLHA DAS REGRAS SE DÁ EM UM NÍVEL INFERIOR AO NÍVEL EM QUE AS REGRAS SÃO APLICADAS
A matemática pode determinar regras como 1 + 1 = 2, mas a escolha por aplicar tais regras a determinado contexto não são fornecidas pela matemática.
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PRÓLOGO
Ontem fui ao cinema com a família assistir um dos meus super heróis favoritos, aquele que eu fingia ser quando era criança, assistimos ‘Homem-Aranha Sem Volta Para Casa’. Peter Parker é o primeiro super herói a ter problemas financeiros, conjugais e familiares (é um estudante de classe média baixa que faz bico tirando fotos para um jornal). Logo no começo do filme apareceu um dos vilões mais tradicionais do Homem Aranha, o dr. Octopus. Aquilo foi extremamente estranho para mim, pensei (apenas intuitivamente) o dr. Octopus morreu em outro filme! O maior estranhamento foi com o ator! Alfred Molina interpretou o dr. Octopus em outro universo de Homem-Aranha!!! Homem-Aranha é uma destas franquias de sucesso que frequentemente recomeça do zero (com outras pessoas atuando, outros arcos de personagem, diferentes antagonistas). Isto traz uma questão antiga do cinema: a ‘Suspensão da Descrença’ (em cursos de cinema conheci o conceito como ‘Suspensão da Realidade’).
SUSPENSÃO DA DESCRENÇA
Este conceito se refere àquele momento em que a nossa imersão em um filme (ou em qualquer outra obra ficcional) é tão intensa que aceitamos as regras daquele universo como as regras corretas. Desta maneira aceitamos que o Homem-Aranha consegue super poderes após ser picado por uma aranha radioativa. Oras, se uma das minhas irmãs me disser que foi picado por um cobra e que ganhou super poderes de uma cobra, simplesmente não vou acreditar, vou achar que ela está brincando ou que ficou louca. No contexto do filme isto é natural, de acordo com este conceito estou suspendendo a descrença.
SUSPENSÃO DA SUSPENSÃO DA DESCRENÇA
Mas se é assim, por que tantos filmes suspendem a suspensão da descrença? Por que tantos filmes nos avisam que são filmes? E por que, mesmo após tais avisos, continuamos aceitando o filme? Em Shrek (como em diversos outros filmes de animação) temos o efeito ótico flair, como também temos água suja que cai sobre a “lente da câmera”. Entretanto Shrek é uma animação! As pessoas que realizaram o filme se esforçaram muito para colocar a lama sobre a lente ou para criar o efeito flare (que originalmente era um defeito da câmera, mas que foi incorporado como linguagem). Em Matrix 4 temos diversos lembretes de que estamos vendo um filme, pois o personagem principal, Neo, é o diretor de um jogo de videogame chamado Matrix, todas as conversas a respeito do jogo Matrix se aplicam à sequência de filmes. Já no Homem-Aranha Sem Volta Para Casa temos personagens de outros universos do Homem-Aranha, nos lembrando que recorrentemente os estúdios começam a franquia do zero.
REGRAS DO UNIVERSO
Cada filme possui suas próprias regras, suas leis a partir das quais as histórias são escritas. Recusar tais regras significa recusar a própria matéria a partir da qual aquela obra foi esculpida. Em ‘Silêncio dos Inocentes’ Hannibal Lecter foge de sua prisão no final do filme, mas sua fuga não é explicada. Quando assisti ao filme pela primeira vez estava tão imerso que não pensei a respeito. Ao assistir a segunda vez percebi que temos que aceitar que ele é tão hábil que faz coisas sobre humanas, da mesma maneira que aceitamos que o 007 é capaz de enfrentar 30 bandidos armados e vencê-los. O conceito “Suspensão da descrença” supõe que necessitamos passar a crer (acreditar) naquilo que estamos assistindo para aceitar as regras que lá são apresentadas. Esta é uma percepção equivocada, se a imersão e o aceitamento das regras do filme dependessem da suspensão da descrença então as evidências de que estamos em uma ficção seriam consideradas uma falha: Hitchcock só apareceria em tela por um erro horrendo. Proponho utilizar outro conceito para explicar porque aceitamos as regras apresentadas nos filmes: a dependência do domínio.
