Cemitério

Lugar de adeus, choro, dor, lágrimas. Lugar de paz, sim paz. Cada um tem a história que vive. Cada um vive de modo diferente. Inevitavelmente um dia sua história cruza com a dele, e termina nele. Cemitério é fúnebre, vira homenagem, é cheio de adornos. Também é socialmente dividido. Arquiteturas rebuscadas, arte mortuária. Tentativa de chegar mais perto do céu? Que Céu? Cemitério é amor, Cemitério é abandono. Tem tinta, piso, letras prateadas, letras douradas, foto, ou o reboco tomado pelo limo. Existem anjos e santos se desfazendo. Em dias de enterro o inconfundível cheiro de cimento sendo preparado, o raspar da pá do coveiro, o atrito do caixão e da laje. Cada tanto de cimento jogado no tijolo e na parede distancia mais o amado não mais vivente desse mundo. O inevitável e indesejável, chega. Fica dor, vira saudade. Saudade vira vela acesa, flor no dia das almas, flor em outros dias. Quando morrem jovens, anjos tomam conta do leito último. Vira altar. Jovens, adultos ou velhos, quando há amor entre os que ficam, há flor do lado de fora ou de dentro. A fé de quem fica é depositada em símbolos. Penso naqueles que não tem mais ninguém, para eles ainda há vida, do limo, do mato que insiste em nascer em cada cantinho mal fechado pelo cimento. Depois de algum tempo não há mais desespero. Há emoção. Ali se guarda um pouco da história de cada um, vivo ou morto. É um passado presente. Imobilizado em caixas de concreto, talvez fotos, talvez flores, talvez símbolos. Cemitério é um labirinto, tal qual a vida é. Cemitério tem paz. Mais que entre os vivos. Cemitério tem silêncio. Cemitério tem vento, que fala contigo, te faz o carinho que quem partiu não faz mais. Cemitério tem amor. Um outro amor, o final e derradeiro. São gerações que partem, por obra do destino, das próprias mãos ou das mãos de outros. Vidas que partem, famílias que são partidas. Muitas vezes dor, outras alívio. Ficam os vivos, que caminham sobre suas próprias pernas, pisam o chão por onde muitas lágrimas já caíram e tratam de cuidar o lugar que será a morada final do corpo físico. Pedem para que chegada a própria hora de partida, alguém venha para dar o último adeus, com sorte com uma vela acesa.

Cris Damiani
Enviado por Cris Damiani em 06/01/2022
Reeditado em 06/01/2022
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