Cemitério não tem CEP
Cemitério toda cidade e bairro, pequeno ou grande, tem.
Cemitério é a própria indicação geográfica, como se há eras estivesse brotado ali. Cemitério não tem número ou CEP, não precisa.
Cemitério é a morada final, quem para ali vai não tem contas ou prêmios a receber.
Cemitério, se localiza no dentro. Se sabe a morada que quer chegar pelo número de passos, pela posição solar, pelos vizinhos.
No cemitério, celular, smartphones, Wi-Fi, 3, 4 ou 5G, pouco importa para quem ali mora.
Cemitério lembra que redes sociais são artifícios dos vivos-mortos que caminham sobre a terra, que respiram. Não que sejam pulsantes de vida.
No cemitério a vida pulsa, na dor de quem perde, na inocência da criança que corre ou percorre corredores e admira anjos e flores. Aquela que ouve o barulho do vento e acompanha a gente grande.
Cemitério mostra o que vai e o que fica. Mostra quem vai e quem fica. Quem é profundo e quem é razo.
Cemitério tem muitas moradas, e quando se enche, abre-se espaço para mais.
Cemitério é murado, mas fica de portões abertos.
Cemitério, para uns é onde termina a vida. Mas na verdade é onde mostra que há muita vida no mundo.
Cemitério não atrai holofotes. Embora façam homenagens na morte do afeto que não foi dado em vida.
Cemitério não é lugar preferido de ninguém. Alguns frequentam por obrigação, poucos pelo coração.
Cemitério não tem CEP. Para encontrar quem lá mora, se encontra no sonho, na saudade, no bem, na lembrança e legado que deixa. E isso, no cemitério não cabe, embora gigante seja.