CONHECIMENTO DOMÍNIO DEPENDENTE
Nassim N. Taleb comenta a respeito de um experimento interessante. Algumas pessoas recebem perguntas triviais e as respostas a tais perguntas incorrem em uma heurística: quanto mais vívida uma narrativa, mais tendemos a acreditar nela. Qual dos dois casos é mais provável que ocorra:
Ser atacado por um animal na cidade de Recife.
Ser atacado por um tubarão nas praias de Recife (em que ataques de tubarão são recorrentes).
A pergunta é uma pegadinha, pois tubarão é um animal, portanto todo ataque de tubarão é também um ataque de um animal. Necessariamente a hipótese 1 é maior ou igual a 2. Quem recebe uma pergunta como esta e responde sem pensar provavelmente vai escolher o caso 2, que é mais vívido. Isto é uma heurística bem documentada e observada em diversos experimentos, inclusive fizeram tal pergunta na rua a professores de estatística de universidades famosas dos EUA (fora do ambiente acadêmico). 1* Tais professores que todo dia dão aula a respeito do tema também erraram a resposta!!!! Elas possuem inteligência e conhecimento para responder de maneira correta, mas erraram! Certamente se esta pergunta fosse feita em sala de aula os professores (que dão aula do tema!) iriam responder corretamente. Ou seja, o conhecimento de estatística, para tais professores, é dependente do domínio (no caso do domínio em que se encontram 2*). O erro no qual incorreram se dá devido a uma dificuldade: escolher as regras próprias a cada domínio.
REGRAS DE CADA DOMÍNIO
Quando eu estava sentado na cadeira da escola durante uma prova e uma questão pedia para relacionar a soma dos lados de um quadrado (seu perímetro) ao tamanho de um dos lados eu conseguia fazer a conta num piscar de olhos. Mas será que, caso eu estivesse ajudando a fazer a festa de aniversário de um sobrinho e estivesse encarregado de fazer um bolo quadrado enfeitado e precisasse colocar o chocolate biss em sua base eu faria a conta relacionando os pedacinhos de chocolate ao perímetro do bolo? Ou será que apenas compraria os pedacinhos de chocolate e torceria para que fossem suficientes?
DOMÍNIO NA VIDA
Na escola precisamos decidir qual é a regra de formação de uma variável dependente (usualmente o ‘y’, a imagem) a partir de uma variável independente (usualmente o ‘x’, o domínio). Para isto nos valemos de um contexto, tal contexto, se pensarmos de maneira microscópica, é o enunciado da questão que iremos resolver. Mas, de maneira um pouquinho mais ampla, o contexto em que estamos é “na escola, resolvendo uma questão de matemática em uma prova”. O domínio é determinado pelo contexto e o contexto mais vívido frequentemente é aquele no qual meu corpo físico está situado. Ou seja, é mais fácil eu acertar a questão do perímetro do quadrado quando estou na escola do que quando estou fazendo compras para o bolo do meu sobrinho. Mesmo que eu tenha tirado dez na prova de matemática, talvez ao fazer o bolo eu apenas compre um monte de pedacinhos de chocolate para cobrir o perímetro (base do bolo quadrado). Na escola, na primeira vez que nos deparamos com um problema, empreendemos muito esforço decidindo como encará-lo. À medida em que nos deparamos com a mesma questão mais e mais vezes (ou seja, na medida em que estudamos) a questão se torna cada vez mais fácil, mais automática, intuitiva. Na escola, a primeira vez que nos deparamos com um problema é a mais difícil, a partir de exercícios os problemas vão se tornando cada vez mais fáceis, automáticos. Mas na escola está claro que aquilo é um problema a ser resolvido, na vida nós temos que tomar a decisão de respirar, pensar com calma e decidir que aquela situação merece cuidado. Em regra automatizamos soluções satisfatórias, mas o “satisfatório” no nosso cotidiano pode ser algo trabalhoso, impreciso ou mesmo incorreto.
HEURÍSTICA - SISTEMA RÁPIDO
Daniel Kahneman e Amos Tversky criaram o conceito de sistema rápido. O ‘sistema rápido’ consiste em uma série de automação no processo decisório. Uma vez que é impossível refletir profundamente a respeito de cada uma de nossas decisões tais automações tornam nossa vida possível. Os processos de rápida tomada de decisão são as heurísticas. Elas agilizam o processo ao custo de abandonar a reflexão (o sistema lento, racional). Mas quando devemos nos valer das heurísticas, quando devemos nos valer de um escrutínio minucioso? A própria escolha (de se devemos refletir a respeito) demanda uma reflexão 3*!
SEPARANDO DOMÍNIOS
Suponha uma pessoa que está no primeiro mês do seu primeiro emprego e imagina, “Quando eu receber meu salário vou levar minha família para um bom restaurante e pagar a conta!”. Caso leve sua família ao restaurante hoje, ao passar o cartão não conseguirá pagar a conta, pois o salário ainda não entrou na conta. É necessário separar o domínio do “agora” do domínio do “depois que receber o salário”. Da mesma maneira para uma pessoa interessada em ter alguém como seu par romântico: é possível se imaginar beijando outra pessoa após um flerte bem sucedido. Mas apenas chegar e beijar na boca alguém que não demonstrou interesse é inaceitável. Em um jogo de primeira pessoa é esperado que matemos nossos adversários, mas matar algum desafeto do trabalho é proibido. Agora (sozinho, em minha casa) estou escrevendo apenas de cueca, na praia eu poderia estar com uma roupa semelhante (uma sunga) e estaria tudo certo. Já no trabalho as regras sociais são diferentes, preciso usar roupas.
O DOMÍNIO É ESCOLHIDO A PARTIR DO CONTEXTO
O domínio são as regras que se aplicam: “quatro vezes o lado” para o perímetro do quadrado; “trabalhar de roupa” dentro de um órgão público; “Homem-Aranha é capaz escalar paredes” nos filmes da Marvel. Tais regras são escolhidas a partir do contexto, como nos valemos de heurísticas para a determinação das regras, é usual nos valermos de regras esdrúxulas sem nunca sequer pensar a respeito. O contexto pode ser “estar dentro do ambiente acadêmico”.
Para uma pessoa adepta do realismo esta perspectiva pode ser incômoda: como colocar algo “Real” como “perímetro do quadrado = quatro vezes o lado” ao lado de uma determinação social como “no trabalho em um órgão público -> ir vestido trabalhar”!?
REGRAS DE ‘DEVER SER’
Regras sociais são regras do tipo ‘dever ser’. Eu vou vestido ao trabalho porque há uma determinação social (a vontade de muitas pessoas), mas é possível que a cultura das pessoas mude e que eu passe a trabalhar no atendimento de cueca. Inclusive já fui atendido por trabalhadores de sunga (vendendo coco na praia). Assim será que a separação de domínios vale apenas para as regras do tipo ‘dever ser’ ? Ou será que a separação de domínios também se aplica para as regras do tipo ‘ser’?
REGRAS DO TIPO ‘SER’ CORRESPONDEM À REALIDADE DO MUNDO?
Quais são as regras do tipo ‘ser’? São regras que são obedecidas a despeito da escolha de quem as obedece. Assim a regra 2 + 2 = 4 é uma regra do tipo ser, gravidade ou a eficiência de uma vacina também são regras do tipo ser. Caso eu tome uma vacina ela vai ativar o meu sistema imunológico independentemente da minha vontade. Pode até ser que meu sistema imune não reaja à vacina, da mesma maneira que é possível que uma pessoa coma um doce e não eleve a insulina no sangue (se possuir diabetes do tipo 1), mas isto é independente da vontade. Assim seria razoável supor que as regras do tipo ‘ser’ corresponderiam à Verdade (com ‘v’ maiúsculo). Ou seja, seriam regras objetivas aplicáveis independentemente do observador, independentemente do contexto. Nesta perspectiva tanto a gravidade quanto 2 + 2 = 4 corresponderiam a ‘a’ Verdade.
SEPARAÇÃO DE DOMÍNIOS PARA REGRAS DO TIPO ‘SER’
Entretanto, quando observamos duas gotas de água escorrendo na janela e tais gotas encontram mais duas gotas, o que observamos não são 4 gotas, mas uma gota grandona. Ou seja, a regra do tipo ‘ser’ também depende do contexto (também são domínio dependentes). A capacidade do Homem-Aranha escalar paredes é uma regra do tipo ‘ser’ (a identidade secreta é uma regra do tipo dever ser). O Homem-Aranha é capaz de escalar, queira ele ou não, já a escolha de escalar apenas quando está fantasiado depende de sua vontade. Com a observação de que soltar algo o leva a cair se dá o mesmo, é uma questão subjetiva, depende do contexto, do conhecimento das pessoas e é impossível chegar a uma verdade última (no sentido de ter uma explicação que sem dúvida resistirá 10 mil anos). Aristóteles explicava a queda (ou ascensão) a partir da teoria do lugar natural. Cada elemento seria atraído por seu igual. Terra por terra, água por água, ar por ar e fogo por fogo. Assim um objeto com muito do elemento terra iria para baixo (pois para baixo tem mais terra). Os rios correriam para o mar (pois o mar tem muito elemento água) e o fogo subiria. Acima da cúpula do céu existiria fogo, como evidenciariam os buraquinhos na cúpula a partir dos quais conseguimos ver o fogo, as estrelas seriam buraquinhos na cúpula).
SER x DEVER SER
Uma vez que tanto as regras do tipo ‘ser’ como as regras do tipo ‘dever ser’ são escolhidas por alguém a partir do contexto, alguém poderia imaginar que defendo que não há distinção entre elas. Não é o caso. O critério fundamental para acreditar em algum conjunto de regras do tipo ‘ser’ é a consistência com outras crenças e sistemas de crenças. Neste sentido a simplicidade desempenha um papel importantíssimo, a falta de simplicidade pode indicar que estamos acomodando crenças incompatíveis entre si (é necessário muita complicação para acomodar sistemas de crenças incompatíveis) 4*.
SUSPENSÃO DA DESCRENÇA É INADEQUADO
Para uma pessoa realista que acredita que cada conceito só vale por possuir um lastro a ‘o’ Real (com ‘r’ maiúsculo) e que tal Real é acessível e determina ‘a’ Verdade, o conceito ‘suspensão de descrença’ é adequado: as coisas são de determinado modo, preciso suspender estas crença para aceitar as regras do mundo ficcional. Tal perspectiva é falha: conseguimos separar domínios recorrendo ao contexto. Tanto é assim que aceitamos as regras das obras ficcionais mesmo sabendo que elas não são ‘o’ Real. Roger Rabbit, por exemplo, sempre chama a atenção para o fato de que as regras de animação são diferentes das regras as quais estamos acostumados (o que é um dos principais atrativos do filme). Em Matrix 4 metalinguagem chama a atenção para o fato de estarmos diante de um filme, até mesmo Bastardos Inglórios faz uma crítica ao público que se deleita com a violência (característica de todos os filmes do Tarantino). Referências para o fato de que o filme é um filme são recursos utilizados com frequência: lente da câmera suja, a exibição de alguém com o objetivo de mostrar a identidade exterior ao filme (Hitchcock, Stan Lee) ou seja, toda metalinguagem retira a suspensão da descrença. Ainda assim, são recursos que valorizam o filme.
SELEÇÃO DE DOMÍNIOS, META REGRAS, REGRAS EM NÍVEL INFERIOR
Uma vez falei a um amigo que eu acho legal que determinado clube de futebol vá bem nos campeonatos, porque ele passou a adotar a responsabilidade fiscal e está colhendo os frutos de sua escolha. Meu amigo arregalou os olhos e disse “O quê !?”. Estritamente falando minha observação está incorreta, uma vez que a fonte de renda de um clube são patrocínios, pagamento de entrada, ou seja, a fonte de renda de um clube não é o fisco (impostos) 5*. Ao usar o termo ‘responsabilidade fiscal’ eu quis chamar a atenção para o fato de que ambos os contextos chamam às mesmas regras (em ambos os casos o que importa é o balanço de entrada e saída de dinheiro). Mas quando devo usar cada regra? Quando um e um é igual a dois (1 + 1 = 2), quando um e um é igual a um (1 * 1 = 1)? O importante em se ter em conta é que a decisão de que regras usar não é dada no mesmo nível em que as regras são usadas. A matemática determina as regras do 1 + 1, mas a escolha por estas regras se dá pelo contexto (em um nível mais básico) 6*.
CONCLUSÃO
A perspectiva de que é necessário a suspensão da descrença para apreciar uma obra ficcional é coerente com a perspectiva realista, mas é uma perspectiva falha. Tanto é assim que uma grande quantidade de obras chama a atenção para si mesmas (mostrando que elas não são ‘o’ Real) e, ao fazê-lo, se tornam ainda mais apreciadas. Em lugar do conceito de ‘suspensão da realidade’ proponho analisar as obras a partir da dependência do domínio. Desta maneira, cada obra é apreciada de acordo com as regras que o seu universo apresenta: no filme do Homem Aranha a regra ‘possível escalar parede’ vale para ele. A proposta de entender que as regras são determinadas específicas a cada domínio (e que alguém escolhe as regras com base no contexto) é, além disso, consistente com as experiências que vivemos no dia a dia. Tal qual em um filme valem algumas regras, em outro filme valem outras regras, no nosso dia a dia em um ambiente valem algumas regras em outro ambiente valem outras regras. Em casa escrevo de cueca, no trabalho escrevo vestido. Tal distinção de regras é válida para contextos sociais (dever ser), mas também para como as coisas são (ser): será que um e um é igual a dois (1 + 1 = 2) ou será que um e um é igual a um (1 * 1 = 1). Apenas recorrendo ao contexto podemos ter uma resposta.
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OBSERVAÇÕES
1* Não lembro em qual livro li o caso dos professores de estatística, acredito que tenha sido em algum dos do Taleb. Mas o efeito está bem descrito no capítulo 2 do livro ‘O andar do bêbado’, de Leonard Mlodinow.
2* A dependência do domínio também ocorre em finanças simples. A mesma pessoa que em sua vida pessoal guarda mais do que gasta do seu salário, que todo ano aumenta sua poupança e que só aceita gastar mais do que ganha em situação extraordinária (emergência de saúde ou fazer a viagem dos sonhos) acha normal o Estado gastar mais do que recebe todo ano (irresponsabilidade fiscal). Ou seja, a responsabilidade fiscal está no domínio da finança pessoal, mas não na finança pública. Ver observação 5*
3* Quando andamos em uma bicicleta e queremos fazer uma curva para um lado antes devemos dar uma pequeníssima curva para o lado oposto, caso contrário a ciclista perde o equilíbrio e cai. Ou seja, para dar uma curva para a esquerda precisamos dar uma curva antes para a direita. Mas… queremos dar uma curva para a direita precisamos antes dar uma curva para a esquerda! Isto leva a uma regressão ao infinito! Uma regressão ao infinito, qualquer que seja a regressão ao infinito, nos informa algo. No aspecto temporal somos finitos, a própria opção de fazer uma curva numa bicicleta tem um começo. Da mesma maneira a capacidade de processamento do nosso cérebro tem limites. Assim não realizamos uma regressão ao infinito em nenhum começo, nem antes de fazer uma curva de bicicleta, nem antes de optar por usar o sistema rápido (intuitivo) ou o sistema lento (racional).
https://youtu.be/9cNmUNHSBac
4*
Simplicidade como critério para decidir por uma teoria, Navalha de Ockam - Todo Incognoscível 22
https://www.recantodasletras.com.br/ensaios/7208869
Todo Incognoscível 4 - Falácia da Objetividade
https://www.recantodasletras.com.br/ensaios/7069375
5* Ao usar o termo “responsabilidade fiscal” meu objetivo era que ele usasse as mesmas regras para avaliar um clube que as que eu uso para avaliar o Estado: um governante tem incentivos para gastar o máximo possível em seu mandato, da mesma maneira um cartola tem o incentivo de gastar o máximo possível em seu mandato. Entretanto, em ambos os casos o desequilíbrio entre a arrecadação e os gastos têm consequências a longo prazo. Até pode acontecer de um clube se endividar muito e ter sucesso, ganhar os campeonatos mais importantes e sair beneficiado de seu endividamento. Mas o incentivo do gestor é sempre achar que o momento é propício para o endividamento (que permite desfrutar dos melhores jogadores) e que o momento para pagar o endividamento (com salários atrasados e más contratações) é para o gestor seguinte.
6* O que leva ao tema mais recorrente aos meus ensaios: a regressão ao infinito: para a escolher entre (1 + 1 = 2) ou (1 * 1 = 1) precisamos de regras em um nível mais básico. A questão é que a própria regra para a escolha da regra demanda uma regra (assim sucessivamente infinitamente). Sempre que chegamos a uma regressão ao infinito temos a informação de que o conhecimento possui limites, pois é impossível recuar infinitamente (mesmo quando não há uma causa última). Ver observação 3*